terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Dengue avança

O Popular

Cidades

Inteligente, ‘Aedes aegypti’ avança
Dengue cresce por questões culturais da população e capacidade de adaptação do mosquito transmissor

Carla Borges

A inteligência e a capacidade de adaptação do mosquito Aedes aegypti estão entre os principais desafios de autoridades de saúde e de pesquisadores para conter a explosão de casos de dengue – as notificações em janeiro deste ano foram 502% superiores às de janeiro de 2009. O mosquito tem sido encontrado em situações há pouco tempo consideradas inóspitas, como bandejas de ar-condicionado, ralos e vasos sanitários. Por outro lado, ele também tem evitado locais tradicionais, em que o combate é intenso, como pneus e latas.

“O mosquito tem migrado para locais desconhecidos, como ralos de banheiros e cozinhas”, constata a doutora em epidemiologia Nazareth Elias Silva Nascimento, professora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Goiás (UFG). “Ele é mais inteligente do que os meios propostos para combatê-lo”, diz.

Durante as ações realizadas pelos agentes de endemias da Secretaria de Saúde de Goiânia, foram encontrados muitos focos em vasos sanitários de imóveis fechados para aluguel. A recomendação da doutora da UFG é que a descarga seja acionada todos os dias, mesmo quando não há uso.

Nas casas ocupadas, é preciso colocar água sanitária nos ralos. Ainda assim, o mosquito deu mais uma comprovação de adaptação: a água sanitária não mata os ovos, apenas as larvas.

Outra prova da capacidade de adaptação do vetor é a transmissão vertical do vírus. Em vez do ciclo tradicional em que o mosquito adulto sadio pica uma pessoa doente, contrai a dengue e a transmite, o vírus já está sendo transmitido para os ovos. “Tudo isso reduz o período de transmissão e faz com que o vírus atinja mais pessoas”, ressalta Nazareth Elias. Esse novo comportamento do Aedes pede mudanças também na postura da população frente à doença.

Para eliminar o mosquito adulto (que transmite a dengue), as secretarias de Saúde do Estado, de Goiânia e de Aparecida de Goiânia iniciaram ontem a intensificação de emergência da aplicação de inseticida de ultrabaixo volume (UVB). Só em Goiânia – onde, em 18 dias, todas as ruas da cidade devem receber quatro aplicações do fumacê – serão usados cerca de 20 mil litros do inseticida malation, o mesmo que era usado na década de 90 e agora voltou a ser adotado pelo Ministério da Saúde (MS), depois que testes comprovaram a eficácia do produto contra o Aedes.

Além de Goiânia e Aparecida de Goiânia, onde as medidas de prevenção à dengue e combate ao mosquito Aedes aegypti foram intensificadas, outros dez municípios que concentram o maior número de casos terão ações semelhantes. Juntos, os 12 municípios respondem por 72,44% das notificações, ou 11 mil dos 15,2 mil casos registrados em janeiro. A Secretaria Estadual de Saúde (SES) pode remanejar parte dos 40 veículos para aplicação de fumacê para atender esses municípios.

A gerente de Vigilância Epidemiológica da SES, Magna Maria de Carvalho, espera ainda esta semana se reunir com gestores de saúde dessas cidades para definir as estratégias que devem ser adotadas em cada local. Coordenador estadual de Controle de Vetores da SES, Jamilton de Freitas Pimenta explica que o inseticida usado no combate ao mosquito Aedes aegypti pelo Ministério da Saúde foi trocado no fim do ano passado.

Saiu o piretroide deltametrina e voltou o malation, já que o Aedes estava apresentando resistência à deltametrina. O malation também já havia sido substituído porque o mosquito havia se tornado resistente a ele anos atrás. Mas a eficiência foi retomada.


Fila para tratar dengue leva12h em Cais

Ricardo César

Pacientes com casos confirmados e sob suspeita de dengue que procuraram ontem o Centro de Atendimento Integrado de Saúde (Cais) do Jardim Novo Mundo, na Região Leste de Goiânia, tiveram de esperar por até 12 horas para serem atendidos por um clínico-geral. Muitas vezes desidratados e invariavelmente abatidos, os usuários tentavam apenas falar com um médico.

O POPULAR contou às 21h30 de ontem 70 pacientes, sentados ou em pé, na lotada e abafada sala de espera do posto de saúde. Havia bebês de colo, mulheres grávidas, idosos e até crianças aguardando por 7 horas, em média. Se não bastasse a espera na fila interminável, o Cais não tinha água para consumo dos pacientes, que disseram serem obrigados a usar uma torneira da área externa da unidade e as torneiras dos banheiros.

Num dos casos mais emblemáticos do caos causado pela epidemia de dengue em Goiânia, a grávida de oito meses T.M.S., de 16 anos, teve de esperar por 8 horas, na companhia de sua avó, Cleires da Silva, de 53 anos. Ela carregava uma pasta em que estava o resultado de um exame de sangue feito às 15 horas, em que se confirmava a queda no número de plaquetas – um dos principais sintomas da dengue.

Com sede, ela só bebeu o primeiro copo de água às 20 horas, desde que chegou no Cais, às 13h45. “Só queremos ver se ela pode tomar soro”, dizia a sua avó aos enfermeiros. Tainará foi atendida na presença da reportagem, por volta das 21h50, após uma saga pelo Cais.

Segundo os pacientes, apenas um médico atendeu durante a tarde e dois atendiam no sistema de emergência. A dona de casa Severina Maria da Conceição, de 65 anos, esperava desde as 8 horas sem ao menos ter passado pela triagem médica, que a mandaria realizar um exame de sangue.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), um terceiro médico foi remanejado de outro Cais, às 22 horas, para reforçar o atendimento da unidade. A falta de profissionais interessados em trabalhar na rede municipal, diz a secretaria, é um problema. A crescente demanda de pacientes com dengue soma-se às causas.

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