Valin rebate críticas de Iris à CPI
Presidente da Assembleia exige respeito com a comissão e afirma que relatório da Fipe é “exclusivamente técnico”
Em resposta aos questionamentos sobre a seriedade dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que apura possíveis irregularidades na gestão financeira da Celg nos últimos 25 anos, o presidente da Assembleia Legislativa, Helder Valin (PSDB), saiu em defesa do poder. Autor do requerimento que resultou na instalação da comissão, ele criticou os que acusam a Casa de estar a serviço do senador Marconi Perillo (PSDB) e colocam sob suspeita os relatórios elaborados pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
“O relatório da Fipe é exclusivamente técnico, não cita nomes. Todos têm o direito de apresentar suas versões dos fatos, mas que o façam de forma racional, respeitando a inteligência dos goianos e a seriedade da Assembleia Legislativa e de instituições ilibadas como o TCE e a Fipe – que estão assessorando a CPI justamente pela sua imparcialidade e notoriedade como órgãos de fiscalização e de pesquisas”, declarou.
O presidente da Assembleia lembrou que a Fipe é ligada à Universidade de São Paulo, que é considerada a melhor universidade do Brasil e da America Latina e uma das melhores do mundo, e que, até o momento, a CPI está em fase de apuração dos fatos, não tendo acusado formalmente quem quer que seja por irregularidades. Para o deputado, “a verdade dos números não pode ser distorcida e está acima das paixões políticas”.
Sobre o fato de o relatório da Fipe ter colocado a venda da Usina de Cachoeira Dourada como uma das causas centrais do endividamento da Celg, ele destacou que o prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB), jamais defendeu a iniciativa (que foi tomada no governo do também peemedebista Maguito Vilela) e que o próprio ministro das Minas e Energias, Edison Lobão, que também é do mesmo partido, afirmou em entrevista concedida à Radiobrás, em setembro do ano passado, que a venda da unidade geradora de energia agravou a situação da estatal energética goiana.
“Repetidas vezes, Iris disse não concordar com a venda, ocorrida na gestão de Maguito Vilela, admitindo indiretamente que a iniciativa foi lesiva à saúde financeira da empresa”, frisou.
Valin acrescentou que o posicionamento do prefeito Iris Rezende, que qualificou a CPI como cortina de fumaça para encobrir irregularidades supostamente cometidas durante os governos do senador Marconi Perillo, é incompatível com o cargo que o peemedebista ocupa. “Ao acusar o Legislativo goiano e os membros da CPI de estarem a serviço de quem quer que seja, o prefeito Iris Rezende – que já integrou o poder – ofende profundamente esta Casa de Leis.”
O presidente do Legislativo defendeu com veemência os membros da CPI. Segundo ele, mesmo a Casa sendo política, os deputados que compõe a comissão têm demonstrado “seriedade, espírito público e compromisso com Goiás”. Valin lembrou que a CPI é suprapartidária, que seus membros foram indicados livremente pela liderança dos partidos com assento na Casa, inclusive do PMDB, partido ao qual o prefeito de Goiânia é filiado.
Ele fez questão de destacar a seriedade do relator da comissão, deputado Humberto Aidar (PT), “filiado ao partido do vice-prefeito de Goiânia, Paulo Garcia”, e do presidente, Helio de Sousa (DEM). Valin lembrou ainda que a Assembleia foi provocada a instalar a CPI. “Partiu de mim a iniciativa de propor a CPI por respeito à sociedade goiana, que tem direito de saber o que levou a Celg a afundar em uma crise tão profunda, com consequências graves para todo o Estado; por acreditar que os erros do passado nos ajudariam a encontrar soluções no presente; e também em resposta ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, aliado do prefeito Iris Rezende, que em visita a Goiânia cobrou da Assembleia Legislativa um posicionamento.”
Por fim, o deputado afirmou que, ao instalar a CPI, a Assembleia quis contribuir para a superação da crise financeira da Celg e não promover uma “caça às bruxas”. “Queremos apenas entender os erros do passado, para que eles não voltem a ser cometidos no futuro e mostrar por quem foram cometidos. Apoiar o desenvolvimento de Goiás é nossa missão. Nosso Estado precisa de uma companhia energética forte e moderna para continuar crescendo.”
Adequação constitucional vai a plenário em fevereiro
Deputado Helder Valin vai reapresentar, na segunda quinzena de fevereiro, Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê Adequação da Constituição Estadual à Federal. “Esta, com certeza, será uma das principais contribuições dessa legislatura à sociedade goiana”, diz o tucano.
A minuta da PEC foi elaborada ainda durante a gestão do antecessor de Valin, o também tucano Jardel Sebba, por uma comissão suprapartidária. Em 4 de março do ano passado, depois de ser amplamente discutida durante 18 meses, a proposta foi arquivada após obter em plenário 23 dos 25 votos necessários para a sua aprovação. O texto previa a alteração de 110 artigos da Constituição Estadual, a revogação de 62 dispositivos e ainda o acréscimo de dez novos artigos. Como o Regimento Interno da Assembleia prevê que PECs arquivadas só poderão voltar a tramitar na sessão legislativa seguinte, somente após o recesso parlamentar o assunto poderá voltar a ser discutido na Comissão de Constituição e Justiça, onde os deputados terão o prazo de oito sessões ordinárias para apresentar emendas.
Diário da Manhã
Serra e Dilma exibem táticas para corrida presidencial
O ano eleitoral começa com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), consolidados como os dois principais candidatos à sucessão presidencial e intensificando a movimentação em busca de votos. Serra lidera as pesquisas e começa 2010 sem a sombra da concorrência interna do governador de Minas, Aécio Neves, que desistiu de se candidatar.
Com isso, ele inicia o ano com sua base de apoio pacificada e tranquilizada pelo fim da indefinição que atrapalhava a montagem dos palanques estaduais. Essa situação fez com que o governador avisasse aos aliados que oficializará sua candidatura no fim de março.
Dilma também inicia 2010 em ritmo intenso. Ela volta amanhã do período de duas semanas de férias e deflagrará um amplo processo de viagens e contatos com as bases eleitorais do PT. Fortalecida nas pesquisas e recuperada de um linfoma, começa o ano espantando de vez o fantasma da adoção de planos B. Decidiu também partir atrás dos votos de Minas, segundo colégio eleitoral do País e seu Estado de nascimento - mas onde padece de baixa densidade eleitoral. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
Fonte: Agencia Estado - AE
Diário da Manhã
O PMDB quebrou a Celg: Maguito
A CPI da Celg continua avançado na Assembleia Legislativa. Como vem dizendo o seu relator, deputado Humberto Aidar, já ficou claro que as investigações sobre o endividamento da empresa não vão terminar em pizza. Agora mesmo, a CPI acaba de receber um subsídio da maior importância: um relatório elaborado pela Fipe, que é o instituto de pesquisas da maior e mais prestigiosa universidade da América Latina, a paulista USP.
O trabalho da Fipe na cita governos e traça uma análise fria e técnica da história financeira da Celg desde 1984. Mostra que algumas situações, ali chamadas de “fatos notáveis”, foram decisivas para levar a empresa à situação de inviabilidade em que vive hoje. Esses fatos notáveis foram a “doação” da usina de Corumbá ao governo federal, a ausência de ressarcimento pelas instalações que ficaram no Tocantins, os subsídios dados à Codemin e a privatização da usina de Cachoeira Dourada.
Em resumo, esses eventos – “fatos notáveis”, como os classifica o relatório da Fipe – provocaram um desinvestimento de mais de R$ 4 bilhões de reais, que saíram da Celg e não retornaram. Dentre todos, a Fipe indica que a venda de Cachoeira Dourada foi o mais grave e traz revelações que confirmam ainda mais a responsabilidade do ex-governador Maguito Vilela na geração do milionário déficit da companhia.
Isso porque, até o momento, supunha-se que a perda de Cachoeira de Dourada limitava-se aos R$ 1 bilhão de reais que entraram no leilão de privatização, desviados para o Tesouro do Estado e subtraídos ao caixa da Celg. Naquele instante, a empresa deixava de ser geradora de energia e matava, digamos assim, a sua galinha dos ovos de ouro. Que esses R$ 1 bilhão de reais tenham sido danosamente torrados em obras supérfluas e despesas de manutenção do Estado é outra história, não menos delituosa, que mereceria uma CPI exclusiva, capaz de mostrar a Goiás até onde vai a leviandade de Maguito Vilela – e somente isso seria suficiente para o seu banimento perpétuo da política de Goiás.
Mas o rombo de Cachoeira Dourada não ficou apenas em R$ 1bilhão de reais. A auditoria da Fipe fez as contas e descobriu que o prejuízo da Celg foi muito maior, chegando a R$ 2,5 bilhões ou cerca de 60% do total do valor das dívidas atuais. É que a venda de Cachoeira Dourada provocou uma descapitalização significativa: além dos recursos recebidos pela usina, que não entraram no caixa da companhia, o governo Maguito não pagou um encontro de contas relativo a investimentos na hidrelétrica, que chegou a R$ 600 milhões, a que se devem somar as perdas com a tarifa contratada após a venda, que alcançam R$ 900 milhões. Ou seja, uma descapitalização de R$ 2,5 bilhões, somente com o processo de venda de Cachoeira Dourada. Não haveria e não há recuperação possível para um buraco tão grande.
Vender Cachoeira Dourada foi um crime contra Goiás que influenciará negativamente o nosso Estado por gerações e gerações. É uma tragédia que não tem conserto. O relatório da Fipe é categórico ao afirmar que “o governo do Estado não vendeu apenas a Cachoeira Dourada. Ele vendeu junto um contrato de compra, pela Celg, da energia gerada em Cachoeira Dourada a preços 53% maiores que o de outros fornecedores”. Basta alinhar os números para ver que os compradores, na verdade, ganharam a usina, pois em curto espaço de tempo receberam R$ 900 milhões a mais, vendendo energia sobrefaturada, por um patrimônio que custou pouco mais de R$1bilhão.
Logo após a divulgação do relatório da Fipe, Maguito Vilela distribuiu uma nota oficial que qualquer homem público decente e responsável se recusaria a assinar. Ele repetiu a velha lenga-lenga de que foi “obrigado” pelo governo Fernando Henrique a vender Cachoeira Dourada – o que é uma piada, já que outros governadores também passaram pela mesma situação e não jogaram as riquezas dos seus Estados pelo ralo. Além de admitir que é pusilânime, Maguito mostrou que nem sequer leu o documento da Fipe: ele, Maguito, afirma que parte do dinheiro da privatização foi investida na Celg, enquanto o relatório é taxativo ao dizer que isso nunca aconteceu.
Nessa nota, o ex-governador tem o mérito de reconhecer que a venda da usina foi um “equívoco”. Até que enfim. Mas, na sequência, cita as privatizações das telefônicas, realizadas pelo governo FHC, para insinuar que o PSDB cometeu um equívoco muito maior. Isso, além de má fé, é uma inconsistência, uma vez que a transferência das telefônicas para a iniciativa privada representou um inquestionável salto de qualidade para os usuários de telefone no Brasil, enquanto a privatização da Celg desperdiçolu bilhões de reais, nada trouxe de útil para os goianos e ainda acabou provocando a inviabilização da empresa, nos moldes em que se encontra hoje.
Iris Rezende também reagiu ao relatório da Fipe. Ele tentou desclassificar o documento e ainda por cima investiu contra a CPI da Celg, que foi aprovada pela bancada do PMDB na Assembleia e vem fazendo um trabalho que repercute favoravelmente na imprensa e nos meios políticos do Estado. Mas, ao contrário de criticar, Iris deveria aplaudir o relatório porque não foram listados outros “fatos notáveis” que aconteceram nas suas administrações e que também contribuíram para a ruína da empresa – e um é exemplo é a venda de ações da Celg na Bolsa de São Paulo, no apagar das luzes do segundo governo de Iris, rendendo uma fortuna que igualmente não foi parar no caixa da companhia. Eu espero que a CPI apure isso.
A verdade tarda, mas não falha. Iris e Maguito, que hoje se arvoram em redentores da política de Goiás, cometeram desatinos administrativos que em qualquer país civilizado seriam suficientes para afastá-los punitivamente da vida pública. Aqui, acham que são os donos do mundo.
Perinácio Saylon de Andrade Lima é advogado e ex-diretor comercial da Celg
Diário da Manhã
Fio Direto
Alexandre Bittencourt
Leonardo: “Discurso da Nova Frente será governar o Estado como PSDB governou”
Ao encaminhar o Plano de Cargos e Remuneração das polícias Civil e Militar e Detran à Assembleia Legislativa, no último ano de seu mandato, o governo Alcides Rodrigues (PP) repetiu uma prática do seu antecessor, o hoje senador Marconi Perillo (PSDB), que foi bastante criticada por ele e seus auxiliares. Foi o que disse ontem o de-putado regional e presidente do PSDB, Leonardo Vilela. “Propuseram o aumento da folha salarial e a criação de novos cargos, o mesmo que fizemos em 2006. E, na época, disseram que havíamos sido irresponsáveis”, dispara Leonardo. “Estão promovendo a continuidade do governo do PSDB, apesar de nos criticarem”. O deputado afirma ainda que, ao enviar a proposta à Assembleia, o governo se contradisse, uma vez que, no começo do mandato de Alcides, seus auxi-liares disseram que a folha salarial tornaria a administração do Estado inviável em cinco anos. “Está provado que aquele deficit não existiu da forma como eles diziam existir”. Tal prática leva o presidente do PSDB a uma certeza: o candidato a governador escolhido pela Nova Frente vai propor ao eleitor um projeto de continuidade ao implantado por Marconi, entre 1999 e 2006.
Executiva do PSB ameaça intervir se Barbosa Neto der apoio a Caiado
• A Executiva Nacional do PSB comunicou ao presidente do partido em Goiás, o presidente da Goiás Turismo, Barbosa Neto, que não aceita a participação da legenda em uma aliança que tenha, como principal objetivo, uma candidatura do deputado federal Ronaldo Caiado (DEM) a governador.
• A resistência do PSB a Caiado se deve ao fato de o partido participar, no plano nacional, do bloco que dá sustentação ao presidente Lula. Ocupa, com Sérgio Rezende, o Ministério de Ciência e Tecnologia. Caiado é inimigo número um de Lula.
• A bem da verdade, uma candidatura de Caiado também não agrada de fato os prefeitos do partido. Eles preferem que o candidato ao governo seja o próprio Barbosa, mas o presidente da Goiás Turismo não é dos nomes mais cotados para liderar a Nova Frente. Antes dele, estão, por exemplo, Jorcelino Braga (PP), Ernesto Roller (PP), Sandro Mabel (PR) e o próprio Caiado.
Turnê
Assim que desembarcar em Goiânia, o senador Marconi Perillo deve se reunir com a executiva e deputados do PSDB para estabelecer uma agenda prévia de eventos que contarão com a presença da estrela máxima do partido pelo Estado.
Foi fácil
Na Assembleia Legislativa, todos concordam que a ausência de uma oposição sistemática – mais até do que em anos anteriores – facilitou muito o trabalho do atual líder do governo, deputado Evandro Magal (PP), na articulação para aprovação de matérias do interesse do Palácio das Esmeraldas. Ainda que Magal tenha se irritado bastante com alguns colegas.
O Hoje
Xeque-Mate
Suely Arantes
Água fria
A divulgação do relatório da Fipe na CPI da Celg derrubou pelo menos um dos motes da oposição ao PSDB para as eleições deste ano. O estudo concluiu que coube aos governos do PMDB ao longo dos últimos 25 anos a responsabilidade pela maior parte do endividamento da empresa.
Culatra
Os peemedebistas tinham o discurso pronto para culpar Marconi Perillo, começando pelo deputado José Nelto, que engoliu a seco o resultado depois de cobrar, por anos a fio, esclarecimento sobre a dívida da estatal. Foi sua a iniciativa de encomendar o estudo à Fipe.
Olhar analítico
Durante a divulgação do relatório, os cerca de 30 jornalistas que cobriam a reunião da CPI da Celg observaram o tempo todo as reações de José Nelto (PMDB) e Daniel Goulart (PSDB) a cada item apresentado pela pesquisadora da Fipe, Ana Paula Paulino da Costa.
Reações
Conclusão da maioria dos jornalistas: Goulart parecia não estar entendendo muito bem as explicações contidas no relatório; já Nelto mudou de cor em vários momentos – ia do branco algodão ao vermelho sangue.
Tangente
Nelto mudou também o discurso: antes era somente o PSDB o culpado pelo rombo na Celg. No final da leitura do relatório saiu de fininho, mas foi cercado pela imprensa e na rápida entrevista disse que “todos os governos tiveram sua parcela de culpa”.
Jornal Opção
Ponto de Partida
Danin Júnior
O ponto sem volta de Alcides e Marconi
Meio político está curioso para saber qual será o momento da oficialização da ruptura
Expressões de origem técnica volta e meia extrapolam seu sentido original e passam a integrar o vocabulário do senso comum. Uma expressão utilizada na aeronáutica e que se popularizou em outros segmentos (inclusive na filosofia e na literatura) é muito apropriada para a análise do atual momento político em Goiás. É o tal “ponto sem volta“ — tradução livre do inglês “point of no return”. Algumas das principais forças políticas do Estado dão a impressão de caminhar meio inertes, meio indecisas, mas poderão se definir a qualquer momento, pressionadas pela inevitabilidade dos fatos.
Vejo na “Wikipédia” que o Dicionário de Inglês Oxford descreve o “point of no return” como a expressão informal da aeronáutica mais usada para definir o estágio crítico da “fórmula do raio de ação”. Esse estágio é justamente o limite (de combustível) para o retorno de uma aeronave ao ponto inicial do voo. Em condições normais, um avião comercial decola com combustível para, no mínimo, suprir duas vezes a distância que irá percorrer. Contudo, em condições extraordinárias (como nos voos de reconhecimento ou de busca em locais ermos) é o momento no qual o piloto precisa decidir se voltará para a mesma pista de onde partiu ou se encontrará outra mais adiante.
O fato de caracterizar um momento dramático, perfeitamente aplicável a inúmeras situações humanas, fez do "ponto sem volta” uma inspiração para alguns estudiosos e literatos. Afinal, quem não gosta de suscitar o drama que existe nesse lapso de tempo, no qual é preciso refletir se vale a pena (ou se é seguro) gastar energia prosseguindo em determinado projeto? É uma metáfora existencial poderosa exatamente por tratar de decisões irrevogáveis, que não admitem meio-termo. Ao ultrapassar aquele ponto determinado, seria fisicamente (ou, aproveitando a metáfora, sentimentalmente) impossível desfazer o que se começou.
A história consagrou expressões menos técnicas, que caracterizaram momentos cruciais muito interessantes. A Wikipédia cita “cruzar o Rubicão”, o clássico “point of no return”de Júlio César, quando decidiu invadir Roma e, na prática, fundar o Império. O site cita outras, como “queimar pontes” e “afundar os próprios barcos”. No caso dos navios, a wiki cita Hernan Cortez, mas não informa qual foi o primeiro personagem histórico a queimar e afundar as embarcações que utilizou para iniciar uma invasão: o rei normando Guilherme 2, que sobrepujou a Grã-Bretanha em 1066. Os 7 mil normandos que atravessaram o Canal da Mancha não tinham outra alternativa senão vencer os ingleses.
Barco afundado — Em Goiás, discutir sobre o “point of no return” do rompimento entre o governador Alcides Rodrigues (PP) e o senador Marconi Perillo (PSDB) passou a ser o alvo de dez entre dez analistas políticos. A ruptura ainda não foi oficializada, o que, em tese, significa que nenhum dos dois “queimou as pontes” que os ligam — pelo menos publicamente. Porém, os sinais (e não apenas de bastidores) são muito claros de que esse afastamento já aconteceu. Lideranças políticas de todo o Estado, especialmente do interior, não se cansam de relatar qual é o direcionamento que o Palácio das Esmeraldas vem dando às conversas sobre composições políticas e a formação de chapas proporcionais para 2010: o objetivo é deixar o senador de fora.
Nos últimos tempos, Alcides sempre dizer que seu grupo tem potencial para lançar uma candidatura. Ou seja, é como se dissesse que “cruzar o Rubicão” parece ser uma questão de tempo. Além disso, desde que se elegeu, o atual governo vem minando a influência dos tucanos e adubando a tese de uma herança maldita. O principal ponta-de-lança desse movimento, o secretário Jorcelino Braga (Fazenda), protagoniza animadas discussões públicas com quadros marconistas. O meio político passou a ter certeza de que o auxiliar, caso seja o candidato da frente alternativa, seria o mais agressivo, inclusive com ímpeto para mandar “afundar os barcos”. O que poderia inviabilizar uma recomposição até mesmo em um segundo turno.
Discutir o momento exato da ruptura passou a ser interessante justamente porque, para a maioria dos agentes políticos, a relação entre Alcides e Marconi já ultrapassou o ponto razoavelmente seguro para uma volta. Ficaria complicado explicar certas coisas para o leitor. Seria difícil recosturar a teia mantenedora da base por três eleições, mas que se revelou frágil — pelo que dizem as principais lideranças dos maiores partidos da aliança, os laços que os ligavam não suportou as pressões pessoais advindas com o poder. Na verdade, o “point of no return” particular das duas principais lideranças da base pode ter acontecido há muito tempo e talvez seja difícil, para a história, registrar o exato momento em que isso aconteceu.
De qualquer forma, os armeiros e conselheiros de guerra dessas forças políticas precisam ficar atentos, pois há o risco de se situarem no universo de outra expressão técnica que se popularizou muito, a chamada Lei de Murphy. Também originada na aeronáutica (nesse caso, foi nos testes da NASA), a expressão reza, resumidamente, que “se algo pode dar errado em determinado projeto, com certeza isso acontecerá”. A Lei de Murphy serve para orientar “check-lists” de astronautas, mas também pode se aplicar à política. Até agora, essa estratégia de dissolução da base aliada, que venceu as eleições desde 1998, parece conter muitos buracos, muitos detalhes a serem explicados ao eleitor. É muita brecha para um cenário de uma disputa da qual se espera ser a mais apertada de todos os tempos. Algo, com certeza, vai dar errado.
Jornal Opção
Entorno
DANIN JÚNIOR - e-mail: daninjr@terra.com.br
Dirceu Araújo diz que Zé Neto será o seu melhor cabo eleitoral em Planaltina
O ex-prefeito de Planaltina, Dirceu Araújo (PSDB), ainda não se definiu, mas é provável que saia candidato a uma vaga na Assembleia Legislativa. E isso, segundo ele, deve acontecer por um motivo simples: vai ser fácil fazer campanha em sua cidade. Seu adversário local, o prefeito Zé Neto (PSC), poderá ser o seu maior cabo eleitoral. Para Dirceu, que ficou entre os suplentes de deputado federal na eleição de 2006, a administração de Planaltina vive um verdadeiro caos.
“Eu sei que as chuvas estão pesadas no país inteiro, mas as ruas da nossa cidade estão quase intransitáveis”, diz ele. A buraqueira no asfalto, segundo ele, revela a falta de empenho da prefeitura — tanto para manter equipes constantes na conservação quanto na ausência de investimentos para melhorar a infraestrutura, com destaque para as redes pluviais. Outro ponto problemático na cidade, de acordo com o ex-prefeito, é na segurança pública. “O problema é nacional, mas se os administradores da cidade não forem atrás de recursos, a coisa desanda mesmo”, afirma Dirceu.
O suplente de deputado toma cuidado com as palavras. Demonstra que não quer explorar o fiasco administrativo do adversário. Mas não consegue segurar o descontentamento por muito tempo: “Eu não aceito esse discurso de que a crise não deixa a prefeitura trabalhar. Isso é um pretexto para a incompetência”. Dirceu lembra que pegou a prefeitura das mãos de Zé Neto em um estado lastimável em 1997. “Até um ambulatório que edificamos com muita luta, ele acaba de fechar”, diz o ex-prefeito.
Marconi — Sobre o cenário político regional, Dirceu avalia que o senador Marconi Perillo colherá uma grande vitória no Entorno nas eleições deste ano. “É a única liderança que está realmente se movimentando em todas as cidades e conversando com as lideranças”. Além disso, o ex-prefeito diz que a administração de Marconi deixou uma marca positiva muito forte na região. “Não digo que foi o único que trouxe benefícios, mas sem dúvida foi o que mais fez pelo Entorno, em investimentos de infraestrutura, segurança pública e saúde”.
Para Dirceu, seja qual for o adversário, a chapa de Marconi será a favorita. “O estilo dinâmico e moderno do senador é avaliado positivamente pelo eleitor de Goiás, que quer vê-lo novamente no governo”. Indagado se será candidato, Dirceu diz que integra um projeto político e que, às vezes, abrir mão de uma postulação pessoal serve para fortalecer esse grupo. Se for mesmo se candidatar, será como deputado estadual. Para deputado federal, poderá apoiar o presidente de sua legenda, Leonardo Vilela, ou outro tucano. “O que queremos é identidade com a nossa região. Por exemplo, o Marcelo Melo, infelizmente, é deputado só de Luziânia”, finaliza.
NACIONAL
Semelhanças ou meras coincidências?
O que faz o eleitor discernir os dois principais candidatos à Presidência da República e quais os métodos devem ser usados para melhora a imagem “casca grossa” que ambos têm
INÃ ZOÉ
Algumas diferenças parecem óbvias, a começar pelas linhas ideológicas. Ele é tucano. Ela carrega no peito a estrela petista. Um já passou pelo crivo das urnas, a outra nunca ocupou cargos eletivos. A menos de dez meses da campanha, em que serão eleitos novos deputados, senadores, governadores e o presidente da República, estão claras para o cidadão as características que diferem os dois principais nomes na disputa a Presidência? Alguns analistas dizem que sim, mas há os que discordem e apontem algumas semelhanças marcantes entre eles que podem representar um impasse em 2010.
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), trabalham para a consolidação de seus nomes como candidatos ao Palácio do Planalto e as pesquisas já apontam crescimento tanto de um quanto de outro. Os dados da mais recente pesquisa CNI/Ibope mostram que o tucano passou de 35% das intenções de voto para 38%, em relação ao que foi apurado em setembro. A petista passou de 15% para 17% no cenário com José Serra — foram ouvidas 2.002 pessoas em 143 municípios entre os dias 26 e 30 de novembro e a margem de erro é de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos.
Cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB), David Fleischer diz que, se for tomado como base os resultados obtidos nas últimas pesquisas, é possível afirmar que o eleitorado consegue separar bem os dois principais pré-candidatos. A diferenciação se daria basicamente pela vinculação de Serra ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em que foi ministro do Planejamento e da Saúde, e de Dilma à administração de Luiz Inácio Lula da Silva, primeiro como ministra de Minas e Energia e agora como chefe da Casa Civil. Entretanto, administrativamente os perfis de ambos parece esbarrar em muitos pontos, conforme observa o professor.
Pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e doutoranda pela Universidade de São Paulo (USP), a cientista política Andrea Freitas diz que as pesquisas de opinião não trazem todo conteúdo necessário para se afirmar que os eleitores conseguem discernir bem as características dos candidatos. “Talvez as pessoas não tenham essa facilidade de encontrar essas diferenças. Os partidos é que têm, aos poucos, construído essa imagem e publicamente vêm tentando vender a ideia de que não são iguais.” Ela nota que, a partir de 1994, com resultados mais visíveis em 2000, as siglas PSDB e PT tentaram se descolar — principalmente pela aliança do PSDB com o PFL (agora DEM), que apoiou a ditadura até um ano antes de seu fim, e a adoção de uma política econômica vista por muitos como neoliberal.
A cientista política observa que a vinculação de Serra ao governo FHC e de Dilma com a força política de Lula pontua características bem claras de como poderá ser o modelo de gestão adotado por eles. “O PSDB se concentrou muito nas questões econômicas e na gestão pública. O PT, desde o início, ficou marcado pelas políticas de forte apelo social.”
De acordo com ela, Serra deve manter seu perfil como gestor, uma vez que já comandou a prefeitura da cidade de São Paulo e agora está à frente do governo estadual. “Serra tem foco na competência política administrativa.” Dilma, diz, ainda tem sua imagem bastante atrelada a do presidente e segue à risca a agenda governamental, o que em certo ponto impede propostas inovadoras. Porém, à frente dos ministérios “já mostrou ser uma pessoa que sabe fazer a coisa funcionar”.
Momento de definição — Um dos mais reconhecidos publicitários do Estado, Léo Pereira diz que as gestões de FHC e Lula são o que mais colaboram para diferenciar os dois possíveis candidatos, por terem apresentado projetos de governo visivelmente distintos à sociedade. Ele, que foi um dos responsáveis pelo planejamento estratégico e criação de campanhas políticas do ex-governador Marconi Perillo e do ex-prefeito Pedro Wilson, observa que o País ainda passa por um processo de redemocratização pós-ditadura militar e talvez sejam as eleições de 2010 o momento de a sociedade se posicionar de forma mais efetiva. “Os partidos político e outras instituições vêm passando por enfrentamentos internos muito fortes devido à postura que tem sido adotada até agora. Há um colapso do sistema e as eleições possivelmente estarão muito mais respaldadas nessas instituições do que em uma pessoa.”
Há quem diga que caso houvesse uma reestruturação partidária no Brasil o governador e a ministra certamente fariam parte do mesmo partido político. Fleischer está entre os que concordam com a possibilidade. Ele ressalta que ambos têm origem na esquerda, fizeram parte da lista negra do regime militar e possuem características desenvolvimentistas, defendendo estratégias que garantam um crescimento econômico aliado a uma melhor distribuição de renda. “A diferença é que Dilma partiu para a luta armada, de guerrilha, e Serra combateu a ditadura pela Une (União Nacional dos Estudantes).” Levando em consideração as diferenças ideológicas e partidárias o cientista político cita a discussão levantada pelo professor de Ética e Filosofia Política da USP Renato Janine, que visualiza uma possível união no futuro entre PSDB e PT.
Ao analisar a atuação de Serra e Dilma enquanto ministros, Fleischer observa que o primeiro conquistou ótima imagem com a implantação dos medicamentos genéricos no Brasil e a redução de preços dos coquetéis de remédios que combatem a aids. Já Dilma, à frente de Minas e Energia, se destacou pela maneira como lidou com os setores de petróleo e energia. “Os tucanos e o DEM levantaram a discussão sobre os apagões, tentando comparar o governo FHC com o de Lula. Logo desistiram e abandonaram o caso por entenderem que a ministra soube lidar melhor com essa situação que o governo anterior.” O professor ressalta ainda que hoje, à frente da Casa Civil, ela tem tido a dura tarefa de administrar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que gera conflitos entre ministérios e o setor privado, além de problemas com Estados e municípios. “Noto que, por algumas vezes, falta mais jogo de cintura, mas ela tem sido paciente e habilidosa.”
O deputado federal Leonardo Vilela (PSDB) diz que o assistencialismo de Lula, ao contrário do que muitos analistas e políticos preveem, não vai atrapalhar a candidatura de Serra. “O presidente tem popularidade, mas ele não é a Dilma. Lula não tem o poder de transferência de votos, ninguém tem. O eleitor vota na esperança que tem no governo, mas espera sempre mudanças para melhor.” O parlamentar ressalta que se Lula fosse o candidato, seria um concorrente forte. “Mas não é. Dilma é rude e falta carisma, o que descaracterizaria a continuidade.”
Sobre as principais características de Serra como político, o deputado ressalta que o governador é visto como um grande gestor, sabe montar boas equipes e mostra resultados concretos. “Ele tem bom índice de aceitação e consolidou sua imagem como administrador competente e sério.” Dilma, como gestora do PAC, afirma ele, não tem tido sucesso, as obras não andam, em muitas foram constatadas irregularidades ou foram mal feitas. “Em Goiás, a Norte-Sul está parada, o aeroporto é só uma promessa e não foi feita a duplicação da BR-153 entre Goiânia e Itumbiara”, destaca.
O deputado federal Pedro Wilson (PT) avalia que o eleitor ainda se apega muito às figuras de FHC e Lula para analisar os dois pré-candidatos. Porém, ele nota que Dilma Rousseff, apesar de nunca ter ocupado cargos eletivos, está no centro do governo petista e tem a firmeza necessária para coordenar programas de grande impacto social. De acordo com o deputado, a ministra é estudiosa, dedicada, trabalha bem e se mostra sempre pronta a aprender. Pedro Wilson diz que as comparações são importantes e necessárias no processo democrático e que a imagem de mal encarada de Dilma mostra, de certa forma, um lado mais humano de uma pessoa que está suscetível a erros. “É bom que se avalie tudo, inclusive os erros.”
Marketing do sorriso — Ter um discurso bem arquitetado baseado nas principais demandas da população certamente fará parte das preocupações dos partidos envolvidos na disputa em 2010. Alguns temas, entretanto, têm tido maior destaque, como a segurança pública, a educação e o combate à corrupção — outros pontos como a economia e meio ambiente ficam em segundo plano, mas certamente terão lugar no debate. Os partidos políticos ainda evitam falar em projetos de governo e a população, de modo geral, parece não estar muito ligada nas poucas discussões já levantadas até agora.
“De jeito nenhum.” Essa é a resposta de 41% das pessoas entrevistadas na pesquisa CNI/Ibope quando perguntadas se votariam na ministra apelidada de “mãe do PAC”. Ela é a pré-candidata que tem o maior índice de rejeição entre os cinco nomes apresentados — além da ministram, foram citados na pesquisa José Serra, o deputado federal Ciro Gomes (PPS), a senadora Marina Silva (PV) e o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB). Serra por outro lado é o que apresenta menos rejeição, 29%, e é conhecido por 69% dos consultados. O cientista político aponta que a partir do ano que vem certamente haverá um trabalho intenso de marketing para melhorar a imagem tanto de Serra quanto de Dilma. “Hoje ainda são vistos como durões e isso para uma campanha eleitoral pode não soar bem.”
Doutor em Sociologia e professor da USP, Brasílio Sallun afirma que para o governo federal é interessante antecipar a candidatura de Dilma Rousseff, já que a ministra, ao contrário de Serra, é pouco conhecida do eleitorado. Ele observa que Lula e o PT têm tentado vários mecanismos de transferência de voto, mas os canais encontrados até agora provavelmente não serão suficientes para elegê-la. “A transferência ocorre, e os números nas pesquisas mostram isso. Porém os 80% de aprovação que o presidente possui é pela identificação pessoal que conquistou, mas Dilma não é ele e em campanha sempre aparecem os podres.”
O publicitário Léo Pereira diz que para se traçar um perfil a ser seguido pelos pré-candidatos é preciso se respaldar basicamente em pesquisas, por isso acha arriscado qualquer palpite antecipado. A partir dessa consulta aos anseios populares é possível traçar uma estratégia de forma a melhorar a imagem de Dilma e Serra. Entretanto ele observa que mesmo que Lula tenha conseguido grande apelo popular, se aproximando das camadas mais humildes da população, essa postura não deve necessariamente ser adotada pelos candidatos à Presidência. “Daqui até as eleições o pensamento social pode sofrer várias mudanças e as expectativas poderão ser outras.”
Proprietário da Stylus publicidade, Hamilton Carneiro diz que a ausência de carisma é um ponto comum entre os dois pré-candidatos e essa característica não é algo que deva ser maquiado e sim, melhor trabalhado. “Todos nós possuímos carisma, alguns mais outros menos, isso precisa ser despertado para que ocorra de forma natural.” O publicitário frisa que alguns recursos técnicos podem ser utilizados, no caso da TV e do rádio, por exemplo, para melhorar a aparência, dar uma melhor tonalidade na voz, entre outras saídas. Ele ressalta, entretanto, que muitos políticos pecam em questões muito simples, como não encarar o eleitor olho no olho.
Jornal Opção
DANIEL GOULART
“Articulação entre PP e PT pode ser um grande golpe em Iris”
Deputado tucano, um dos mais próximos companheiros do senador Marconi Perillo, admite que diferenças com o PP palaciano vão dificultar formação de chapa proporcional para o PSDB
“O projeto do prefeito Iris Rezende é continuar na Prefeitura de Goiânia, porque se ele entregar para o PT?a situação do PMDB?ficará muito difícil. Por isso Iris vem insistindo tanto para Henrique Meirelles ser o candidato do PMDB.” A?análise sobre o campo adversário é feita por um tucano, o deputado estadual Daniel Goulart, mas é abalizada pela experiência de um dos mais articulados e atentos políticos goianos. Daniel diz que o PSDB?vai apresentar um projeto ousado para os goianos na eleição deste ano, baseado na experiência do senador e ex-governador Marconi Perillo.
O deputado afirma que o processo de desconstrução da imagem de Marconi, que ele diz estar sendo levado a efeito por membros do governo estadual, não está surtindo efeito. “Quanto mais eles falam, mais Marconi cresce. Já vasculharam a vida dele toda e não encontraram nada errado”, afirma. E?avisa: “Não adianta esse xingatório que eles estão ensaiando. Dizem que têm cartas na manga, isso e aquilo. Nós também temos muito mais. Temos documentos que levam muita gente para a cadeia da noite para o dia. Mas queremos trabalhar 2010 com projetos qualificados”.
Daniel conta que não disputará eleição neste ano, para dar espaço a outros companheiros, afirmando que seu objetivo maior é o projeto do seu partido, de voltar ao governo do Estado. Ele revela que será um dos coordenadores da campanha de Marconi, se for confirmada a candidatura do senador. A?entrevista foi concedida na terça-feira, 5, e complementada na sexta-feira, 8, um dia após a apresentação do relatório da Fipe na CPI?da Celg na Assembleia, outro tema constante em qualquer conversa com o parlamentar tucano. Daniel diz que o relatório foi “desastroso” para o PMDB, porque, segundo ele, mostrou quem é o grande culpado pela crise da estatal.
Danin Júnior — Comenta-se nos bastidores que o grupo de Marconi terá grande dificuldade neste ano para montar as chapas proporcionais, em função do estremecimento com o PP. Qual sua análise?
No início eu também me preocupei com isso, mas a fidelidade partidária nos ajudou. Teríamos perdido mais quatro ou cinco nomes, se não fosse a decisão do TSE. Há levantamento de que nós temos, só para candidato a deputado estadual, em torno de 50 nomes. Ontem mesmo (segunda-feira, 4) recebi telefonema de uma referência do mundo artístico, o humorista Juquinha, filiado há 13 anos ao PSDB, dizendo que quer ser candidato. Muitos ex-prefeitos, como Itamar Leão, de Sanclerlândia, também estão com disposição de ser candidato a deputado estadual. Mas teremos que trabalhar um reforço para chapa proporcional de federal, principalmente com a desistência do presidente da Assembléia, Helder Valin. Dependemos das coligações para isso e acredito que teremos coligações boas. Nossa chapa, inclusive a legenda, deve repetir o número de votos de 2002, quando elegemos deputados com 19 mil e 20 mil votos.
Cezar Santos — Então esse contencioso político com o PP do governador Alcides vai prejudicar o PSDB?
O problema com o PP palaciano desidratou muito nossos deputados que estão buscando a reeleição. Mas nós temos uma cena boa para deputado. Acho que partido que tem deputado só vai conseguir coligar com partido que tem deputado. O PTB e o PT do B devem coligar conosco. Com isso vamos conseguir fazer um chapão na proporcional com partidos que já têm deputados.
Euler de França Belém — Como vai ser a coligação para parlamentar?
Acredito que vamos fazer uma coligação PSDB, PTB, PT do B, DEM. Já PPS e PMN ficariam na coligação entre os que não têm deputados estaduais. Os partidos que não têm deputado não vão aceitar na chapa os partidos que têm.
Danin Júnior — Não há mais jeito de reconstruir a base aliada?
Acho muito difícil uma composição no primeiro turno com o PP palaciano. Podemos até nos surpreender nas convenções que vão decidir que rumos eles vão tomar, caso o PP faça uma escolha democrática e ouça prefeitos, vereadores, lideranças emergentes que saíram vitoriosas das urnas em 2008. Teremos chance de vitória nessa convenção do PP, indicando, por exemplo, quadro para compor com ele na chapa majoritária. Agora, acho difícil, dado esse radicalismo de alguns membros do Palácio.
Vejo o DEM com mais facilidade. Se o DEM goiano priorizar a eleição de Demóstenes Torres, como o DEM nacional está priorizando a reeleição de seus senadores, ele vem conosco. Mas a atuação de Demóstenes ofusca a liderança de Ronaldo Caiado, e isso acaba sendo um problema para o DEM, que vai ter que medir força internamente. Não tenho dúvidas de que os dois deputados estaduais e o senador do DEM querem caminhar conosco. Dependendo do que o PP acertar, o DEM vem com mais facilidade. Se o PP caminhar com o PT, e acho que isso é possível, existe uma articulação em curso, que seria um golpe muito grande em cima de Iris Rezende. O sonho de Rubens Otoni, e ele tem andado esse Estado muito mais que o Marconi, é ser candidato a governador. Ele me disse isso, no início de 2008, na sala do Programa do Paulo Beringhs, falou que iria buscar um projeto majoritário em 2010, porque era a última oportunidade que teria de estar com Lula no palanque. Depois disso o irmão dele (Antônio Gomide, PT) virou prefeito de Anápolis. Se Iris deixar a prefeitura, o PT teria Lula, Gomide em Anápolis, Paulo Garcia em Goiânia, aí Alcides, que está louco atrás de um candidato, poderia apoiar Rubens Otoni.
Euler de França Belém — O sr. acha, então, que o PP poderia apoiar o PT?
Tenho informações de que Gomide disse a Alcides que Rubens topa a parada, pois é o sonho dele. Eu não acredito nas outras candidaturas. Uma delas tem uma reeleição tranquila, que é o líder do DEM, Ronaldo Caiado. Por isso que o próprio Alcides não tem motivo para apoiar Caiado nessa aventura. E gato escaldado tem medo de água fria.
Cezar Santos — Apoio de Alcides a Otoni pressupõe implicitamente a desunião entre PT e PMDB?
Na articulação que estaria sendo arquitetada, parece que Iris Rezende já foi abortado e não deve deixar a prefeitura, porque, se deixar, a situação do PMDB fica difícil. Por isso talvez ele vem insistindo muito com Henrique Meirelles. Acho que o candidato do PMDB deve ser Adib Elias, era o sonho dele em 2002, ele correu o Estado, Iris articulou sua eleição para a presidência do PMDB, para cacifá-lo. Naquela época Iris deve ter conversado com Adib e dito ´olha, não é o seu momento, mas de Maguito´, era um senador disputando.
Sarah Mohn — Qual o projeto de Iris Rezende, em sua opinião?
O projeto dele é continuar na prefeitura, e lançar Dona Iris ao Senado. Mas essa é uma preocupação deles, não é nossa. Candidatura deles é um problema deles. Vamos respeitar toda e qualquer candidatura. Já há uma candidatura posta, que me parece o Washington Fraga, e tem todo nosso respeito. Nós estamos preocupados em trabalhar um bom projeto para o Estado.
Euler de França Belém — Há a tese de que Meirelles unificaria toda essa base, do PP, PMDB, PT, DEM, se fosse candidato. Como seria se essa base lançasse candidato único contra Marconi?
Não acredito que ele consiga unir toda essa base. Acho que Henrique Meirelles teria mais chances de eleição dentro de um projeto nacional, ele trabalhou mais para isso. Não se movimentou nas eleições municipais. É um homem muito bem formado, faz um bom trabalho no Banco Central, já teria dado sinais - e essa é a agonia de Iris Rezende -, de que se tivesse que disputar uma eleição em Goiás seria para senador. Aí poderia assumir a presidência da Comissão de Relações Internacionais, o que lhe daria muito mais visibilidade nos negócios que ele tem com a comunidade econômica, os banqueiros internacionais, no mundo financeiro.
Euler de França Belém — O sr. não acha que o projeto nacional dele é o mais difícil?
Ele não tem chance para vice (presidente da República), porque geralmente se busca um vice de um colégio eleitoral maior. Goiás tem 3% do eleitorado, por aí. Minas Gerais, São Paulo teriam mais chances de ficar com a vaga. Não vejo chances de Meirelles ser vice da Dilma, mesmo porque o PMDB, que já tem fama de ser o rei do fisiologismo, ficaria com o estigma do partido que defende as altas taxas de juros, a agiotagem internacional, a especulação financeira. O PMDB estaria tentando se livrar desse estigma.
Euler de França Belém — O governador vai lançar candidato?
Acredito que sim. Até mesmo para eleger deputados, para defender seu governo na Assembléia, dessa vez ele será obrigado a trabalhar a eleição de deputados. Eles vão, inclusive, priorizar mais deputados estaduais.
“Alcides foi eleito com os projetos do PSDB”
Cezar Santos — A que se deve a briga com o PP palaciano?
Passadas as eleições de 2006, o próprio presidente do PP, Sérgio Caiado, disse ao então presidente do meu partido, Antônio Faleiros, que o PP iria apresentar candidato em 2010, que o PSDB havia ficado dois mandatos no governo e que o PP se sentia no direito também. E eles foram buscar a eleição de Henrique Meirelles. No momento, eu não acreditei que Alcides iria embarcar nesse projeto. Mas com o tempo eles foram desalojando o PSDB dos principais cargos do governo, como José Carlos Siqueira (Secretaria de Planejamento) e Carlos Maranhão (Infraestrutura) e muitos outros, e desidratando outras secretarias. Percebemos que a intenção deles seria mesmo trilhar outro caminho. Até aí tudo bem, todo partido sonha com o poder. O que não concordo é com as artimanhas usadas, as retóricas políticas, a começar com essa história do déficit. E acharam um número redondo: R$100 milhões. Ficaram com esse discurso até meados de 2008, e no final daquele ano, Alcides, num comício em Diorama, falou que o Estado tinha investido, só de recurso do Tesouro, R$ 750 milhões. Não tem sentido. É uma contradição muito grande, um discurso dúbio. Procuraram descaracterizar os projetos que elegeram Alcides. Alcides é o único governador da história política de Goiás que não apresentou um projeto, o partido dele nem sequer teve competência de trabalhar um projeto para apresentar à sociedade. Ele se elegeu dizendo que o projeto dele estava em curso, que os programas sociais mais criativos do Brasil seriam reajustados anualmente. E ao contrário, a Renda Cidadã ficou suspensa quase três anos e depois foi voltando, agora atende menos de um terço do que atendia. A Bolsa Universitária, ao ser lançada por Marconi, a mensalidade na Universidade Salgado de Oliveira era 320 reais e a Bolsa cobria 250 reais. Alcides reduziu para 200 reais. O Salário Escola foi extinto, hoje temos 75 mil crianças de 7 a 17 anos fora da escola. Tentaram reduzir os repasses para a UEG, foi uma briga grande na Assembléia. Tentaram descaracterizar a Fapeg. Isso foi criando atritos.
Sarah Mohn — Que avaliação o sr. faz do governo Alcides?
É um governo fraco, sem rumo, sem norte. Governo que nuca se reuniu para planejar nada. Governo que não desenvolve nenhuma ação planejada. Nunca reuniu a equipe para discutir o rumo desse Estado. É um governo desarticulado, sem rumo. Alcides é um líder que não tem poder de decisão. Ele terceirizou a decisão do governo para o seu secretário Jorcelino Braga.
Euler de França Belém — As escolas de tempo integral não foi uma boa decisão do governo Alcides?
Eu elogiei a escolha da secretária Milca Severino, gestora muito preparada e qualificada, não tem picuinhas, faz um trabalho excepcional. Foi positivo o espaço dado a ela. Agora, Alcides prometeu que todas as escolas estaduais seriam de tempo integral. A gente sabe que a vontade política de Milca é fazer isso, mas ela não tem recebido apoio nesse sentido. Ela está com milhões de reais depositados aí, entretanto não consegue equipar escolas, porque o governo não anda, está tudo travado. Não conseguem licitar, e ela, para preservar seu nome, precisa fazer tudo dentro da lei. A incompetência desse governo é tão grande que eles não conseguem licitar, não conseguem gastar o dinheiro que chega para o Estado. Ela com a sua liderança, o trânsito com os amigos que fez enquanto reitora da Universidade Federal de Goiás, conseguiu muitos recursos no MEC, tem muito dinheiro depositado no Estado para construir escolas, mas ela sozinha não consegue, as coisas estão todas centralizadas nas mãos do Braga. Isso tem sido frustrante para Milca, ela não fala porque é muito ética. E a escola de tempo integral não tem recebido o apoio e a estrutura necessária para funcionar bem.
Euler de França Belém — Sobre as obras paralisadas que Marconi deixou, o que o sr. tem a dizer?
Todo governo deixa obra paralisada. Quando Marconi passou o governo para Alcides, as obras estavam caminhando. Em 2005 tivemos grande número de licitações. Elas foram iniciadas no governo Marconi, mas quem paralisou foi o próprio Alcides. O governo Alcides fechou o (Centro Cultural) Oscar Niemeyer.
Euler de França Belém — No caso do Oscar Niemeyer, o secretário Braga diz que as obras estão paralisadas porque o TCE apontou superfaturamento.
Não existe isso. O Oscar Niemeyer foi inaugurado, vários shows realizados, vários eventos aconteceram ali. Faltavam detalhes, é verdade, mas faltou comprometimento deste governo com seus compromissos de campanha. Nós sabemos que esse pessoal não tem ligação nenhuma com cultura. Quem está no governo são pessoas ligadas à UDN, à Arena, conservadores que deram sustentação ao regime militar. Eles não têm a menor simpatia para artistas, com pessoas ligadas à música, teatro, tanto é que o Fica (Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental) perdeu o seu charme. O Canto da Primavera, de Pirenópolis, também. E, em Porangatu, o festival de teatro também perdeu. Esses eventos criados no governo Marconi perderam qualidade. O pessoal que está na governo não tem afinidade com cultura.
Danin Júnior — O que aconteceu com as contas do Estado na realidade?
É verdade que Marconi repassou o governo a Alcides com restos a pagar, em torno de 30% do que ele recebeu. Reconhecemos isso. Agora, em relação à dívida interna e externa, foi Marconi que mais pagou a dívida, que mais pagou juros, em torno de R$ 5 bilhões de juros dessa dívida. Contraiu R$ 65 milhões para reabilitar as estradas e R$ 60 milhões para capital de giro para a Agência de Fomento, que hoje está em R$ 118 milhões. É um dinheiro do Banco do Povo que tem gerado empresa, receita. Restos a pagar todo governo passa. Pedro Wilson deixou para Iris Rezende mais de R$ 200 milhões de restos a pagar. Então, isso a gente assume, está claro, não tem como negar. Agora, dizer que deixou o governo quebrado... Situação difícil foi a que recebemos em 1999. Marconi entregou o governo com salários dos servidores em dia, 13º em dia, tendo recebido o governo com três meses de atraso no salário dos servidores. Marconi cumpriu todos os compromissos de campanha, deixou os programas sociais em dia. Deixou restos a pagar, porque isso é um processo natural de quem está fechando o governo.
Euler de França Belém — Jardel Sebba diz que o PMDB é o adversário, mas na verdade parece que não é só o PMDB. Não foi o PMDB que falou que o Marconi quebrou o Estado, que deixou rombo. Aliás, o PMDB repete o que o governo Alcides diz. Os adversários então são PMDB e PP?
Sem dúvida que são os dois. Hoje o adversário mais difícil de ser vencido é Iris Rezende, embora tenhamos pesquisa mostrando que o povo quer ver Iris continuando na prefeitura. E em pesquisas quantitativas entre Iris e Marconi, Marconi aparece com mais de 20 pontos à frente. Quando se faz pesquisa para o Senado, Iris sai na frente. Até o eleitor que vota no Iris entende que quem tem competência e criatividade para dar soluções aos gargalos do nosso Estado é Marconi. O eleitor do Iris reconhece que quem dá conta de resolver os problemas de Goiás é Marconi. É um dado importantíssimo que nos animou muito para o embate.
Euler de França Belém — Jorcelino Braga poderia ser o anti-Marconi?
Braga não conhece 10% dos municípios do Estado e isso detona as suas pretensões eleitorais. Mas volto a dizer que vamos respeitar todos os adversários.
Cezar Santos — Um dos jingles da campanha em 2006 dizia ‘Alcides é Marconi’. O pessoal do PP palaciano continua negando a influência de Marconi na candidatura de Alcides?
Alcides nunca teve força política para ser governador. Em 1998, ele sendo candidato a vice-governador, a esposa dele, Raquel Rodrigues, ficou na quarta suplência (para deputado estadual). Ela se elegeu em 2002 com a ajuda de Marconi. E Alcides, usando a estrutura do governo para eleger seus companheiros de todo momento, seus amigos da roda, como Francisco Gedda, Sérgio Caiado, Carlos Silva, e que nunca conseguiram eleição, porque não tem prestígio para transferir votos. A eleição de Alcides ele deve ao grupo político de Marconi e à estrutura do PSDB.
Sarah Mohn — Por que há esse clima de revolta por parte dos palacianos?
É vaidade do ser humano. Isso vai ficar para os historiadores.
Euler de França Belém — Pelo que o sr. fala, Marconi vai se apresentar como candidato de oposição?
Vamos apresentar projeto inovador, moderno, criativo, ousado e vamos promover as críticas pontuais. O próprio governo tem nos levado para esse campo.
Euler de França Belém — O sr. acha que a eleição de 2010 tende a ser mais parecida com a de 1998, quando Marconi estava na oposição, ou com a de 2002, quando estava no governo?
Engana quem achar que o povo goiano não está politizado. E vai votar em quem tem credibilidade para apresentar projetos criativos, ousados. Quanto mais procuram arranhar e destruir o patrimônio político do senador Marconi Perillo, mais ele tem se firmado, sustentado e criado resistência. Tentaram desqualificá-lo, já vasculharam sua vida toda, e não encontraram nada. Essa eleição será diferenciada, será eleição de projetos. Não adianta esse xingatório que eles estão ensaiando. Dizem que têm cartas na manga, isso e aquilo. Nós também temos muitas. Temos muito mais documentos que eles. Documentos que levam muita gente para a cadeia da noite para o dia. Mas queremos trabalhar 2010 com projetos qualificados, afinal de contas Goiás merece isso.
Euler de França Belém — Qual será o diferencial de Marconi nesta eleição?
Será a experiência como governador, como homem público. Ele está mais pronto do que nunca esteve.
Sarah Mohn — O sr. fala que o PSDB vai apresentar projeto inovador, mas o que o partido fará para se desvincular do slogan Tempo Novo? Afinal foi o Tempo Novo que elegeu o atual governo. Isso não será um desgaste?
O PSDB não vai se desligar do Tempo Novo. Esse governo tentou destruir o Tempo Novo. De certa forma essa eleição será uma forma de resgate de algumas bandeiras do Tempo Novo. Aquilo que foi aprovado pela população temos que resgatar. Lógico que teremos um novo mote de campanha, mas nosso forte é a experiência de Marconi. Acho graça as pessoas dizerem de isolamento político, como há isolamento político se partidos nacionais como PTB e PPS definiram apoio em congresso antes de Marconi decidir que seria candidato? Partidos fortes nacionalmente... E a cada pesquisa ele se consolida e cresce mais.
Euler de França Belém — As demissões agora no governo Alcides são em número significativo?
Os que estão no governo foram convidados a continuar nos cargos pelo governador, e estão lá prestando serviços à altura. O meu partido nunca foi convidado. A gente até queria e até tentamos sentar com o governador para sugerir alguns quadros e nomes, mas ele nunca nos recebeu. Tentamos após as eleições, durante todo o ano de 2007, e ele nunca nos recebeu para receber sugestões nossas, nem de projetos. Aos poucos foi tirando uns, substituindo outros. Acho que ele ainda não conseguiu substituir todos, porque o próprio PP não tem quadros para compor. E também para o Estado não é interessante. Eu tinha algumas pessoas indicadas, em torno de 12 pessoas. Alguns trabalhavam no Procon, Secretaria de Cidadania, eram bons funcionários. Tinha uma irmã que trabalhava no Gabinete Civil, trabalhava 10, 12 horas por dia. No dia que ela foi exonerada o próprio chefe de Gabinete (Olier Alves) ligou para o governador e para o Braga e disse que ela não era política, era técnica e ajudava muito ali. Mas foi demitida. De parente, era a única pessoa que eu tinha no governo. E não voltou. Até quem não tem ligação parentesca comigo, mas que assina Goulart, tem sido sondado para ser demitido do governo.
Euler de França Belém — Depois da crise com Arruda, no DF, ficou mais consolidada a tese de que o vice de Marconi tem que sair do Entorno?
O Entorno é uma região muito importante, carente, precisa de atenção do governo, políticas públicas, e os projetos que o PSDB tem caem para o Entorno como um a luva. Sem dúvida, o Entorno está credenciado para indicar um vice. Arruda chegou depois que Marconi havia sido governador duas vezes. O próprio Joaquim Roriz, que esteve afastado, o grupamento político dele tem mandado recado de que quer voltar a discutir conosco parceria para o Entorno. Recebemos mensagem do senador Cristovam Buarque (PDT) de que quer disputar o governo do DF e quer parceria conosco no Entorno.
Euler de França Belém — O sr. é deputado em segundo mandato, extremamente articulado, tem discurso, tem história no PSDB. Por que está desistindo de candidatura neste ano?
Seria a quarta vez que iria disputar mandato de deputado estadual. Em 1990, disputei e fiquei nas primeiras suplências. Hoje, confesso que não me sinto motivado. Primeiro, pelo fato de não ter acontecido a reforma política, uma frustração muito grande. Segundo, porque me motiva mais um projeto maior do meu partido, do meu agrupamento político, que é o retorno do senador Marconi Perillo ao governo de Goiás. Minha nova reeleição traria problemas a algumas candidaturas regionais, pessoas muito ligadas ao meu grupamento político, como Júlio da Retífica (deputado estadual do PSDB), companheiro desde 1998, e que tem quatro colégios no Norte. Na região do Vale do Araguaia, o Joaquim de Castro, prefeito e ex-presidente da AGM, que sempre me ajudou, e que também tem projeto de ser candidato a deputado estadual. Para um projeto maior é muito importante a candidatura do Joaquim naquela região. No Vale do São Patrício temos o parceiro Hugo Dourado, que me ajudou na eleição passada, gerente da Saneago e que foi candidato a vice do ex-prefeito Valter Melo, que praticamente encerrou seu ciclo político.
Na minha cidade natal (Rubiataba) há dois pré-candidatos, também ligados ao meu grupamento político, acho que os dois serão candidatos. Em Aparecida de Goiânia, onde tenho domicílio eleitoral, o vereador Nascimento, o segundo mais votado, também tem projeto de ser candidato a deputado Estadual. Em 1998 ele se candidatou é sonho dele ser deputado estadual. Eu disse ao líder maior do meu partido, senador Marconi Perillo, que não conseguiria ajudá-lo se fosse novamente candidato a deputado estadual. E para deputado federal, teria problemas também com pessoas muito próximas a mim e ao senador. Estou aguardando a abertura de novos horizontes, mas motivado mesmo com o projeto maior do PSDB.
Euler de França Belém — Poderia disputar o Senado?
Essa possibilidade é remota. O senador Marconi me convidou para ser um dos coordenadores da campanha, possivelmente eu estarei engajado de corpo e alma nesse projeto se ele for candidato a governador. Eu poderia colaborar, com mais experiência do que fiz em 1998, quando fui o coordenador geral do interior. O projeto de 1998 de descentralização das ações de campanha foi da minha equipe.
“Relatório da Fipe na CPI da Celg foi desastroso ao PMDB”
Cezar Santos — O que o primeiro relatório da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) para a CPI da Celg, apresentado na quinta-feira, 7, revelou?
A palavra-chave do relatório é descapitalização, que é o grande problema da empresa, a principal causa do endividamento da Celg nos últimos 25 anos. Neste período, foi acumulado prejuízo de R$ 2,1 bilhões, ou seja, metade da dívida de R$ 4,1 bilhões. Por aí já se mostra outro equívoco que o governo vem falando, que o prejúízo seria de R$ 5,7 bilhões. Entre as causas da dívida estão despesas altas, compra de energia a preço acima do mercado, empréstimos a curto prazo e investimento a longo prazo. Outro problema terrível apontado pelo relatório foi a venda de 665.714 ações preferenciais na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, no dia 30 de março de 1994, três dias antes de Iris Rezende deixar o governo. Corrigido, isso daria hoje cerca de R$?1 bilhão, o que também descapitalizou a Celg.
Danin Júnior — O sr. avalia, então, que o relatório da Fipe aponta o culpado pela crise da Celg?
O relatório é um desastre para o PMDB, pois mostrou que eles são os grandes responsáveis pela situação da Celg. Com o relatório, o M do PMDB é M de massacre, de morte. O estudo mostra que o salto na perda patrimonial se deu em 1996, na venda de Cachoeira Dourada, com Maguito Vilela governador do Estado. O dinheiro da venda da usina não voltou para a Celg, foi para o caixa do Estado. E o contrato da venda previa compra da energia gerada em Cachoeira Dourada por valor 53% acima do de outros fornecedores.
O relatório é incontestável. Quando venderam as geradoras, tinham de ter preparado a empresa, cortado custos operacionais, para que ela pudesse sobreviver sem geração de energia, e?eles não fizeram isso. Outro dado, sobre um equívoco de gestão — entre aspas, eu diria —, é que não priorizaram o pagamento à Eletrobrás, ao setor elétrico. Além de multas e juros, isso fez com que a Celg não pudesse reajustar tarifas, mais um duro golpe contra a Celg. Estou muito satisfeito com o relatório, eu que sempre defendi uma investigação dura na CPI, já que o PMDB?queria jogar a culpa do desequilíbrio da Celg em cima dos governos Marconi.
Cezar Santos — A culpa é só do PMDB?
Um conjunto de fatores levou ao desequilíbrio financeiro da Celg. Mas os principais, sem dúvida, foram as vendas das geradoras. A venda de Corumbá I para Furnas foi danosa para o Estado, para a Celg, e está gerando hoje em torno de 400 megawatts de energia. A responsabilidade social de empresa pública é muito maior que em empresa privada, não tem nem comparação. E ela sempre teve que socorrer o Estado em seus momentos de crise. A venda de Corumbá II causou esse desequilíbrio, por um dado interessante. Com a situação do Tocantins, a Celg que deveria ser indenizada pelas redes de transmissão, pelas subestações e pelas geradoras, mas quem foi indenizado foi o Estado.
Cezar Santos — Todos os governos têm culpa, em maior ou menor grau?
É verdade que os governos sacrificaram e exigiram muito da Celg no momento de fomentar o Estado. O Governo Marconi, por exemplo, trabalhou o momento de industrialização do Estado e conseguiu atrair número grande de indústrias e empresas para o Estado. Acho que também esse sacrifício excessivo da Celg para fortalecer o próprio Estado e depois não retribuir isso à Celg é uma das causas. A venda de Cachoeira Dourada obrigou a Celg a comprar energia mais cara. E a Celg foi obrigada, antes da venda, a absorver a dívida de Cachoeira Dourada também. A Celg perdeu a sua principal fiadora. E no mercado financeiro é assim, quando menor a garantia, maior os juros. Então, a Celg não conseguia mais buscar empréstimos. O Banco Itaú, que detém as contas do Estado, nunca emprestou um centavo para o Estado. O Estado tem que buscar empréstimo em outros bancos com juros altos.
Danin Júnior — A questão Celg será decisiva na eleição? A qualidade dos serviços de energia tem caído constantemente. Como os políticos que já passaram pelo poder vão responder?
O governador Alcides, ao tirar um técnico qualificado da direção da Celg e levar um suplente de deputado, um político, assumiu a responsabilidade pelo problema da empresa. O governo federal foi muito duro com a Celg não permitindo o reajuste das tarifas.
Danin Júnior — O sr. acredita na tese de que existem interesses secundários para favorecer grupos?
Acredito, mas não poderia dar nomes aos bois, é preciso mais argumentos. O que está sendo discutido na Justiça, contra a Celg... O comprador de 41% das ações da Celg (governo federal) não quer responsabilidade. Ninguém fez essa leitura ainda. É outro grito que temos que dar, porque para se livrar desse problema estão querendo entregar a Celg. Por que Enio Branco conseguiu proposta muito melhor quando estava à frente da Celg? R$ 40 milhões, esse valor que estão oferecendo é insignificante. Um estudo mostra que só a CelgTelecom, num cenário normal da economia, vale R$ 208 milhões, numa prospecção de negócio. Negocia-se 41% das ações por R$ 40 milhões vendendo Celg Telecom e Celg Distribuidora. Não consigo entender. O próprio Lula disse em discurso que a Celg valia R$ 180 milhões. É motivo de muitos questionamentos. O Banco Fibra fez estudo da Celg, em 2004, posso mostrar a vocês, em que ala foi avaliada por R$ 1,5 bilhão. Os 41% das ações teriam que valer R$ 616 milhões. Será que no governo Alcides a Celg entrou numa depreciação tão grande assim?
Danin Júnior — Há uma usina hidrelétrica sendo construída no Norte, Rio Madeira, com 26 pendências ambientais, e mesmo assim o BNDES já liberou R$ 6,5 bilhões para a obra. Falta vontade política para resolver o problema da Celg?
O governo federal não tem tido compromisso com o Estado, de ajudar na solução. Há muitos créditos tributários para serem ressarcidos à Celg, em torno de R$ 2,6 bilhões, num estudo que temos. O problema da Celg não é essa dívida que eles falavam de R$ 5,7 bilhões, e que o relatório da Fipe mostrou que é R$ 4,1 bilhões. Isso é passivo global. Com R$ 1 bilhão se resolve a situação da Celg.
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