quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Cadê as prefeituras de Goiânia e Aparecida??

O Popular

Sem mobilização, dengue avança
Ministério da Saúde pede intensificação de ações e secretária faz apelo para envolvimento da população

Carla Borges

A falta de mobilização da população está resultando no aumento do número de casos de dengue em todo o Estado, especialmente nos municípios da região metropolitana de Goiânia, onde se concentra a maioria das notificações. Lixo acumulado, casas fechadas e com vários locais propícios à proliferação do mosquito Aedes aegypti são cenas comuns na Grande Goiânia.

Os órgãos públicos têm realizado algumas ações para diminuir a contaminação. Ontem, agentes de saúde entraram em uma casa no Jardim Califórnia, onde a proprietária acumulava garrafas de plástico, lixo e roupas no quintal e não permitia a entrada das equipes de combate à dengue. A Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) deu início à roçagem e limpeza de terrenos baldios, uma vez que os proprietários não cuidam dos lotes.

Tanto desleixo fez com que nas últimas seis semanas do ano passado, em comparação com o mesmo período de 2008, os casos notificados da doença aumentassem mais de 350%. O resultado são unidades de saúde lotadas e com falta de material básico para atendimento de dengue, como soro para reidratação oral, caso de Aparecida de Goiânia. Outro resultado do comportamento dos moradores é que Goiás é um dos cinco Estados brasileiros onde os casos de dengue subiram nos últimos meses, junto com Rondônia (o mais preocupante, segundo o Ministério da Saúde), Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Acre.

A situação levou a secretária estadual de Saúde, Irani Ribeiro, a fazer ontem um apelo dramático. “A população foi uma grande parceira no caso da gripe influenza A, não sei por que não está atendendo aos chamados agora”, disse a secretária. “Precisamos que a população ajude a acabar com os criadouros que estão matando nossas crianças, pais, parentes e amigos”.

Em entrevista coletiva ontem, depois de reunião com autoridades de saúde da região metropolitana e do Ministério da Saúde, a secretária alertou que a tendência é de que o pico da epidemia se prolongue por mais dez semanas. “Estou muito preocupada”, resumiu Irani. Para ela, além da mobilização da comunidade para eliminação dos criadouros do mosquito Aedes aegypti, é necessário que as Secretarias de Saúde dos municípios mais atingidos intensifiquem suas ações, com planejamento. Em 2009, foram notificados mais de 42 mil casos de dengue no Estado, foi o segundo pior para a doença, perdendo apenas para 2008.

Ações

O coordenador nacional de dengue do Ministério da Saúde (MS), Giovanini Coelho, esteve ontem em Goiânia e anunciou o repasse de oito veículos para dedetização (fumacê) e de dinheiro para capacitação de agentes públicos. “Precisamos traçar uma estratégia para sensibilizar a população”, assinalou. Segundo ele, a maior preocupação do MS é evitar que haja mortes por dengue. Em Goiás, foram 30 óbitos confirmados no ano passado. Outros 19 estão em investigação.

Ele explicou que a dengue é uma doença complexa e multifatorial e disse que não seria possível fazer um ranking sobre a gravidade da situação dos cinco Estados onde está havendo aumento de casos. “Não há uma única causa. O avanço da doença depende de fatores como sistema de saneamento básico, mobilização da população e ações dos municípios”, destacou Giovanini Coelho.

O coordenador estadual da dengue, Jamilton Freitas Pimenta, ressaltou que a maioria dos criadouros do mosquito transmissor da doença está dentro de domicílios. Ele também lembrou que em Goiás estão circulando três tipos diferentes do vírus da dengue: den 1, den 2 e den 3. Isso aumenta a possibilidade de surgimento de novos casos. “Por isso, temos de alertar a população não só a fazer sua parte para eliminar criadouros, mas também para não se automedicar”, destacou. “A qualquer sintoma, deve-se procurar o posto de saúde”.

Roçagem de lotes é intensificada

Carla Borges

A Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) intensificou a roçagem de áreas e lotes baldios como medida para conter o avanço da dengue na cidade. Anualmente, o Município gasta de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões para a roçagem de áreas públicas e privadas. “Este ano, diante da gravidade da situação, o prefeito Iris Rezende autorizou que façamos duas operações”, revelou o presidente da Comurg, Wolney Wagner Siqueira Júnior. “Este ano está atípico, com chuvas intensas e alerta da Secretaria de Saúde para a dengue”, justificou.

Siqueira acredita que a partir de março a Prefeitura iniciará a cobrança pelo serviço de roçagem que, de acordo com o Código de Posturas, é de responsabilidade de cada proprietário. Desde o fim de outubro está em vigor a lei municipal que estabelece multas para os proprietários de lotes que não fazem a limpeza e deixam seus imóveis abandonados. Os valores são de R$ 250 para a quarta zona fiscal, R$ 500 para a terceira e R$ 1 mil para a primeira e a segunda. Antes, a lei previa multa de 5% do valor venal do imóvel, e deu origem a vários questionamentos na Justiça.

O presidente da Comurg diz que a identificação dos imóveis nessa situação e a autuação dos proprietários começarão assim que tomarem posse os 29 fiscais concursados pela Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma). “Eles farão exclusivamente esse trabalho. A população de Goiânia não pode pagar com a saúde pela ação de especuladores imobiliários”.

Ontem, agentes de saúde entraram, com autorização judicial, em uma residência no Jardim Primavera, onde a moradora, Divina Eterna Borges da Silva, de 42 anos, acumulava grande quantidade de lixo e não permitia a entrada de agentes de saúde. “Vamos continuar com ações como essa, já que temos uma decisão judicial que nos respalda”, disse a diretora de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, Cristina Laval.

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