segunda-feira, 15 de março de 2010

Indecisão de Íris!

O Popular

POLÍTICA





Cileide Alves

Entre a carreira e a biografia

O desabafo de Iris Rezende domingo, dia 7, a respeito de seu dilema sobre renunciar ou não à Prefeitura de Goiânia para ser candidato a governador coloca o PMDB em situação muito parecida com a do PP em setembro, quando o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, surpreendeu com a sua filiação ao PMDB.

O PP cometera o erro de apostar todas as suas fichas apenas em Meirelles. Com sua mudança de plano, os pepistas viram-se sem projeto eleitoral, pior situação para um grupo político em véspera de eleição. O PMDB, como o PP, e estimulado pelo próprio Iris, jogou tudo no prefeito e passou a última semana feito barata tonta. O presidente do diretório regional, Adib Elias, ainda na segunda-feira, revelou o espanto que tomara conta de todo o mundo peemedebista: “Na verdade isso (a revelação de Iris) não somou nada ao partido nem para ele”.

De fato: o PMDB dormiu com um candidato competitivo ao governo e boas perspectivas para seus candidatos a deputado estadual e federal e acordou dia 8 de março sem perspectiva de futuro. O surpreendente desta história é que a dependência do PMDB à candidatura de Iris foi construída por ele mesmo.

O ano passado foi eminentemente político no Paço Municipal. O prefeito trabalhou para construir sua candidatura a governador: articulou em Brasília com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros e petistas para ser o representante principal do lulismo no Estado; trabalhou para atrair Henrique Meirelles ao PMDB, depois que sua filiação ao PP já era dada como certa pelo governador Alcides Rodrigues e seus aliados; convenceu Meirelles de que ele tinha prioridade para ser o candidato a governador pelo PMDB e depois conseguiu persuadi-lo a anunciar, em fevereiro, que não seria candidato a governador, apesar do desejo de Meirelles de deixar essa decisão para o fim de março, quando terá de se desincompatibilizar.

Depois de tanto esforço, com o terreno limpo, Iris ficou indeciso: “Hoje não sei se serei candidato ou não, com toda a sinceridade. Essa madrugada (de 6 para 7 de março) acordei às 4 horas da manhã num sobressalto, e me coloquei de joelhos perante Deus (para avaliar sua decisão). E, sinceramente, digo a vocês que não sei”, afirmou no domingo.

Sua decisão não é nada fácil, em especial porque o prefeito sente não ter o apoio que ele mais queria no PT, o do presidente Lula. Desde que começou a articular seu nome entre os petistas, Iris não recebeu nem sequer um afago do presidente. Ao contrário: Lula manifestou apoio a Meirelles, em sua visita a Goiás em agosto, e posteriormente, revelou que aceitaria dois palanques de sua base no Estado.

Isso não interessa ao prefeito, ainda mais que caberá a ele a parte mais difícil: entregar a Prefeitura exatamente ao partido de Lula.

Todo candidato entra numa eleição com expectativa de vitória, mas sabe que corre o risco de perder, com exceção dos partidos que se apresentam com outros objetivos. Iris é o único deles que gostaria de sentir mais segurança, afinal sua carreira já não comporta mais aventuras eleitorais.

Obviamente o senador Marconi Perillo também entra na disputa para vencer, até porque não quer ser, em 2010, o Iris de 1998, ou seja, ter sua liderança e popularidade testadas e reprovadas no auge de sua carreira. Só que Marconi terá ainda quatro anos como senador, idade, saúde e energia para recomeçar, como o próprio Iris fez em 2003, ao retomar sua carreira, e sem mandato eletivo, apenas como presidente regional do PMDB.

Sob esse aspecto Iris tem mais a perder com uma eventual derrota nas urnas neste ano do que apenas o cargo de governador. Ele perderá três anos como prefeito de Goiânia, a liderança do PMDB, partido que conseguiu manter sob seu comando desde 1982 – mesmo com as defecções que começaram com Mauro Borges, em meados da década de 80, e se aprofundaram nas duas décadas seguintes –, e, principalmente, altera o processo de reconstrução de sua biografia.

Neste momento de sua vida, diferentemente de seus adversários, Iris não ergue apenas uma carreira. Esta ele já edificou ao longo dos últimos 52 anos. Agora ele constrói sua biografia. Desde que decidiu voltar à política em 2003, depois de ter anunciado o fim da carreira em 2002, ele trabalha pensando em deixar aos mais jovens uma imagem diferente daquela que emergiu de suas duas derrotas de 1998 e de 2002.

Atingiu seu objetivo com as duas vitórias em Goiânia e com a polarização de seu nome com Marconi. Vencer para governador seria a recuperação completa desse projeto, mas e se ele perder? Daí o dilema: enfrentar as urnas e, vencendo, completar esse ciclo com chave de ouro, ou parar no ponto que ele chegou para não correr o risco de perder o que reconquistou?

É uma decisão difícil e por isso Iris ainda não encontrou resposta, nem com orações. Enquanto não recebe sinal positivo de Brasília, trabalha para reduzir riscos. E o PMDB volta-se novamente para Meirelles, como ocorreu ontem em conversas dele com os deputados José Nelto e Iris Araújo. Os peemedebistas lutam para não concretizar o pesadelo de ficar sem alternativa de poder.

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