segunda-feira, 29 de março de 2010


 


ARTIGOS

Rodovias e prejuízos

Para milhares de produtores rurais do Estado, rodovias por onde escoa a produção agrícola representam ameaça ao lucro programado. Devido às dificuldades de transporte que elevam os custos. O frete entra com peso significativo. O brilho do agronegócio fica, todo ano, comprometido em razão da incapacidade do poder público de oferecer condições ideais para o escoamento.

Com muita frequência este jornal vem divulgando cartas de leitores abordando a questão rodoviária estadual. Lamentam o péssimo estado de conservação de muitas GOs, notadamente na região Sudoeste, onde existem vias importantes ainda sem pavimento, o que impõe aos transportadores e produtores enormes prejuízos, em especial quando lamaçais imensos ou crateras impedem o trânsito ou retardam as cargas.

A carta da leitora Iraci de Sousa Marques, publicada na quarta-feira, é um primor de ironia e realismo. Sugere aos fazendeiros que voltem a andar de jipe, como nos anos 60, porque de carro moderno não dá, “não estão preparados para enfrentar estradas tão ruins”. As cargas agrícolas e toda a logística são afetados.

Goiás, por estar no centro do País, tem sua produção agropecuária distanciada dos portos marítimos, por onde as commodities agrícolas e minerais são exportadas. A rodovia é, por outro lado, o único meio para retirar produtos da lavoura. Nesse primeiro passo, convenhamos, usam-se estradas municipais ou rurais mais sujeitas à deterioração provocada pelas chuvas. O que é compreensível.

Daí em frente são as vias estaduais, as GOs ou as federais, as BRs, as responsáveis pelo escoamento. Quando estão em condições intransitáveis, como relataram dezenas de cartas publicadas até agora, a situação se torna mais grave. A certeza de prejuízos esmorece. A agricultura de grãos é a que mais sofre com as deficiências de transporte. E também a que está mais exposta aos riscos, naturais ou não.

Há riscos decorrentes do tempo, do regime pluviométrico, além de fatores aliados às pragas e moléstias. Enfrentam-se custos elevados em razão também dos preços de insumos básicos e defensivos fabricados com matéria-prima importada, devido às variações cambiais. Se, de um lado o dólar cai e o preço fica menor para, por exemplo, fósforo, fica também menor o preço da exportação, toda ela centrada na moeda americana.

São fatores adicionais a indicar que o governo do Estado deveria dobrar o orçamento para conservação das rodovias. E, assim, impedir a calamidade que se repete todo ano. E, não só isso, fazer previsões orçamentárias para asfaltar o mais rapidamente as GOs de terra do Sudoeste goiano. E, mais ainda, para construir pontes de concreto no lugar das antiquadas e inseguras pontes de madeira, que somam, segundo cálculos de especialistas, alguns milhares de metros lineares em rodovias estaduais.

Quando uma carreta carregada passa sobre uma dessas velhas pontes, comuns no Vale do Araguaia, que mesmo sendo de madeira não têm manutenção, nos remete 200 anos atrás quando, no Império, saía-se de Pirenópolis em lombo de burro rumo ao Rio de Janeiro, levando pluma de algodão para vender aos teares.

É inconcebível que em 2010 ainda persistam traços tão vivos daquela época, fora naturalmente do setor cultural. Que um ramo importante da economia esteja ainda acometido de resquício aviltante, impondo aos produtos goianos uma sensível baixa de qualidade, ou retirando deles a competitividade.

Não se sabe ao certo – por falta de estatísticas específicas – quantas toneladas de soja, milho ou outro tipo de grão se perderam ou tiveram o valor reduzido por causa de estradas mal cuidadas. É certo, porém, que houve prejuízo para o produtor. E para todas as pessoas e cargas em trânsito que tiveram pela frente dissabores provocados por vias de má qualidade, afetadas sazonalmente pelas chuvas.

Assim como é correta a observação de que tais prejuízos se concentram, sobretudo, em rodovias pavimentadas e deterioradas por falta de manutenção e recuperação. Coisa até para deputado observar na hora de fazer o Orçamento Geral do Estado. E aumentar as dotações para que a Agetop adquira perfil mais dinâmico e tenha condições efetivas de executar a tempo e hora as obras rodoviárias reclamadas.

HENRIQUE DUARTE é jornalista

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