Conexão
Afonso Lopes
RONALDO CAIADO
O senhor das alianças
Ele não tem palácio, lidera um partido dividido e, ainda assim, será chave na formatação das coligações
Em tese, o deputado federal Ronaldo Caiado teria somente um dado positivo para se colocar no tabuleiro das eleições deste ano: estar à frente do partido que conquistou a quarta maior bancada na Câmara dos Deputados em 2006. Ou seja, ser “dono” do quarto maior espaço do palanque eletrônico das eleições, atrás de PMDB e PT, bloco líder, e PSDB, que forma, empatado com o DEM, o segundo bloco.
Então, qual é a mágica para Caiado se posicionar muito acima do PR, PP, PTB ou qualquer outro dos grandes e médios partidos na sucessão de Goiás este ano? Primeiro, pelo fato de que, se for apurar bem, foi o único realmente sincero quando se colocou como nome a ser avaliado como candidato a governador pelo bloco palaciano. Todos os demais, de certa forma, apresentaram-se com ressalvas. E depois, Caiado se tornou avalista de um discurso poderoso nesta eleição, de coerência e busca da melhor situação política possível para o Estado.
O lado mais curioso dessa situação é que todas as três possíveis forças desta eleição se oferecem de braços abertos para o DEM. O partido é sonho de consumo do PMDB/PT, do PP palaciano e do PSDB. E, teoricamente, o aporte dos democratas em qualquer um desses eixos consegue alterar todo o processo.
Não é possível, nem com muita boa vontade, imaginar Ronaldo Caiado e o DEM em cima de um palanque diante de bandeiras vermelhas do PT e do braço rural MST. Mas, somente a título de análise, o que aconteceria previsivelmente diante de algo assim?
De cara, a candidatura do prefeito Iris Rezende Machado ganharia um petardo importante. Num só gesto, exterminaria qualquer possibilidade de o PP se imaginar em vôo solitário nas eleições deste ano. Principalmente após o velado apelo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que todos os partidos que lhe apóiam se unam em Goiás. É evidente que Lula não está nada preocupado com o que poderá acontecer na política goiana. O que ele quer mesmo é reforçar o seu próprio palanque, que no caso é o da ministra Dilma Roussef. O resto é periferia.
Se o DEM, um dos dois partidos brasileiros (o outro é o PT) com forte posição doutrinária, optasse por quebrar essa linha de conduta e se aliasse ao histórico e ferrenho adversário, não restaria discurso ao Palácio das Esmeraldas. Mas, claro, aqui se está criando um quadro absolutamente surreal com o único propósito de avaliação e análise conjuntural que essa situação provocaria.
Como a primeira tendência do DEM seria o bloco palaciano, esbarra-se aqui numa questão de quase impossível entendimento: por que o Palácio, mesmo não tendo um único candidato realmente disposto a enfrentar as urnas, jamais atuou no sentido de reforçar a candidatura de Ronaldo Caiado? Essa seria a opção natural desse bloco para se impor no processo eleitoral diante dos eixos supostamente adversários, PMDB e PSDB. O primeiro passo, sem dúvida, é ter um candidato. O Palácio tinha um, mas preferiu ver nele, talvez, apenas os aspectos possivelmente negativos.
É o caso da tal taxa de rejeição que Ronaldo Caiado ostenta. Na última pesquisa sobre isso, apontou-se para a faixa de 30%. É um índice elevado mesmo, mas há muito mais informação nesse percentual do que simplesmente números. É um erro absurdo, grotesco, pegar 30% e concluir que isso é tecnicamente impeditivo para uma candidatura ao governo do Estado de Goiás. Não é.
Antes de qualquer coisa, retorne-se ao ponto em que aqui se afirmou que o DEM é um dos dois partidos brasileiros com posição firme e clara, e na exata medida de confronto com o PT. E quem, dentro desse ponto de vista, melhor incorpora, exibe e se apresenta nessa condição absolutamente contrária ao petismo se não o próprio Caiado? Então, inicia-se assim um processo seletivo de análise quanto aos tais 30% de rejeição do democrata.
Quanto desse percentual provém do fato de ele ser um anti-petista declarado e reconhecido como tal? Sabe-se lá, especialmente porque as pesquisas jamais desceram a esse detalhamento. Mas seria exagero considerar que o PT tem a preferência absoluta de pelo menos 10% do eleitorado goiano? Convenhamos, não é um porcentual exagerado. Na última eleição da qual participou com candidato próprio, em 2002, e mesmo diante da campanha de reeleição de Marconi Perillo, a petista Marina Sant´Anna somou 15% dos votos. Sem falar no prestígio pessoal do presidente Lula, que não teria muitos problemas para somar pelo menos esses 15% de apoio entre eleitores goianos em qualquer situação.
Cabe a pergunta: qual é a reação natural que se espera de um eleitor apaixonado por Lula ao ser abordado numa pesquisa diante de um político que lhe faz duríssima oposição em tempo integral? Se não todos, e evidentemente não todos, pelo menos uma parcela desse eleitorado praticante do lulismo como devoção quase religiosa apontaria imediatamente o dedo da rejeição para esse opositor.
E aí se começa a concluir que a rejeição de Caiado não é a ele exatamente, mas também ao que ele é e representa no cenário político brasileiro. Sem medo de errar muito, é seguro dizer que Ronaldo Caiado, pessoalmente, talvez não seja rejeitado por 20% do eleitorado, o que o colocaria na média geral entre todos os demais políticos goianos. E, por conseqüência, viável tecnicamente como candidato a qualquer cargo em Goiás. Só para ficar em um exemplo, o prefeito Iris Rezende entrou na campanha de 2004 como recordista absoluto no critério rejeição, apresentando percentuais negativos acima inclusive dos positivos. Terminou a campanha com rejeição baixíssima e com aprovação que o levou à vitória incontestável.
Os aliados de Ronaldo Caiado no bloco palaciano aparentemente se apegaram a essa rejeição total e enganosa das pesquisas para jamais apostarem um único centavo na candidatura dele. Como esse peso absolutamente natural fosse carga excessiva. O resultado desse tratamento é esse que se vê, em que os palacianos precisam agora apostar em qualquer outro nome. E ainda assim permanecem sem inserção total no processo eleitoral deste ano. Caiado era a salvação de uma lavoura que continua perdida.
O último quadro a ser analisado é a aliança do DEM aos tucanos de Marconi Perillo. E não há dúvidas sobre as vantagens evidentes para ambos os lados. Os democratas, por exemplo, eternamente divididos entre os caiadistas, majoritários, e a linhagem de Goianésia, do ex-governador Otávio Lage (já falecido), além de setores independentes do partido, ficariam imediatamente pacificados. Já para o PSDB, a coligação com o DEM romperia de vez o feroz cerco que os adversários procuraram criar em torno da candidatura de Marconi Perillo, ampliando muito a própria capacidade futura de interação com outros partidos.
Mas não é só isso. O DEM, e Ronaldo Caiado em particular, emprestariam à coligação tucana uma arma poderosíssima: o discurso afiado contra tudo aquilo que se coloca a favor de Lula, do petismo e de Dilma Roussef, favorecendo assim a aliança nacional entre tucanos e democratas no Estado. Se Lula prefere um só palanque para suas forças, e considerando que ele está correto ao defender esse ponto de vista, por que seria diferente em relação à candidatura de José Serra? Claro que não é diferente.
Não será, porém, a necessidade de democratas e tucanos em nível nacional que ditará os rumos do DEM e do PSDB em nível estadual. O que vai pesar mesmo por aqui é a possibilidade de Caiado e Marconi de se encontrarem, conversarem e concluírem alguma coisa. Pela manutenção do distanciamento oficial entre os dois partidos ou por uma reacomodação de forças que jamais foram visceralmente adversárias.
Qual será o destino do DEM e de Ronaldo Caiado na formatação das alianças deste ano, afinal? Sabe-se lá, mas ele construiu o direito de mexer e alterar o grande tabuleiro sucessório.
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