quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Maguito: o carrasco da CELG

Diário da Manhã

Maguito e o julgamento da história Ao vender Cachoeira Dourada, o ex-governador assinou a sentença de morte financeira da Celg e não quer assumir suas responsabilidades

É impressionante como qualquer investigação séria sobre o passado da Celg é capaz de suscitar calafrios e incômodos nas maiores lideranças do PMDB, os prefeitos Iris Rezende e Maguito Vilela. É impressionante, mas não é surpreendente: ambos governavam o Estado nos momentos que se comprovaram como os mais danosos para a saúde financeira da estatal. O exemplo mais recente desse desconforto apareceu nos últimos dias, com a divulgação do relatório da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da USP, sobre o endividamento da companhia energética de Goiás. O estudo técnico colocou o dedo na ferida dos dois peemedebistas e eles reagiram de forma passional, tentando desqualificá-lo.

Antes de analisar o relatório sobre a Celg, convém situar o eleitor acerca da seriedade da Fipe. A fundação foi fundada pela Faculdade de Economia da USP em 1973. Nesses quase 37 anos de atividade, a Fipe atendeu e atende a alguns dos principais contratantes desse tipo de pesquisa no Brasil. Nada menos que 115 entidades da sociedade civil, 21 órgãos do setor público federal (incluindo três agências reguladoras e seis ministérios), 42 órgãos públicos estaduais (entre eles, 19 secretarias da Fazenda), 15 secretarias municipais, além de 13 organizações internacionais estão listados como clientes no site oficial da fundação (http://www.fipe.org.br)./

Quando a Assembleia Legislativa de Goiás, por meio da CPI constituída para investigar o endividamento da Celg, decidiu encomendar um estudo da Fipe, sabia que estava colocando a questão em um patamar eminentemente técnico, fora de qualquer especulação política. O relatório, divulgado na quinta-feira, 7, é muito claro quanto a esses limites técnicos e mantém-se coerente a fatos e números. Em momento algum, o documento diz que esse ou aquele governante deve ser responsabilizado pelos desatinos administrativos flagrados na avaliação criteriosa feita pela fundação. Contudo, a sociedade goiana e os políticos dotados de bom senso não podem se omitir diante da gravidade do que foi descrito.

Segundo o relatório, a Celg perdeu grande parte de seu patrimônio justamente nas administrações dos peemedebistas citados acima. O maior problema é que a perda desse patrimônio, especialmente a venda da geradora de Cachoeira Dourada, se deu sem a correspondente integralização ao capital da empresa. Ou seja, eles se desfizeram de ativos da Celg e simplesmente investiram os recursos em outras áreas. Além disso, como a estatal já não possuía sua maior unidade de geração, um bom contrato de aquisição de energia seria fundamental para amortizar os efeitos da venda de Cachoeira Dourada. Aconteceu exatamente o contrário: Maguito assinou um acordo em que a Celg comprava energia com valores acima do mercado.

Não é de estranhar, portanto, que Iris e Maguito tentem desqualificar o trabalho de investigação do endividamento da Celg. O prefeito de Goiânia quis lançar dúvidas sobre a credibilidade da Fipe ao afirmar que a CPI tem um viés político. Ele pode, inclusive, responder na justiça por essa afirmação, já que o estudo foi inteiramente isento e conduzido por um dos institutos de maior credibilidade no Brasil. O prefeito de Aparecida foi mais longe, dizendo que a venda de Cachoeira Dourada era uma imposição do governo Fernando Henrique Cardoso. Trata-se de uma velha artimanha de Maguito, que não cola nem nunca colou entre os eleitores goianos, que cobram de seu ex-governador uma postura menos pusilânime.

Maguito quer re-escrever a história, apagando sua responsabilidade por um dos maiores absurdos cometidos pela administração pública de Goiás. Tenho os jornais da época da venda de Cachoeira Dourada. Neles, o então governador não aparece, nenhuma vez, reclamando da venda do patrimônio da Celg. Ao contrário, Maguito reuniu os deputados e pediu urgência na aprovação da venda. Disse aos parlamentares que precisava do dinheiro para tocar obras que estavam paradas no Estado. A venda foi comemorada com festa. O dinheiro foi todo investido em obras que não melhoraram a vida dos goianos nem aumentaram a competitividade do Estado.

Ávido para colocar a mão nos recursos que deveriam fortalecer os cofres da Celg, Maguito assinou a sentença de morte financeira da estatal ao mesmo tempo em que tornava Furnas (compradora da unidade de geração) uma das mais rentáveis empresas do País. Goiás passa por um momento delicado, com sua empresa de energia ameaçada de insolvência e debilitada operacionalmente. Todo o processo de desenvolvimento do Estado está sob risco por conta dessas dificuldades uma situação grave que, infelizmente, continua imposta à balança política do governo Lula (outro absurdo histórico). A imagem da classe política anda muito desgastada e continuará assim, enquanto os homens públicos não assumirem suas responsabilidades. Alguns casos só poderão ser julgados pela história, mas outros podem ser resolvidos agora mesmo, pelo eleitor.

Leonardo Vilela é deputado federal e presidente do PSDB de Goiás

Nenhum comentário:

Postar um comentário