quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Os Iris e o analfabetismo digital!

Diário da Manhã

A briga de Iris-Iris com a internet

Comprovando o que já sabíamos, ou seja, que ela e seu marido nada entenderam até hoje do significado da internet e, principalmente, das redes sociais que são a última moda na rede, dona Iris Araújo escreveu um artigo no Diário da Manhã reclamando da livre circulação de ideias no Twitter, e ainda fez o pior: defendeu a instituição de algum tipo de censura, através da regulamentação legal das ferramentas à disposição dos internautas brasileiros.

O desconhecimento de dona Iris sobre o que é internet é tamanho que ela sequer sabe que qualquer tipo de controle – sobre o Twitter, por exemplo, como ela propõe – é totalmente inviável exatamente porque a estruturação do espaço virtual é um processo de alcance mundial, e esse espaço não pode ser submetido a nenhum tipo de ajuste em um ou outro país.

Só existe uma possibilidade, e mesmo assim eivada de furos: a censura via troncos nacionais de acesso, como se faz em países ditatoriais como a China e o Irã. Lá, veda-se o acesso a determinados sites, que são bloqueados pelo governo, mas ainda assim qualquer criança mais esperta consegue se infiltrar e navegar livremente pela rede, tal como mostrou reportagem recente da revista Veja, onde foram listados pelo menos quatro mecanismos muito usados nos regimes autoritários para burlar a vigilância dos censores da internet.

Dona Iris e o prefeito Iris Rezende precisam aceitar a realidade dos fatos: a internet, e mais especificamente o Twitter, de que eles tanto reclamam, não são um “espaço para fuxico” ou um “artifício da imprensa”. Na verdade, são avanços que representam a maior conquista do homem, em todas as partes do planeta, no que diz respeito à liberdade de expressão. Sim, isso mesmo: liberdade de expressão.

Diante da internet – e do Twitter – só existe uma atitude a tomar, pelo menos entre as pessoas modernas e inteligentes: aderir e passar a integrar o processo, aproveitando a vantagem de poder expor suas opiniões a um público muito, mas muito maior do que os comícios, os mutirões e até mesmo as páginas dos jornais. Mostrar o que ela, dona Iris, e o que ele, prefeito Iris, pensam e aproveitar para ouvir o que a sociedade pensa, criando uma interação sem limites e, portanto, valiosa para quem está na vida pública e precisa de informações para adotar decisões que vão afetar a vida das pessoas.

Todos os políticos goianos de expressão, a começar pelos senadores Marconi Perillo, Lúcia Vânia e Demóstenes Torres, participam do Twitter e movimentam seus perfis diariamente. Deputados federais, como Luiz Bittencourt, Leonardo Vilela, e Raquel Teixeira, e estaduais, como Thiago Peixoto, Jardel Sebba e Samuel Belchior, também entraram na onda do microblog. Um líder conservador convicto, como Ronaldo Caiado, tem uma página no Twitter com mais de seis mil seguidores e não deixa passar um só dia, inclusive feriados, sábados ou domingos, sem trocar e receber posts sobre todo tipo de assunto, inclusive amenidades.

Basta perguntar a qualquer um deles se eles consideram o Twitter um “espaço de fofoca” ou, como defende dona Iris, se acham que a ferramenta está sendo deturpada dos seus objetivos originais e servindo de instrumento para a troca de ataque entre os twitteiros. Não, eles estão na internet da mesma maneira que usam celular, andam de carro, viajam de avião e fazem, enfim, as coisas que são necessárias para que se insiram no mundo contemporâneo – e não se sintam, caso contrário, ainda imersos no tempo dos coronéis.

É de tal forma abrangente a aceitação do Twitter que podemos encontrar ali no mínimo 95% das personalidades que têm importância ou relevância em Goiás e no Brasil: senadores e deputados, vereadores, prefeitos, jornalistas, artistas, empresários, instituições, juventude e assim por diante. É o caso, por exemplo, do governador paulista José Serra, que não só compartilha o seu perfil no Twitter com mais de 155 mil seguidores, como liberou o acesso às redes sociais em todos os organismos do governo de São Paulo.

Estão todos lá no Twitter, conversando sobre livros, cinema e música, debatendo assuntos sérios, trocando informações, analisando fatos, falando, falando, falando e, sobretudo, ouvindo, ouvindo, ouvindo, de uma forma tão democrática que jamais foi sequer sonhada antes e tem de ser preservada como uma das provas da evolução intelectual do homem.

Dona Iris, entretanto, não quer aceitar essa realidade. Corajosamente (porque é preciso coragem para mostrar publicamente desconhecimento sobre um tema tão moderno quanto a internet), ela acha que é preciso “discutir para onde vai o Twitter”. E afirma mais ainda: “É necessário que exista uma legislação específica para que as redes sociais não virem território de aproveitadores e mal-intencionados.”

Com esse mesmo argumento, aliás, a ditadura militar censurou revistas e jornais, proibiu a publicação de livros, prendeu jornalistas e cassou políticos detentores de mandatos populares – inclusive, o próprio Iris Rezende. Esse passado obscurantista de triste memória foi enterrado e ninguém quer vê-lo ressuscitado.

Com o seu artigo repleto de frases equivocadas como essas que citei no parágrafo anterior, dona Iris –  e, de tabela, o prefeito Iris – apenas deixa claro que não entendeu o novo processo de comunicação que tomou conta do mundo, em que a opinião não é mais produzida por poucos e consumida por muitos, porém compartilhada por esses “muitos” – quebrando o monopólio dos “poucos”. Isso é progresso, isso é modernidade. E combater essa nova realidade é simplesmente defender o atraso.

Luiz Faleiro é gestor municipal, graduado em Administração e MBA em Marketing pela Uni-Anhanguera

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