segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Braga e Célio: que papelão!





Política & Justiça

Braga e Célio, personagens do déficit inventado pelo governo
Ex e atual titulares da Sefaz protagonizam série de manobras na tentativa de atingir a gestão de Marconi Perillo

Alexandre Bittencourt

Dois personagens se destacam e devem ficar como exemplo de conduta equivocada quando, no futuro, o caso do falso déficit de R$ 100 milhões mensais vier a ser lembrado pela história. São eles o atual secretário da Fazenda, Célio Campos, e o ex-secretário da mesma pasta, Jorcelino Braga.

Célio chama a atenção no episódio primeiro porque é filiado ao PSDB, partido do ex-governador Marconi Perillo. Foi para desconstruir a imagem de Marconi que a versão do falso déficit foi inventada. Outro detalhe instigante é que Célio foi um dos principais auxiliares de segundo escalão do governo Marconi. Mais: trabalhou durante anos, na gestão marconista, como diretor do Tesouro, cargo que tradicionalmente só é ocupado por pessoas da confiança absoluta de quem está no Palácio das Esmeraldas.

Como diretor do Tesouro, Célio Campos obviamente conhecia toda a movimentação financeira e orçamentária do governo Marconi. Se houvesse alguma irregularidade, ele seria corresponsável. Mas, ao contrário, Célio foi mantido no comando do Tesouro pelo governo Alcides Rodrigues até ser promovido e chamado para ocupar a vaga de Jorcelino Braga como secretário da Fazenda (Braga se desincompatibilizou em 1º de abril último para participar da campanha eleitoral).

Para muitos políticos, como o deputado estadual Daniel Goulart (PSDB), ex-presidente da Comissão de Finanças da Assembleia e um dos primeiros a denunciar a farsa do déficit, somente o fato de Alcides ter mantido em sua administração um alto dirigente da Fazenda no governo Marconi seria suficiente para evidenciar que não havia nenhum rombo nas contas do Estado. E o silêncio de Célio, que nunca falou sobre o assunto até a sua desastrada entrevista na semana passada tentando confirmar o déficit, também contribuiria para consolidar a ideia de que tudo não passou de uma armação contra Marconi.

É mais do que óbvio que Célio Campos relutou para entrar na discussão. Quando saíram os relatórios do TCE e da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), negando o déficit, ele se omitiu, enquanto o governo escalava um funcionário da Sefaz, Sinomil Soares da Rocha, para o esforço de rebater o documento. Somente 10 dias depois é que o secretário da Fazenda convocou uma entrevista para se manifestar, quando impressionou os jornalistas presentes pelo tom vacilante e pela confusão no emprego de termos técnicos. Embora sem apresentar um raciocínio claro e sem afirmar que contestava qualquer um dos relatórios, Célio Campos insistiu na versão de que realmente teria havido déficit.

Surpreendentemente, na entrevista, o secretário reconheceu que não tinha lido o relatório do TCE, que também negou o déficit, e só citou o relatório da Fipe. Mas foi tímido, evitando confrontar a instituição paulista, que é ligada à USP e é inclusive contratada pelo Estado para prestar serviços de consultoria sobre temas econômicos e para atualizar anualmente a tabela de preços de veículos para cálculo do IPVA, isso na esfera da própria Sefaz.

Levado para o governo Marconi pelas mãos de José Paulo Loureiro, que foi presidente da Celg, secretário da Fazenda e secretário de Segurança, Célio era visto pelo PSDB como equilibrado e incapaz de ser enquadrado pelo governo Alcides para atacar o seu antigo grupo político. O tom da entrevista coletiva em que ele tentou reafirmar a existência, contudo, mostrou insegurança e até certo ponto despreparo – segundo a réplica da Fipe, Célio comprovou, pelas suas considerações, que “não tem o mais comezinho conhecimento de contabilidade pública e provavelmente nunca folheou os balanços do Estado”.


Ex-secretário era cotado para disputar com Marconi

Quando o então secretário da Fazenda Jorcelino Braga começou a falar em déficit, em meados de 2007, o primeiro valor mencionado foi R$ 37 milhões mensais. Basta consultar os arquivos dos jornais para se constatar que Braga fazia referência ao seu antecessor na Sefaz, Oton Nascimento, que foi o primeiro alvo das suas críticas por ter deixado a pasta desorganizada e a situação financeira do Estado no caos.

Logo depois, os números inflaram. Braga passou a falar em R$ 50 milhões mensais. Esse número pulou para R$ 62 milhões e logo chegaria, nas entrevistas do titular da Sefaz, aos R$ 100 milhões mensais que se tornariam o emblema oficial do déficit. Braga chegou a apresentar documentação que comprovaria a existência do déficit, que se tornou um discurso repetido dia a dia pelos adversários do senador Marconi Perillo, inclusive pelo próprio governador do Estado. Mas esta versão foi desconstruída pela CPI do Endividamento, instalada na Assembleia Legislativa.

Para o relator da CPI, Honor Cruvinel (PSDB), “a farsa do déficit foi armada com dois objetivos: primeiro, desconstruir a imagem pública de Marconi Perillo e, segundo, justificar a falta de ação do governo”. Honor já está redigindo o relatório final da CPI, que será apresentado na manhã da próxima quinta-feira. Sua conclusão, conforme adiantou, será pela inexistência do déficit, acompanhando o que está demonstrado nos relatórios do Tribunal de Contas do Estado e da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP.

Uma terceira explicação para a história do déficit pode hoje parecer improvável, mas foi levada a cabo durante muito tempo. Acredita-se que Jorcelino Braga, apesar da inexperiência política, desejava candidatar-se à sucessão de Alcides e portanto trabalhou para o rompimento com Marconi e depois para viabilizar a si mesmo como o “salvador da pátria”, isto é, o homem que em pouco tempo recuperou as finanças do Estado. Com essa credencial, Braga poderia se candidatar a governador.

Isso pode ser verdadeiro na medida em que, durante a maior parte do governo Alcides, a máquina de comunicação oficial foi direcionada para promover e principalmente defender Braga. Foram inúmeros os episódios em que ninguém do governo se moveu para rebater críticas a Alcides, mas imediatamente todos se movimentavam quando se tratava de proteger Braga de ataques.

Da mesma forma, enquanto o gabinete de Braga na Sefaz tinha a antessala superlotada, a sala de espera para falar com Alcides no décimo andar do Centro Administrativo permanecia vazia. Braga, na prática, tinha mais poder que o governador. E tanto que se julgava o maior oponente de Marconi Perillo, ou seja, considerava-se inserido no mesmo nível de importância que o ex-governador e senador do PSDB, com quem estaria travando um “duelo” político.

Foi nessa versão que nasceu e cresceu a história do déficit, agora rejeitada pelos relatórios do TCE e da Fipe – que estão esvaziando o único discurso que ainda dava alguma sustentação ao governo Alcides. Mais grave é que ambos os relatórios apontam também para a inconsistência do “equilíbrio fiscal” que sempre foi apresentado como a maior obra da atual administração. Segundo os documentos, o governo Alcides reduziu os investimentos do Estado a quase zero, mas mesmo assim seus déficits são crescentes – e muito maiores que os R$ 79 milhões de descompasso deixado pelo governo anterior.


Previsões políticas de Jorcelino Braga não se concretizaram

Jorcelino Braga preparou-se para ser a maior novidade da política de Goiás nos últimos tempos. Mago do marketing, gênio das finanças e possível candidato a governador foram só algumas das qualificações que foram agregadas ao nome do ex-secretário da Fazenda, enquanto seu nome saía do zero para a cena principal do processo político do Estado.

A bem da verdade, Braga transformou-se em ator de primeira grandeza da política por um tempo simplesmente porque recebeu uma descomunal concentração de poder nas mãos. Sem esse poder, desapareceu do cenário político, muito embora o que se comenta nos bastidores é que ele despacha no Palácio das Esmeraldas e ainda dá ordens como se ainda fosse o secretário da Fazenda (é inclusive alvo de um inquérito do Ministério Público, que apura usurpação de poder).

Como político, Braga esmerou-se em previsões que não foram confirmadas. Garantiu, por exemplo, que Vanderlan Cardoso chegaria à convenção com dois dígitos nas pesquisas. Depois, reformulou a profecia dizendo que o candidato governista iniciaria a campanha na TV com 17%. Por último, assegurou que Alcides alcançaria mais de 50% de aprovação e, com isso, se transformaria no grande eleitor de Vanderlan.

Nada disso aconteceu. Vanderlan patina em pouco mais de 5% nas pesquisas e Alcides caiu para 37,7 de aprovação, mesmo com os investimentos maciços em publicidades feitos na reta final antes da proibição de propaganda oficial (vedada a partir de 5 de julho). Braga também previu que Marconi Perillo cairia nas pesquisas, mas o que ocorreu foi o contrário, com o candidato do PSDB aumentando de 4 para quase 8 pontos a sua vantagem sobre o segundo colocado nas três últimas rodadas da Pesquisa Serpes.

Outros equívocos de Braga foram os sucessivos anúncios de que a solução para a Celg já estava definida, o que não aconteceu até hoje. Disse também que os prefeitos do PP e do PR estavam iludindo Marconi com a promessa de apoio (na prática, a maioria dos prefeitos do PP e do PR está com Marconi). Deu declarações sobre o isolamento político de Marconi, desmentidas quando o tucano fechou a sua coligação com o maior número de partidos dentre todos os candidatos a governador. E ainda recebeu quase duas centenas de prefeitos no Palácio, prometendo liberar recursos para obras nos municípios que não passaram de miragem.

A última previsão de Braga é que Vanderlan Cardoso vai crescer com o início da temporada de programas eleitorais na televisão. Como Iris Rezende e Marconi também terão os seus programas e disporão de tempo maior do que Vanderlan, não há muitos motivos especiais para acreditar que, dessa vez, o bruxo da Kanal Vídeo (produtora de Braga que faz marketing político) finalmente irá acertar.

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