Cidades
Prefeitura negocia desapropriação de casas no Mutirama
No total, 42 imóveis devem ser desocupados ao longo das avenidas araguaia e contorno, para reforma e interligação do parque com o bosque do botafogo
Malu Longo
A Prefeitura de Goiânia começa a negociar a desapropriação de 42 imóveis localizados nas margens do Parque Mutirama e do Bosque do Botafogo. O conjunto, com alguns imóveis com mais de meio século, tem valor médio de mercado de mais de R$ 70 milhões, e abriga cerca de 200 moradores.
O projeto do município é construir, na área, um estacionamento que vai servir à integração entre o Mutirama e o o bosque. Assinado no dia 29 de dezembro de 2009 e publicado no Diário Oficial do Município no dia 04 de janeiro deste ano, o Decreto 4313 desapropria todos os imóveis existentes nas quadras 100-A e 104-A, na confluência das Avenidas Araguaia e Contorno, e da quadra D, da Rua CD, no Setor Central.
Os moradores dizem que só tomaram conhecimento do decreto um mês depois de sua publicação. Na quinta-feira, um deles recebeu a notificação para comparecer à Agência Municipal de Obras (Amob) afim de negociar o valor do imóvel. “É um absurdo o que está acontecendo”, afirma o aposentado Osvaldo França, 70 anos. “Eles não estão tratando apenas de casas, isso aqui é uma comunidade, onde todos se conhecem. Não estão preocupados com os nossos valores e raízes. Vamos nos dispersar e o passado morreu?”, questiona a funcionária pública Angélica França, de 42 anos.
Art déco
Angélica vive na Rua CD desde o nascimento. Hoje, seu pai, Luiz Carlos França, 78 anos, portador de Alzheimer e fibromialgia, padece numa cama. Das 13 casas que deverão ser derrubadas na Rua CD, nove possuem idosos. Nesse grupo encontra-se a professora aposentada Ana Paula Teixeira, irmã do ex-prefeito de Goiânia, João de Paula Teixeira Filho, o Parateca. Com quase 100 anos, Ana Paula está magérrima e mal reconhece os vizinhos.
Muitos imóveis ainda guardam resquícios da arquitetura original, inspirada no estilo art déco. As casas que podem ser demolidas remontam ao início dos anos 40 quando o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários (IAPC) construiu um dos primeiros conjuntos residenciais de Goiânia.
A maioria das casas tem quintal com árvores frutíferas. Uma comissão foi formada e um abaixo-assinado começa a percorrer a vizinhança. A funcionária pública Rosanita Fernandes Moraes Silveira buscou a Amob para tentar descobrir o que pretendem fazer com a área onde todos viveram desde que nasceram. “Querem construir um viaduto aqui e urbanizar toda essa região”, diz.
Na Avenida Contorno, ao lado da Academia Músculo e Poder, que também entrou no decreto, mora e trabalha a cirurgiã-dentista Lidia Pires Barbosa. Sozinha, ela cuida da mãe Nair Barbosa, de 83 anos, que sofre de Alzheimer, e de um irmão de 55 anos, deficiente mental. “Só posso trabalhar porque meu consultório é aqui, ao lado deles”. Outros imóveis que também estão na lista para desaparecer são o Instituto Araguaia, desativado desde a morte de seu fundador Múcio de Melo, e o Centro Espírita Luz e Vida, que funciona desde 1951, ambos na Avenida do Contorno.
Isso é inadmissível. Preocupados em tocar obras milionárias e se favorecem de grandes contratos, se esquecem do patrimônio histórico e do passado de riquezas que representa cada uma das vidas ali residentes.
ResponderExcluirNeste país o que realmente vale são os interesses "públicos" da política.
Por quê não investe no Aeroporto de Goiânia (famoso por ser um caco), ou até mesmo nas cercanias do centro, onde o poder municipal vem relegando ações mais concretas pra cohibir o tráfico e segurança dos seus moradores.
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