segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

16 de janeiro de 2010

Diário da Manhã


Ninguém defende Iris e Maguito. Nem eles mesmos

Acompanhando o debate que se trava na imprensa goiana sobre a Celg, tenho visto manifestações desencontradas do pessoal do PMDB e por outro lado também registrado o silêncio da turma do PT.

No PMDB, alguns gatos pingados saíram em defesa do prefeito Iris Rezende quando ele foi arrolado como um dos responsáveis pelas dificuldades financeiras da Celg em função de graves equívocos que cometeu na sua época de governador do Estado. Pensava eu que o velho cacique deveria dispor de mais gente disposta a brigar por ele, entretanto só o deputado José Nelto se dispôs à luta. Já o também prefeito Maguito Vilela mostrou que está completamente sozinho, sem ninguém disposto a lhe dar apoio, neste momento em que ele, mais do que Iris, é apontado como o grande culpado pela falência da nossa empresa de energia, por ter desastradamente privatizado a usina de Cachoeira Dourada no seu governo.

Maguito não teve o socorro nem mesmo de Iris, seu grande patrono na política, que ele vive cantando em prosa e verso como o maior líder do Estado. Uma imagem metafórica para essa situação poderia ser a seguinte: há uma fogueira, alimentada com o combustível da Celg, e nela Maguito está sendo queimado vivo; Iris passa perto e finge que não está vendo, enquanto o seu correligionário vai se transformando em cinzas. De vez em quando, o próprio Iris joga um pouco de gasolina na lenha e a fogueira fica cada vez mais forte.

Quanto ao PT, permanece maquiavelicamente silencioso. Ou seja: o partido desfruta das vantagens e benesses da Prefeitura de Goiânia, mas não quer saber de entrar na briga a que Iris foi arrastado por ter “doado” uma usina, Corumbá, para o governo federal e por ter vendido R$ 1 bilhão em ações da Celg e não ter destinado o dinheiro ao caixa da empresa. Nem mesmo os petistas que estão diretamente acomodados na Prefeitura arriscaram-se a uma palavrinha que seja em defesa de Iris, que sofre bombardeio pesado nos últimos dias por conta dos seus atos na Celg antigamente.

Prefiro escrever meus artigos sobre temas culturais. Ocorre que o espetáculo que as investigações da CPI da Celg estão proporcionando está se mostrando imbatível para atrair a atenção do público. Ninguém defende Maguito, é um fato. O seu filho, o vereador Daniel Vilela, que apesar de jovem ainda não mostrou a que veio, foi obrigado a sair em defesa do pai, o que não tem nenhuma credibilidade. Pai defende filho e filho defende pai por obrigação e não por convicção.

O vereador Daniel é um desses jovens na política que começam pelas portas dos fundos, eleito sem mérito pessoal nenhum, sem propostas consistentes, sem antecedentes de trabalho, angariando votos através do prestígio do pai e nada mais. Não é um mal em si porque muitos políticos começam assim. Alguns conseguem superar esse “defeito de origem” e passam a voar com asas próprias. Danielzinho ainda capenga, sem força nas pernas, e agora, ao se arvorar em suspeitíssimo advogado de defesa do pai, pode ter entrado em uma verdadeira fria. Por inexperiência ou má fé, ele não apresentou nenhum argumento a favor de Maguito, preferindo atacar os críticos – chamando, por exemplo, Leonardo Vilela de “parlamentar apagado”, o que não é verdade, pois se trata de um dos deputados federais mais atuantes de Goiás, mais até que o pai de Daniel quando exerceu o mesmo mandato.

Afinal, nem o próprio Maguito conseguiu até hoje explicar com clareza porque vendeu a usina de Cachoeira Dourada. Nunca soube esclarecer o que fez com o dinheiro arrecadado. E também não justificou o pernicioso contrato que obrigou a Celg a assinar com os novos donos de Cachoeira Dourada, comprando energia a preços 53% superiores ao de outros fornecedores. Segundo o relatório da Fipe, esse contrato danoso impôs em poucos mais de três anos, um prejuízo de R$ 900 milhões à empresa, até que foi rescindido durante o governo de Marconi Perillo.

Quase ninguém, nem o PT, defende Iris no caso da Celg. Maguito, pior ainda. Só o próprio filho se dá ao sacrifício. Eles me parecem isolados, com a bomba da Celg explodindo no próprio colo. Para finalizar, conclamo os leitores a observar um dado curioso: nem eles mesmos, Iris e Maguito, estão se defendendo com competência. Iris fala sobre a Celg se fixando em pequenos detalhes, insignificantes para a grandeza do rombo que se abriu na companhia, enquanto Maguito repete a velha e inacreditável história – aliás, humilhante para ele, porque não é digno de governar Goiás quem aceita pressões – de que foi obrigado pelo governo Fernando Henrique a vender Cachoeira Dourada. Está provado: os dois maiores líderes do PMDB, que se revezam disputando eleições majoritárias em Goiás há 30 anos, estão sofrendo para se adequar aos novos tempos da política estadual e no novo estilo que hoje impera no debate de ideias.

Nivaldo Mello é artista plástico (taquaral@hotmail.com)

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