terça-feira, 19 de janeiro de 2010

18 de janeiro de 2010

Diário da Manhã

Fábio Nasser, o apóstolo da notícia

Um apaixonado pelo jornalismo e pela vida. Assim foi o jovem e amigo Fábio Nasser, uma figura humana como poucas, cuja oportunidade de ter conhecido e privado da sua amizade foi um grande privilégio. Lembro-me dele com muita saudade e no aniversário de 11 anos de sua morte quero prestar a ele a minha homenagem, num gesto de carinho e respeito à sua memória.

Fábio foi um idealista e de sua cabeça transbordava inteligência. Era devoto e profundo admirador dos pais, os jornalistas Batista Custódio e Consuelo Nasser, e do tio-avô, Alfredo Nasser, com os quais aprendeu a amar a profissão de jornalista, num apostolado em que trabalhar a notícia e transformá-la em instrumento de libertação e de construção de dias melhores era um ritual sagrado.

Fábio era intenso, eloquente, determinado e decidido no seu jeito de viver e dividir os seus sonhos. Conversar com ele era como receber a lição essencial da vida, que se resume ao amor e à nobreza dos sentimentos. Não havia um só minuto que não era proveitoso ficar ao seu lado e compartilhar de suas ideias. Afinal, com Fábio todos aprendiam a enxergar o mundo com um olhar diferente, sensível aos valores éticos e profundamente marcado pelo inconformismo diante dos desmandos e das injustiças.

Não sabia dizer não. Fraterno e solidário, estava sempre à disposição para servir o próximo. Na redação, onde estive com ele inúmeras vezes, era como um maestro a coordenar, juntamente com o pai, essa verdadeira sinfonia da informação que é a produção diária de um jornal. Foi o próprio Batista quem disse que Fábio era muito mais que um jornalista: era, ele mesmo, a encarnação viva, pronta e acabada do jornalismo.

Fábio estava para a notícia como o oxigênio para a vida, tanto que se fazia onipresente na Redação do DM. Quando os poderosos despejaram seu ódio contra Batista Custódio e fecharam o jornal, aproximou-se ainda mais do pai e, com energia redobrada, encetou campanhas para que o jornal fosse reaberto. O Diário da Manhã tornou-se a sua grande paixão.

Era uma alegria conviver com Fábio. Intelectual irrequieto e de múltiplos talentos, foi poeta na essência de seus textos, que exalavam lirismo num verso social vibrante e questionador. Também era músico bissexto e não desgrudava de seu violão, que dedilhava para musicar a alma e expressar a voz do coração.

Eu o conheci bem. Fábio Nasser estudou os grandes filósofos e, neles. moldou o seu caráter e perfil humano. A leitura persistente e disciplinada deu consistência aos seus escritos, lapidados num estilo em que se combinavam a veia libertária, a elegância das frases bem construídas e a ironia sofisticada que notabilizou o jornalista e crítico norte-americano H. L. Mencken, autor do clássico Livro dos Insultos, cujos textos apreciava.

Como político, testemunhei e continuo testemunhando a luta incansável de Batista Custódio para fazer um jornalismo livre, sem censura e com a participação social. Esse mesmo jornalismo que é reafirmado todos os dias nas páginas do Diário da Manhã e na boa memória que guardamos de Fábio Nasser.

Não podemos negar o caráter pioneiro do DM e a sua vocação pela liberdade de imprensa. E para que tudo isso se transformasse em realidade, como se transformou, foi preciso contar com a indispensável contribuição de Fábio Nasser, na sua curta, mas valorosa existência.

Numa época em que virtudes como sinceridade, lealdade e companheirismo foram relegadas a segundo plano no nosso cotidiano, guardar a lembrança e seguir o exemplo de Fábio é um estímulo que nos impulsiona a enfrentar desafios e prosseguir na luta por uma sociedade igual em oportunidades para todos.

Como no poema de Carlos Drummond de Andrade, Fábio viveu como se seus ombros suportassem o peso do mundo. Foi uma pessoa iluminada e só fez o bem na vida. Pessoas como ele não morrem: ficam como sementes para frutificar um mundo mais justo e humano.

Marconi Perillo é senador

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