segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Popular

Política

Cileide Alves

Política, intrigas e videotape

“Um clima de insegurança cerca mais uma vez os governistas. E em momento em que o governo precisava emitir sinais seguros de que é parceiro à altura para a eleição.”

O futuro do grupo político do governador Alcides Rodrigues viveu um momento de grande incerteza e de insegurança em outubro, quando o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, filiou-se ao PMDB contrariando expectativa de que seria o candidato a governador pelo PP. Ao ficar sem opção eleitoral competitiva, o grupo viu-se diante de grande dificuldade para conter os aliados interessados em apoiar a pré-candidatura do senador Marconi Perillo (PSDB) para o governo. Surgiu então a iniciativa de construção de uma frente partidária com DEM, PR e PSB para lançar uma chapa em condições eleitorais de não fazer feio na disputa deste ano.

O rumoroso vídeo em que a filha do secretário Jorcelino Braga (Fazenda), Anniela Braga, aparece recebendo dinheiro para supostamente ajudar a liberar recursos públicos para a entidade Renascer da Fé, revelado quarta-feira, novamente pegou o governo no contrapé. Mesmo que fique provado posteriormente que tudo não passou de uma iniciativa isolada da menina, com quem o secretário não mantém relacionamento próximo, segundo revelou em seu depoimento ao Ministério Público em 22 de janeiro, o fato já provocou arranhões no grupo político palaciano.

Assim como ocorreu há quatro meses, um clima de insegurança e de incerteza quanto ao futuro cerca mais uma vez os governistas. E, pior, em um momento em que o governo precisava emitir sinais seguros a prováveis aliados de que é um parceiro à altura para enfrentar o difícil embate eleitoral deste ano. Sem esses sinais, há o risco de dispersão. Portanto, independentemente do resultado das investigações, o governo sofreu um golpe.

O DEM já tinha muitas dúvidas sobre o futuro da articulação da frente partidária. O presidente regional, deputado federal Ronaldo Caiado, tinha pedido várias vezes uma ação mais contundente do governador em prol dessa articulação. Caiado não quer entrar numa aventura política, numa chapa kamikaze com único objetivo eleitoral de derrotar Marconi, o adversário comum dos partidos que almejam construir essa chapa.

Essa ação articulada não ocorreu. Agora, depois da divulgação do vídeo, o deputado voltou a defender a construção da frente partidária, criticou a política de “ressentimento e ódio”, mas deu um recado: seu partido não tolera corrupção. Paralelamente emitiu outro sinal político relevante ao se encontrar com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). O seu DEM já garantiu presença na chapa presidencial tucana deste ano e esse encontro acende as esperanças dos democratas goianos pró-Marconi, que defendem, diferentemente de Caiado, a repetição da aliança nacional também em Goiás. O caso Anniela dá força à ala marconista.

Os interesses no PR estão ainda mais difusos do que no DEM. Há no partido quem defenda aliança como o PSDB, os que preferem ficar com o PMDB, além daqueles que não veem inconvenientes na aliança com o Palácio das Esmeraldas. Se o governo não conseguir construir a frente partidária, o PR terá mais facilidades que os colegas democratas de tomar outro caminho, pois tem a alternativa peemedebista, opção que os democratas não dispõem.

O PSDB, portanto, é o principal beneficiado com esse risco de dispersão na base governista provocado pelo caso Anniela. Pode tanto conquistar a adesão do disputado DEM, assim como retirar oxigênio do governo para lançamento de uma chapa que disputaria votos na mesma base eleitoral de Marconi. Esse é o viés político do caso envolvendo a filha do secretário. Na semana passada, os tucanos quase não se contiveram. Chegaram a anunciar a realização de uma reunião para quinta-feira com o intuito de comentar o caso. Frearam a iniciativa temendo as interpretações de seu apressado gesto. Afinal o governo tem repetido diariamente que o caso trata-se de armação política. A euforia, então, foi contida.

Quando chegar a Goiânia sexta-feira, para uma visita que vai começar às 9 horas e se estenderá até as 17 horas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai encontrar esse quadro político no Estado: o governo desnorteado, o PSDB cheio de gás e o PMDB se debatendo internamente para definir se Meirelles ou o prefeito Iris Rezende será o candidato a governador. A última visita de Lula ao Estado, em agosto, mexeu muito com o quadro político local. Na época ele desequilibrou a balança a favor de Meirelles na disputa pela vaga de candidato a governador de sua base no Estado, em detrimento do desejo de Iris de encabeçar a chapa. Na semana passada, Lula pediu para incluir um espaço para o prefeito em sua agenda e aceitou a sugestão de Iris de inaugurar uma escola municipal no Jardim do Cerrado.

Lula quer trocar idéias com o prefeito uma semana depois de conversar reservadamente com Meirelles em Brasília. Emitiu, portanto, um sinal de que dessa vez Iris não passará batido em sua visita. Assim como em agosto, poderá dar um novo ritmo para sua base em Goiás.

Em outras palavras, ele poderá demonstrar sua preferência entre Meirelles e Iris para liderar a chapa peemedebista em Goiás e ainda sua opinião se sua base deve lançar dois candidatos a governador, puxados pelo PMDB e pelo PP, ou fazer um esforço para a construção de única chapa, reunindo PP, PMDB, PR, PT e PSB num único palanque. Depois da desorientação entre governistas, que repercutiu entre os peemedebistas, provocada pelo caso da filha do secretário na semana passada, Lula poderá criar novos fatos políticos para o já quente quadro eleitoral do Estado.

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