quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Podemos mais!





Opinião



Frederico Jayme Filho

A paz em tempos de transformação humana

Os acontecimentos violentos e as atrocidades dos últimos tempos, em especial nas relações domésticas, retratam um período de tremenda confusão, bem como de alarmantes conflitos. A política da confrontação global, as divisões religiosas ou culturais, as imposições isolacionistas no setor econômico, enfim, os grandes atropelos ao desenvolvimento do ser humano em sua dignidade, cederam lugar ao diálogo universal em busca de um futuro possível à humanidade. Em escala mundial, o planeta é cada vez mais encarado como uma casa que precisa ser arrumada e limpa, mas a identidade humana parece perdida neste meio.

Na realidade, o ser humano, longe de ser o simples resultado de uma tendência universal, onde os líderes mundiais (nem todos com a mesma disposição) selam acordos pelo bem comum, atravessa uma crise de transformação. Ignora-se como ser provido de alma, vê-se a si próprio com imagens distorcidas da realidade, imagina-se por vezes rei supremo e, noutras, um súdito maltrapilho e sem voz. Essa linha de pensamento não pode, entretanto, ser de abordagem puramente sofista, mas carece de uma profunda meditação de todos e uma consequente ação que vise expurgar o mal que tem gerado. A questão é mais complexa, pois a vida não é descartável nem pode ser substituída.

Na vida cotidiana, o homem é membro de vários grupos e pertencente a todos eles. Cada uma destas comunidades, às quais a pessoa simultaneamente pertence, confere-lhe uma identidade particular. Nenhuma delas pode ser entendida como a única identidade ou como a única categoria. Dadas as identidades inevitavelmente plurais, o homem deve decidir quanto à importância relativa das diferentes associações e afiliações em cada contexto específico em que se encontra. As responsabilidades da escolha e do raciocínio são, portanto, fundamentais na condução de uma vida humana.

As perspectivas de alcançar boas relações entre grupos humanos diferentes - amizade entre civilizações, diálogo entre grupos religiosos ou relações amigáveis entre comunidades diferentes, não pode gerar uma diminuição da importância de cada ser humano. É ímpar garantir a paz de homem para homem, pois esta realidade é que precede a verdadeira paz.

O mundo dividido torna-se muito mais desagregado do que o universo das categorias plurais e diversas que moldam o orbe em que vivemos. O ser humano dividido, entre múltiplas facetas da realidade, torna-se uma contradição. A esperança de harmonia no mundo contemporâneo reside na compreensão mais clara das pluralidades da identidade humana. Negligenciar tal multiplicidade e a necessidade da escolha e do raciocínio obscurece o mundo em que habitamos, empurra-nos rumo a cenários devastadores.

Podemos fazer melhor do que isso.

Reunamos todas as forças positivas, todos os pensamentos iluminados, todas as boas vontades latentes, todas as gotas do orvalho, todo o calor do sol, todas as folhas de todas as árvores, todas as raízes entrelaçadas, os sopros do vento calmo, a esperança de todas as manhãs.

Reunamos os acordes do amor, a sinfonia das amizades, as auras do respeito, e vistamos a manta da dignidade.


Frederico Jayme Filho é advogado, ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, ex-secretário estadual de Segurança Pública e ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado de Goiás

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