terça-feira, 12 de janeiro de 2010

10 de janeiro de 2010

Diário da Manhã

Valin rebate críticas de Iris à CPI
Presidente da Assembleia exige respeito com a comissão e afirma que relatório da Fipe é “exclusivamente técnico”

Em resposta aos questionamentos sobre a seriedade dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que apura possíveis irregularidades na gestão financeira da Celg nos últimos 25 anos, o presidente da Assembleia Legislativa, Helder Valin (PSDB), saiu em defesa do poder. Autor do requerimento que resultou na instalação da comissão, ele criticou os que acusam a Casa de estar a serviço do senador Marconi Perillo (PSDB) e colocam sob suspeita os relatórios elaborados pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

“O relatório da Fipe é exclusivamente técnico, não cita nomes. Todos têm o direito de apresentar suas versões dos fatos, mas que o façam de forma racional, respeitando a inteligência dos goianos e a seriedade da Assembleia Legislativa e de instituições ilibadas como o TCE e a Fipe – que estão assessorando a CPI justamente pela sua imparcialidade e notoriedade como órgãos de fiscalização e de pesquisas”, declarou.

O presidente da Assembleia lembrou que a Fipe é ligada à Universidade de São Paulo, que é considerada a melhor universidade do Brasil e da America Latina e uma das melhores do mundo, e que, até o momento, a CPI está em fase de apuração dos fatos, não tendo acusado formalmente quem quer que seja por irregularidades. Para o deputado, “a verdade dos números não pode ser distorcida e está acima das paixões políticas”.

Sobre o fato de o relatório da Fipe ter colocado a venda da Usina de Cachoeira Dourada como uma das causas centrais do endividamento da Celg, ele destacou que o prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB), jamais defendeu a iniciativa (que foi tomada no governo do também peemedebista Maguito Vilela) e que o próprio ministro das Minas e Energias, Edison Lobão, que também é do mesmo partido, afirmou em entrevista concedida à Radiobrás, em setembro do ano passado, que a venda da unidade geradora de energia agravou a situação da estatal energética goiana.

“Repetidas vezes, Iris disse não concordar com a venda, ocorrida na gestão de Maguito Vilela, admitindo indiretamente que a iniciativa foi lesiva à saúde financeira da empresa”, frisou.

Valin acrescentou que o posicionamento do prefeito Iris Rezende, que qualificou a CPI como cortina de fumaça para encobrir irregularidades supostamente cometidas durante os governos do senador Marconi Perillo, é incompatível com o cargo que o peemedebista ocupa. “Ao acusar o Legislativo goiano e os membros da CPI de estarem a serviço de quem quer que seja, o prefeito Iris Rezende – que já integrou o poder – ofende profundamente esta Casa de Leis.”

O presidente do Legislativo defendeu com veemência os membros da CPI. Segundo ele, mesmo a Casa sendo política, os deputados que compõe a comissão têm demonstrado “seriedade, espírito público e compromisso com Goiás”. Valin lembrou que a CPI é suprapartidária, que seus membros foram indicados livremente pela liderança dos partidos com assento na Casa, inclusive do PMDB, partido ao qual o prefeito de Goiânia é filiado.

Ele fez questão de destacar a seriedade do relator da comissão, deputado Humberto Aidar (PT), “filiado ao partido do vice-prefeito de Goiânia, Paulo Garcia”, e do presidente, Helio de Sousa (DEM). Valin lembrou ainda que a Assembleia foi provocada a instalar a CPI. “Partiu de mim a iniciativa de propor a CPI por respeito à sociedade goiana, que tem direito de saber o que levou a Celg a afundar em uma crise tão profunda, com consequências graves para todo o Estado; por acreditar que os erros do passado nos ajudariam a encontrar soluções no presente; e também em resposta ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, aliado do prefeito Iris Rezende, que em visita a Goiânia cobrou da Assembleia Legislativa um posicionamento.”

Por fim, o deputado afirmou que, ao instalar a CPI, a Assembleia quis contribuir para a superação da crise financeira da Celg e não promover uma “caça às bruxas”. “Queremos apenas entender os erros do passado, para que eles não voltem a ser cometidos no futuro e mostrar por quem foram cometidos. Apoiar o desenvolvimento de Goiás é nossa missão. Nosso Estado precisa de uma companhia energética forte e moderna para continuar crescendo.”

Adequação constitucional vai a plenário em fevereiro

Deputado Helder Valin vai reapresentar, na segunda quinzena de fevereiro, Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê Adequação da Constituição Estadual à Federal. “Esta, com certeza, será uma das principais contribuições dessa legislatura à sociedade goiana”, diz o tucano.


A minuta da PEC foi elaborada ainda durante a gestão do antecessor de Valin, o também tucano Jardel Sebba, por uma comissão suprapartidária. Em 4 de março do ano passado, depois de ser amplamente discutida durante 18 meses, a proposta foi arquivada após obter em plenário 23 dos 25 votos necessários para a sua aprovação. O texto previa a alteração de 110 artigos da Constituição Estadual, a revogação de 62 dispositivos e ainda o acréscimo de dez novos artigos. Como o Regimento Interno da Assembleia prevê que PECs arquivadas só poderão voltar a tramitar na sessão legislativa seguinte, somente após o recesso parlamentar o assunto poderá voltar a ser discutido na Comissão de Constituição e Justiça, onde os deputados terão o prazo de oito sessões ordinárias para apresentar emendas.


Diário da Manhã

Serra e Dilma exibem táticas para corrida presidencial

O ano eleitoral começa com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), consolidados como os dois principais candidatos à sucessão presidencial e intensificando a movimentação em busca de votos. Serra lidera as pesquisas e começa 2010 sem a sombra da concorrência interna do governador de Minas, Aécio Neves, que desistiu de se candidatar.

Com isso, ele inicia o ano com sua base de apoio pacificada e tranquilizada pelo fim da indefinição que atrapalhava a montagem dos palanques estaduais. Essa situação fez com que o governador avisasse aos aliados que oficializará sua candidatura no fim de março.

Dilma também inicia 2010 em ritmo intenso. Ela volta amanhã do período de duas semanas de férias e deflagrará um amplo processo de viagens e contatos com as bases eleitorais do PT. Fortalecida nas pesquisas e recuperada de um linfoma, começa o ano espantando de vez o fantasma da adoção de planos B. Decidiu também partir atrás dos votos de Minas, segundo colégio eleitoral do País e seu Estado de nascimento - mas onde padece de baixa densidade eleitoral. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.


Fonte: Agencia Estado - AE

Diário da Manhã

O PMDB quebrou a Celg: Maguito

A CPI da Celg continua avançado na Assembleia Legislativa. Como vem dizendo o seu relator, deputado Humberto Aidar, já ficou claro que as investigações sobre o endividamento da empresa não vão terminar em pizza. Agora mesmo, a CPI acaba de receber um subsídio da maior importância: um relatório elaborado pela Fipe, que é o instituto de pesquisas da maior e mais prestigiosa universidade da América Latina, a paulista USP.

O trabalho da Fipe na cita governos e traça uma análise fria e técnica da história financeira da Celg desde 1984. Mostra que algumas situações, ali chamadas de “fatos notáveis”, foram decisivas para levar a empresa à situação de inviabilidade em que vive hoje. Esses fatos notáveis foram a “doação” da usina de Corumbá ao governo federal, a ausência de ressarcimento pelas instalações que ficaram no Tocantins, os subsídios dados à Codemin e a privatização da usina de Cachoeira Dourada.

Em resumo, esses eventos – “fatos notáveis”, como os classifica o relatório da Fipe – provocaram um desinvestimento de mais de R$ 4 bilhões de reais, que saíram da Celg e não retornaram. Dentre todos, a Fipe indica que a venda de Cachoeira Dourada foi o mais grave e traz revelações que confirmam ainda mais a responsabilidade do ex-governador Maguito Vilela na geração do milionário déficit da companhia.

Isso porque, até o momento, supunha-se que a perda de Cachoeira de Dourada limitava-se aos R$ 1 bilhão de reais que entraram no leilão de privatização, desviados para o Tesouro do Estado e subtraídos ao caixa da Celg. Naquele instante, a empresa deixava de ser geradora de energia e matava, digamos assim, a sua galinha dos ovos de ouro. Que esses R$ 1 bilhão de reais tenham sido danosamente torrados em obras supérfluas e despesas de manutenção do Estado é outra história, não menos delituosa, que mereceria uma CPI exclusiva, capaz de mostrar a Goiás até onde vai a leviandade de Maguito Vilela – e somente isso seria suficiente para o seu banimento perpétuo da política de Goiás.

Mas o rombo de Cachoeira Dourada não ficou apenas em R$ 1bilhão de reais. A auditoria da Fipe fez as contas e descobriu que o prejuízo da Celg foi muito maior, chegando a R$ 2,5 bilhões ou cerca de 60% do total do valor das dívidas atuais. É que a venda de Cachoeira Dourada provocou uma descapitalização significativa: além dos recursos recebidos pela usina, que não entraram no caixa da companhia, o governo Maguito não pagou um encontro de contas relativo a investimentos na hidrelétrica, que chegou a R$ 600 milhões, a que se devem somar as perdas com a tarifa contratada após a venda, que alcançam R$ 900 milhões. Ou seja, uma descapitalização de R$ 2,5 bilhões, somente com o processo de venda de Cachoeira Dourada. Não haveria e não há recuperação possível para um buraco tão grande.

Vender Cachoeira Dourada foi um crime contra Goiás que influenciará negativamente o nosso Estado por gerações e gerações. É uma tragédia que não tem conserto. O relatório da Fipe é categórico ao afirmar que “o governo do Estado não vendeu apenas a Cachoeira Dourada. Ele vendeu junto um contrato de compra, pela Celg, da energia gerada em Cachoeira Dourada a preços 53% maiores que o de outros fornecedores”. Basta alinhar os números para ver que os compradores, na verdade, ganharam a usina, pois em curto espaço de tempo receberam R$ 900 milhões a mais, vendendo energia sobrefaturada, por um patrimônio que custou pouco mais de R$1bilhão.

Logo após a divulgação do relatório da Fipe, Maguito Vilela distribuiu uma nota oficial que qualquer homem público decente e responsável se recusaria a assinar. Ele repetiu a velha lenga-lenga de que foi “obrigado” pelo governo Fernando Henrique a vender Cachoeira Dourada – o que é uma piada, já que outros governadores também passaram pela mesma situação e não jogaram as riquezas dos seus Estados pelo ralo. Além de admitir que é pusilânime, Maguito mostrou que nem sequer leu o documento da Fipe: ele, Maguito, afirma que parte do dinheiro da privatização foi investida na Celg, enquanto o relatório é taxativo ao dizer que isso nunca aconteceu.

Nessa nota, o ex-governador tem o mérito de reconhecer que a venda da usina foi um “equívoco”. Até que enfim. Mas, na sequência, cita as privatizações das telefônicas, realizadas pelo governo FHC, para insinuar que o PSDB cometeu um equívoco muito maior. Isso, além de má fé, é uma inconsistência, uma vez que a transferência das telefônicas para a iniciativa privada representou um inquestionável salto de qualidade para os usuários de telefone no Brasil, enquanto a privatização da Celg desperdiçolu bilhões de reais, nada trouxe de útil para os goianos e ainda acabou provocando a inviabilização da empresa, nos moldes em que se encontra hoje.

Iris Rezende também reagiu ao relatório da Fipe. Ele tentou desclassificar o documento e ainda por cima investiu contra a CPI da Celg, que foi aprovada pela bancada do PMDB na Assembleia e vem fazendo um trabalho que repercute favoravelmente na imprensa e nos meios políticos do Estado. Mas, ao contrário de criticar, Iris deveria aplaudir o relatório porque não foram listados outros “fatos notáveis” que aconteceram nas suas administrações e que também contribuíram para a ruína da empresa – e um é exemplo é a venda de ações da Celg na Bolsa de São Paulo, no apagar das luzes do segundo governo de Iris, rendendo uma fortuna que igualmente não foi parar no caixa da companhia. Eu espero que a CPI apure isso.

A verdade tarda, mas não falha. Iris e Maguito, que hoje se arvoram em redentores da política de Goiás, cometeram desatinos administrativos que em qualquer país civilizado seriam suficientes para afastá-los punitivamente da vida pública. Aqui, acham que são os donos do mundo.

Perinácio Saylon de Andrade Lima é advogado e ex-diretor comercial da Celg

Diário da Manhã

Fio Direto

Alexandre Bittencourt

Leonardo: “Discurso da Nova Frente será governar o Estado como PSDB governou”

Ao encaminhar o Plano de Cargos e Remuneração das polícias Civil e Militar e Detran à Assembleia Legislativa, no último ano de seu mandato, o governo Alcides Rodrigues (PP) repetiu uma prática do seu antecessor, o hoje senador Marconi Perillo (PSDB), que foi bastante criticada por ele e seus auxiliares. Foi o que disse ontem o de-putado regional e presidente do PSDB, Leonardo Vilela. “Propuseram o aumento da folha salarial e a criação de novos cargos, o mesmo que fizemos em 2006. E, na época, disseram que havíamos sido irresponsáveis”, dispara Leonardo. “Estão promovendo a continuidade do governo do PSDB, apesar de nos criticarem”. O deputado afirma ainda que, ao enviar a proposta à Assembleia, o governo se contradisse, uma vez que, no começo do mandato de Alcides, seus auxi-liares disseram que a folha salarial tornaria a administração do Estado inviável em cinco anos. “Está provado que aquele deficit não existiu da forma como eles diziam existir”. Tal prática leva o presidente do PSDB a uma certeza: o candidato a governador escolhido pela Nova Frente vai propor ao eleitor um projeto de continuidade ao implantado por Marconi, entre 1999 e 2006.


Executiva do PSB ameaça intervir se Barbosa Neto der apoio a Caiado

• A Executiva Nacional do PSB comunicou ao presidente do partido em Goiás, o presidente da Goiás Turismo, Barbosa Neto, que não aceita a participação da legenda em uma aliança que tenha, como principal objetivo, uma candidatura do deputado federal Ronaldo Caiado (DEM) a governador.

• A resistência do PSB a Caiado se deve ao fato de o partido participar, no plano nacional, do bloco que dá sustentação ao presidente Lula. Ocupa, com Sérgio Rezende, o Ministério de Ciência e Tecnologia. Caiado é inimigo número um de Lula.

• A bem da verdade, uma candidatura de Caiado também não agrada de fato os prefeitos do partido. Eles preferem que o candidato ao governo seja o próprio Barbosa, mas o presidente da Goiás Turismo não é dos nomes mais cotados para liderar a Nova Frente. Antes dele, estão, por exemplo, Jorcelino Braga (PP), Ernesto Roller (PP), Sandro Mabel (PR) e o próprio Caiado.


Turnê



Assim que desembarcar em Goiânia, o senador Marconi Perillo deve se reunir com a executiva e deputados do PSDB para estabelecer uma agenda prévia de eventos que contarão com a presença da estrela máxima do partido pelo Estado.

Foi fácil


Na Assembleia Legislativa, todos concordam que a ausência de uma oposição sistemática – mais até do que em anos anteriores – facilitou muito o trabalho do atual líder do governo, deputado Evandro Magal (PP), na articulação para aprovação de matérias do interesse do Palácio das Esmeraldas. Ainda que Magal tenha se irritado bastante com alguns colegas.


O Hoje

Xeque-Mate

Suely Arantes

Água fria


A divulgação do relatório da Fipe na CPI da Celg derrubou pelo menos um dos motes da oposição ao PSDB para as eleições deste ano. O estudo concluiu que coube aos governos do PMDB ao longo dos últimos 25 anos a responsabilidade pela maior parte do endividamento da empresa.

Culatra


Os peemedebistas tinham o discurso pronto para culpar Marconi Perillo, começando pelo deputado José Nelto, que engoliu a seco o resultado depois de cobrar, por anos a fio, esclarecimento sobre a dívida da estatal. Foi sua a iniciativa de encomendar o estudo à Fipe.

Olhar analítico


Durante a divulgação do relatório, os cerca de 30 jornalistas que cobriam a reunião da CPI da Celg observaram o tempo todo as reações de José Nelto (PMDB) e Daniel Goulart (PSDB) a cada item apresentado pela pesquisadora da Fipe, Ana Paula Paulino da Costa.

Reações


Conclusão da maioria dos jornalistas: Goulart parecia não estar entendendo muito bem as explicações contidas no relatório; já Nelto mudou de cor em vários momentos – ia do branco algodão ao vermelho sangue.

Tangente


Nelto mudou também o discurso: antes era somente o PSDB o culpado pelo rombo na Celg. No final da leitura do relatório saiu de fininho, mas foi cercado pela imprensa e na rápida entrevista disse que “todos os governos tiveram sua parcela de culpa”.





Jornal Opção

Ponto de Partida

Danin Júnior

O ponto sem volta de Alcides e Marconi
Meio político está curioso para saber qual será o momento da oficialização da ruptura

Ex­pres­sões de ori­gem téc­ni­ca vol­ta e meia ex­tra­po­lam seu sen­ti­do ori­gi­nal e pas­sam a in­te­grar o vo­ca­bu­lá­rio do sen­so co­mum. Uma ex­pres­são uti­li­za­da na ae­ro­náu­ti­ca e que se po­pu­la­ri­zou em ou­tros seg­men­tos (in­clu­si­ve na fi­lo­so­fia e na li­te­ra­tu­ra) é mui­to apro­pria­da pa­ra a aná­li­se do atu­al mo­men­to po­lí­ti­co em Go­i­ás. É o tal “pon­to sem vol­ta“ — tra­du­ção li­vre do in­glês “po­int of no re­turn”. Al­gu­mas das prin­ci­pa­is for­ças po­lí­ti­cas do Es­ta­do dão a im­pres­são de ca­mi­nhar meio iner­tes, meio in­de­ci­sas, mas po­de­rão se de­fi­nir a qual­quer mo­men­to, pres­sio­na­das pe­la ine­vi­ta­bi­li­da­de dos fa­tos.

Ve­jo na “Wiki­pé­dia” que o Di­ci­o­ná­rio de In­glês Ox­ford des­cre­ve o “po­int of no re­turn” co­mo a ex­pres­são in­for­mal da ae­ro­náu­ti­ca mais usa­da pa­ra de­fi­nir o es­tá­gio crí­ti­co da “fór­mu­la do raio de ação”. Es­se es­tá­gio é jus­ta­men­te o li­mi­te (de com­bus­tí­vel) pa­ra o re­tor­no de uma ae­ro­na­ve ao pon­to ini­ci­al do voo. Em con­di­ções nor­mais, um avi­ão co­mer­cial de­co­la com com­bus­tí­vel pa­ra, no mí­ni­mo, su­prir du­as ve­zes a dis­tân­cia que irá per­cor­rer. Con­tu­do, em con­di­ções ex­tra­or­di­ná­rias (co­mo nos vo­os de re­co­nhe­ci­men­to ou de bus­ca em lo­ca­is er­mos) é o mo­men­to no qual o pi­lo­to pre­ci­sa de­ci­dir se vol­ta­rá pa­ra a mes­ma pis­ta de on­de par­tiu ou se en­con­tra­rá ou­tra mais adi­an­te.

O fa­to de ca­rac­te­ri­zar um mo­men­to dra­má­ti­co, per­fei­ta­men­te apli­cá­vel a inú­me­ras si­tu­a­ções hu­ma­nas, fez do "pon­to sem vol­ta” uma ins­pi­ra­ção pa­ra al­guns es­tu­di­o­sos e li­te­ra­tos. Afi­nal, quem não gos­ta de sus­ci­tar o dra­ma que exis­te nes­se lap­so de tem­po, no qual é pre­ci­so re­fle­tir se va­le a pe­na (ou se é se­gu­ro) gas­tar ener­gia pros­se­guin­do em de­ter­mi­na­do pro­je­to? É uma me­tá­fo­ra exis­ten­ci­al po­de­ro­sa exa­ta­men­te por tra­tar de de­ci­sões ir­re­vo­gá­veis, que não ad­mi­tem meio-ter­mo. Ao ul­tra­pas­sar aque­le pon­to de­ter­mi­na­do, se­ria fi­si­ca­men­te (ou, apro­vei­tan­do a me­tá­fo­ra, sen­ti­men­tal­men­te) im­pos­sí­vel des­fa­zer o que se co­me­çou.

A his­tó­ria con­sa­grou ex­pres­sões me­nos téc­ni­cas, que ca­rac­te­ri­za­ram mo­men­tos cru­ci­ais mui­to in­te­res­san­tes. A Wiki­pé­dia ci­ta “cru­zar o Ru­bi­cão”, o clás­si­co “po­int of no re­turn”de Jú­lio Cé­sar, quan­do de­ci­diu in­va­dir Ro­ma e, na prá­ti­ca, fun­dar o Im­pé­rio. O si­te ci­ta ou­tras, co­mo “quei­mar pon­tes” e “afun­dar os pró­prios bar­cos”. No ca­so dos na­vi­os, a wiki ci­ta Her­nan Cor­tez, mas não in­for­ma qual foi o pri­mei­ro per­so­na­gem his­tó­ri­co a quei­mar e afun­dar as em­bar­ca­ções que uti­li­zou pa­ra ini­ci­ar uma in­va­são: o rei nor­man­do Gui­lher­me 2, que so­bre­pu­jou a Grã-Bre­ta­nha em 1066. Os 7 mil nor­man­dos que atra­ves­sa­ram o Ca­nal da Man­cha não ti­nham ou­tra al­ter­na­ti­va se­não ven­cer os in­gles­es.

Barco afundado — Em Go­i­ás, dis­cu­tir so­bre o “po­int of no re­turn” do rom­pi­men­to en­tre o go­ver­na­dor Al­ci­des Ro­dri­gues (PP) e o se­na­dor Mar­co­ni Pe­ril­lo (PSDB) pas­sou a ser o al­vo de dez en­tre dez ana­lis­tas po­lí­ti­cos. A rup­tu­ra ain­da não foi ofi­ci­a­li­za­da, o que, em te­se, sig­ni­fi­ca que ne­nhum dos dois “quei­mou as pon­tes” que os li­gam — pe­lo me­nos pu­bli­ca­men­te. Po­rém, os si­nais (e não ape­nas de bas­ti­do­res) são mui­to cla­ros de que es­se afas­ta­men­to já acon­te­ceu. Li­de­ran­ças po­lí­ti­cas de to­do o Es­ta­do, es­pe­ci­al­men­te do in­te­ri­or, não se can­sam de re­la­tar qual é o di­re­cio­na­men­to que o Pa­lá­cio das Es­me­ral­das vem dan­do às con­ver­sas so­bre com­po­si­ções po­lí­ti­cas e a for­ma­ção de cha­pas pro­por­ci­o­nais pa­ra 2010: o ob­je­ti­vo é dei­xar o se­na­dor de fo­ra.

Nos úl­ti­mos tem­pos, Al­ci­des sem­pre di­zer que seu gru­po tem po­ten­ci­al pa­ra lan­çar uma can­di­da­tu­ra. Ou se­ja, é co­mo se dis­ses­se que “cru­zar o Ru­bi­cão” pa­re­ce ser uma ques­tão de tem­po. Além dis­so, des­de que se ele­geu, o atu­al go­ver­no vem mi­nan­do a in­flu­ên­cia dos tu­ca­nos e adu­ban­do a te­se de uma he­ran­ça mal­di­ta. O prin­ci­pal pon­ta-de-lan­ça des­se mo­vi­men­to, o se­cre­tá­rio Jor­ce­li­no Bra­ga (Fa­zen­da), pro­ta­go­ni­za ani­ma­das dis­cus­sões pú­bli­cas com qua­dros mar­co­nis­tas. O meio po­lí­ti­co pas­sou a ter cer­te­za de que o au­xi­li­ar, ca­so se­ja o can­di­da­to da fren­te al­ter­na­ti­va, se­ria o mais agres­si­vo, in­clu­si­ve com ím­pe­to pa­ra man­dar “afun­dar os bar­cos”. O que po­de­ria in­vi­a­bi­li­zar uma re­com­po­si­ção até mes­mo em um se­gun­do tur­no.

Dis­cu­tir o mo­men­to exa­to da rup­tu­ra pas­sou a ser in­te­res­san­te jus­ta­men­te por­que, pa­ra a mai­o­ria dos agen­tes po­lí­ti­cos, a re­la­ção en­tre Al­ci­des e Mar­co­ni já ul­tra­pas­sou o pon­to ra­zo­a­vel­men­te se­gu­ro pa­ra uma vol­ta. Fi­ca­ria com­pli­ca­do ex­pli­car cer­tas coi­sas pa­ra o lei­tor. Se­ria di­fí­cil re­cos­tu­rar a teia man­te­ne­do­ra da ba­se por três elei­ções, mas que se re­ve­lou frá­gil — pe­lo que di­zem as prin­ci­pa­is li­de­ran­ças dos mai­o­res par­ti­dos da ali­an­ça, os la­ços que os li­ga­vam não su­por­tou as pres­sões pes­so­ais ad­vin­das com o po­der. Na ver­da­de, o “po­int of no re­turn” par­ti­cu­lar das du­as prin­ci­pa­is li­de­ran­ças da ba­se po­de ter acon­te­ci­do há mui­to tem­po e tal­vez se­ja di­fí­cil, pa­ra a his­tó­ria, re­gis­trar o exa­to mo­men­to em que is­so acon­te­ceu.

De qual­quer for­ma, os ar­mei­ros e con­se­lhei­ros de guer­ra des­sas for­ças po­lí­ti­cas pre­ci­sam fi­car aten­tos, pois há o ris­co de se si­tu­a­rem no uni­ver­so de ou­tra ex­pres­são téc­ni­ca que se po­pu­la­ri­zou mui­to, a cha­ma­da Lei de Murphy. Tam­bém ori­gi­na­da na ae­ro­náu­ti­ca (nes­se ca­so, foi nos tes­tes da NA­SA), a ex­pres­são re­za, re­su­mi­da­men­te, que “se al­go po­de dar er­ra­do em de­ter­mi­na­do pro­je­to, com cer­te­za is­so acon­te­ce­rá”. A Lei de Murphy ser­ve pa­ra ori­en­tar “check-lists” de as­tro­nau­tas, mas tam­bém po­de se apli­car à po­lí­ti­ca. Até ago­ra, es­sa es­tra­té­gia de dis­so­lu­ção da ba­se ali­a­da, que ven­ceu as elei­ções des­de 1998, pa­re­ce con­ter mui­tos bu­ra­cos, mui­tos de­ta­lhes a se­rem ex­pli­ca­dos ao elei­tor. É mui­ta bre­cha pa­ra um ce­ná­rio de uma dis­pu­ta da qual se es­pe­ra ser a mais aper­ta­da de to­dos os tem­pos. Al­go, com cer­te­za, vai dar er­ra­do.

Jornal Opção

Entorno

DANIN JÚNIOR - e-mail: daninjr@terra.com.br

Dirceu Araújo diz que Zé Neto será o seu melhor cabo eleitoral em Planaltina 

O ex-pre­fei­to de Pla­nal­ti­na, Dir­ceu Araú­jo (PSDB), ain­da não se de­fi­niu, mas é pro­vá­vel que saia can­di­da­to a uma va­ga na As­sem­bleia Le­gis­la­ti­va. E is­so, se­gun­do ele, de­ve acon­te­cer por um mo­ti­vo sim­ples: vai ser fá­cil fa­zer cam­pa­nha em sua ci­da­de. Seu ad­ver­sá­rio lo­cal, o pre­fei­to Zé Ne­to (PSC), po­de­rá ser o seu mai­or ca­bo elei­to­ral. Pa­ra Dir­ceu, que fi­cou en­tre os su­plen­tes de de­pu­ta­do fe­de­ral na elei­ção de 2006, a ad­mi­nis­tra­ção de Pla­nal­ti­na vi­ve um ver­da­dei­ro ca­os.

“Eu sei que as chu­vas es­tão pe­sa­das no pa­ís in­tei­ro, mas as ru­as da nos­sa ci­da­de es­tão qua­se in­tran­si­tá­veis”, diz ele. A bu­ra­quei­ra no as­fal­to, se­gun­do ele, re­ve­la a fal­ta de em­pe­nho da pre­fei­tu­ra — tan­to pa­ra man­ter equi­pes cons­tan­tes na con­ser­va­ção quan­to na au­sên­cia de in­ves­ti­men­tos pa­ra me­lho­rar a in­fra­es­tru­tu­ra, com des­ta­que pa­ra as re­des plu­vi­ais. Ou­tro pon­to pro­ble­má­ti­co na ci­da­de, de acor­do com o ex-pre­fei­to, é na se­gu­ran­ça pú­bli­ca. “O pro­ble­ma é na­ci­o­nal, mas se os ad­mi­nis­tra­do­res da ci­da­de não fo­rem atrás de re­cur­sos, a coi­sa de­san­da mes­mo”, afir­ma Dir­ceu.

O su­plen­te de de­pu­ta­do to­ma cui­da­do com as pa­la­vras. De­mons­tra que não quer ex­plo­rar o fi­as­co ad­mi­nis­tra­ti­vo do ad­ver­sá­rio. Mas não con­se­gue se­gu­rar o des­con­ten­ta­men­to por mui­to tem­po: “Eu não acei­to es­se dis­cur­so de que a cri­se não dei­xa a pre­fei­tu­ra tra­ba­lhar. Is­so é um pre­tex­to pa­ra a in­com­pe­tên­cia”. Dir­ceu lem­bra que pe­gou a pre­fei­tu­ra das mãos de Zé Ne­to em um es­ta­do las­ti­má­vel em 1997. “Até um am­bu­la­tó­rio que edi­fi­ca­mos com mui­ta lu­ta, ele aca­ba de fe­char”, diz o ex-pre­fei­to.

Marconi — So­bre o ce­ná­rio po­lí­ti­co re­gi­o­nal, Dir­ceu ava­lia que o se­na­dor Mar­co­ni Pe­ril­lo co­lhe­rá uma gran­de vi­tó­ria no En­tor­no nas elei­ções des­te ano. “É a úni­ca li­de­ran­ça que es­tá re­al­men­te se mo­vi­men­tan­do em to­das as ci­da­des e con­ver­san­do com as li­de­ran­ças”. Além dis­so, o ex-pre­fei­to diz que a ad­mi­nis­tra­ção de Mar­co­ni dei­xou uma mar­ca po­si­ti­va mui­to for­te na re­gi­ão. “Não di­go que foi o úni­co que trou­xe be­ne­fí­ci­os, mas sem dú­vi­da foi o que mais fez pe­lo En­tor­no, em in­ves­ti­men­tos de in­fra­es­tru­tu­ra, se­gu­ran­ça pú­bli­ca e sa­ú­de”.

Pa­ra Dir­ceu, se­ja qual for o ad­ver­sá­rio, a cha­pa de Mar­co­ni se­rá a fa­vo­ri­ta. “O es­ti­lo di­nâ­mi­co e mo­der­no do se­na­dor é ava­li­a­do po­si­ti­va­men­te pe­lo elei­tor de Go­i­ás, que quer vê-lo no­va­men­te no go­ver­no”. In­da­ga­do se se­rá can­di­da­to, Dir­ceu diz que in­te­gra um pro­je­to po­lí­ti­co e que, às ve­zes, abrir mão de uma pos­tu­la­ção pes­so­al ser­ve pa­ra for­ta­le­cer es­se gru­po. Se for mes­mo se can­di­da­tar, se­rá co­mo de­pu­ta­do es­ta­du­al. Pa­ra de­pu­ta­do fe­de­ral, po­de­rá apo­i­ar o pre­si­den­te de sua le­gen­da, Le­o­nar­do Vi­le­la, ou ou­tro tu­ca­no. “O que que­re­mos é iden­ti­da­de com a nos­sa re­gi­ão. Por exem­plo, o Mar­ce­lo Me­lo, in­fe­liz­men­te, é de­pu­ta­do só de Lu­zi­â­nia”, fi­na­li­za.


Jornal Opção

NACIONAL

Se­me­lhan­ças ou me­ras co­in­ci­dên­cias?
O que faz o eleitor discernir os dois principais candidatos à Presidência da República e quais os métodos devem ser usados para melhora a imagem “casca grossa” que ambos têm

INÃ ZOÉ

Al­gu­mas di­fe­ren­ças pa­re­cem ób­vias, a co­me­çar pe­las li­nhas ide­o­ló­gi­cas. Ele é tu­ca­no. Ela car­re­ga no pei­to a es­tre­la pe­tis­ta. Um já pas­sou pe­lo cri­vo das ur­nas, a ou­tra nun­ca ocu­pou car­gos ele­ti­vos. A me­nos de dez mes­es da cam­pa­nha, em que se­rão elei­tos no­vos de­pu­ta­dos, se­na­do­res, go­ver­na­do­res e o pre­si­den­te da Re­pú­bli­ca, es­tão cla­ras pa­ra o ci­da­dão as ca­rac­te­rís­ti­cas que di­fe­rem os dois prin­ci­pa­is no­mes na dis­pu­ta a Pre­si­dên­cia? Al­guns ana­lis­tas di­zem que sim, mas há os que dis­cor­dem e apon­tem al­gu­mas se­me­lhan­ças mar­can­tes en­tre eles que po­dem re­pre­sen­tar um im­pas­se em 2010.

O go­ver­na­dor de São Pau­lo, Jo­sé Ser­ra (PSDB), e a mi­nis­tra da Ca­sa Ci­vil, Dil­ma Rous­seff (PT), tra­ba­lham pa­ra a con­so­li­da­ção de seus no­mes co­mo can­di­da­tos ao Pa­lá­cio do Pla­nal­to e as pes­qui­sas já apon­tam cres­ci­men­to tan­to de um quan­to de ou­tro. Os da­dos da mais recente pesquisa CNI/Ibo­pe mos­tram que o tu­ca­no pas­sou de 35% das in­ten­ções de vo­to pa­ra 38%, em re­la­ção ao que foi apu­ra­do em se­tem­bro. A pe­tis­ta pas­sou de 15% pa­ra 17% no ce­ná­rio com José Ser­ra — fo­ram ou­vi­das 2.002 pes­so­as em 143 mu­ni­cí­pios en­tre os di­as 26 e 30 de no­vem­bro e a mar­gem de er­ro é de 2 pon­tos por­cen­tu­ais pa­ra mais ou pa­ra me­nos.

Ci­en­tis­ta po­lí­ti­co e pro­fes­sor da Uni­ver­si­da­de de Bra­sí­lia (UnB), Da­vid Fleis­cher diz que, se for to­ma­do co­mo ba­se os re­sul­ta­dos ob­ti­dos nas úl­ti­mas pes­qui­sas, é pos­sí­vel afir­mar que o elei­to­ra­do con­se­gue se­pa­rar bem os dois prin­ci­pa­is pré-can­di­da­tos. A di­fe­ren­cia­ção se da­ria ba­si­ca­men­te pe­la vin­cu­la­ção de Ser­ra ao go­ver­no do ex-pre­si­den­te Fer­nan­do Hen­ri­que Car­do­so, em que foi mi­nis­tro do Pla­ne­ja­men­to e da Sa­ú­de, e de Dil­ma à ad­mi­nis­tra­ção de Lu­iz Iná­cio Lu­la da Sil­va, pri­mei­ro co­mo mi­nis­tra de Mi­nas e Ener­gia e ago­ra co­mo che­fe da Ca­sa Ci­vil. En­tre­tan­to, ad­mi­nis­tra­ti­va­men­te os per­fis de am­bos pa­re­ce es­bar­rar em mui­tos pon­tos, con­for­me ob­ser­va o pro­fes­sor.

Pes­qui­sa­do­ra do Cen­tro Bra­si­lei­ro de Aná­li­se e Pla­ne­ja­men­to (Ce­brap) e dou­to­ran­da pe­la Uni­ver­si­da­de de São Pau­lo (USP), a ci­en­tis­ta po­lí­ti­ca An­drea Frei­tas diz que as pes­qui­sas de opi­ni­ão não tra­zem to­do con­te­ú­do ne­ces­sá­rio pa­ra se afir­mar que os elei­to­res con­se­guem dis­cer­nir bem as ca­rac­te­rís­ti­cas dos can­di­da­tos. “Tal­vez as pes­so­as não te­nham es­sa fa­ci­li­da­de de en­con­trar es­sas di­fe­ren­ças. Os par­ti­dos é que têm, aos pou­cos, cons­tru­í­do es­sa ima­gem e pu­bli­ca­men­te vêm ten­tan­do ven­der a ideia de que não são igua­is.” Ela no­ta que, a par­tir de 1994, com re­sul­ta­dos mais vi­sí­veis em 2000, as si­glas PSDB e PT ten­ta­ram se des­co­lar — prin­ci­pal­men­te pe­la ali­an­ça do PSDB com o PFL (agora DEM), que apoi­ou a di­ta­du­ra até um ano an­tes de seu fim, e a ado­ção de uma po­lí­ti­ca eco­nô­mi­ca vis­ta por mui­tos co­mo ne­o­li­be­ral.

A ci­en­tis­ta po­lí­ti­ca ob­ser­va que a vin­cu­la­ção de Ser­ra ao go­ver­no FHC e de Dil­ma com a for­ça po­lí­ti­ca de Lu­la pon­tua ca­rac­te­rís­ti­cas bem cla­ras de co­mo po­de­rá ser o mo­de­lo de ges­tão ado­ta­do por eles. “O PSDB se con­cen­trou mui­to nas ques­tões eco­nô­mi­cas e na ges­tão pú­bli­ca. O PT, des­de o iní­cio, fi­cou mar­ca­do pe­las po­lí­ti­cas de for­te ape­lo so­ci­al.”

De acor­do com ela, Ser­ra de­ve man­ter seu per­fil co­mo ges­tor, uma vez que já co­man­dou a pre­fei­tu­ra da ci­da­de de São Pau­lo e ago­ra es­tá à fren­te do go­ver­no es­ta­du­al. “Ser­ra tem fo­co na com­pe­tên­cia po­lí­ti­ca ad­mi­nis­tra­ti­va.” Dil­ma, diz, ain­da tem sua ima­gem bas­tan­te atre­la­da a do pre­si­den­te e se­gue à ris­ca a agen­da go­ver­na­men­tal, o que em cer­to pon­to im­pe­de pro­pos­tas ino­va­do­ras. Po­rém, à fren­te dos mi­nis­té­ri­os “já mos­trou ser uma pes­soa que sa­be fa­zer a coi­sa fun­cio­nar”.

Momento de definição — Um dos mais re­co­nhe­ci­dos pu­bli­ci­tá­rios do Es­ta­do, Léo Pe­rei­ra diz que as ges­tões de FHC e Lu­la são o que mais co­la­bo­ram pa­ra di­fe­ren­ci­ar os dois pos­sí­veis can­di­da­tos, por te­rem apre­sen­ta­do pro­je­tos de go­ver­no vi­si­vel­men­te dis­tin­tos à so­ci­e­da­de. Ele, que foi um dos res­pon­sá­veis pe­lo pla­ne­ja­men­to es­tra­té­gi­co e cri­a­ção de cam­pa­nhas po­lí­ti­cas do ex-go­ver­na­dor Mar­co­ni Pe­ril­lo e do ex-pre­fei­to Pe­dro Wil­son, ob­ser­va que o Pa­ís ain­da pas­sa por um pro­ces­so de re­de­mo­cra­ti­za­ção pós-di­ta­du­ra mi­li­tar e tal­vez se­jam as elei­ções de 2010 o mo­men­to de a so­ci­e­da­de se po­si­cio­nar de for­ma mais efe­ti­va. “Os par­ti­dos po­lí­ti­co e ou­tras ins­ti­tu­i­ções vêm pas­san­do por en­fren­ta­men­tos in­ter­nos mui­to for­tes de­vi­do à pos­tu­ra que tem si­do ado­ta­da até ago­ra. Há um co­lap­so do sis­te­ma e as elei­ções pos­si­vel­men­te es­ta­rão mui­to mais res­pal­da­das nes­sas ins­ti­tu­i­ções do que em uma pes­soa.”

Há quem di­ga que ca­so hou­ves­se uma re­es­tru­tu­ra­ção par­ti­dá­ria no Bra­sil o go­ver­na­dor e a mi­nis­tra cer­ta­men­te fa­riam par­te do mes­mo par­ti­do po­lí­ti­co. Fleis­cher es­tá en­tre os que con­cor­dam com a pos­si­bi­li­da­de. Ele res­sal­ta que am­bos têm ori­gem na es­quer­da, fi­ze­ram par­te da lis­ta ne­gra do re­gi­me mi­li­tar e pos­su­em ca­rac­te­rís­ti­cas de­sen­vol­vi­men­tis­tas, de­fen­den­do es­tra­té­gias que ga­ran­tam um cres­ci­men­to eco­nô­mi­co ali­a­do a uma me­lhor dis­tri­bui­ção de ren­da. “A di­fe­ren­ça é que Dil­ma par­tiu pa­ra a lu­ta ar­ma­da, de guer­ri­lha, e Ser­ra com­ba­teu a di­ta­du­ra pe­la Une (Uni­ão Na­ci­o­nal dos Es­tu­dan­tes).” Le­van­do em con­si­de­ra­ção as di­fe­ren­ças ide­o­ló­gi­cas e par­ti­dá­ri­as o ci­en­tis­ta po­lí­ti­co ci­ta a dis­cus­são le­van­ta­da pe­lo pro­fes­sor de Éti­ca e Fi­lo­so­fia Po­lí­ti­ca da USP Re­na­to Ja­ni­ne, que vi­su­a­li­za uma pos­sí­vel uni­ão no fu­tu­ro en­tre PSDB e PT.

Ao ana­li­sar a atu­a­ção de Ser­ra e Dil­ma en­quan­to mi­nis­tros, Fleis­cher ob­ser­va que o pri­mei­ro con­quis­tou óti­ma ima­gem com a im­plan­ta­ção dos me­di­ca­men­tos ge­né­ri­cos no Bra­sil e a re­du­ção de pre­ços dos co­que­té­is de re­mé­di­os que com­ba­tem a aids. Já Dil­ma, à fren­te de Mi­nas e Ener­gia, se des­ta­cou pe­la ma­nei­ra co­mo li­dou com os se­to­res de pe­tró­leo e ener­gia. “Os tu­ca­nos e o DEM le­van­ta­ram a dis­cus­são so­bre os apa­gões, ten­tan­do com­pa­rar o go­ver­no FHC com o de Lu­la. Lo­go de­sis­ti­ram e aban­do­na­ram o ca­so por en­ten­derem que a mi­nis­tra sou­be li­dar me­lhor com es­sa si­tu­a­ção que o go­ver­no an­te­ri­or.” O pro­fes­sor res­sal­ta ain­da que ho­je, à fren­te da Ca­sa Ci­vil, ela tem ti­do a du­ra ta­re­fa de ad­mi­nis­trar o Pro­gra­ma de Ace­le­ra­ção do Cres­ci­men­to (PAC), que ge­ra con­fli­tos en­tre mi­nis­té­ri­os e o se­tor pri­va­do, além de pro­ble­mas com Es­ta­dos e mu­ni­cí­pios. “No­to que, por al­gu­mas ve­zes, fal­ta mais jo­go de cin­tu­ra, mas ela tem si­do pa­ci­en­te e ha­bi­li­do­sa.”

O de­pu­ta­do fe­de­ral Le­o­nar­do Vi­le­la (PSDB) diz que o as­sis­ten­ci­a­lis­mo de Lu­la, ao con­trá­rio do que mui­tos ana­lis­tas e po­lí­ti­cos pre­ve­em, não vai atra­pa­lhar a can­di­da­tu­ra de Ser­ra. “O pre­si­den­te tem po­pu­la­ri­da­de, mas ele não é a Dil­ma. Lu­la não tem o po­der de trans­fe­rên­cia de vo­tos, nin­guém tem. O elei­tor vo­ta na es­pe­ran­ça que tem no go­ver­no, mas es­pe­ra sem­pre mu­dan­ças pa­ra me­lhor.” O par­la­men­tar res­sal­ta que se Lu­la fos­se o can­di­da­to, se­ria um con­cor­ren­te for­te. “Mas não é. Dil­ma é ru­de e fal­ta ca­ris­ma, o que des­ca­rac­te­ri­za­ria a con­ti­nui­da­de.”

So­bre as prin­ci­pa­is ca­rac­te­rís­ti­cas de Ser­ra co­mo po­lí­ti­co, o de­pu­ta­do res­sal­ta que o go­ver­na­dor é vis­to co­mo um gran­de ges­tor, sa­be mon­tar bo­as equi­pes e mos­tra re­sul­ta­dos con­cre­tos. “Ele tem bom ín­di­ce de acei­ta­ção e con­so­li­dou sua ima­gem co­mo ad­mi­nis­tra­dor com­pe­ten­te e sé­rio.” Dil­ma, co­mo ges­to­ra do PAC, afir­ma ele, não tem ti­do su­ces­so, as obras não an­dam, em mui­tas fo­ram cons­ta­ta­das ir­re­gu­la­ri­da­des ou fo­ram mal fei­tas. “Em Go­i­ás, a Nor­te-Sul es­tá pa­ra­da, o ae­ro­por­to é só uma pro­mes­sa e não foi fei­ta a du­pli­ca­ção da BR-153 en­tre Go­i­â­nia e Itum­bi­a­ra”, des­ta­ca.

O de­pu­ta­do fe­de­ral Pe­dro Wil­son (PT) ava­lia que o elei­tor ain­da se ape­ga mui­to às fi­gu­ras de FHC e Lu­la pa­ra ana­li­sar os dois pré-can­di­da­tos. Po­rém, ele no­ta que Dil­ma Rous­seff, ape­sar de nun­ca ter ocu­pa­do car­gos ele­ti­vos, es­tá no cen­tro do go­ver­no pe­tis­ta e tem a fir­me­za ne­ces­sá­ria pa­ra co­or­de­nar pro­gra­mas de gran­de im­pac­to so­ci­al. De acor­do com o de­pu­ta­do, a mi­nis­tra é es­tu­di­o­sa, de­di­ca­da, tra­ba­lha bem e se mos­tra sem­pre pron­ta a apren­der. Pe­dro Wil­son diz que as com­pa­ra­ções são im­por­tan­tes e ne­ces­sá­rias no pro­ces­so de­mo­crá­ti­co e que a ima­gem de mal en­ca­ra­da de Dil­ma mos­tra, de cer­ta for­ma, um la­do mais hu­ma­no de uma pes­soa que es­tá sus­ce­tí­vel a er­ros. “É bom que se ava­lie tu­do, in­clu­si­ve os er­ros.”

Marke­ting do sor­ri­so — Ter um dis­cur­so bem ar­qui­te­ta­do ba­se­a­do nas prin­ci­pa­is de­man­das da po­pu­la­ção cer­ta­men­te fa­rá par­te das pre­o­cu­pa­ções dos par­ti­dos en­vol­vi­dos na dis­pu­ta em 2010. Al­guns te­mas, en­tre­tan­to, têm ti­do mai­or des­ta­que, co­mo a se­gu­ran­ça pú­bli­ca, a edu­ca­ção e o com­ba­te à cor­rup­ção — ou­tros pon­tos co­mo a eco­no­mia e meio am­bi­en­te fi­cam em se­gun­do pla­no, mas cer­ta­men­te te­rão lu­gar no de­ba­te. Os par­ti­dos po­lí­ti­cos ain­da evi­tam fa­lar em pro­je­tos de go­ver­no e a po­pu­la­ção, de mo­do ge­ral, pa­re­ce não es­tar mui­to li­ga­da nas pou­cas dis­cus­sões já le­van­ta­das até ago­ra.

“De jei­to ne­nhum.” Es­sa é a res­pos­ta de 41% das pes­so­as en­tre­vis­ta­das na pes­qui­sa CNI/Ibo­pe quan­do per­gun­ta­das se vo­ta­ri­am na mi­nis­tra ape­li­da­da de “mãe do PAC”. Ela é a pré-can­di­da­ta que tem o mai­or ín­di­ce de re­jei­ção en­tre os cin­co no­mes apre­sen­ta­dos — além da mi­nis­tram, fo­ram ci­ta­dos na pes­qui­sa Jo­sé Ser­ra, o de­pu­ta­do fe­de­ral Ci­ro Go­mes (PPS), a se­na­do­ra Ma­ri­na Sil­va (PV) e o go­ver­na­dor de Mi­nas Ge­ra­is, Aé­cio Ne­ves (PSDB). Ser­ra por ou­tro la­do é o que apre­sen­ta me­nos re­jei­ção, 29%, e é co­nhe­ci­do por 69% dos con­sul­ta­dos. O ci­en­tis­ta po­lí­ti­co apon­ta que a par­tir do ano que vem cer­ta­men­te ha­ve­rá um tra­ba­lho in­ten­so de marke­ting pa­ra me­lho­rar a ima­gem tan­to de Ser­ra quan­to de Dil­ma. “Ho­je ain­da são vis­tos co­mo du­rões e is­so pa­ra uma cam­pa­nha elei­to­ral po­de não so­ar bem.”

Dou­tor em So­ci­o­lo­gia e pro­fes­sor da USP, Bra­sí­lio Sal­lun afir­ma que pa­ra o go­ver­no fe­de­ral é in­te­res­san­te an­te­ci­par a can­di­da­tu­ra de Dil­ma Rous­seff, já que a mi­nis­tra, ao con­trá­rio de Ser­ra, é pou­co co­nhe­ci­da do elei­to­ra­do. Ele ob­ser­va que Lu­la e o PT têm ten­ta­do vá­rios me­ca­nis­mos de trans­fe­rên­cia de vo­to, mas os ca­nais en­con­tra­dos até ago­ra pro­va­vel­men­te não se­rão su­fi­ci­en­tes pa­ra ele­gê-la. “A trans­fe­rên­cia ocor­re, e os nú­me­ros nas pes­qui­sas mos­tram is­so. Po­rém os 80% de apro­va­ção que o pre­si­den­te pos­sui é pe­la iden­ti­fi­ca­ção pes­so­al que con­quis­tou, mas Dil­ma não é ele e em cam­pa­nha sem­pre apa­re­cem os po­dres.”

O pu­bli­ci­tá­rio Léo Pe­rei­ra diz que pa­ra se tra­çar um per­fil a ser se­gui­do pe­los pré-can­di­da­tos é pre­ci­so se res­pal­dar ba­si­ca­men­te em pes­qui­sas, por is­so acha ar­ris­ca­do qual­quer pal­pi­te an­te­ci­pa­do. A par­tir des­sa con­sul­ta aos an­sei­os po­pu­la­res é pos­sí­vel tra­çar uma es­tra­té­gia de for­ma a me­lho­rar a ima­gem de Dil­ma e Ser­ra. En­tre­tan­to ele ob­ser­va que mes­mo que Lu­la te­nha con­se­gui­do gran­de ape­lo po­pu­lar, se apro­xi­man­do das ca­ma­das mais hu­mil­des da po­pu­la­ção, es­sa pos­tu­ra não de­ve ne­ces­sa­ria­men­te ser ado­ta­da pe­los can­di­da­tos à Pre­si­dên­cia. “Da­qui até as elei­ções o pen­sa­men­to so­ci­al po­de so­frer vá­ri­as mu­dan­ças e as ex­pec­ta­ti­vas po­de­rão ser ou­tras.”

Pro­pri­e­tá­rio da Stylus pu­bli­ci­da­de, Ha­mil­ton Car­nei­ro diz que a au­sên­cia de ca­ris­ma é um pon­to co­mum en­tre os dois pré-candidatos e es­sa ca­rac­te­rís­ti­ca não é al­go que de­va ser ma­qui­a­do e sim, me­lhor tra­ba­lha­do. “To­dos nós pos­su­í­mos ca­ris­ma, al­guns mais ou­tros me­nos, is­so pre­ci­sa ser des­per­ta­do pa­ra que ocor­ra de for­ma na­tu­ral.” O pu­bli­ci­tá­rio fri­sa que al­guns re­cur­sos téc­ni­cos po­dem ser uti­li­za­dos, no ca­so da TV e do rá­dio, por exem­plo, pa­ra me­lho­rar a apa­rên­cia, dar uma me­lhor to­na­li­da­de na voz, en­tre ou­tras saí­das. Ele res­sal­ta, en­tre­tan­to, que mui­tos po­lí­ti­cos pe­cam em ques­tões mui­to sim­ples, co­mo não en­ca­rar o elei­tor olho no olho.


Jornal Opção

DANIEL GOULART

“Articulação entre PP e PT pode ser um grande golpe em Iris”
Deputado tucano, um dos mais próximos companheiros do senador Marconi Perillo, admite que diferenças com o PP palaciano vão dificultar formação de chapa proporcional para o PSDB

“O projeto do prefeito Iris Rezende é continuar na Prefeitura de Goiânia, porque se ele entregar para o PT?a situação do PMDB?ficará muito difícil. Por isso Iris vem insistindo tanto para Henrique Meirelles ser o candidato do PMDB.” A?análise sobre o campo adversário é feita por um tucano, o deputado estadual Daniel Goulart, mas é abalizada pela experiência de um dos mais articulados e atentos políticos goianos. Daniel diz que o PSDB?vai apresentar um projeto ousado para os goianos na eleição deste ano, baseado na experiência do senador e ex-governador Marconi Perillo.

O deputado afirma que o processo de desconstrução da imagem de Marconi, que ele diz estar sendo levado a efeito por membros do governo estadual, não está surtindo efeito. “Quanto mais eles falam, mais Marconi cresce. Já vasculharam a vida dele toda e não encontraram nada errado”, afirma. E?avisa: “Não adi­an­ta es­se xin­ga­tó­rio que eles es­tão en­sai­an­do. Di­zem que têm car­tas na man­ga, is­so e aqui­lo. Nós tam­bém te­mos mui­to mais. Temos do­cu­men­tos que le­vam mui­ta gente pa­ra a ca­deia da noi­te pa­ra o dia. Mas que­re­mos tra­ba­lhar 2010 com pro­je­tos qua­li­fi­ca­dos”.

Daniel conta que não disputará eleição neste ano, para dar espaço a outros companheiros, afirmando que seu objetivo maior é o projeto do seu partido, de voltar ao governo do Estado. Ele revela que será um dos coordenadores da campanha de Marconi, se for confirmada a candidatura do senador. A?entrevista foi concedida na terça-feira, 5, e complementada na sexta-feira, 8, um dia após a apresentação do relatório da Fipe na CPI?da Celg na Assembleia, outro tema constante em qualquer conversa com o parlamentar tucano. Daniel diz que o relatório foi “desastroso” para o PMDB, porque, segundo ele, mostrou quem é o grande culpado pela crise da estatal.

Da­nin Jú­ni­orCo­men­ta-se nos bas­ti­do­res que o gru­po de Mar­co­ni te­rá gran­de di­fi­cul­da­de nes­te ano pa­ra mon­tar as cha­pas pro­por­ci­o­nais, em fun­ção do estremecimento com o PP. Qual sua aná­li­se?

No iní­cio eu tam­bém me pre­o­cu­pei com is­so, mas a fi­de­li­da­de par­ti­dá­ria nos aju­dou. Te­rí­a­mos per­di­do mais qua­tro ou cin­co no­mes, se não fos­se a de­ci­são do TSE. Há le­van­ta­men­to de que nós te­mos, só pa­ra can­di­da­to a de­pu­ta­do es­ta­du­al, em tor­no de 50 no­mes. On­tem mes­mo (segunda-fei­ra, 4) re­ce­bi te­le­fo­ne­ma de uma re­fe­rên­cia do mun­do ar­tís­ti­co, o hu­mo­ris­ta Ju­qui­nha, fi­li­a­do há 13 anos ao PSDB, di­zen­do que quer ser can­di­da­to. Mui­tos ex-pre­fei­tos, co­mo Ita­mar Le­ão, de San­cler­lân­dia, tam­bém es­tão com dis­po­si­ção de ser can­di­da­to a de­pu­ta­do es­ta­du­al. Mas te­re­mos que tra­ba­lhar um re­for­ço pa­ra cha­pa pro­por­ci­o­nal de fe­de­ral, prin­ci­pal­men­te com a de­sis­tên­cia do pre­si­den­te da As­sem­bléia, Hel­der Va­lin. De­pen­de­mos das co­li­ga­ções pa­ra is­so e acre­di­to que te­re­mos co­li­ga­ções bo­as. Nos­sa cha­pa, in­clu­si­ve a le­gen­da, de­ve re­pe­tir o nú­me­ro de vo­tos de 2002, quan­do ele­ge­mos de­pu­ta­dos com 19 mil e 20 mil vo­tos.

Ce­zar San­tos — Então esse con­ten­cio­so po­lí­ti­co com o PP do go­ver­na­dor Al­ci­des vai pre­ju­di­car o PSDB?

O pro­ble­ma com o PP pa­la­cia­no de­si­dra­tou mui­to nos­sos de­pu­ta­dos que es­tão bus­can­do a re­e­lei­ção. Mas nós te­mos uma ce­na boa pa­ra de­pu­ta­do. Acho que par­ti­do que tem de­pu­ta­do só vai con­se­guir co­li­gar com par­ti­do que tem de­pu­ta­do. O PTB e o PT do B de­vem co­li­gar co­nos­co. Com is­so va­mos con­se­guir fa­zer um cha­pão na pro­por­ci­o­nal com par­ti­dos que já têm de­pu­ta­dos.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Co­mo vai ser a co­li­ga­ção pa­ra par­la­men­tar?

Acre­di­to que va­mos fa­zer uma co­li­ga­ção PSDB, PTB, PT do B, DEM. Já PPS e PMN fi­ca­riam na co­li­ga­ção en­tre os que não têm de­pu­ta­dos es­ta­du­ais. Os par­ti­dos que não têm de­pu­ta­do não vão acei­tar na cha­pa os par­ti­dos que têm.

Da­nin Jú­ni­or — Não há mais jei­to de re­cons­tru­ir a ba­se ali­a­da?

Acho mui­to di­fí­cil uma com­po­si­ção no pri­mei­ro tur­no com o PP pa­la­cia­no. Po­de­mos até nos sur­pre­en­der nas con­ven­ções que vão de­ci­dir que ru­mos eles vão to­mar, ca­so o PP fa­ça uma es­co­lha de­mo­crá­ti­ca e ou­ça pre­fei­tos, ve­re­a­do­res, li­de­ran­ças emer­gen­tes que saí­ram vi­to­ri­o­sas das ur­nas em 2008. Te­re­mos chan­ce de vi­tó­ria nes­sa con­ven­ção do PP, in­di­can­do, por exem­plo, qua­dro pa­ra com­por com ele na cha­pa ma­jo­ri­tá­ria. Ago­ra, acho di­fí­cil, da­do es­se ra­di­ca­lis­mo de al­guns mem­bros do Pa­lá­cio.

Ve­jo o DEM com mais fa­ci­li­da­de. Se o DEM go­i­a­no pri­o­ri­zar a elei­ção de De­mós­te­nes Tor­res, co­mo o DEM na­ci­o­nal es­tá pri­o­ri­zan­do a re­e­lei­ção de seus se­na­do­res, ele vem co­nos­co. Mas a atu­a­ção de De­mós­te­nes ofus­ca a li­de­ran­ça de Ro­nal­do Cai­a­do, e is­so aca­ba sen­do um pro­ble­ma pa­ra o DEM, que vai ter que me­dir for­ça in­ter­na­men­te. Não te­nho dú­vi­das de que os dois de­pu­ta­dos es­ta­du­ais e o se­na­dor do DEM que­rem ca­mi­nhar co­nos­co. De­pen­den­do do que o PP acer­tar, o DEM vem com mais fa­ci­li­da­de. Se o PP ca­mi­nhar com o PT, e acho que is­so é pos­sí­vel, exis­te uma ar­ti­cu­la­ção em cur­so, que se­ria um gol­pe mui­to gran­de em ci­ma de Iris Re­zen­de. O so­nho de Ru­bens Oto­ni, e ele tem an­da­do es­se Es­ta­do mui­to mais que o Mar­co­ni, é ser can­di­da­to a go­ver­na­dor. Ele me dis­se is­so, no iní­cio de 2008, na sa­la do Pro­gra­ma do Pau­lo Be­ringhs, fa­lou que iria bus­car um pro­je­to ma­jo­ri­tá­rio em 2010, por­que era a úl­ti­ma opor­tu­ni­da­de que te­ria de es­tar com Lu­la no pa­lan­que. De­pois dis­so o ir­mão de­le (An­tô­nio Go­mi­de, PT) vi­rou pre­fei­to de Aná­po­lis. Se Iris dei­xar a pre­fei­tu­ra, o PT te­ria Lu­la, Go­mi­de em Aná­po­lis, Pau­lo Gar­cia em Go­i­â­nia, aí Al­ci­des, que es­tá lou­co atrás de um can­di­da­to, po­de­ria apo­i­ar Ru­bens Oto­ni.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — O sr. acha, en­tão, que o PP po­de­ria apo­i­ar o PT?

Te­nho in­for­ma­ções de que Go­mi­de dis­se a Al­ci­des que Ru­bens to­pa a pa­ra­da, pois é o so­nho de­le. Eu não acre­di­to nas ou­tras can­di­da­tu­ras. Uma de­las tem uma re­e­lei­ção tran­qui­la, que é o lí­der do DEM, Ro­nal­do Cai­a­do. Por is­so que o pró­prio Al­ci­des não tem mo­ti­vo pa­ra apo­i­ar Cai­a­do nes­sa aven­tu­ra. E ga­to es­cal­da­do tem me­do de água fria.

Ce­zar San­tos — Apoio de Al­ci­des a Oto­ni pres­su­põe implicitamente a de­su­ni­ão en­tre PT e PMDB?

Na ar­ti­cu­la­ção que es­ta­ria sen­do ar­qui­te­ta­da, pa­re­ce que Iris Re­zen­de já foi abor­ta­do e não de­ve dei­xar a pre­fei­tu­ra, por­que, se dei­xar, a si­tu­a­ção do PMDB fi­ca di­fí­cil. Por is­so tal­vez ele vem in­sis­tin­do mui­to com Hen­ri­que Mei­rel­les. Acho que o can­di­da­to do PMDB de­ve ser Adib Eli­as, era o so­nho de­le em 2002, ele cor­reu o Es­ta­do, Iris ar­ti­cu­lou sua elei­ção pa­ra a pre­si­dên­cia do PMDB, pa­ra ca­ci­fá-lo. Na­que­la épo­ca Iris de­ve ter con­ver­sa­do com Adib e di­to ´olha, não é o seu mo­men­to, mas de Ma­gui­to´, era um se­na­dor dis­pu­tan­do.

Sa­rah Mohn — Qual o pro­je­to de Iris Re­zen­de, em sua opi­ni­ão?

O pro­je­to de­le é con­ti­nu­ar na pre­fei­tu­ra, e lan­çar Do­na Iris ao Se­na­do. Mas es­sa é uma pre­o­cu­pa­ção de­les, não é nos­sa. Can­di­da­tu­ra de­les é um pro­ble­ma de­les. Va­mos res­pei­tar to­da e qual­quer can­di­da­tu­ra. Já há uma can­di­da­tu­ra pos­ta, que me pa­re­ce o Was­hing­ton Fra­ga, e tem to­do nos­so res­pei­to. Nós es­ta­mos pre­o­cu­pa­dos em tra­ba­lhar um bom pro­je­to pa­ra o Es­ta­do.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Há a te­se de que Mei­rel­les uni­fi­ca­ria to­da es­sa ba­se, do PP, PMDB, PT, DEM, se fos­se can­di­da­to. Co­mo se­ria se es­sa ba­se lan­ças­se can­di­da­to úni­co con­tra Mar­co­ni?

Não acre­di­to que ele con­si­ga unir to­da es­sa ba­se. Acho que Hen­ri­que Mei­rel­les te­ria mais chan­ces de elei­ção den­tro de um pro­je­to na­ci­o­nal, ele tra­ba­lhou mais pa­ra is­so. Não se mo­vi­men­tou nas elei­ções mu­ni­ci­pa­is. É um ho­mem mui­to bem for­ma­do, faz um bom tra­ba­lho no Ban­co Cen­tral, já te­ria da­do si­nais - e es­sa é a ago­nia de Iris Re­zen­de -, de que se ti­ves­se que dis­pu­tar uma elei­ção em Go­i­ás se­ria pa­ra se­na­dor. Aí po­de­ria as­su­mir a pre­si­dên­cia da Co­mis­são de Re­la­ções In­ter­na­cio­nais, o que lhe da­ria mui­to mais vi­si­bi­li­da­de nos ne­gó­ci­os que ele tem com a co­mu­ni­da­de eco­nô­mi­ca, os ban­quei­ros in­ter­na­cio­nais, no mun­do fi­nan­cei­ro.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — O sr. não acha que o pro­je­to na­ci­o­nal de­le é o mais di­fí­cil?

Ele não tem chan­ce pa­ra vi­ce (pre­si­den­te da Re­pú­bli­ca), por­que ge­ral­men­te se bus­ca um vi­ce de um co­lé­gio elei­to­ral mai­or. Go­i­ás tem 3% do elei­to­ra­do, por aí. Mi­nas Ge­ra­is, São Pau­lo te­ri­am mais chan­ces de fi­car com a va­ga. Não ve­jo chan­ces de Mei­rel­les ser vi­ce da Dil­ma, mes­mo por­que o PMDB, que já tem fa­ma de ser o rei do fi­si­o­lo­gis­mo, fi­ca­ria com o es­tig­ma do par­ti­do que de­fen­de as al­tas ta­xas de ju­ros, a agio­ta­gem in­ter­na­ci­o­nal, a es­pe­cu­la­ção fi­nan­cei­ra. O PMDB es­ta­ria ten­tan­do se li­vrar des­se es­tig­ma.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — O go­ver­na­dor vai lan­çar can­di­da­to?

Acre­di­to que sim. Até mes­mo pa­ra ele­ger de­pu­ta­dos, pa­ra de­fen­der seu go­ver­no na As­sem­bléia, des­sa vez ele se­rá obri­ga­do a tra­ba­lhar a elei­ção de de­pu­ta­dos. Eles vão, in­clu­si­ve, pri­o­ri­zar mais de­pu­ta­dos es­ta­du­ais.

“Alcides foi eleito com os projetos do PSDB”

Ce­zar San­tos — A que se de­ve a bri­ga com o PP pa­la­cia­no?

Pas­sa­das as elei­ções de 2006, o pró­prio pre­si­den­te do PP, Sér­gio Cai­a­do, dis­se ao en­tão pre­si­den­te do meu par­ti­do, An­tô­nio Fa­lei­ros, que o PP iria apre­sen­tar can­di­da­to em 2010, que o PSDB ha­via fi­ca­do dois man­da­tos no go­ver­no e que o PP se sen­tia no di­rei­to tam­bém. E eles fo­ram bus­car a elei­ção de Hen­ri­que Mei­rel­les. No mo­men­to, eu não acre­di­tei que Al­ci­des iria em­bar­car nes­se pro­je­to. Mas com o tem­po eles fo­ram de­sa­lo­jan­do o PSDB dos prin­ci­pa­is car­gos do go­ver­no, co­mo Jo­sé Car­los Si­quei­ra (Se­cre­ta­ria de Pla­ne­ja­men­to) e Car­los Ma­ra­nhão (In­fra­es­tru­tu­ra) e mui­tos ou­tros, e de­si­dra­tan­do ou­tras se­cre­ta­rias. Per­ce­be­mos que a in­ten­ção de­les se­ria mes­mo tri­lhar ou­tro ca­mi­nho. Até aí tu­do bem, to­do par­ti­do so­nha com o po­der. O que não con­cor­do é com as ar­ti­ma­nhas usa­das, as re­tó­ri­cas po­lí­ti­cas, a co­me­çar com es­sa his­tó­ria do dé­fi­cit. E acha­ram um nú­me­ro re­don­do: R$100 mi­lhões. Fi­ca­ram com es­se dis­cur­so até me­a­dos de 2008, e no fi­nal da­que­le ano, Al­ci­des, num co­mí­cio em Dio­ra­ma, fa­lou que o Es­ta­do ti­nha in­ves­ti­do, só de re­cur­so do Te­sou­ro, R$ 750 mi­lhões. Não tem sen­ti­do. É uma con­tra­di­ção mui­to gran­de, um dis­cur­so dú­bio. Pro­cu­ra­ram des­ca­rac­te­ri­zar os pro­je­tos que ele­ge­ram Al­ci­des. Al­ci­des é o úni­co go­ver­na­dor da his­tó­ria po­lí­ti­ca de Go­i­ás que não apre­sen­tou um pro­je­to, o par­ti­do de­le nem se­quer te­ve com­pe­tên­cia de tra­ba­lhar um pro­je­to pa­ra apre­sen­tar à so­ci­e­da­de. Ele se ele­geu di­zen­do que o pro­je­to de­le es­ta­va em cur­so, que os pro­gra­mas so­ci­ais mais cri­a­ti­vos do Bra­sil se­ri­am re­a­jus­ta­dos anual­men­te. E ao con­trá­rio, a Ren­da Ci­da­dã fi­cou sus­pen­sa qua­se três anos e de­pois foi vol­tan­do, ago­ra aten­de me­nos de um ter­ço do que aten­dia. A Bol­sa Uni­ver­si­tá­ria, ao ser lan­ça­da por Mar­co­ni, a men­sa­li­da­de na Uni­ver­si­da­de Sal­ga­do de Oli­vei­ra era 320 re­ais e a Bol­sa co­bria 250 re­ais. Al­ci­des re­du­ziu pa­ra 200 re­ais. O Sa­lá­rio Es­co­la foi ex­tin­to, ho­je te­mos 75 mil cri­an­ças de 7 a 17 anos fo­ra da es­co­la. Ten­ta­ram re­du­zir os re­pas­ses pa­ra a UEG, foi uma bri­ga gran­de na As­sem­bléia. Ten­ta­ram des­ca­rac­te­ri­zar a Fa­peg. Is­so foi cri­an­do atri­tos.

Sa­rah Mohn — Que ava­li­a­ção o sr. faz do go­ver­no Al­ci­des? 

É um go­ver­no fra­co, sem ru­mo, sem nor­te. Go­ver­no que nu­ca se re­u­niu pa­ra pla­ne­jar na­da. Go­ver­no que não de­sen­vol­ve ne­nhu­ma ação pla­ne­ja­da. Nun­ca re­u­niu a equi­pe pa­ra dis­cu­tir o ru­mo des­se Es­ta­do. É um go­ver­no de­sar­ti­cu­la­do, sem ru­mo. Al­ci­des é um lí­der que não tem po­der de de­ci­são. Ele ter­cei­ri­zou a de­ci­são do go­ver­no pa­ra o seu se­cre­tá­rio Jor­ce­li­no Bra­ga.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — As es­co­las de tem­po in­te­gral não foi uma boa de­ci­são do go­ver­no Al­ci­des?

Eu elo­gi­ei a es­co­lha da se­cre­tá­ria Mil­ca Se­ve­ri­no, ges­to­ra mui­to pre­pa­ra­da e qua­li­fi­ca­da, não tem pi­cu­i­nhas, faz um tra­ba­lho ex­cep­cio­nal. Foi po­si­ti­vo o es­pa­ço da­do a ela. Ago­ra, Al­ci­des pro­me­teu que to­das as es­co­las es­ta­du­ais se­ri­am de tem­po in­te­gral. A gen­te sa­be que a von­ta­de po­lí­ti­ca de Mil­ca é fa­zer is­so, mas ela não tem re­ce­bi­do apoio nes­se sen­ti­do. Ela es­tá com mi­lhões de re­ais de­po­si­ta­dos aí, en­tre­tan­to não con­se­gue equi­par es­co­las, por­que o go­ver­no não an­da, es­tá tu­do tra­va­do. Não con­se­guem li­ci­tar, e ela, pa­ra pre­ser­var seu no­me, pre­ci­sa fa­zer tu­do den­tro da lei. A in­com­pe­tên­cia des­se go­ver­no é tão gran­de que eles não con­se­guem li­ci­tar, não con­se­guem gas­tar o di­nhei­ro que che­ga pa­ra o Es­ta­do. Ela com a sua li­de­ran­ça, o trân­si­to com os ami­gos que fez en­quan­to rei­to­ra da Uni­ver­si­da­de Fe­de­ral de Go­i­ás, con­se­guiu mui­tos re­cur­sos no MEC, tem mui­to di­nhei­ro de­po­si­ta­do no Es­ta­do pa­ra cons­tru­ir es­co­las, mas ela so­zi­nha não con­se­gue, as coi­sas es­tão to­das cen­tra­li­za­das nas mãos do Bra­ga. Is­so tem si­do frus­tran­te pa­ra Mil­ca, ela não fa­la por­que é mui­to éti­ca. E a es­co­la de tem­po in­te­gral não tem re­ce­bi­do o apoio e a es­tru­tu­ra ne­ces­sá­ria pa­ra fun­cio­nar bem.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — So­bre as obras pa­ra­li­sa­das que Mar­co­ni dei­xou, o que o sr. tem a di­zer?

To­do go­ver­no dei­xa obra pa­ra­li­sa­da. Quan­do Mar­co­ni pas­sou o go­ver­no pa­ra Al­ci­des, as obras es­ta­vam ca­mi­nhan­do. Em 2005 ti­ve­mos gran­de nú­me­ro de li­ci­ta­ções. Elas fo­ram ini­ci­a­das no go­ver­no Mar­co­ni, mas quem pa­ra­li­sou foi o pró­prio Al­ci­des. O go­ver­no Al­ci­des fe­chou o (Cen­tro Cul­tu­ral) Os­car Ni­e­meyer.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — No ca­so do Os­car Ni­e­meyer, o se­cre­tá­rio Bra­ga diz que as obras es­tão pa­ra­li­sa­das por­que o TCE apon­tou su­per­fa­tu­ra­men­to.

Não exis­te is­so. O Os­car Ni­e­meyer foi inau­gu­ra­do, vá­rios shows re­a­li­za­dos, vá­rios even­tos acon­te­ce­ram ali. Fal­ta­vam de­ta­lhes, é ver­da­de, mas fal­tou com­pro­me­ti­men­to des­te go­ver­no com seus com­pro­mis­sos de cam­pa­nha. Nós sa­be­mos que es­se pes­so­al não tem li­ga­ção ne­nhu­ma com cul­tu­ra. Quem es­tá no go­ver­no são pes­so­as li­ga­das à UDN, à Are­na, con­ser­va­do­res que de­ram sus­ten­ta­ção ao re­gi­me mi­li­tar. Eles não têm a me­nor sim­pa­tia pa­ra ar­tis­tas, com pes­so­as li­ga­das à mú­si­ca, te­a­tro, tan­to é que o Fi­ca (Fes­ti­val In­ter­na­ci­o­nal de Ci­ne­ma e Ví­deo Am­bien­tal) per­deu o seu char­me. O Can­to da Pri­ma­ve­ra, de Pi­re­nó­po­lis, tam­bém. E, em Po­ran­ga­tu, o fes­ti­val de te­a­tro tam­bém per­deu. Es­ses even­tos cri­a­dos no go­ver­no Mar­co­ni per­de­ram qua­li­da­de. O pes­so­al que es­tá na go­ver­no não tem afi­ni­da­de com cul­tu­ra.

Da­nin Jú­ni­or — O que acon­te­ceu com as con­tas do Es­ta­do na re­a­li­da­de?

É ver­da­de que Mar­co­ni re­pas­sou o go­ver­no a Al­ci­des com res­tos a pa­gar, em tor­no de 30% do que ele re­ce­beu. Re­co­nhe­ce­mos is­so. Ago­ra, em re­la­ção à dí­vi­da in­ter­na e ex­ter­na, foi Mar­co­ni que mais pa­gou a dí­vi­da, que mais pa­gou ju­ros, em tor­no de R$ 5 bi­lhões de ju­ros des­sa dí­vi­da. Con­traiu R$ 65 mi­lhões pa­ra re­a­bi­li­tar as es­tra­das e R$ 60 mi­lhões pa­ra ca­pi­tal de gi­ro pa­ra a Agên­cia de Fo­men­to, que ho­je es­tá em R$ 118 mi­lhões. É um di­nhei­ro do Ban­co do Po­vo que tem ge­ra­do em­pre­sa, re­cei­ta. Res­tos a pa­gar to­do go­ver­no pas­sa. Pe­dro Wil­son dei­xou pa­ra Iris Re­zen­de mais de R$ 200 mi­lhões de res­tos a pa­gar. En­tão, is­so a gen­te as­su­me, es­tá cla­ro, não tem co­mo ne­gar. Ago­ra, di­zer que dei­xou o go­ver­no que­bra­do... Si­tu­a­ção di­fí­cil foi a que re­ce­be­mos em 1999. Mar­co­ni en­tre­gou o go­ver­no com sa­lá­ri­os dos ser­vi­do­res em dia, 13º em dia, ten­do re­ce­bi­do o go­ver­no com três mes­es de atra­so no sa­lá­rio dos ser­vi­do­res. Mar­co­ni cum­priu to­dos os com­pro­mis­sos de cam­pa­nha, dei­xou os pro­gra­mas so­ci­ais em dia. Dei­xou res­tos a pa­gar, por­que is­so é um pro­ces­so na­tu­ral de quem es­tá fe­chan­do o go­ver­no.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Jar­del Seb­ba diz que o PMDB é o ad­ver­sá­rio, mas na ver­da­de pa­re­ce que não é só o PMDB. Não foi o PMDB que fa­lou que o Mar­co­ni que­brou o Es­ta­do, que dei­xou rom­bo. Ali­ás, o PMDB re­pe­te o que o go­ver­no Al­ci­des diz. Os ad­ver­sá­rios en­tão são PMDB e PP?

Sem dú­vi­da que são os dois. Ho­je o ad­ver­sá­rio mais di­fí­cil de ser ven­ci­do é Iris Re­zen­de, em­bo­ra te­nha­mos pes­qui­sa mos­tran­do que o po­vo quer ver Iris con­ti­nu­an­do na pre­fei­tu­ra. E em pes­qui­sas quan­ti­ta­ti­vas en­tre Iris e Mar­co­ni, Mar­co­ni apa­re­ce com mais de 20 pon­tos à fren­te. Quan­do se faz pes­qui­sa pa­ra o Se­na­do, Iris sai na fren­te. Até o elei­tor que vo­ta no Iris en­ten­de que quem tem com­pe­tên­cia e cri­a­ti­vi­da­de pa­ra dar so­lu­ções aos gar­ga­los do nos­so Es­ta­do é Mar­co­ni. O elei­tor do Iris re­co­nhe­ce que quem dá con­ta de re­sol­ver os pro­ble­mas de Go­i­ás é Mar­co­ni. É um da­do im­por­tan­tís­si­mo que nos ani­mou mui­to pa­ra o em­ba­te.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Jor­ce­li­no Bra­ga po­de­ria ser o an­ti-Mar­co­ni?

Bra­ga não co­nhe­ce 10% dos mu­ni­cí­pios do Es­ta­do e is­so de­to­na as suas pretensões eleitorais. Mas vol­to a di­zer que va­mos res­pei­tar to­dos os ad­ver­sá­rios.

Ce­zar San­tos — Um dos jin­gles da cam­pa­nha em 2006 di­zia ‘Al­ci­des é Mar­co­ni’. O pes­so­al do PP pa­la­cia­no con­ti­nua ne­gan­do a in­flu­ên­cia de Mar­co­ni na can­di­da­tu­ra de Al­ci­des?

Al­ci­des nun­ca te­ve for­ça po­lí­ti­ca pa­ra ser go­ver­na­dor. Em 1998, ele sen­do can­di­da­to a vi­ce-go­ver­na­dor, a es­po­sa de­le, Ra­quel Ro­dri­gues, fi­cou na quar­ta su­plên­cia (pa­ra de­pu­ta­do es­ta­du­al). Ela se ele­geu em 2002 com a aju­da de Mar­co­ni. E Al­ci­des, usan­do a es­tru­tu­ra do go­ver­no pa­ra ele­ger seus com­pa­nhei­ros de to­do mo­men­to, seus ami­gos da ro­da, co­mo Fran­cis­co Ged­da, Sér­gio Cai­a­do, Car­los Sil­va, e que nun­ca con­se­gui­ram elei­ção, por­que não tem pres­tí­gio pa­ra trans­fe­rir vo­tos. A elei­ção de Al­ci­des ele de­ve ao gru­po po­lí­ti­co de Mar­co­ni e à es­tru­tu­ra do PSDB.

Sa­rah Mohn — Por que há es­se cli­ma de re­vol­ta por par­te dos pa­la­cia­nos?

É vai­da­de do ser hu­ma­no. Is­so vai fi­car pa­ra os his­to­ri­a­do­res.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Pe­lo que o sr. fa­la, Mar­co­ni vai se apre­sen­tar co­mo can­di­da­to de opo­si­ção?

Va­mos apre­sen­tar pro­je­to ino­va­dor, mo­der­no, cri­a­ti­vo, ou­sa­do e va­mos pro­mo­ver as crí­ti­cas pon­tu­ais. O pró­prio go­ver­no tem nos le­va­do pa­ra es­se cam­po.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — O sr. acha que a elei­ção de 2010 ten­de a ser mais pa­re­ci­da com a de 1998, quan­do Mar­co­ni es­ta­va na opo­si­ção, ou com a de 2002, quan­do es­ta­va no go­ver­no?

En­ga­na quem achar que o po­vo go­i­a­no não es­tá po­li­ti­za­do. E vai vo­tar em quem tem cre­di­bi­li­da­de pa­ra apre­sen­tar pro­je­tos cri­a­ti­vos, ou­sa­dos. Quan­to mais pro­cu­ram ar­ra­nhar e des­tru­ir o pa­tri­mô­nio po­lí­ti­co do se­na­dor Mar­co­ni Pe­ril­lo, mais ele tem se fir­ma­do, sus­ten­ta­do e cri­a­do re­sis­tên­cia. Ten­ta­ram des­qua­li­fi­cá-lo, já vas­cu­lha­ram sua vi­da to­da, e não en­con­tra­ram na­da. Es­sa elei­ção se­rá di­fe­ren­ci­a­da, se­rá elei­ção de pro­je­tos. Não adi­an­ta es­se xin­ga­tó­rio que eles es­tão en­sai­an­do. Di­zem que têm car­tas na man­ga, is­so e aqui­lo. Nós tam­bém te­mos mui­tas. Te­mos mui­to mais do­cu­men­tos que eles. Do­cu­men­tos que le­vam mui­ta gente pa­ra a ca­deia da noi­te pa­ra o dia. Mas que­re­mos tra­ba­lhar 2010 com pro­je­tos qua­li­fi­ca­dos, afi­nal de con­tas Go­i­ás me­re­ce is­so.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Qual se­rá o di­fe­ren­ci­al de Mar­co­ni nes­ta elei­ção?

Se­rá a ex­pe­ri­ên­cia co­mo go­ver­na­dor, co­mo ho­mem pú­bli­co. Ele es­tá mais pron­to do que nun­ca es­te­ve.

Sa­rah Mohn — O sr. fa­la que o PSDB vai apre­sen­tar pro­je­to ino­va­dor, mas o que o par­ti­do fa­rá pa­ra se des­vin­cu­lar do slo­gan Tem­po No­vo? Afi­nal foi o Tem­po No­vo que ele­geu o atu­al go­ver­no. Is­so não se­rá um des­gas­te?

O PSDB não vai se des­li­gar do Tem­po No­vo. Es­se go­ver­no ten­tou des­tru­ir o Tem­po No­vo. De cer­ta for­ma es­sa elei­ção se­rá uma for­ma de res­ga­te de al­gu­mas ban­dei­ras do Tem­po No­vo. Aqui­lo que foi apro­va­do pe­la po­pu­la­ção te­mos que res­ga­tar. Ló­gi­co que te­re­mos um no­vo mo­te de cam­pa­nha, mas nos­so for­te é a ex­pe­ri­ên­cia de Mar­co­ni. Acho gra­ça as pes­so­as di­ze­rem de iso­la­men­to po­lí­ti­co, co­mo há iso­la­men­to po­lí­ti­co se par­ti­dos na­ci­o­nais co­mo PTB e PPS de­fi­ni­ram apoio em con­gres­so an­tes de Mar­co­ni de­ci­dir que se­ria can­di­da­to? Par­ti­dos for­tes na­ci­o­nal­men­te... E a ca­da pes­qui­sa ele se con­so­li­da e cres­ce mais.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — As de­mis­sões ago­ra no go­ver­no Al­ci­des são em nú­me­ro sig­ni­fi­ca­ti­vo?

Os que es­tão no go­ver­no fo­ram con­vi­da­dos a con­ti­nu­ar nos car­gos pe­lo go­ver­na­dor, e es­tão lá pres­tan­do ser­vi­ços à al­tu­ra. O meu par­ti­do nun­ca foi con­vi­da­do. A gen­te até que­ria e até ten­ta­mos sen­tar com o go­ver­na­dor pa­ra su­ge­rir al­guns qua­dros e no­mes, mas ele nun­ca nos re­ce­beu. Ten­ta­mos após as elei­ções, du­ran­te to­do o ano de 2007, e ele nun­ca nos re­ce­beu pa­ra re­ce­ber su­ges­tões nos­sas, nem de pro­je­tos. Aos pou­cos foi ti­ran­do uns, sub­sti­tuin­do ou­tros. Acho que ele ain­da não con­se­guiu sub­sti­tu­ir to­dos, por­que o pró­prio PP não tem qua­dros pa­ra com­por. E tam­bém pa­ra o Es­ta­do não é in­te­res­san­te. Eu ti­nha al­gu­mas pes­so­as in­di­ca­das, em tor­no de 12 pes­so­as. Al­guns tra­ba­lha­vam no Pro­con, Se­cre­ta­ria de Ci­da­da­nia, eram bons fun­cio­ná­rios. Ti­nha uma ir­mã que tra­ba­lha­va no Ga­bi­ne­te Ci­vil, tra­ba­lha­va 10, 12 ho­ras por dia. No dia que ela foi exo­ne­ra­da o pró­prio che­fe de Ga­bi­ne­te (Olier Al­ves) li­gou pa­ra o go­ver­na­dor e pa­ra o Bra­ga e dis­se que ela não era po­lí­ti­ca, era téc­ni­ca e aju­da­va mui­to ali. Mas foi de­mi­ti­da. De pa­ren­te, era a úni­ca pes­soa que eu ti­nha no go­ver­no. E não vol­tou. Até quem não tem li­ga­ção pa­ren­tes­ca co­mi­go, mas que as­si­na Gou­lart, tem si­do son­da­do pa­ra ser de­mi­ti­do do go­ver­no.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — De­pois da cri­se com Ar­ru­da, no DF, fi­cou mais con­so­li­da­da a te­se de que o vi­ce de Mar­co­ni tem que sa­ir do En­tor­no?

O En­tor­no é uma re­gi­ão mui­to im­por­tan­te, ca­ren­te, pre­ci­sa de aten­ção do go­ver­no, po­lí­ti­cas pú­bli­cas, e os pro­je­tos que o PSDB tem ca­em pa­ra o En­tor­no co­mo um a lu­va. Sem dú­vi­da, o En­tor­no es­tá cre­den­ci­a­do pa­ra in­di­car um vi­ce. Ar­ru­da che­gou de­pois que Mar­co­ni ha­via si­do go­ver­na­dor du­as ve­zes. O pró­prio Jo­a­quim Ro­riz, que es­te­ve afas­ta­do, o gru­pa­men­to po­lí­ti­co de­le tem man­da­do re­ca­do de que quer vol­tar a dis­cu­tir co­nos­co par­ce­ria pa­ra o En­tor­no. Re­ce­be­mos men­sa­gem do se­na­dor Cris­to­vam Bu­ar­que (PDT) de que quer dis­pu­tar o go­ver­no do DF e quer par­ce­ria co­nos­co no En­tor­no.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — O sr. é de­pu­ta­do em se­gun­do man­da­to, ex­tre­ma­men­te ar­ti­cu­la­do, tem dis­cur­so, tem his­tó­ria no PSDB. Por que es­tá de­sis­tin­do de can­di­da­tu­ra nes­te ano?

Se­ria a quar­ta vez que iria dis­pu­tar man­da­to de de­pu­ta­do es­ta­du­al. Em 1990, dis­pu­tei e fi­quei nas pri­mei­ras su­plên­cias. Ho­je, con­fes­so que não me sin­to mo­ti­va­do. Pri­mei­ro, pe­lo fa­to de não ter acon­te­ci­do a re­for­ma po­lí­ti­ca, uma frus­tra­ção mui­to gran­de. Se­gun­do, por­que me mo­ti­va mais um pro­je­to mai­or do meu par­ti­do, do meu agru­pa­men­to po­lí­ti­co, que é o re­tor­no do se­na­dor Mar­co­ni Pe­ril­lo ao go­ver­no de Go­i­ás. Mi­nha no­va re­e­lei­ção tra­ria pro­ble­mas a al­gu­mas can­di­da­tu­ras re­gi­o­nais, pes­so­as mui­to li­ga­das ao meu gru­pa­men­to po­lí­ti­co, co­mo Jú­lio da Re­tí­fi­ca (de­pu­ta­do es­ta­du­al do PSDB), com­pa­nhei­ro des­de 1998, e que tem qua­tro co­lé­gios no Nor­te. Na re­gi­ão do Va­le do Ara­gu­aia, o Jo­a­quim de Cas­tro, pre­fei­to e ex-pre­si­den­te da AGM, que sem­pre me aju­dou, e que tam­bém tem pro­je­to de ser can­di­da­to a de­pu­ta­do es­ta­du­al. Pa­ra um pro­je­to mai­or é mui­to im­por­tan­te a can­di­da­tu­ra do Jo­a­quim na­que­la re­gi­ão. No Va­le do São Pa­trí­cio te­mos o par­cei­ro Hu­go Dou­ra­do, que me aju­dou na elei­ção pas­sa­da, ge­ren­te da Sa­ne­a­go e que foi can­di­da­to a vi­ce do ex-pre­fei­to Val­ter Me­lo, que pra­ti­ca­men­te en­cer­rou seu ci­clo po­lí­ti­co.

Na mi­nha ci­da­de na­tal (Ru­bia­ta­ba) há dois pré-can­di­da­tos, tam­bém li­ga­dos ao meu gru­pa­men­to po­lí­ti­co, acho que os dois se­rão can­di­da­tos. Em Apa­re­ci­da de Go­i­â­nia, on­de te­nho do­mi­cí­lio elei­to­ral, o ve­re­a­dor Nas­ci­men­to, o se­gun­do mais vo­ta­do, tam­bém tem pro­je­to de ser can­di­da­to a de­pu­ta­do Es­ta­du­al. Em 1998 ele se can­di­da­tou é so­nho de­le ser de­pu­ta­do es­ta­du­al. Eu dis­se ao lí­der mai­or do meu par­ti­do, se­na­dor Mar­co­ni Pe­ril­lo, que não con­se­gui­ria aju­dá-lo se fos­se no­va­men­te can­di­da­to a de­pu­ta­do es­ta­du­al. E pa­ra de­pu­ta­do fe­de­ral, te­ria pro­ble­mas tam­bém com pes­so­as mui­to pró­xi­mas a mim e ao se­na­dor. Es­tou aguar­dan­do a aber­tu­ra de no­vos ho­ri­zon­tes, mas mo­ti­va­do mes­mo com o pro­je­to mai­or do PSDB.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Po­de­ria dis­pu­tar o Se­na­do?

Es­sa pos­si­bi­li­da­de é re­mo­ta. O se­na­dor Mar­co­ni me con­vi­dou pa­ra ser um dos co­or­de­na­do­res da cam­pa­nha, pos­si­vel­men­te eu es­ta­rei en­ga­ja­do de cor­po e al­ma nes­se pro­je­to se ele for can­di­da­to a go­ver­na­dor. Eu po­de­ria co­la­bo­rar, com mais ex­pe­ri­ên­cia do que fiz em 1998, quan­do fui o co­or­de­na­dor ge­ral do in­te­ri­or. O pro­je­to de 1998 de des­cen­tra­li­za­ção das ações de cam­pa­nha foi da mi­nha equi­pe.

“Relatório da Fipe na CPI da Celg foi desastroso ao PMDB”

Cezar Santos — O que o primeiro relatório da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) para a CPI da Celg, apresentado na quinta-feira, 7, revelou? 

A palavra-chave do relatório é descapitalização, que é o grande problema da empresa, a principal causa do endividamento da Celg nos últimos 25 anos. Neste período, foi acumulado prejuízo de R$ 2,1 bilhões, ou seja, metade da dívida de R$ 4,1 bilhões. Por aí já se mostra outro equívoco que o governo vem falando, que o prejúízo seria de R$ 5,7 bilhões. Entre as causas da dívida estão despesas altas, compra de energia a preço acima do mercado, empréstimos a curto prazo e investimento a longo prazo. Outro problema terrível apontado pelo relatório foi a venda de 665.714 ações preferenciais na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, no dia 30 de março de 1994, três dias antes de Iris Rezende deixar o governo. Corrigido, isso daria hoje cerca de R$?1 bilhão, o que também descapitalizou a Celg.

Danin Júnior — O sr. avalia, então, que o relatório da Fipe aponta o culpado pela crise da Celg?

O relatório é um desastre para o PMDB, pois mostrou que eles são os grandes responsáveis pela situação da Celg. Com o relatório, o M do PMDB é M de massacre, de morte. O estudo mostra que o salto na perda patrimonial se deu em 1996, na venda de Cachoeira Dourada, com Maguito Vilela governador do Estado. O dinheiro da venda da usina não voltou para a Celg, foi para o caixa do Estado. E o contrato da venda previa compra da energia gerada em Cachoeira Dourada por valor 53% acima do de outros fornecedores.

O relatório é incontestável. Quando venderam as geradoras, tinham de ter preparado a empresa, cortado custos operacionais, para que ela pudesse sobreviver sem geração de energia, e?eles não fizeram isso. Outro dado, sobre um equívoco de gestão — entre aspas, eu diria —, é que não priorizaram o pagamento à Eletrobrás, ao setor elétrico. Além de multas e juros, isso fez com que a Celg não pudesse reajustar tarifas, mais um duro golpe contra a Celg. Estou muito satisfeito com o relatório, eu que sempre defendi uma investigação dura na CPI, já que o PMDB?queria jogar a culpa do desequilíbrio da Celg em cima dos governos Marconi.

Cezar Santos — A culpa é só do PMDB?

Um conjunto de fatores levou ao desequilíbrio financeiro da Celg. Mas os principais, sem dúvida, foram as vendas das geradoras. A venda de Corumbá I para Furnas foi danosa para o Estado, para a Celg, e está gerando hoje em torno de 400 megawatts de energia. A responsabilidade social de empresa pública é muito maior que em empresa privada, não tem nem comparação. E ela sempre teve que socorrer o Estado em seus momentos de crise. A venda de Corumbá II causou esse desequilíbrio, por um dado interessante. Com a situação do Tocantins, a Celg que deveria ser indenizada pelas redes de transmissão, pelas subestações e pelas geradoras, mas quem foi indenizado foi o Estado.

Cezar Santos — Todos os governos têm culpa, em maior ou menor grau?

É verdade que os governos sacrificaram e exigiram muito da Celg no momento de fomentar o Estado. O Governo Marconi, por exemplo, trabalhou o momento de industrialização do Estado e conseguiu atrair número grande de indústrias e empresas para o Estado. Acho que também esse sacrifício excessivo da Celg para fortalecer o próprio Estado e depois não retribuir isso à Celg é uma das causas. A venda de Cachoeira Dourada obrigou a Celg a comprar energia mais cara. E a Celg foi obrigada, antes da venda, a absorver a dívida de Cachoeira Dourada também. A Celg perdeu a sua principal fiadora. E no mercado financeiro é assim, quando menor a garantia, maior os juros. Então, a Celg não conseguia mais buscar empréstimos. O Banco Itaú, que detém as contas do Estado, nunca emprestou um centavo para o Estado. O Estado tem que buscar empréstimo em outros bancos com juros altos.

Danin Júnior — A questão Celg será decisiva na eleição? A qualidade dos serviços de energia tem caído cons­­tantemente. Como os políticos que já passaram pelo poder vão responder?

O governador Alcides, ao tirar um técnico qualificado da direção da Celg e levar um suplente de deputado, um político, assumiu a responsabilidade pelo problema da empresa. O governo federal foi muito duro com a Celg não permitindo o reajuste das tarifas.

Danin Júnior — O sr. acredita na tese de que existem interesses secundários para favorecer grupos?

Acredito, mas não poderia dar nomes aos bois, é preciso mais argumentos. O que está sendo discutido na Justiça, contra a Celg... O comprador de 41% das ações da Celg (governo federal) não quer responsabilidade. Ninguém fez essa leitura ainda. É outro grito que temos que dar, porque para se livrar desse problema estão querendo entregar a Celg. Por que Enio Branco conseguiu proposta muito melhor quando estava à frente da Celg? R$ 40 milhões, esse valor que estão oferecendo é insignificante. Um estudo mostra que só a CelgTelecom, num cenário normal da economia, vale R$ 208 milhões, numa prospecção de negócio. Negocia-se 41% das ações por R$ 40 milhões vendendo Celg Telecom e Celg Distribuidora. Não consigo entender. O próprio Lula disse em discurso que a Celg valia R$ 180 milhões. É motivo de muitos questionamentos. O Banco Fibra fez estudo da Celg, em 2004, posso mostrar a vocês, em que ala foi avaliada por R$ 1,5 bilhão. Os 41% das ações teriam que valer R$ 616 milhões. Será que no governo Alcides a Celg entrou numa depreciação tão grande assim?

Danin Júnior — Há uma usina hidrelétrica sendo construída no Norte, Rio Madeira, com 26 pendências ambientais, e mesmo assim o BNDES já liberou R$ 6,5 bilhões para a obra. Falta vontade política para resolver o problema da Celg?

O governo federal não tem tido compromisso com o Estado, de ajudar na solução. Há muitos créditos tri­butários para serem ressarcidos à Celg, em torno de R$ 2,6 bilhões, num estudo que temos. O problema da Celg não é essa dívida que eles falavam de R$ 5,7 bilhões, e que o relatório da Fipe mostrou que é R$ 4,1 bilhões. Isso é passivo global. Com R$ 1 bilhão se resolve a situação da Celg.

Nenhum comentário:

Postar um comentário