quinta-feira, 25 de março de 2010

Vacina contra picaretagem!


 


ARTIGOS

A gripe A e a esperteza crônica

Karla Jaime *

Entramos no outono, logo o inverno virá e, com ele, o risco de aumento de casos da gripe A. Muito bem-vinda, portanto, a campanha de vacinação deflagrada recentemente e destinada a um público de maior risco.

Alguns dos grupos são facilmente identificáveis: profissionais da área de saúde, grávidas, crianças de 6 meses a 23 meses, idosos (mais de 60 anos) e adultos entre 20 e 29 anos, num primeiro momento, e de 30 a 39 anos, em seguida.

Mas há um outro grupo, o de portadores de doenças crônicas, ao qual em Goiás são destinadas 41 mil doses. Fiquei em dúvida sobre como proceder, nesse caso. Deveria pegar com a médica um atestado, confirmando a doença? Acompanhando o noticiário, ouvi, com agradável surpresa, a explicação de um alto funcionário do Ministério da Saúde. Segundo ele, a exigência de comprovantes implicaria em burocracia desnecessária. E lembrou: fica a critério da consciência de cada um, porque se quem não está no grupo de maior risco se vacinar, vai estar tomando o lugar de uma pessoa que precisa mais.

Maravilha! Enfim, entramos no mundo da civilidade, onde a selvageria do salve-se quem puder dá lugar a uma convivência tranquila, na qual prioridades são reconhecidas sem a imposição de leis ou de punições.

Durou pouco minha empolgação. No segundo dia da vacinação de doentes crônicos, ontem, já havia registro de problemas com pessoas que não fazem parte desse grupo entrando na fila para se vacinar. No Maranhão, a situação chegou a tal ponto que o governo do Estado decidiu começar a fazer uma triagem.

O número de doses de vacina para cada grupo foi acertado com os Estados, bem como a definição do público-alvo. Nesta segunda etapa, a meta é de 20,5 milhões de pessoas vacinadas. Matemática básica: se quem não está na previsão quiser tirar proveito da falta de burocracia, vai prejudicar os doentes crônicos, mais vulneráveis.

Essa ideia fixa de sempre levar vantagem precisa dar lugar a um novo comportamento. Seja nas campanhas de vacinação ou no respeito a vagas para portadores de necessidades especiais nos estacionamentos, a assentos para idosos nos ônibus ou ainda à gentileza nas ações cotidianas. Pelo visto, ainda não chegamos lá.


* Karla Jaime é jornalista.

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