TODOS POR UM
Afonso Lopes
Será que ainda tem jeito?
União da base lulista em Goiás esbarra nas diferenças entre os partidos.
Se o presidente Lula interferir, provavelmente será a favor de Iris Rezende
Em todas as visitas palanqueiras que fez a Goiás, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sempre defendeu a união total de todos os seus aliados nas eleições deste ano. É óbvio que a preocupação dele não é com o destino deste ou daquele candidato a governador, mas com a formação de uma frente monolítica que empurre a candidatura da ministra Dilma Roussef à Presidência da República. De quebra, e aí sim, talvez a união possa beneficiar também um candidato na luta eleitoral contra o senador tucano Marconi Perillo. Ou não necessariamente.
Lula não está nem aí se a melhor estratégia para enfrentar o adversário tucano em Goiás é o lançamento de um ou de vários candidatos. Para ele, o que importa mesmo é Dilma. Ele só pensa nela. E não há realmente unanimidade quando se discute a melhor formatação eleitoral para disputar a eleição goiana.
Para alguns, a união total de todos os partidos da base do presidente Lula, e são quase todos, literalmente, reforçaria de tal forma o candidato ungido que Marconi poderia ficar em desvantagem. É uma tese que faz sentido, sem dúvida.
A começar pelo tempo na importantíssima campanha eletrônica, no rádio e na televisão. Todos os partidos de Lula somados numa coligação daria ao candidato único em torno de 65 a 70% do tempo de campanha. É muita coisa mesmo. Marconi teria que se virar com 22 a 25%. Mas para chegar a esse massacre na campanha do rádio e da TV seria necessário agregar a mais impressionante força partidária da história de Goiás, indo do PMDB ao PT, passando pelo PP, PR, PSB, PDT e demais partidos que gravitam em torno de Lula em Brasília.
Nesse caso, provavelmente, Marconi contaria somente com as forças que fazem oposição a Lula, caso do PSDB, DEM e PPS, além do PTB, que em Goiás é comandando pelo deputado Jovair Arantes, velho companheiro do candidato tucano.
Se a tese da união total tem defensores, a idéia de abrir o leque de candidaturas, que funcionaria como várias frentes de ataque a Marconi, também faz algum sentido prático. A coligação gigantesca levaria a eleição para uma formatação complicada, a plebiscitária. Já a divisão entre dois ou mais candidatos criaria condições para a pulverização da maioria, praticamente forçando a realização de dois turnos.
Iris Rezende (PMDB), que ainda alimenta a possibilidade de disputar mais uma vez o governo, mesmo tendo que para isso abrir mão de quase três anos de seu tranquilo e recém-renovado mandato de prefeito de Goiânia, tem trabalhado no sentido da chapa única. Mas não está encontrando boa receptividade, especialmente no PP palaciano.
O problema não é novo. PP e PMDB sempre foram adversários em Goiás. Desde a Velha República. Portanto, não é ojeriza recente. Superar isso, ainda que em nome da possibilidade de causar a derrota do adversário tucano, é algo bastante complicado. Principalmente nas bases desses partidos. É claro que aqui ou ali é possível encontrar alianças municipais entre peemedebistas e pepistas, mas essa não é a regra. Além disso, Iris Rezende é a logomarca real do PMDB. É olhar pra ele ou ler o seu nome para ver materializar-se instantaneamente o próprio partido.
Nesse caso, talvez fosse melhor encontrar um peemedebista que não fosse assim um peemedebista. Ou seja, Henrique Meirelles. Será que se ele for o candidato do PMDB o PP engoliria melhor essa aliança? Pode ser que sim, mas restaria saber se o drible vexatório de último momento que Meirelles deu no Palácio das Esmeraldas em outubro — quando deixou de lado a ficha de filiação do PP e se abrigou no PMDB — foi totalmente superado pelos pepistas. Aparentemente, a humilhação imposta por Meirelles continua barata, mas ninguém sabe se não há algum preço a se pagar. Não apenas na cúpula do PP, mas também nas bases.
Por outro lado, até que ponto seria interessante dentro do aspecto político para o PMDB ter um candidato sem nenhum compromisso com o partido. Sim, porque Meirelles jamais se comprometeu com as lideranças peemedebistas. Ele sempre deixou absolutamente claro que o negócio dele é o presidente Lula e mais ninguém.
Se há complicações nessa relação direta entre um candidato do PMDB e a aliança com o PP, o inverso também não é simples. Os pepistas se apresentam com pelo menos dois nomes fortes internamente: Ernesto Roller, deputado estadual e ainda secretário de Segurança Pública (ele deixa o cargo no final deste mês ou início de abril) e Jorcelino Braga, secretário da Fazenda.
Internamente, e a partir da visão palaciana, Braga é muito mais consistente do que Roller. Ele é o principal secretário do governo Alcides Rodrigues e um leão da defesa da administração. E isso fez de Jorcelino Braga o nome mais palatável dentro do PP, com exceção, é claro, da ala pepista que não concorda com o rompimento da antiga aliança com o PSDB. Já Roller tem o mérito de ter passado pelo teste das urnas. Está em seu segundo mandato como deputado estadual e planeja, se nada melhor lhe ocorrer, disputar agora mandato de deputado federal.
De volta à união Lulista, nem Braga nem Roller conseguiriam seduzir os peemedebistas. Aliás, a encrenca é muito mais séria. Dificilmente o PMDB conseguirá se ver livre da quase obrigação de bancar um nome próprio. E se isso inclui os dois pepistas, envolve também os três nomes lançados pelo PR, Sandro Mabel, Ademir Menezes e mais recentemente Vanderlan Vieira, prefeito de Senador Canedo.
Neste momento, ainda não se sabe exatamente qual será a formatação final das eleições deste ano. Em tese, o Palácio poderá bancar uma candidatura como tem anunciado, com PP, DEM, PR e PSB. Mas basta um desses grandes partidos cair fora para inviabilizar a proposta completamente. É nisso, inclusive, que PSDB e PMDB estão apostando.
Iris tem forçado a barra sobre o PT para que Brasília entre no meio da confusão partidária goiana. Ele diz que quer o PP, mas visa mesmo é o PR, muito mais maleável nesse caso. O PSDB tem procurado atrair o DEM. E isso leva a tensão ao máximo: se os democratas optarem pela reprodução da aliança nacional em Goiás, a frente palaciana vai se esvaziar na mesma hora. Isso, fatalmente, provocará nos republicanos uma retomada de posição. Ou com o PMDB ou com o PSDB.
Lula poderá, no último minuto, entrar no meio da confusão goiana e martelar ainda mais fortemente pela união de todos (ou quase todos) os partidos de sua base em torno de um único candidato. Pragmático como ele é, nesse caso, provavelmente o ungido seria Iris Rezende.
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