SUCESSÃO
Afonso Lopes
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A sustentável leveza do voto
Marconi Perillo amplia presença nas ruas enquanto adversários jogam suas chances somente no horário eleitoral do rádio e da TV
É impossível não perceber o que está ocorrendo na campanha eleitoral deste ano. Enquanto a coligação do senador tucano Marconi Perillo mantém o que parece ser uma impressionante vocação de buscar o contato com a população em eventos nas ruas, com carreatas, caminhadas e pequenos comícios, seus adversários optaram por esperar pela campanha eletrônica, a propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Bem que o peemedebista Iris Rezende e o republicano Vanderlan Cardoso tentaram acompanhar o ritmo do tucano, mas desistiram. Nesse aspecto, não são páreo para ele.
E a consequência dessa enorme disposição está aí, claramente exposta: Marconi lidera em todas as pesquisas realizadas até aqui. Aliás, não somente é o líder como tem conseguido inclusive abrir pequenas vantagens a cada novo levantamento. A intenção de voto, essa coisa tão volúvel, tem se alterado somente a seu favor. É como se houvesse um pacto invisível entre a campanha de Marconi e a maioria dos eleitores goianos, que resultou numa sustentabilidade até agora inabalável.
Na outra trincheira onde correm as candidaturas de Iris e Vanderlan, há dois aspectos absolutamente antagônicos. Vanderlan tentou ir às ruas e recuou. Faltou recepção. Primeiro pelo óbvio: quase ninguém o conhece. Depois, deve-se levar em conta sua falta de traquejo nesse contato direto. Ele fez algo assim apenas duas vezes em sua curta carreira política, em 2004 e em 2008. E, ainda assim, numa área geográfica com pouco mais de uma centena de ruas e alguns milhares de moradores, a cidade de Senador Canedo. Isso é totalmente diferente da nova empreitada, de correr por ruas de cidades espalhadas por todo o Estado de Goiás.
Iris Rezende também tentou dar mais ritmo à sua campanha nas ruas, mas igualmente recuou. Não por falta de receptividade, obviamente. O problema dele parece ser bastante sério no que se refere à falta de estrutura de campanha. É a primeira vez que ele entra numa campanha sem contar com forte base de apoio, inclusive financeiro. O jeito, então, foi tirar o pé do acelerador e deixar tudo para o horário eleitoral gratuito.
Há outro detalhe que exerceu certa influência sobre o recuo de Iris e Vanderlan no que se refere à campanha de rua: a comparação com Marconi. Os eventos da coligação tucana não são apenas mais numerosos, mas também mais bem organizados. E novamente isso acaba se destacando porque a comparação é inevitável nesses casos.
Não houve como evitar, assim, a consolidação da liderança de Marconi até aqui. E nem como impedir que ele ampliasse aos poucos sua vantagem sobre Iris e Vanderlan. Em relação ao republicano, então, nem se fale. O tucano tem mais de 40 pontos porcentuais de dianteira. Sobre Iris, a diferença estava caminhando para 10% das intenções de voto do eleitorado, o que representa ainda mais quando se fala somente dos votos válidos.
A aposta que fizeram Vanderlan e Iris, de jogar todas as suas chances no horário eleitoral do rádio e da TV, não é resultado de uma estratégia, mas fruto das dificuldades de cada um. Eles não suportaram o peso da avalanche de Marconi nas ruas. Jogaram a toalha na lona para procurar concentrar forças no último ato da campanha, que é exatamente a propaganda eletrônica. É, de qualquer forma, uma aposta de altíssimo risco.
O rádio e a TV são realmente muito importantes, mas nem sempre conseguem promover miraculosas viradas, por melhor que sejam os programas levados ao ar. Normalmente, salvo raríssimas exceções, a tendência é que o quadro pré-existente se mantenha com a chegada da campanha eletrônica. Ou seja, quem está atrás e com tendência de crescimento pode crescer bem mais rapidamente. Quem está na frente e em queda, pode se manter ou cair. Vide 2006.
Maguito Vilela chegou ao programa eleitoral gratuito em queda. Pequenas variações negativas, mas constantes. Alcides Rodrigues, seu adversário, vivia situação exatamente oposta, em crescimento, lento, mas igualmente contínuo. O horário eleitoral de 2006 somente acentuou esse quadro já existente.
Cada eleição é uma eleição, evidentemente, mas se há algo muito claro na atual campanha é que não se tem como estabelecer um paralelo com 2006. Desta vez, o líder, Marconi, chega ao horário eleitoral com pequenos ganhos porcentuais a cada pesquisa. Seu principal adversário, Iris, está estacionado em um patamar elevado, por volta de 40% do eleitorado, o que lhe garante boa presença na disputa qualquer que seja ela. Já Vanderlan vive o mesmo drama que o atormenta desde sempre: não consegue escapar do atoleiro que é sua baixíssima perspectiva e densidade eleitorais.
Essa realidade geral significa que Marconi Perillo está com um pé no Palácio das Esmeraldas? Sim e não. O quadro mostra que Marconi venceu seus adversários na pré-campanha e na campanha de rua, e que ele chega ao horário eleitoral do rádio e da televisão em condições muito mais favoráveis do que seus adversários. Numa analogia com o futebol, diria que ele pode jogar pelo empate. Ou seja, e em resumo, Marconi está sim com um pé no Palácio, mas o outro continua do lado de fora.
Para Vanderlan não resta alternativa se não um autêntico milagre. Definitivamente, a grande verdade é que sua candidatura empolgou muito menos do que sua coligação esperava. Falta carisma popular, rede de apoio sincera e até maior comprometimento das lideranças de sua coleção partidária. E esse é outro problema estrutural da candidatura dele: não se pode chamar de coligação aquilo que o sustenta. É uma coleção de partidos, boa parte deles contaminada pelo desejo de se aliar a outras candidaturas, principalmente a de Marconi Perillo.
O que fazer no rádio e na televisão para provocar uma mudança tão severa e intensa nos humores do eleitorado goiano para colocar Vanderlan em condições reais de disputa? Sabe-se lá, mas alguma coisa menos que um milagre será pouco.
Quanto ao ex-prefeito Iris Rezende resta a campanha no rádio e na TV para tentar, pela primeira vez nesta eleição, ser melhor que Marconi Perillo. Só assim ele vai conseguir adiar a decisão para o segundo turno.
Esta, provavelmente, será a última campanha eleitoral que Iris disputará. E, com certeza, está sendo também a mais difícil de todas. Embora se mantenha no topo dos mitos político-eleitorais de Goiás, ele enfrenta um adversário que se encontra no mesmo patamar, e com mais disposição. Mas Iris é Iris, e dele pode se esperar tudo numa eleição. É apenas isso que impede Marconi de previamente colocar o segundo pé no Palácio. E é justamente Marconi quem tem condições de impedir que Iris retorne ao comando político de Goiás nestas eleições. Um é para o outro a dimensão exata do antagonismo eleitoral do Estado.
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