terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O Popular

Cileide Alves

O tenso jogo do momento

O eleitorado encontra-se longe do debate político, distância que pode ser medida pelos altos índices de quem não sabe em quem votar (72,9% na pesquisa espontânea do Serpes de outubro), mas a disputa já é bastante real entre as forças que se preparam para entrar na arena e disputar o eleitor.

Para chegar eleitoralmente competitivo à última etapa da eleição, no dia do voto, os partidos trabalham agora para reunir forças e afastar barreiras que poderão se tornar intransponíveis. A fase atual é de intensas conversações visando dois objetivos: fortalecer a si próprio e esvaziar o adversário. Para isso cada um joga com as armas de que dispõe.

O PSDB tenta tirar o melhor proveito de sua principal qualidade, a popularidade do senador Marconi Perillo. O partido foi isolado politicamente pelas forças adversárias e, para recuperar espaço, isto é, atrair partidos e lideranças que fazem diferença numa coligação majoritária, optou pelo discurso da negação. Os tucanos têm o hábito de combinar o discurso. É fácil perceber o que o partido quer dizer, bastando para isso observar a fala repetitiva na voz de cada uma de suas principais lideranças.

O discurso tucano do momento é o seguinte: Marconi Perillo tem apoio das lideranças políticas mais importantes e da população goiana, porque fez dois excelentes governos; seus adversários estão enfraquecidos, pois o governo não conseguirá lançar candidato próprio e o PMDB não disporá nem do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, nem do prefeito Iris Rezende. Em outras palavras, o caminho estaria livre e desimpedido para a vitória marconista.

Qual o significado desse discurso? Mais do que dar a ideia de que o PSDB subiu no salto alto, um risco que o partido está correndo, ele indica a tentativa tucana de convencer o campo político de que Marconi é eleitoral e politicamente imbatível, negando a mensagem de desconstrução de sua imagem e de seu isolamento político produzida por seus adversários. O PSDB usa a negação para se firmar positivamente no cenário político, senha para atrair aliados acostumados a só aderir ao projeto vencedor.

O PSDB está na realidade lutando com as armas de que dispõe contra o isolamento político e para atrair partidos fortes – hoje conta apenas com o PTB entre os partidos com densidade eleitoral – e formar uma aliança competitiva, o que significa, principalmente, ter muito tempo no horário eleitoral gratuito.

Já a arma do governo, principal adversário tucano, é a possibilidade de formar chapas fortes para a disputa proporcional. Na luta para filiação de pré-candidatos, que terminou em 3 de outubro, fim do prazo de filiação dos candidatos às eleições de 2010, os partidos do campo governista conseguiram a adesão de nomes competitivos para as chapas de deputado federal e estadual, diferentemente do PSDB, que não montou uma chapa forte, especialmente para a disputa à Câmara Federal.

O governo acena para seus aliados com a possibilidade de formação de uma coligação com chances de eleger o maior número possível de deputados, senha também atraente nesta fase de pré-campanha eleitoral.

Entretanto, a fragilidade governista pode surgir na formação da chapa majoritária e tornar-se um complicador para a construção do projeto eleitoral do grupo. O Palácio das Esmeraldas tem clareza de que o sucesso desse projeto depende da reunião de todos as partidos com os quais já articula o lançamento de um candidato a governador, o DEM, o PR, o PSB e o PP. Só que o DEM está com um pé dentro e outro fora desse projeto. Em outras eleições, o presidente regional, deputado federal Ronaldo Caiado, teve respaldo da direção nacional para dar ao partido a direção que considerou mais adequada. Neste ano, pode faltar a ele esse apoio nacional que foi fundamental no passado.

Presidente nacional do DEM, o deputado Rodrigo Maia (RJ) perdeu força política com a derrocada de seu principal aliado na luta interna, o governador do DF, José Roberto Arruda. Agora, o DEM paulista liderado pelo prefeito de São Paulo Gilberto Kassab avançou no enfrentamento interno e isso poderá trazer reflexos nacionalmente. Interessa ao DEM paulista fortalecer a candidatura de José Serra a presidente da República, daí que o partido poderá exigir dos diretórios regionais a repetição da aliança nacional dos democratas com os tucanos.

Essa possibilidade forma uma sombra sobre negociação da aliança do DEM com o governo. O Palácio das Esmeraldas corre o risco de perder esse importante aliado, que soma tempo no horário eleitoral gratuito, para os tucanos. Para quem tem clareza da importância da união de vários partidos em torno do projeto palaciano, está aí uma gigante.

Daí o tenso jogo político que ocorre nos bastidores nesse momento. O sucesso de tucanos depende, pelo menos agora, do fracasso de governistas e vice-versa, já que ambos disputam apoios no mesmo segmento político. Envolto em seus próprios problemas para definir quem será seu candidato a governador, o PMDB observa a jogada entre governistas e tucanos, torcendo para os segundos perderem esta batalha, já que são grandes interessados no enfraquecimento tucano.

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