sexta-feira, 19 de março de 2010

Ônibus para o caos!

O Popular

ARTIGOS
 





Érico de Pina Cabral *

Transporte coletivo, até quando?

Calcula-se que cerca de 22 milhões de viagens são feitas mensalmente nas linhas integradas do transporte coletivo na região metropolitana de Goiânia, sendo 4,5 milhões no Eixo Anhanguera, sob administração da Metrobus, e o restante nas demais linhas alimentadoras gerenciadas pelas empresas que compõem o Setransp. A frota total é de 1,4 mil ônibus, em sua maioria, novos e seminovos. Deste total, 110 são articulados da Metrobus que fazem a linha mater do Eixo Anhanguera.

Com a expansão urbana e o aumento da demanda, especula-se que a defasagem da frota já chega a 20% (cerca de 280 ônibus). A Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC) é a responsável pela regulamentação e fiscalização do sistema.

A velocidade média dos ônibus nas linhas alimentadoras nos horários de pico já foi de 10 a 12 quilômetros por hora, mas o atual caos no trânsito urbano reduziu a média para 8 quilômetros por hora. A implantação de corredores é uma solução para o aumento da velocidade média e do número de viagens (frequência), além de melhorar a regularidade no horário. Atualmente, só o Eixo Anhanguera conta com corredor exclusivo. Na Avenida 85, o corredor é preferencial e os ônibus, em muitos trechos, têm de dividir a utilização da pista com veículos particulares. Os corredores das Avenidas T-9 e T-7 há muito já poderiam ter sido implantados, mas, a falta de vontade da CMTC e a resistência dos comerciantes locais têm impedido o início das obras.

Recentemente, a CMTC e o Setransp promoveram alteração simultânea no percurso de 27 linhas alimentadoras. Este fato foi a gota d’água que fez transbordar um sistema que já operava no limite da capacidade e da paciência do usuário. As alterações foram feitas sem planejamento algum, sem período de adaptação, sem consulta aos usuários prejudicados pelas novas áreas sem cobertura de linhas, sem informação adequada sobre as novas linhas alternativas, sem ônibus suficientes para cobrir a demanda e sem o remanejamento dos abrigos para os novos pontos de ônibus.

A ebulição da deficiência desembocou no já acanhado terminal da Praça da Bíblia, onde não há espaço para todos e as bancas de camelôs ocupam os locais destinados à circulação e embarque dos passageiros. Neste terminal, nos horários de pico, a cada ônibus que parte, uma multidão se acotovela para garantir seu espaço na viagem. Nesta situação, é quase impossível garantir a preferência para idosos, mulheres grávidas, crianças e deficientes físicos.

A falta de ônibus e a superlotação além dos limites da dignidade ocorrem em quase todas as linhas nos horários de pico. Entretanto, em algumas linhas que partem do terminal da Praça da Bíblia, como a 283 (Senador Canedo), a 263 (Câmpus UFG), a 019 (Jardim América via Av. T-3) e a 020 que vai até os Terminais Isidora e Cruzeiro, a situação chega ser de calamidade. Os poucos ônibus que circulam carregam até 160 pessoas transbordando pela portas e janelas. Muitas vezes, o usuário tem de esperar três, quatro, cinco ônibus para conseguir embarcar. Essa espera humilhante, muitas vezes, passa de uma hora e meia e os atrasos no trabalho viram rotina.

A qualidade do serviço está muito abaixo das expectativas e são inúmeras as reclamações: falta ônibus, falta informação, falta organização, falta respeito, falta competência, falta espaço, falta tudo.

Enquanto isso, a CMTC, a Metrobus e o Setransp não se entendem e o usuário fica na lateral desse desencontro de interesses econômicos e políticos. Nesta situação de caos, com o edital de concessão nas mãos, o Ministério Público está monitorando a frequência e a lotação das linhas críticas com o objetivo de colher dados para, se for o caso, ajuizar ação civil pública com pedido de indenização por danos morais em favor da coletividade, além de multa vinculada aos passageiros que não conseguirem embarcar.

Já solicitamos providências e estamos aguardando os resultados. Ao usuário só resta esperar. Mas, até quando?

* Érico de Pina Cabral é promotor de Justiça,cCoordenador do CAO de Defesa do Consumidor do Ministério Público de Goiás, mestre em Direito pela PUC-SP e professor

Nenhum comentário:

Postar um comentário