segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Luiz Bittencourt: coragem e honradez!





POLÍTICA & JUSTIÇA

Entrevista: Luiz Bittencourt



Luiz Bittencourt: "Bases do PMDB têm simpatia por Marconi"

Por Diário da Manhã
31/7/2010

Repórter: Alexandre Bittencourt

O deputado federal Luiz Bittencourt (PMDB) anuncia que não disputará a reeleição, mas não abandonará a política. Em entrevista à Rádio Mil FM, Bittencourt reafirma suas críticas ao centralismo e à falta de democracia no PMDB de Goiás e ressalta que o partido está diminuindo de tamanho a cada eleição. O PMDB age como se fosse hegemônico, mas perdeu muita força em Goiás, afirma, lembrando que o partido perdeu as três vagas de senador e há 12 anos está afastado do poder no Estado. Perguntado sobre qual candidato a governador apoiará, ele disse que vai analisar as propostas de cada um e fará opção pelo projeto que contemplar a modernização de Goiás.

Por que não sair candidato à reeleição agora?

Luiz Bittencourt - Primeiro quero dizer que essa é uma decisão madura, serena e tranquila, que tomei depois uma avaliação desse quadro político-eleitoral de Goiás. Tomei essa decisão primeiro com o pensamento no que é melhor para Goiás, num projeto de modernização do nosso estado, então não é por dificuldade eleitoral. Às vezes as pessoas pensam, o Bittencourt tem dificuldade de ganhar a eleição, não é por isso. Minha base é fiel e ideológica. Nunca precisei do poder econômico nem da ajuda de governos pra ganhar a eleição. Decidi porque entendo que nesse momento o importante é termos foco num projeto coletivo, e esse projeto coletivo é lutar para que Goiás tenha um projeto de modernização, avanço social e administrativo.

O PMDB tomou rumos que ao invés de aglutinar estão afastando seus filiados?

Luiz Bittencourt - O PMDB de Goiás não ouve as suas bases. Tenho sido um crítico sistemático, denunciando isso. A prática politica é antiga, não há renovação, debate interno. Os líderes se fecharam numa cúpula onde as decisões não atingem a base, não há participação, o projeto não tem conteúdo, as decisões são tomadas de última hora. O partido perdeu a capacidade de mobilização social e, principalmente, deixou de ter um projeto amplo, coletivo. O partido tornou-se expressão de projeto pessoal do mesmo, da familiocracia, vinculando-se a um grupo de pessoas que pensam mais em si próprias que no estado de Goiás e no fortalecimento do PMDB.

O senhor tem sido um crítico constante de Iris Rezende no partido, mas Iris é o candidato escolhido pelo PMDB para governador de Goiás. Ao que parece, o partido está satisfeito com seu candidato. Ou não?

Luiz Bittencourt - Respeito muito os líderes do partido e a contribuição que já deram para Goiás, mas é hora de mudar. Precisamos evoluir, trazer forças novas, abrir e discutir com a sociedade, com segmentos organizados. O PMDB precisa dar uma contribuição diferente, não temos que repetir a mesma fórmula. Digo sempre que o PMDB em Goiás é um samba de uma nota só. Há 30 anos nós apresentamos para Goiás os mesmos candidatos nas eleições majoritárias. É hora de mudar.

O senhor se cansou de lutar dentro do PMDB?

Luiz Bittencourt - Em certo sentido, sim. Sempre procurei levantar o debate interno no PMDB. Sempre provoquei a cúpula nesse sentido. Vejo, infelizmente, que o partido é direcionado para um pequeno grupo, as decisões são tomadas na cúpula e não atingem nossa base. Não há renovação, e veja as dificuldades que estamos enfrentando na campanha. A campanha é tímida, e há muitas reclamações da organização, da agenda, do privilégio de um ou outro candidato. Isso é muito ruim para o partido.

O que ocorreu para que houvesse esse distanciamento entre o senhor e o partido?

Luiz Bittencourt - Na realidade, tenho uma boa convivência com minha base, meus companheiros, prefeitos, ex-prefeitos, vereadores. A questão maior é o posicionamento da cúpula. O PMDB se distanciou da sociedade goiana, não tem um projeto coletivo. Se você fizer uma análise hoje do comando da campanha do candidato a governador do partido, é um comando onde há interesses pessoais esparramados em todas as coordenações. Um partido não precisa de chefe, precisa de líderes. Um partido com a dimensão do PMDB, com uma história muito importante na história no Brasil e em Goiás, não pode ficar fechado numa redoma e alijar a sua base. Nós diminuímos o número de senadores, deputados federais e estaduais, prefeitos. O partido precisa se renovar. E a renovação se dá nos candidatos, nas propostas, mas, principalmente, a renovação se faz com os líderes. E os nossos líderes não se renovaram.

O senhor pensa em sair do PMDB?

Luiz Bittencourt - Não. Eu seguirei na minha luta interna para tentar mudar esse quadro de centralismo no partido. Um quadro que, sem dúvida alguma, terá reflexo no processo eleitoral. Muitos companheiros deixaram de ser candidatos em função dessa situação. Veja o cenário, o Marcelo deixou de ser candidato a deputado federal. O José Nelto enfrentou problemas e deixou de ser candidato a deputado federal. Vários candidatos a deputado estadual desistiram. Enfim, na verdade há um alerta, uma luz amarela acesa. O partido enfraqueceu muito e restringe a participação da base. Mas vou continuar lutando, vou continuar no partido.

O PMDB elegeu cinco deputados federais. Agora, com a desistência do senhor e a indicação do deputado Marcelo Melo para disputar a vice de Iris Rezende e a sua, o partido corre risco de diminuir o tamanho da bancada federal?

Luiz Bittencourt - A cada eleição que disputamos nos últimos 16 anos, o PMDB reduz seu tamanho em Goiás. Tínhamos três senadores, hoje não temos nenhum. Tínhamos doze deputados federais, hoje só temos cinco. Tínhamos mais de vinte deputados estaduais, hoje tem dez. Chegamos a ter 220 prefeitos, hoje fala-se em 60. É fato: estamos diminuindo de tamanho em Goiás. As razões para isso são claras: falta de democracia interna, conteúdo, valorização do companheiro, renovação da base e até o envelhecimento das práticas políticas, que são as mesmas de 30 ou 40 anos atrás.

Por que o PMDB só conseguiu dois aliados nessa eleição, PT e PCdoB?

Luiz Bittencourt - Justamente por causa dessas dificuldades, desse isolamento político. Temos aqui adversários históricos, as forças ligadas ao PP, ao DEM e ao PSDB, que em grande parte são dissidências que saíram do PMDB. Marconi Perillo, Jovair Arantes, Nion Albernaz, Sandro Mabel, Barbosa Neto, todos saíram do PMDB. E saíram por falta de espaço. Equivocadamente, uma visão de supremacia política impera na cúpula, que acha que ainda tem influência decisiva na política de Goiás. Temos um conjunto de forças que surgiu em Goiás e quebrou a hegemonia do PMDB através da renovação. Veja o caso do Vanderlan Cardoso, que é um prefeito, que se saiu bem na administração de um município e hoje é candidato a governador. Que dia que o PMDB prestigiaria um prefeito do interior como candidato ao governo? Dificilmente isso aconteceria.

O senhor vai apoiar qual candidato ao governo do Estado?

Luiz Bittencourt - Eu defendo um projeto de renovação política de Goiás, de modernização da nossa administração pública, de valorização do servidor, de aceleração do nosso desenvolvimento econômico social. Vou decidir qual projeto apoiarei nos próximos dias. Conversarei com os meus companheiros e, seguramente, vou estar na campanha do candidato que representa melhor as mudanças e transformações para o nosso estado.

Pelo Twitter, os tucanos estão constantemente anunciando que lideranças do PMDB estão migrando para apoiar Marconi Perillo. A dissidência peemedebista, hoje liderada por Juarez Magalhães Júnior e Ney Moura Teles, é representativa dentro do partido?

Luiz Bittencourt - É representativa, tem consistência e existe de fato. As pesquisas dizem que mais de 30% dos simpatizantes do PMDB apoiam a candidatura de Marconi Perillo. É fácil constatar a simpatia por Marconi nas bases do PMDB no interior de Goiás.

Essa decisão de não sair candidato marca também a decisão de abandonar a política ou tem outros projetos na área?

Luiz Bittencourt - Eu deixo de ser candidato, mas não deixo de lutar na política. Vou continuar dando a minha contribuição de outra forma, buscando consolidar projetos que eu defendo para Goiás e para o nosso país.

O senhor sempre sonhou com a prefeitura de Goiânia. Ela continua nesse sonho?

Luiz Bittencourt - Continua sim. A minha decisão de não ser candidato à reeleição até vai ensejar uma boa oportunidade para eu me reciclar, para que eu possa conviver mais na nossa cidade, avançar nesses projetos, conversar com segmentos organizados mais intensamente e até construir novos projetos. Disputar a prefeitura de Goiânia é um sonho e um projeto muito desafiador e interessante.

Alguma mágoa?

Luiz Bittencourt - Nenhuma. Experimentei ao longo dos meus mandatos um processo de amadurecimento. Só tenho a agradecer Deus, minha família, meus amigos e à população de Goiás. Sou um político ficha-limpa. Não tenho nada para me envergonhar e trabalhei de forma intensa por Goiás. Nesses últimos dias, visitei as minhas bases, mais de 12 prefeitos, para comunicar minha decisão e fiquei emocionado com o carinho com que me receberam. Fiz muitos amigos na política. Tenho o respeito de todos os partidos.

O senhor teve 80 mil votos, foi deputado estadual duas vezes, deputado federal por três mandatos, presidente da Assembleia. Que lições o senhor tira de sua participação na vida política de Goiás?

Luiz Bittencourt - Política é instrumento de promoção do bem e que, apesar dos maus políticos, há muita gente boa e séria trabalhando por um Goiás e um Brasil melhores. Eu tenho a consciência tranquila de que fiz o melhor e lutei muito por Goiás no Congresso Nacional. Trabalhei com muita responsabilidade e apresentei bons projetos. Agora mesmo, o presidente Lula sancionou um projeto meu que obriga as empresas comerciais e prestadoras de serviço a disponibilizar o Código de Defesa do Consumidor para consulta dos consumidores. Tenho convicção de que não decepcionei quem me confiou o voto. Vou encerrar o meu mandato com a cabeça erguida, com a certeza do dever cumprido. Estou feliz e em paz.

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