segunda-feira, 22 de março de 2010

Linhas e entrelinhas!





José Batista Júnior

Entrevista // José Batista Júnior

“Política se ganha não é com dinheiro”
Num discurso ‘político-empresarial’, onde garante não confundir a vida pública com negócios, José Batista Júnior (PTB), sócio-proprietário da JBS Friboi, afirma que bateu o martelo: será candidato nas próximas eleições ao cargo de vice-governador ou de senador. Nesta entrevista ao POPULAR, Júnior do Friboi, – como é chamado – 50 anos, casado, pai de três filhos, fala de pontos que ele mesmo considera importante esclarecer. Um deles é que a JBS vai doar dinheiro para todas as campanhas no Estado.

Núbia Lôbo

Hoje o sr. já pode dizer se vai mesmo entrar na campanha?

Existem duas possibilidades de eu entrar: no Senado ou na vice. Estou sendo muito cauteloso com isso porque temos de acomodar as coligações. Acho que tanto o Senado quanto a vice são posições importantes para fazer as coligações. O PTB estaria com direito de disputar as eleições em uma das duas vagas. O que diria é que estou disposto a contribuir com esse debate político para 2010. Se não for agora, não teria nenhuma condição de pensar isso mais para frente porque as minhas prioridades seriam outras, (seriam) para a empresa. Com esse convite que o senador Marconi Perillo me fez no ano passado, vim me preparando para me dedicar algum tempo às decisões políticas e administrativas do Estado. Estou decidido sim, só não te afirmo em qual posição vou entrar. Meu perfil é mais para o Executivo. Agora, se for para acomodar – o candidato ao governo pode precisar da vaga de vice – não tenho nenhuma objeção. Estou muito desprendido, não estou pensando em posição para mim. Estou pensando é que venha fazer algo que possa ser ativo, participativo, ter um espaço para trabalhar.

Então está definido que o sr. entra na campanha?

Exatamente. Fui convidado para as duas vagas e estou muito tranquilo em relação a isso. Estamos esperando as desincompatibilizações e, depois, quem vai vir (para a coligação). O DEM, o PR e qualquer outro partido que venha, o candidato pode ter a mobilidade de fazer as composições.

Na vice, o que o sr. pretende fazer?

Propus para o Marconi, eu indo para a vice, de criar uma secretaria de relações internacionais e desenvolvimento e que eu possa cuidar dessa parte. (Criar também) algumas secretarias ligadas a mim, alguma coisa bem mais ampla do que simplesmente ser vice. Não vou largar meus negócios, não faz sentido nenhum até porque não preciso disso, para simplesmente ser vice. O que penso e tenho combinado com o Marconi e com a base é que não viria para o debate político simplesmente como um vice, sem atuação nenhuma.

Desde que apareceu como possível candidato, o seu nome é associado ao dinheiro que pode levar para a campanha. O que o sr . acha disso?

Você tem razão em fazer essa pergunta, só que não vejo isso dessa forma. Em todas as eleições vamos ter as doações dentro da lei. A ideia minha não é colocar dinheiro em campanha, não. É buscar as doações previstas em lei. A JBS vai fazer doações para todos (os candidatos). Independente de eu ser o candidato ou não, ela (a empresa) vai participar com todos, como sempre participou.

A sua candidatura não vai restringir as doações aos adversários?

A JBS vai participar como empresa independente, como empresa que não tem nada a ver comigo. Vai participar com todas as coligações, com todos os partidos.

Mas não fica estranho: o sr. como candidato a vice do Marconi e a JBS doando dinheiro para a campanha do Iris?

Não fica estranho porque faz 32 anos que nós fazemos doação ao Iris, ao Marconi e a todos do Brasil inteiro. Nunca deixei de participar. A gente não pode misturar pessoa jurídica com pessoa física. Estou entrando (na política) para servir no meu CPF, na minha pessoa física. Até porque não posso misturar empresa com política, de forma alguma. Estou entrando simplesmente porque fui convidado e, por uma gratidão, queria servir ao meu Estado. Não sou mais estatutário na empresa, não estou como executivo, estou no conselho (de Administração da JBS), posso permanecer no conselho. (Na campanha) não estaria de forma alguma ligado a dinheiro, não. Acho que política se ganha não é com dinheiro, não. Já vi muita gente com dinheiro perder muitas. Se ganha com propostas, com voto, com projetos, com confiança.

Não é bem assim, porque as campanhas estão ficando cada vez mais caras no Brasil.

Dinheiro é uma parte em que todos os partidos terão direito de arrecadar doações, tudo legalizado pelo TRE. De fato vou buscar (doações) com todo empresariado do Brasil que conheço, vou buscar recursos com meus amigos para manter as despesas que forem eminentes à campanha. Mas ganhar a política por causa do dinheiro, do poder econômico, não acredito nisso.

Quando Marconi defendeu sua candidatura ao Senado, os democratas Demóstenes Torres e Ronaldo Caiado criticaram, chegando a sugerir que o PSDB estaria vendendo a vaga para o sr. Como recebeu essas críticas?

Primeira coisa: não tenho nada contra o Caiado. Admiro muito ele, inclusive ele foi fornecedor nosso (da JBS), ele é pecuarista. A base política dele foi da União Democrática Ruralista – UDR, fundada em 1986). Nós participamos da UDR junto com ele, defendendo a classe produtora. Ele cometeu daquela vez um equívoco até porque nós entendemos que ele era o líder da UDR: fez o maior leilão, acho, do Brasil, foi em Brasília, para arrecadação (de recursos) para defender os direitos ruralistas. Nós participamos disso. E depois ele desviou o foco para ser candidato à Presidência da República. Quando ele foi candidato a governador do Estado, contribuí com ele na campanha. Fui na casa dele, levei uma contribuição grande para ele na época. Nós abatemos o gado dele sempre que nos deu preferência. Respeito o Ronaldo muito. Agora, acho que isso (as críticas) deve fazer parte da estratégia política dele. Porque no fundo não acredito que ele queira me prejudicar. Ele tem de ter uma história para contar e a história é defendendo o produtor.

O que o sr. espera do DEM?

Espero que o Demóstenes e o Ronaldo decidam vir para o PSDB porque acho que é o caminho natural deles. O Demóstenes tem a vaga garantida para o Senado, o Ronaldo para deputado federal. Eu poderia muito bem ser um grande aliado deles na defesa do produtor. Ao invés de ficarem batendo em nós, deveria era juntar conosco para protegermos os produtores em relação às barreiras que o Brasil possa ter no futuro lá fora.

Uma desconfiança até natural é de que se o sr. for eleito a JBS seria privilegiada com incentivos fiscais e outras benesses que podem ser concedidas pelo Estado.

Essa é uma visão totalmente equivocada. O Estado não faz absolutamente nada por uma empresa, faz pelo setor. A JBS, hoje, com capital aberto e empresa multinacional, não precisa de praticamente nada de incentivos fiscais. Acredito que hoje o Estado precisa muito mais da empresa do que a empresa do Estado.

Por quê?

Porque temos aqui 10 mil pessoas trabalhando no Estado. Somos o maior processador de matéria prima de commodities aqui dentro, transformamos o boi em produto acabado. Imagina que caos seria se fecharmos as nossas unidades no Estado. Temos três unidades de abate, uma fazenda com confinamento de 25 mil bois em Anicuns, uma unidade de higiene e limpeza em Luziânia, duas fazendas no Nordeste de Goiás – Iaciara e Posse –, uma unidade que fabrica sabão em pó em Guapó, confinamento de 50 mil bois em Mozarlândia, um dos maiores do Brasil, temos um curtume em São Luís dos Montes Belos. Então, temos uma responsabilidade social dentro do Estado muito grande. Para você ter uma ideia, operamos em 50% dos Estados brasileiros. O que foi feito beneficiou a todos.

A colunista Miriam Leitão criticou a política do BNDES de conceder empréstimos a grandes empresas. O Friboi foi citado porque pegou R$ 7,5 bilhões de recursos públicos num momento em que seu projeto de expansão está nos Estados Unidos. O sr. não acha que, primeiro, é muito dinheiro para uma empresa só e, segundo, esses recursos não deveriam ser empregados na economia brasileira?

Primeiro, não peguei empréstimo. Vendi ações da empresa e o banco comprou porque acreditou no negócio, na valorização das ações. O BNDES não me ajudou, ele fez um negócio como fizeram investidores da Ásia, da Europa e do Brasil. O fundo de pensão da CEF e da Petrobras fizeram um negócio em investimento em ações. Abrimos o capital, propusemos a eles que a empresa brasileira ia virar uma multinacional e eles entenderam que ganhariam dinheiro. Entenderam também que como decisão política era muito bom para o Brasil porque ia quebrar barreiras comerciais. Além disso, eles fizeram um negócio porque compraram ações de R$ 4 que hoje valem R$ 9. Estão ganhando dinheiro com isso, além do lado social e político também.

O sr. citou CEF, Petros e BNDES. São capitais públicos e o investimento em empresa privada não pode ser prioridade. Não deveriam pulverizar esses recursos?

É finalidade deles investir o dinheiro onde traga mais retorno. Investiram 120 bilhões no ano passado comprando ações de empresas, devem ter investido mais de R$ 400 bilhões em quatro anos. Nesse mesmo período, investiram 7 bilhões na JBS. E a política do BNDES, como banco nacional do desenvolvimento, é fazer isso mesmo: investir e dar a oportunidade às empresas de virarem multinacionais também. O Brasil só vai ter condição de exportar e não ser retaliado comercialmente no futuro se nós tivermos operações do lado de lá do mundo. Nos Estados Unidos, nós temos operações em 25 dos 50 estados norte-americanos. Em 50% dos Estados a gente interfere na economia deles. Qualquer planta que fecharmos num estado daqueles dá um caos. Acho equivocado falar (criticar) uma coisa dessa, é torcer contra o País.

O sr. já disse que não mistura política com negócios. Mas essa negociação com o BNDES é uma negociação com o governo federal. Como o sr. vai agora subir no palanque de oposição à candidata do presidente Lula?

E quem falou isso?

Mas se o sr. é candidato a vice do Marconi, que é palanque do Serra e oposição à Dilma...

Você está equivocada. O PTB está apoiando o PSDB para governador em Goiás e está na base nacional do Lula que vai apoiar a Dilma Rousseff em Goiás. Não tem nada a ver uma coisa com a outra.

E o sr. já pensou nisso na prática? Quando o Serra vier a Goiânia, o sr. não subirá no palanque da sua coligação?

Eu não preciso subir nem em um e nem em outro. Não sou candidato a nada, eu sou vice. Candidato é o Marconi Perillo.

Na prática, o sr. pretende se afastar da eleição presidencial?

Na eleição presidencial não preciso participar de nenhum palanque, posso ficar quietinho. Até porque não tenho discurso, não vou falar nada, não vou pedir voto para ninguém. Estou aliando a um projeto de governo no qual quero dar uma participação como vice-governador demonstrando que existe uma condição de uma continuidade em uma futura gestão, porque amanhã posso assumir o governo caso isso seja de comum acordo com todas as lideranças e com o próprio governador. Posso assumir o governo porque em política você está, você não é. O Marconi pode ficar 3 anos e 3 meses, me entrega o governo, eu assumo, vou para uma reeleição, fico mais três anos e três meses e posso sair de novo.

É isso que está planejado entre o sr. e o Marconi?

Eu não entraria se não fosse dessa forma.

O sr. não conta com a probabilidade de que, se eleito, o Marconi queira ficar oito anos e disputar nova reeleição?

Espero, não tem problema. Acho até bom que ele fique (oito anos). Até porque sou muito humilde em dizer que quero aprender com ele. De gestão pública não entendo, vou passar a entender. Tenho a vocação política e vocação empresarial. Agora, na vocação empresarial, já demonstrei para o mundo inteiro, para o Brasil e para os goianos o que nós fizemos e acho que é um grande orgulho. Na política, disse para o Marconi que não entendo, gostaria de aprender. Agora, daqui há quatro anos, se ele, os partidos e a coligação entenderem que Marconi não deve fazer uma quarta tentativa, que precisa de repente deixar o governo, quem assumiria? Automaticamente, eu assumiria o governo.

O sr. estará 100% presente na campanha?

Lógico. Vou ter de vir, ficar 90 dias direto na campanha, na televisão, nas agendas. Em todos os lugares vou estar presente, uma hora junto, outra separado. Vou ter de participar, dizer qual a intenção de nossas propostas.

O sr. chegou a falar com o Marconi a respeito do PTB apoiar a Dilma nacionalmente?

Não cheguei a falar diretamente com ele.

Mas o sr. já imaginou que o Marconi pode fazer uma crítica pesada ao governo Lula com o sr. do lado?

Mas não vou estar do lado. Quem é candidato a governador é ele. Eu disse para ele que espero que nós façamos uma campanha ética e de propostas. Agora, se ele quiser falar no palanque ou xingar alguém, o problema é dele, não vou compartilhar com isso. Não preciso ir lá. Quem me falou isso foi o presidente do partido, Jovair Arantes.

O sr. reconhece o desconforto com Lúcia Vânia? Porque se o sr. disputa o Senado tira a vaga dela, já que a outra vaga seria do Demóstenes.

Não, não tem desconforto nenhum. A vaga não é dela, não é de ninguém. A vaga é do partido. Está terminando o direito de oito anos que o povo deu a ela. Agora é zerar tudo e começar de novo. Ela está esperando que o partido e o povo possam reconhecer o trabalho dela e, ao vencer as eleições, traga ela novamente.

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