terça-feira, 23 de março de 2010

Cultura, sempre!

PORTAL DO SENADOR MARCONI PERILLO

Ações e atos culturais, sempre!

Os políticos são eleitos pelo povo para administrarem a cidade, o Estado, independentemente de partidos, de ideologias, como reza o significado do termo grego “politikós”. Este é o princípio por que pauta o governo da polis desde a antiguidade. Se isso não acontecesse, não teríamos obras marcantes da cultura arquitetônica, inclusive da pré-história, como os dolmens, os menires, as cavernas. Não teriam ficado para nosso deleite inúmeras edificações, tipo panteão, pirâmides, muralhas da China... Se os políticos e religiosos não imprimissem continuidade às construções iniciadas por inúmeros administradores, não teríamos as belas catedrais da Idade Média, construídas durante centenas de anos; não teríamos os coliseus de Arles e Nimes; a petra, da Jordânia, os monumentos de Machu Picchu, o Taj Mahal, o Cristo Redentor. No campo político, no Brasil, infelizmente a maioria dos governantes não valorizam e não continuam as obras de seus antecessores. Em decorrência, o povo não venera as raízes culturais cristalizadas no tempo e pelo tempo nos templos das artes. Imagino que, se os menires aqui estivessem já teriam se transformado em britas; os dolmens, então, coitados, que seria deles?

Brasília, por exemplo, se Juscelino não a houvesse construído toda em seu governo e inaugurado, operando a consequente transferência da capital, poderia não ter se convertido em cidade. Mesmo assim, governos nada sensíveis aos caracteres das artes modernas deformaram-na e transformaram-na naqueles monstros pintados por Giuseppe Arcimboldi em estilo maneirista. Basta verificar os famosos anexos aos ministérios, erguidos sem o cuidado do estilo, das linhas e pontos iniciados por Niemeyer, Lúcio Costa, Joffre Parada... E os bairros, tipo Samambaia, criados pelo maldito interesse eleitoreiro de um cego do belo, da estética das curvas niemeyerianas?

Pior ainda, a atitude dos governantes que acreditam que a história da humanidade começou com eles e se esquecem de que a cultura e tudo que se lhe adere, inclusive a economia e o pensamento futuro, decorrem de um processo que vem sendo elaborado pedra a pedra, tijolo a tijolo, argamassa a argamassa desde o aparecimento do homem nos confins do mundo. Aliás, o pensamento futuro é o menos cultivado pelos administradores eleitos unicamente para este fim, pois, em um País das dimensões desses brasis, é inadmissível a inexistência de linhas férreas cortando-o em todas as direções, a fim de encurtar os caminhos com a rapidez e a economia necessárias à modernidade. Mas, corremos o perigo de as obras iniciadas por um governo não prosseguirem em outro, até mesmo coligado ao anterior, ou de extrema confiança, uma vez que os Lúciferes, os Judas, os Brutus, os Talleyrand Périgord, os Calabares, no meio político, constituem uma peste, pior que aquela retratada por Camus em romance homônimo.

Em Goiás, Estado pleno de ideias e de ações criativas, manifestas na literatura, no teatro, nas artes plásticas, na música, inclusive aquela de mau gosto, criada e mantida pela mídia televisiva, rádio-difundida e até na propaganda, as coisas, infelizmente, não são diferentes, como se as artes tivessem partido, fossem apenas reflexo de uma pessoa ou de um partido político. O clássico exemplo foi constatado no teatro inacabado, em que a própria denominação revelou o quão pobres eram as pessoas que poderiam ter trabalhado para o culto à arte dramática. E o Centro Cultural Oscar Niemeyer, monumento e revelação de uma vontade política que poderia agregar, em um só local, todas as artes goyazes, por que se encontra às moscas e seus sinais fecálitos pelos vitrais e paredes que deveriam abrigar os mitos, os rituais e os ritos das artes? Por que a peste dos Aldrich Ames, dos Pinochet impossibilita aos artistas revelarem ao povo, notadamente, o que tem acesso ao belo e, em conse quência, possui os graus necessários de cultura para captá-lo e entendê-lo como ele se manifesta desde as mais remotas criações empreendidas pela inteligência humana?

A verdade, no entanto, é que há governantes que se inscrevem e se cristalizam na História pelo apoio e pelo incentivo às realizações estéticas de todas as fôrmas e formas de repetição do ato divino de criar. Outros, por serem pequenos, míopes, daltônicos e enxergarem-se no tempo apenas pela frincha distorcida das ideias minúsculas e anêmicas da insensatez e, pior, por preferirem atingir um homem em detrimento dos homens, um ser em detrimento dos seres. O Centro Cultural Oscar Niemeyer precisa funcionar, precisa exercer os objetivos por que fora construído! É dever e obrigação do Estado! É a continuidade necessária, independente de partido e ideologia, de gratidão e deslealdade, de fidelidade e traição... Miserere nobis et artibus, Domine!

José Fernandes é da Academia Goiana de Letras

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