sábado, 2 de janeiro de 2010

22 de dezembro de 2009

Diário da Manhã

Enfim, a verdade sobre quem quebrou a Celg

Já não pairam mais dúvidas de que a Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia Legislativa, que investiga o endividamento da Celg, encontrou o caminho para elucidar a verdade sobre a empresa. Nesse caso, sempre acreditei que os fatos falariam por si próprios e confirmariam aquilo que o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou à imprensa nacional, ou seja, que foi a venda da usina de Cachoeira Dourada que gerou os desequilíbrios que acabariam comprometendo a saúde financeira da Celg.

A CPI da Assembleia Legislativa, entretanto, está conseguindo avançar ainda mais, indo além do que disse o ministro do PMDB. Segundo os jornais, o Tribunal de Contas do Estado já entregou documentos comprovando que a perda da usina de Corumbá, no primeiro governo de Iris Rezende, também está na origem das dificuldades da empresa. É importante ressaltar que o TCE, além da sua credibilidade incontestável, foi chamado a colaborar com a CPI por sugestão de um deputado do PMDB, partido de Iris e Maguito Vilela, o que serve para reforçar ainda mais a legitimidade dos seus relatórios sobre a Celg.

A realidade é essa: Corumbá e Cachoeira Dourada foram atiradas pelo ralo pelas administrações do PMDB. No caso de Corumbá, a sua transferência para uma empresa federal de energia representou uma sentença de morte para a Celg, na medida em que significou para a companhia goiana o primeiro passo da renúncia à autossuficiência em produção de eletricidade. Mais grave é que a usina foi trocada por uma simples concessão, no caso a que permitiu a construção da quarta etapa de Cachoeira Dourada – um dos maiores erros administrativos jamais cometidos por qualquer governador em toda a história de Goiás.

Na época, técnicos do CREA-GO e profissionais qualificados alertaram dramaticamente para o pecado mortal que seria a entrega de Corumbá e provaram com dados incontestáveis a inviabilidade técnica da quarta etapa de Cachoeira Dourada. Não havia mais potencial hidrelétrico disponível, mas o governo insistiu e o resultado é que o projeto jamais conseguiu produzir mais do que 30% da energia prevista inicialmente. Iris Rezende, que é cantado em prosa e verso como bom administrador pelos peemedebistas apaixonados que sonham vê-lo de volta no governo, trocou uma usina que é hoje uma das mais rentáveis do País por praticamente nada. Um desastre que acabaria tendo repercussões da maior gravidade não só no futuro da Celg, como em todo o processo de desenvolvimento do Estado de Goiás.

Perder a usina de Corumbá foi só o começo da tragédia. Um crime pior aconteceria logo depois. O governador Maguito Vilela, sem nenhum planejamento, sem eira nem beira, talvez apenas para entrar na onda de privatizações que estava em moda na época no Brasil, vendeu Cachoeira Dourada e simplesmente torrou em obras e despesas inúteis a soma fantástica de recursos que foi arrecadada. Uma soma que economistas responsáveis garantiram, na época, ser capaz de produzir um crescimento superior a 1% na taxa anual do PIB goiano, caso tivesse sido aplicada em obras relacionadas com a expansão da economia. Mas não foi o que aconteceu.

A CPI da Assembleia Legislativa, sob a direção do competente e equilibrado deputado Hélio de Souza, do DEM, poderia já ter encerrado os seus trabalhos com base na ampla documentação que tem em mãos. Mas, numa demonstração da sua seriedade e responsabilidade, preferiu continuar aprofundando as investigações durante o recesso parlamentar, buscando mais informações, para só então chegar ao relatório final, que será redigido pelo deputado Humberto Aidar, do PT, outro parlamentar que reputo inatacável. Oficialmente, vamos tomar conhecimento do que já sabemos: certamente diversos e inúmeros fatores contribuíram para a situação de penúria da Celg, mas nada comparável em importância com a venda de Cachoeira Dourada e a “doação” de Corumbá para o governo federal. Esses foram os cataclismas que arruinaram a empresa.

Semana passada, em evento na Federação das Indústrias do Estado de Goiás, o secretário de Planejamento do Estado, Oton Nascimento Jr., reafirmou mais uma vez essa conclusão ao dizer que “erros estratégicos, como a venda de Corumbá e de Cachoeira Dourada, a meu ver, provocaram este resultado que estamos amargando hoje”. Essas palavras merecem respeito porque foram ditas por quem conhece a história da empresa. Talvez nem todos saibam que o pai do secretário, o saudoso dr. Oton Nascimento, foi um dos engenheiros goianos que mais batalharam pela Celg durante toda a sua história (ele foi o primeiro presidente da empresa, de 1955 a 1959, quando iniciou a construção de Cachoeira Dourada), estabelecendo um compromisso perene da família com a consolidação da empresa.

A verdade, às vezes, tarda, mas no final das contas sempre chega e prevalece. O relatório da CPI da Assemblia Legislativa será a palavra final a ser inscrita na história, sobre os dois maiores equívocos cometidos na história econômica e administrativa do Estado de Goiás,com reflexos no patrimônio coletivo da nossa população e na qualidade de vida das gerações futuras.

Perinácio Saylon de Andrade Lima é advogado e ex-diretor comercial da Celg

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