quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

DM: História!

Diário da Manhã

Cidades

Wellinton Carlos

Cinco de Março, DNA do Diário da Manhã
Jornal que deu origem ao DM lutou contra a ditadura, trouxe pela 1ª vez o prêmio Esso para Goiás e encarou governos
11/02/2010

O jornal Diário da Manhã, que celebra 30 anos no dia 12 de março, não começou sua história na década de 1980. Suas raízes foram plantadas em 1959, quando o semanário Cinco de Março foi às bancas pela primeira vez. Influenciados pelo jornal Binômio, de Belo Horizonte, de 1952, o jornalista Batista Custódio e a advogada Consuelo Nasser lançariam um impresso que não tinha medo de denunciar. O Cinco de Março seria a principal influência do Diário da Manhã, mais adequado aos novos tempos, mas ainda devedor das conquistas do extinto e combativo semanário.

Devido a um ato de repressão ao movimento estudantil, no dia 5 de março de 1959, na Praça do Bandeirante, o projeto ganhou nome. Hoje, os exemplares do Cinco de Março estão microfilmados no Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central, no Setor Universitário. O material jornalístico virou documento. Conforme os historiadores que atuam no instituto, ele permanece como fonte rica de pesquisas e interesse público. Todas as semanas o jornal é lido como principal retrato de uma época.

O jornal em papel e as cópias de segurança estão lacrados na Pontifícia Universidade Católica (PUC-GO). É possível que qualquer cidadão tenha acesso às microfilmagens. O Cinco de Março influenciou o Diário da Manhã em diversas características, mas a forma independente de fazer jornalismo foi marcante.

O Cinco de Março sobrevivia basicamente com os serviços de gráfica e anúncios publicitários. Na década de 1960, chegou a vender 60 mil exemplares. Conforme o jornalista Walter Menezes, dirigente da Associação Goiana de Imprensa (AGI), a venda na porta do Café Central, às segundas-feiras, era um verdadeiro ritual. “Não dava para quem queria”.

Passaram pelas páginas do semanário jornalistas ilustres e profissionais de destaque em outros ramos, caso dos magistrados Marco Antônio da Silva Lemos e Castro Filho, este último acabou ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A principal característica do Cinco de Março era a rebeldia. A revolta se misturava com o humor. No final das contas, era um órgão de imprensa quase adolescente. Um dos jornalistas, Santa Cruz, era líder de estudantes secundaristas. Conforme a jornalista Consuelo Nasser, em depoimento ao programa “Nossa Gente Nossa Terra”, muitas pessoas temiam sofrer enfarte no dia em que o jornal circulava nas bancas.

O slogan “Os corruptos de Goiás têm o sono mais curto” quase sempre anunciava alguma reportagem ou artigo contudente contra agentes públicos. Uma ação recorrente do impresso era criticar as ações dos políticos. Uma das edições do impresso trouxe quatro páginas em branco com o seguinte texto: “Eis as obras de Otávio Lage”.

Conforme o deputado federal Pedro Wilson, o Cinco de Março foi um órgão de apoio aos estudantes e perseguidos no regime. “Em 1979, quatro meses antes do projeto da anistia, o jornal publicou a lista de quem foi cassado no Brasil”, recorda.

A qualidade dos trabalhos do Cinco de Março era elogiada pelos principais jornalistas e intelectuais do País. Em 1964, o impresso conquistou o Prêmio Esso de Jornalismo. “SPI: Flagelo de uma Civilização” rendeu a Roberto Gueudeville o prêmio de Cr$ 200 mil. Na reportagem, ele relata a operacionalização do Serviço de Proteção aos Índios, criado em 1910.

No final dos anos de 1970, com os novos ares da redemocratização, que demoraria ainda quase uma década, o Cinco de Março abriu espaço para o surgimento do Diário da Manhã. A diferença principal entre os dois era o formato standard e a regularidade diária. A maioria dos profissionais que passaram pelas páginas do Cinco de Março acabou migrando para o Diário da Manhã, que trilhou uma história de inovações nos seus trinta anos de existência.

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