terça-feira, 5 de janeiro de 2010

03 de janeiro de 2010

O Popular

Cileide Alves

De um ano difícil para outro pior

O ano que passou foi de pouca colheita para as principais forças políticas goianas. O PSDB parece que patina sobre o mesmo lugar, sem conseguir avançar na criação de condições políticas para dar sustentação à candidatura do senador Marconi Perillo para governador. Pelo menos é esta a impressão depois de um olhar retrospectivo pelo ano que terminou. No início de 2009, portanto há exatos 12 meses, os tucanos tentavam não reagir à última das críticas do secretário da Fazenda, Jorcelino Braga, e do governador Alcides Rodrigues.

Na época, Alcides afirmara que havia encontrado muitos “esqueletos” no governo e Braga falava em repassar informações para a Polícia Federal e o Ministério Público, sugerindo irregularidades na antiga gestão. Pelo que se sabe, nem PF nem MP se interessaram pela suposta denúncia, mas a existência de tais provas, ainda que invisíveis, paira como uma ameaça e, eventualmente, volta a ser sacada em momentos de maior tensão política entre PSDB e PP. Caso da última sexta-feira, quando Braga voltou a afirmar que as críticas que faz às gestões tucanas não são “levianas nem eleitoreiras”, pois estão todas em levantamentos da Secretaria da Fazenda e do Tribunal de Contas dos Municípios e “à disposição do Ministério Público e da Polícia Federal.”

Como se vê, o bate-boca desse final de 2009 é uma repetição do mesmo bate-boca do final de 2008, que por sua vez repetiu as mesmas trocas de acusações de 2007. O PSDB se esforçou muito para manter a antiga base unida, para proteger a imagem de seu pré-candidato, mas os resultados são poucos, se comparada à situação em que o partido se encontra hoje em relação ao ano anterior. Os tucanos ainda estão isolados politicamente, à espera de que algo dê errado no campo adversário, isto é, na articulação governista para lançamento de um candidato a governador com a chancela de PP, PR, PSB e DEM, para ter a oportunidade de receber de volta em sua aliança pelo menos um dos filhos pródigos, o DEM. Caso contrário, o partido terá dificuldade de montar uma chapa com tempo razoável no horário eleitoral gratuito no rádio e na TV, um instrumento vital em uma campanha eleitoral da era das mídias eletrônicas.

É por este isolamento que o governo tem trabalho politicamente desde a posse de Alcides, em janeiro de 2007. O PP parece acreditar que os tucanos nem conseguirão mais reverter esse quadro pela declaração do governador em entrevista, quinta-feira, ao Bom Dia Goiás. Ao ser perguntado se era impossível que ele pedisse votos para Marconi, Alcides respondeu: “Não existe nada impossível nesse mundo, mas hoje todas as evidências e todas as condições estão levando para que nós tenhamos uma candidatura. Aliás, o senador tem mais quatro anos no Senado, não é? Quem sabe se resolva a cumprir os quatro anos lá. Seria uma pessoa a defender os interesses de Goiás no Senado, sem dúvida nenhuma”.

Em outras palavras, o governador expressa um desejo que tem sido manifestado discretamente por governistas, o de que Marconi poderá nem mesmo ser candidato a governador por não conseguir reunir as condições políticas necessárias para uma candidatura majoritária. Ao dizer que o senador talvez “resolva cumprir os quatro anos lá” (no Senado), Alcides sugere (ou torce) que Marconi poderá desistir da disputa de 2010.

O PP tem obtido sucesso nesse processo de desgaste político de Marconi, mas também terminou o ano sem ter o que comemorar na construção de seu próprio projeto eleitoral. Apostou todas as suas fichas na filiação do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e ficou sem alternativa quando este optou, em outubro, por se filiar ao PMDB. Foi então que começou a articular, já na última hora, uma aliança com PR, PSB e DEM, mas entrou o ano novo deixando o meio político, inclusive os prováveis aliados, inseguros quanto ao fôlego governista para montar o difícil jogo de construção desse projeto eleitoral.

Na parte administrativa, o governo não apresentou solução para o maior “gargalo” do Estado, a crise na Celg. Passou todo o ano de 2009 em intermináveis negociações técnicas, ora com a Eletrobrás, ora com a Secretaria do Tesouro Nacional. Prometeu ao final do ano, assim como prometera em 2008, solucionar a crise no ano seguinte. Entrou 2010, portanto, renovando mais uma promessa, assim como renovou o compromisso de investimentos em obras, agora com o socorro de um empréstimo de R$ 280 milhões autorizados pela STN. Assim, como os tucanos, os governistas também entram no ano-novo com o discurso de um ano atrás, com mais do mesmo.

O ano de 2009 não foi fácil para o PMDB. Coube ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva dar a maior rasteira que o partido recebeu no ano. Na visita que fez a Goiás, em agosto, o presidente reforçou o nome de Meirelles como candidato a governador e não fez nenhum gesto em favor de Iris Rezende, candidato natural do partido. Iris acusou o golpe, reuniu-se com Lula, em Brasília, uma semana depois e deu a volta por cima, trazendo Meirelles para o PMDB. Já que tinha de disputar com Meirelles a preferência de Lula, então que isso ocorresse dentro de seu partido.

A filiação do presidente do Banco Central recolocou o PMDB como protagonista da cena política, mas o partido herdou junto a indefinição de Meirelles quanto a seu futuro político e entra em 2010 sem saber quem será o candidato a governador. A ofensiva administrativa de Iris em Goiânia, verificada nos anos anteriores com objetivo de tornar a prefeitura seu cartão de visita político, não se repetiu. Em 2009 esse cartão perdeu cores. Diferentemente de anos anteriores, a prefeitura não deixou uma marca forte na cidade, que poderia lapidar a imagem de Iris como gestor público para o embate eleitoral de 2010.

As três maiores forças políticas goianas da atualidade saem, portanto, de um ano difícil, em que pouco avançaram, para entrar em outro definidor, quando não serão permitidos erros. Pelo que se viu até agora, essas forças vão ter de readequar suas estratégias, em especial nestes meses pré-eleitorais, quando os partidos ganham ou perdem meia campanha. Vão ter de se reinventar para exibir alguma perspectiva de vitória, essencial para manter uma campanha viva.

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