Edilson Pelikano/Jornal Opção
ENTREVISTA
LEONARDO VILELA
“Falta sintonia na 3ª via”
Presidente regional do PSDB afirma que bases no interior não comungam o pensamento dos líderes do PP, que insistem em não coligar com tucanos para a eleição de outubro
Como praticamente está definido que o candidato do PMDB para o governo vai ser o prefeito Iris Rezende, e não Henrique Meirelles, a polarização político-eleitoral em Goiás ganha mais força ainda, com a disputa entre Iris e Marconi Perillo, do PSDB. A avaliação é do deputado federal Leonardo Vilela, ao analisar o quadro sucessório em Goiás. Leonardo não acredita que o PP de Alcides Rodrigues tenha força para quebrar a polarização Iris versus Marconi impondo de forma competitiva a chamada terceira via.
O presidente regional do PSDB diz que seu partido tem compromisso com a eleição de Alcides e não revela se o partido romperá com o governo se se confirmar a demissão em massa de tucanos remanescentes na administração estadual. “O PSDB tem hoje poucos filiados no governo. A grande maioria já saiu. O que existem são pessoas simpáticas ao PSDB, que apoiaram Marconi e Alcides, e que agora, de uma forma ou de outra, estão sendo perseguidas”, afirma.
Leonardo Vilela diz lamentar o quadro de intriga que o PP criou com o PSDB e lembra que o governador, em determinado momento, falou que não seria ele o coveiro do Tempo Novo. O presidente tucano reafirma a disposição de seu partido com a candidatura de Marconi Perillo: “Vamos apresentar um projeto ainda mais ousado, ainda mais criativo do que aquele de 1998 e de 2002, que foram governos que fizeram verdadeira revolução no Estado. Marconi olhou para frente, não ficou reclamando que pegou governo quebrado, com obras todas paralisadas, com Cachoeira Dourada vendida, com Celg pagando energia muito mais cara que a energia do mercado, com folhas atrasadas e o Estado sucateado. Marconi arregaçou as mangas e trabalhou.”
O deputado também avalia o quadro nacional, e aposta que imagem falsa que estão construindo para a ministra Dilma Rousseff vai cair.
Danin Júnior — O que aconteceu com a chamada base aliada? A união dos partidos que possibilitou a vitória em três eleições acabou mesmo?
Vejo que os líderes nos municípios, nos bairros de Goiânia, que sempre apoiaram Marconi em 1998, 2002, e apoiaram Alcides em 2006, continuam querendo união, marchar com um único candidato, acreditam que o melhor candidato que nós temos é o senador Marconi Perillo. Agora, vemos que existem algumas pessoas, alguns líderes do PP, que já declararam que não apóiam Marconi, que não se coligam com o PSDB. Nós respeitamos essa posição, mas não é aquilo que nós sentimos com as lideranças no interior, nas bases, e muito menos com o eleitor.
Sarah Mohn — O sr. acredita que nas convenções partidárias as bases desses partidos podem se opor ao lançamento de candidatura própria que não seja a do senador Marconi?
Acredito em tudo. Depois que vi Lula chamando Sarney de ladrão e depois dizendo que ele, Sarney, está acima das pessoas e o defendendo de um impeachment, eu acredito em qualquer coisa na política. Mas o PSDB vai trabalhar até dia 30 de junho, até o último dia das convenções para ter o maior leque possível de alianças, o maior número possível de lideranças na sua coligação.
Danin Júnior — Por que houve essa ruptura do PP?
Não tenho a mínima ideia. Não sei se seria a ganância pelo poder. Não sei.
Cezar Santos — A polarização eleitoal histórica pode ser rompida em Goiás?
Como praticamente está definido que o candidato do PMDB vai ser o prefeito Iris Rezende, e não o presidente do Banco Central (Henrique Meirelles), vejo que a polarização ganha mais força ainda. Essa polarização é reflexo do bipartidarismo que houve em Goiás, e no Brasil, durante muitos anos. Há 50 anos, com UDN e PSD, com Arena e MDB, com PDS e PMDB. O PSDB e os partidos aliados têm capilaridade em todos os municípios, em qualquer lugar. Como também há os partidários do PMDB e do prefeito Iris. Outros partidos, no entanto, não têm essa capilaridade. As últimas eleições foram pródigas em mostrar isso. O senador Demóstenes Torres (DEM) saiu como candidato a governador sem o apoio dessa militância, começou a eleição com 16% de intenção de voto e terminou com 3%. Teve menos voto que metade dos deputados federais de Goiás. Isso mostra que eleição majoritária depende de um exército de apoiadores e de um líder para defender bandeiras que vão aglutinar lideranças no Estado inteiro. Hoje, em Goiás, faltando quatro meses para começar a campanha, não vejo condições de uma terceira via viável. Tanto é que a ela continua parada. E vou falar uma coisa sobre essa terceira via, com todo respeito aos integrantes dos partidos que a compõem. Alguém do partido do governador me disse esses dias que o preocupante na terceira via é que não existe sintonia de pensamento. O DEM fala que caminha com a terceira via se o Caiado for candidato a governador e se não subir no palanque da Dilma, de forma alguma no palanque do PT. O PR diz que só vai se Sandro Mabel ou Ademir Menezes for candidato a governador e se Ademir assumir o governo até o final do mandato. O PP fala que Alcides vai ficar no governo até o último dia do mandato e coloca que apoia se o candidato for o secretário da Fazenda (Jorcelino Braga) ou o de Segurança Pública (Ernesto Roller). Então, todos os partidos têm condicionantes que chegam a ser antagônicos. Quando não se tem projeto claro, um candidato com densidade eleitoral e quando pairam todas essas dúvidas, nós questionamos.
Cezar Santos — Quando Henrique Meirelles deixou do PP do governador falando sozinho, essa terceira via perdeu condições políticas efetivas para se afirmar?
Sinceramente, tenho dúvidas se Henrique Meirelles conseguiria aglutinar todos esses partidos e lideranças tão diferentes. Como não acredito que Meirelles conseguiria romper essa polarização histórica.
Cezar Santos — É fato que o PSDB ainda tem muita gente ocupando cargos no governo. Parece que começou uma demissão em massa de tucanos a partir de agora. O PSDB vai firmar posição?
O PSDB foi fundamental para a eleição do doutor Alcides. O próprio governador reconheceu isso muitas vezes. Na festa da vitória, quando saiu na sacada do Palácio das Esmeraldas e ergueu o braço de Marconi Perillo. Depois, em outubro de 2007, quando tomei posse na presidência do PSDB. Alcides disse a todos que estavam lá, e isso foi divulgado por toda a imprensa: “O PSDB foi fundamental para minha eleição”. O PSDB foi o primeiro partido que declarou apoio ao nome de Alcides. Muito depois vieram outros partidos. O PSB e o DEM, que hoje estão com Alcides, lançaram candidatos próprios. Então, estou falando tudo isso porque as pessoas, 100% do PSDB, abraçaram a campanha de Alcides e foram fundamentais para a eleição. As pessoas que estão no governo são muito pouco ligadas ao PSDB, que tem hoje poucos filiados no governo. A grande maioria já saiu. O que existem são pessoas simpáticas ao PSDB, que apoiaram Marconi e Alcides, e que agora, de uma forma ou de outra, estão sendo perseguidas. O PSDB não tem nenhuma influência neste governo. Os cargos importantes há muito tempo foram indicados pelo governador para o PP ou para partidos aliados, inclusive neoaliados. Na verdade, o PSDB não participa das decisões do governo há muito tempo. As pessoas que ainda estão lá não foram indicadas pelo PSDB, estão lá porque foram fundamentais para a eleição de Alcides. Existem adesistas dentro do governo, e com certeza o PSDB não é adesista. Agora, nomear e demitir são prerrogativas do governador. O PSDB sente, porque são pessoas competentes, que trabalham muito e que foram companheiros de primeira hora. Mas que estão sendo sacrificados para adesistas de última hora. Paciência.
Cezar Santos — Por uma ou duas oportunidades o PSDB chegou a se reunir para decidir um rompimento formal com o governo. Vindo essa demissão em massa o senhor acredita que haverá esse rompimento?
Temos uma responsabilidade muito grande com Goiás. Fomos fundamentais para a eleição de Alcides. Qual foi o programa de governo de Alcides? Continuar, melhorar, ampliar os programas do governo Marconi Perillo. Então, o PSDB foi fiel, apoiou Alcides, porque tinha esse compromisso de Alcides em dar continuidade. Essa questão de romper ou não romper é indiferente para nós. Vamos continuar com o mesmo compromisso, aquilo que foi bom para o Estado vai ter o apoio do PSDB. O que for ruim para a população, terá o posicionamento contrário do PSDB. E já provamos isso. Quando o governo quis reduzir os repasses para a UEG, nós nos manifestamos, e o governo recuou. Quando o governo estadual quis retirar o subsídio da passagem do Eixo Anhanguera, que beneficia milhares de pessoas todos os dias, o PSDB não aceitou e o governo recuou. Quando o governo quis rever os planos de cargos e salários do funcionalismo público, o PSDB gritou e o governo recuou. São exemplos claros em que o PSDB mostrou independência e compromisso com o eleitor.
Sarah Mohn — Na semana passada, o site da revista “Carta Capital” mostrou reportagem sobre a obra inacabada do Centro Cultural Oscar Niemeyer, na qual o senador Marconi Perillo dizia claramente, com essas palavras, que o governador Alcides Rodrigues o traiu. Esse posicionamento era evitado e contornada pelo senador. Como o sr. avalia essa nova postura do senador Marconi?
Vejo com tristeza essa clima de beligerância que foi criado. Na época do governo Marconi todas as ações tiveram a participação do PP, que aplaudia, participava, defendia. Durante a campanha foi a mesma coisa, e depois, no governo, isso começou a mudar. Ninguém falava em déficit durante a campanha, ninguém falava em não apoiar o PSDB. Alcides usou um termo muito emblemático na época. Ele falou: “Eu não serei o coveiro do Tempo Novo”. Não tenho dúvida que o PSDB se sentiu estimulado com isso, e abraçou a campanha com essa convicção, com essa confiança. Fico triste quando vejo declarações do governador, do presidente do PP (Sérgio Caiado) dizendo que não vão apoiar o PSDB, que descartam apoiar o senador Marconi Perillo, e não apresentam motivos claros para essa posição. O mínimo que nós poderíamos esperar era a reciprocidade. Deixamos de ter candidato a governador em 2006 para apoiar o governador Alcides. Deixamos de ter candidato a prefeito de Goiânia para apoiar o candidato do PP (Sandes Júnior). Isso mostra que o PSDB abriu espaço para os aliados. O que vejo é que o sentimento das bases do PP é de reconhecimento e gratidão por tudo que foi feito, pelo apoio prestado ao PP. Além dessas pessoas reconhecerem que Marconi é o melhor candidato, elas têm o sentimento de gratidão. Muitas pessoas acham difícil não apoiar Marconi.
Danin Júnior — E essa questão do déficit? De o governo dizer que o PSDB deixou o Estado em crise financeira.
O PSDB deixou a folha de pagamento de funcionários em dia, o décimo terceiro pago, deixou o Estado num canteiro de obras. Foi um governo que fez o Estado crescer três vezes mais que o restante do Brasil, deu um salto de desenvolvimento. Melhorou todos os indicadores sociais.Tanto é que Marconi foi eleito o senador mais votado do Brasil, com mais de 2 milhões de votos.
Sarah Mohn — Mas o déficit existiu ou não?
Nós questionamos o seguinte: Alcides assumiu em abril de 2006 e até maio de 2007, o secretário da Fazenda, Oton Nascimento, nunca tinha falado em déficit. Sempre falou que as finanças estavam bem, é só pegar os jornais da época. O déficit só começou a ser falado quando o secretário Braga assumiu a pasta, em meados de 2007. Em 2008, quando continuava essa história de déficit, Oton Nascimento, então secretário de Planejamento, disse numa audiência pública na Assembleia, que o governo do Estado tinha investido R$ 250 milhões de reais de recursos do Tesouro. Então, ele foi inquirido pelo deputado Daniel Goulart, que disse “espera aí, se o Estado tem um déficit mensal de R$ 100 milhões, como pode investir 250 milhões de recursos próprios?” Já começa uma incoerência. O secretário da Fazenda respondeu, mas não explicou, e logo depois o governador mandou sua equipe parar de falar sobre isso.
É muito estranha essa conversa toda de déficit. Tanto é que o PSDB quer na Assembleia a CPI do Déficit, exatamente para provar como foi esse déficit, de onde veio, quais foram os déficits de governos anteriores. Ate porque no mês que vem, Alcides completa quatro anos de governo. E venhamos e convenhamos, quatro anos é tempo suficiente para se ter resolvido a questão da Celg, que nestes quatro anos teve a situação deteriorada bastante. Critica-se muito os governos anteriores, não estou querendo eximir ninguém de culpa não, acho que a culpa maior foi do PMBD mesmo, o relatório da Fipe mostrou isso claramente. Creio que houve erros também no governo Marconi, agora porque até hoje o governo Alcides não resolveu definitivamente a situação da Celg?
Danin Júnior — O secretário da Fazenda assumiu com poderes extraordinários e chegou a ser cogitado como pré-candidato ao governo. O sr. acha que essa denúncia de corrupção e favorecimento envolvendo a filha dele atrapalha as pretensões eleitorais do secretário?
É difícil avaliar. Na administração Marconi, um dos pontos forte foi a descentralização do governo, a autonomia que cada membro do governo tinha para fazer seus projetos, claro que sob uma orientação única. E na época do governo Marconi era ele quem reunia o secretariado e dava as diretrizes fundamentais. Acho que vai contra os princípios modernos de administração pública centralizar todas as funções apenas numa pessoa. Isso aumenta a burocracia, atrasa as decisões, enfim, desestimula os próprios secretários. Se eu fosse governador não faria isso. E não vejo outros governadores bem sucedidos trabalhando assim. Agora, em relação a essa denúncia e às pretensões políticas do secretário, não poderia avaliar isso, está no âmbito do PP.
Sarah Mohn — Esse caso indica que essa será a campanha mais tensa da história de Goiás?
Acho que a sociedade repudia baixaria, ataque pessoal, denuncismo. O PSDB não faz nenhum tipo de denuncismo. Não foi o PSDB que fez com que a filha do secretário recebesse propina. Não foi PSDB que liberou recursos públicos para uma ONG. Não foi o PSDB que mandou o presidente da Celg visitar essa ONG, nem o PSDB que fez o secretário da Fazenda receber a presidente dessa ONG, nem foi o PSDB que vinculou isso na imprensa goiana e nacional. Então, algumas pessoas fizeram ilações sem nos citar, porque se citassem o partido ou membros seriam processadas judicialmente, por que cabe ao acusador o ônus da prova. Por que ninguém apresentou até hoje provas de que o PSDB fez acusações? O PSDB não tem influência sobre isso, não tem influência na Celg, na Secretaria de Saúde, na Secretaria da Fazenda. Isso tem que ser investigado. Acho que não é um caso de política, mas um caso de polícia, de Ministério Público, e a Justiça vai se manifestar.
Danin Júnior — Desde o final da última eleição o PSDB vem falando que o senador Marconi é pré-candidato ao governo, é o nome mais gabaritado do partido e da base. Mas é uma candidatura baseada no prestígio, na popularidade do senador. O que representa o terceiro governo do Marconi? Qual seria o projeto do PSDB e do senador que justificaria esse terceiro mandato?
Vamos apresentar um projeto ainda mais ousado, ainda mais criativo do que aquele de 1998 e de 2002, que foram governos que fizeram verdadeira revolução no Estado. Sobretudo, trabalhando a autoestima do goiano, que viu o Estado ser destaque em nível nacional. Marconi olhou para frente, não ficou reclamando do passado, que pegou um governo quebrado, com as obras todas paralisadas, com Cachoeira Dourada vendida, com Celg pagando energia muito mais cara que a energia do mercado, com folhas atrasadas e o Estado sucateado. Marconi arregaçou as mangas e trabalhou. Foi ouvir a sociedade, as entidades representativas de classe, puxou essas pessoas para trabalhar no seu governo. O fato é que as políticas implantadas nessa época deram um salto. O grande mote para o terceiro governo do Marconi é fazer Goiás voltar a olhar para frente, voltar a crescer, a ser referência positiva no País, é o goiano sentir orgulho do seu Estado, e não apenas a gente ficar olhando para trás. Não é isso que as pessoas querem, elas querem respostas imediatas, saúde de qualidade, hospital público com médico, remédio, sala de aula com professor qualificado, instalações boas, programas sociais que realmente beneficiem a população mais carente. Enfim, tudo isso foi base do governo Marconi. O PSDB tem uma contribuição muito grande para dar ainda ao Estado. É essa a nossa bandeira, o nosso foco na campanha eleitoral, é esse o nosso rumo.
“O PT deixou suas bandeiras de esquerda”
Danin Júnior — Na esteira dos 30 anos do PT analisa-se que o governo Lula ajudou o partido a vencer certos preconceitos. O PT mudou com a eleição de Lula?
Até a primeira eleição de Lula, em 2002, o PT tinha bandeiras claras de uma esquerda anacrônica, que hoje só existe em Cuba, na Venezuela. O PT passou então a defender outras bandeiras, comuns ao PSDB, ao DEM, ao PMDB e a outros partidos de centro e de centro-esquerda. Coisas que eles criticavam antes, como a economia, se o PT tivesse implantado aquilo que eles defendiam antes de Lula ser eleito, o PT teria sido derrotado. Por outro lado o PT se tornou um partido pragmático até demais, vide o episódio do mensalão, em que o PT teve que comprar apoio do Congresso Nacional, fez alianças com o objetivo único de reeleger o presidente. Hoje o PT faz alianças com qualquer partido, independentemente de ideologia, de postura. Então houve uma mudança muito grande no PT, que perdeu as suas bandeiras e até perdeu eleitores de 2002 para 2006. O PT elegeu 91 deputados federais em 2002, se não me engano, e 82 deputados em 2006. Acredito que o PT hoje é um partido igual à grande maioria dos outros partidos brasileiros.
Danin Júnior — Com esse novo programa do PT, o partido e o PSDB têm mais características de aproximação do que com outros partidos, como o PMDB e o próprio Democratas. Chegará o momento em que PT e PSDB vão se olhar e falar ´nossa, estamos mais próximos do que antigos parceiros?
Acredito que podemos sim ter áreas de aproximação. Por exemplo, na condução da política econômica, apesar de termos algumas críticas, o PT manteve as bases do que foi implantado pelo PSDB, os fundamentos da política econômica foram mantidos. O que causa estresse é quando vimos Lula chamando Sarney de ladrão, quando vimos Lula liderando o processo de impeachment contra Collor, depois o mesmo Lula e o mesmo PT defendendo tanto Collor quanto Sarney, inclusive livrando Sarney de perder a presidência do Senado e até de ser cassado. Lula dizendo que Sarney está cima dos cidadãos comuns. Isso para mim é uma subversão completa do que pensava o PT anos atrás. O PT de hoje está mais distante do PSDB do que já esteve há alguns anos.
Danin Júnior — No plano nacional, o PSDB tem conduzido de forma adequada o processo de disputa eleitoral para a Presidência da República?
Sem dúvida. O PSDB tem um pré-candidato, o governador de São Paulo, José Serra. O governador Aécio Neves (MG), que também tem todas as credenciais para pleitear a Presidência da República, optou por sair do processo, para disputar o Senado, e quem sabe a vice-Presidência. Acredito que a condução é correta até porque o PSDB segue a lei, não antecipa campanha eleitoral. O que vemos é uma utilização jamais vista da máquina do governo federal para exaltar e dar visibilidade à pré-candidata do PT à Presidência da República, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. E o que é pior ainda: o TSE fazendo vistas grossas. Nesse ponto eu concordo plenamente com o ministro Gilmar Mendes (STF), é um peso e duas medidas.
Cezar Santos — A pré-candidata está plenamente se beneficiando, mas o PSDB tem uma estratégia para contrapor a isso no momento certo?
Sim. Tudo tem um teto, um limite. Acredito muito no discernimento do povo brasileiro. Primeiro porque a ministra não é o presidente Lula. Como disse o ex-presidente Fernando Henrique, ela não é um líder, é reflexo de um líder. Se ela subiu nas pesquisas, é graças à visibilidade proporcionada pelo presidente da República. Ela nunca disputou eleição, nunca liderou processo político, sempre foi uma técnica, auxiliar de governos municipais, estaduais e, agora, do governo federal. Ela não tem sensibilidade política nem social. Eu a vejo como uma administradora que deixa muito a desejar, haja vista o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que tem um índice extremamente baixo de execução. O PAC é muito mais jogada de marketing do que plano estratégico, totalmente diferente do Avança Brasil, do Brasil em Ação, os dois planos estratégicos do governo Fernando Henrique que tinham eixos de desenvolvimento, estratégias de crescimento econômico, desenvolvimento social, que tinham objetivos de melhorar os indicadores econômicos e sociais. O que a gente vê é que o PAC é um apanhado de obras dispersas, sem conexão entre si, enfim, obras que já tinha sido iniciadas em governos anteriores, escolhidas ou por serem apelativas do ponto de vista eleitoral ou por contemplarem caciques políticos em determinadas regiões, mas sem planejamento que leve em conta o País como um todo.
Danin Júnior — É o pior dos mundos? A ministra Dilma não é política, portanto não tem sensibilidade social, é uma tecnocrata e é incompetente, pois não consegue colocar um orçamento em execução?
Com certeza, deixa muito a desejar. Os números mostram isso. O PAC tem um índice baixíssimo de execução. Com quatro anos de PAC, temos menos de um terço das obras concluídas. O desempenho do PAC é sofrível e a responsável pelo PAC é a ministra Dilma. Isso sem levar em consideração que o Brasil pegou uma fase, tirando a recessão mundial, extremamente benéfica da economia mundial, e poderia ter aproveitado essa chance para crescer muito mais, mas deixou passar essa oportunidade. Outra preocupação do PSDB é que o governo investe porcentual muito pequeno do PIB (Produto Interno Bruto), e nós temos uma carência enorme de infraestrutura. Os apagões elétricos que vemos, e haverá o apagão aeroportuário, o apagão de telecomunicações será o próximo a acontecer, apagão de portos, das rodovias. Os especialistas dizem que esses apagões estão acontecendo por falta de investimentos nas redes de transmissão elétrica. Enquanto isso, o governo aumenta violentamente os gastos com despesas com pessoal, contratando principalmente comissionados com salários altíssimos, gastando com viagens, com diárias, com coisas absolutamente desnecessárias.
Cezar Santos — Há o gasto com a chamada TV do Lula...
Sim, a TV Brasil, que tem traço de audiência. A última vez que vi estatística de audiência ela tinha 0,7% de audiência das 10 horas à meia-noite, índice extremamente baixo. E o governo gastou mais de R$ 1 bilhão para criar essa TV, dinheiro que poderia ter virado ferrovia, rodovias, aeroportos. Enfim, o governo gasta muito e gasta mal. É preocupante, porque o governo vive muito do marketing pessoal do presidente e as coisas que são importantes para o Brasil ter um desenvolvimento sustentável são deixadas para trás.
“Dilma não tem o carisma de Lula”
Sarah Mohn — O senhor falou em eleitores que o PT perdeu de 2002 para 2006. De 2006 para cá, percebe-se que muita gente, especialmente da classe média, não esconde que se arrependeu de votar em Lula em eleições passadas. Muita gente tem, inclusive, vergonha de dizer que votou em Lula. Para o PSDB é interessante focar no eleitorado da classe média?
Sem dúvida, o PSDB quer focar em todos os eleitorados, mas a classe média é sim eleitorado importante para o Brasil, importante do ponto de vista de opinião, de decisão, e merece toda a atenção do PSDB. Como também merecem os pobres, e é sempre bom lembrar, até porque Lula tenta se apropriar de todos os feitos do PSDB, que quem iniciou em nível federal os programas sociais foi o governo Fernando Henrique Cardoso, com dona Ruth Cardoso. E em Goiás tivemos exemplo pioneiro de Marconi Perillo, enquanto governador, que criou uma rede de proteção social que serviu de exemplo para outros Estados e, inclusive, para o governo federal, reconhecido pelo próprio Lula. Quando o Fome Zero fez água, virou fiasco, Lula veio se inspirar no Renda Cidadã, de Marconi, com cartão magnético e tudo, para implantá-lo.
Sarah Mohn — Mas o que o PSDB pretende fazer para se inserir no eleitorado de baixa renda, menos escolarizado, hoje um público tão fiel ao presidente Lula? E que, inclusive, é o maior eleitorado do Brasil?
Eu repito que Dilma não é Lula. Ela não tem nem de longe o carisma de Lula, a capacidade de comunicação, a simpatia, a facilidade de conversar com o povo que Lula tem. Isso é inegável. Pelo contrário, Dilma é uma pessoa que chega a ser grosseira no dia-a-dia com a imprensa, com políticos, imagine com a população de forma geral. Sabemos que ela está fazendo esforço enorme para tentar mudar essa imagem. Mas uma hora ou outra ela vai cair em contradição, como já aconteceu diversas vezes.
Danin Júnior — Mas José Serra também não é o maior modelo de simpatia que existe.
Mas Serra é um político testado nas urnas. Já foi deputado federal, senador, ministro, prefeito e governador de São Paulo, onde se elegeu uma aprovação enorme no primeiro turno. E São Paulo tem o maior eleitorado do Brasil, e também o maior contingente de classe média do País. O PSDB já provou em São Paulo e em Minas, os maiores colégios eleitorais do Brasil, que sabe conquistar todos os extratos da população. Exatamente isso que pretendemos estender para o Brasil.
Cezar Santos — Até um ano atrás Dilma era a pessoa mais carrancuda do Brasil e hoje é a mulher mais sorridente do País. O PSDB vai saber, a partir do momento em que for legalmente possível, desmontar essa imagem que estão querendo construir da Dilma?
É um falso sorriso. Tudo isso é artificial. É isso que eu digo, uma hora vai aparecer, não há como uma pessoa representar 24 horas por dia. Durante o debate, um comício, uma entrevista à imprensa isso vai aparecer e as pessoas vão ver quem é a verdadeira Dilma. Já tive a oportunidade de conversar com ela quando eu era secretário de Infraestrutura de Goiás e ela era ministra de Minas e Energia. Ela me tratou supergrosseiramente, eu, deputado federal licenciado. Ela foi extremamente grosseira, arrogante, prepotente. Então imagine com o eleitor comum.
Cezar Santos — Dilma seria um Ciro Gomes de saia? Na primeira provocada ela perde o controle?
Eu sou colega de Ciro na Câmara dos Deputados e tive boa convivência com ele, principalmente quando eu era 1º vice-líder da bancada do PSDB, em 2007. Ciro tem estopim curto, tem suas posições, mas é uma pessoa amável, boa de conversar, não posso reclamar de maneira alguma da minha interlocução com Ciro Gomes, sempre de alto nível e interessante. E nas conversas que tive com ele, ele mostrou toda sua aversão ao PT, à orientação do partido, a suas figuras. Ciro sempre deixou muito clara sua aversão ao PT. Nunca demonstrou nenhuma simpatia.
Danin Júnior — Há quem diz que um eventual governo Dilma seria muito menos conciliador do que o governo Lula, o que seria um retrocesso muito grande. Sabe-se que o País avançou, a economia e a credibilidade internacional do País avançaram, justamente por seguir um modelo econômico que o PT seguiu. O PSDB vai conseguir explicar ao eleitor que Dilma pode encabeçar um retrocesso grande de estatização para o País?
Não tenho dúvida que a Dilma seria um retrocesso enorme para o País, em todas as áreas. Lula, pragmático como é, não teve coragem de reestatizar nada. Ele critica ações feitas pelo Fernando Henrique, mas ao contrário de Hugo Chávez, que estatizou na Venezuela, Lula não teve coragem de estatizar, porque não quis colocar o sucesso de seu governo em risco. Ele teve oito anos para isso. Não fez porque não quis, mesmo com essa ampla maioria que tem no Congresso e com essa ampla popularidade. Já Dilma claramente fala em estatização.
Cezar Santos — O plano de direitos humanos mostra essa veia estatizante do PT?
O 3º Plano Nacional de Direitos Humanos foi feito não só pelo ministro Paulo Vannuchi (da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República), foi feito dentro da Casa Civil. Vannuchi e Dilma foram colegas de armas, de guerrilha, e têm pensamentos muito semelhantes. Causa espécie ao ver sob um título, que a princípio todos têm que apoiar, de respeito, de desenvolvimento ao aprimoramento dos direitos humanos, mas com posições extremamente retrógradas, autoritárias, anacrônicas, como por exemplo, interferindo na liberdade de imprensa, impondo censura aos meios de comunicação, censura velada, que se começar não sabemos aonde vai acabar.
Ao passar por cima da Justiça e não deixar que o Judiciário dê liminar de reintegração de posse, cláusula pétrea da Constituição, de direito e propriedade, instituindo audiências públicas de reintegração, dando mais tempo para invasores destruir bens e propriedades dos proprietários e de seus funcionários, ou seja, subverte toda a lei do País. Outra questão que a sociedade já mostrou é que é contra o aborto, mas o plano da Dilma e do Vannuchi insiste em descriminalizar o aborto. Enfim, isso mostra o que pode vir com a Dilma presidente. Esse Plano de Direitos Humanos mostra como seria o programa de governo, como seriam algumas bandeiras que a Dilma defenderia. Ela seria um retrocesso econômico, social, da democracia do País. Veja o que está acontecendo com a Venezuela de Chávez, que regrediu 50 anos, mesmo com toda a riqueza de petróleo que o País tem. Veja a Bolívia de Evo Morales. Cuba, de Fidel Castro. Tudo isso nos causa uma grande preocupação.
Danin Júnior — E como transmitir isso para a população?
Primeiro, nós teremos tempo de televisão. Vamos ter durante o período de campanha horário gratuito na televisão e no rádio para mostrar isso aos eleitores. Teremos debates nos grandes meios de comunicação. Teremos comícios.
Cezar Santos — A alta popularidade de Lula pode ser transferida para Dilma?
Acreditamos no tirocínio do eleitor. Em 2008, Lula, por exemplo, assegurou aos jornalistas que a Marta (Suplicy) seria eleita prefeita de São Paulo. No entanto, Gilberto Kassab (DEM) foi eleito. Lula foi duas vezes ao palanque da Fátima Bezerra (PT), em Natal, contra Micarla de Sousa (PV). E Micarla ganhou no primeiro turno com quase 70% dos votos. Isso mostra que as pessoas distinguem o Lula dos candidatos. O eleitor quer saber se aquele candidato que está lá vai atender aos seus anseios, vai melhorar sua vida. É isso que o eleitor pensa quando escolhe um candidato. É nesse aspecto que tenho a convicção de que vamos ganhar as eleições presidenciais, porque o eleitor vai votar naquilo que ele tem certeza que vai ser melhor para sua vida.
Danin Júnior — Com a retomada do ano legislativo no Congresso, um dos assuntos que deve entrar na pauta é o do pré-sal. Como a bancada do PSDB avaliou o projeto do pré-sal?
É preocupante, porque primeiro se cria uma Petro-sal que vai aumentar muito as despesas, vai entrar em áreas de superprodução com a Petrobrás, e não havia nenhuma necessidade de se criar uma estatal só para administrar o pré-sal. É uma incoerência, mais um cabide de emprego. Outra questão que preocupa é o modelo de exploração do pré-sal. O modelo que foi implantado pelo PSDB, no governo Fernando Henrique, foi sem dúvida determinante para que a Petrobrás se tornasse uma das maiores empresas petrolíferas do mundo, e para que tivesse alta tecnologia de exploração do petróleo. A descoberta do pré-sal, inclusive, se deu por causa do alto profissionalismo da Petrobrás. Preocupa-nos muito quando se muda esse sistema com o que virá na frente e quando a Petrobrás passa a ser também aparelhada. Aí podem dizer "a Petrobrás está dando lucro". Tudo bem, mas o lucro deveria ser três, quatro vezes maior. Se não fossem os patrocínios exagerados, sem critérios, muitos deles com suspeitas de desvios de recursos públicos. Se não fosse o excesso de empregados, especialmente os comissionados. E outra questão, que interessa diretamente a Goiás, diz respeito à divisão dos royalties do petróleo do pré-sal. Há um forte lobby, principalmente do Rio de Janeiro, mas também do Espírito Santo, já São Paulo tem se mantido absolutamente neutro e distante dessa discussão, para que os royalties contemplem apenas os Estados vizinhos à plataforma marítima onde esses campos existem. Isso é uma incoerência sem tamanho. Existem campos do pré-sal a 200 km da costa, e os royalties e as compensações são pagas a Estados e municípios principalmente para compensar os possíveis danos ambientais e sociais. Por outro lado, estamos numa república federativa e não se consegue o desenvolvimento de um país com um ou dois Estados muito desenvolvidos e o resto pouco desenvolvido. O país é desenvolvido quando o país é desenvolvido como um todo. Não dá para o Rio de Janeiro nadar de braçada nos royalties enquanto Rondônia, Piauí, Maranhão e outros Estados sofrem consequências de uma pobreza extrema. É inaceitável. Defendo com unhas e dentes a emenda do deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), que prevê distribuição de royalties privilegiando o Rio, Espírito Santo, São Paulo, mas contemplando todos os Estados e municípios brasileiros. Como o governo federal quer, Goiás teria aproximadamente R$ 200 milhões por ano. É muito pouco perto das dezenas de bilhões de reais que esses royalties vão render. A emenda do Ibsen eleva esse porcentual para cerca de R$ 1,2 bilhão. Aí, sim, daria para o Estado se desenvolver, para investir prioritariamente em saúde, educação e ciência e tecnologia.
Cezar Santos — O presidente Lula quer estabelecer a eleição como plebiscitária, em termos comparativos. O PSDB vai aceitar a disputa nestes termos?
Não temos medo de comparação. Tenho certeza que o PSDB fez um bem enorme para o País. Estamos colhendo frutos da base que foi implantada pelo PSDB. Mas, discordo que esse tenha que ser o mote de nossa campanha. Não é comparando governos, e nós não queremos comparação, e muito menos uma eleição plebiscitária, porque a população não vai votar num plebiscito. Primeiro porque nem Lula nem Fernando Henrique são candidatos a presidente. Em segundo porque o eleitor não vota olhando para trás. Ele vota no futuro, no que virá, na expectativa de melhorar sua vida, na esperança. Então, essa tese de eleição plebiscitária não pega, não adianta. O PSDB não vai para a televisão falando em comparar governos, isso não vai levar a lugar nenhum. E se o PT fizer isso será ótimo para nós, porque vamos mostrar o que nós vamos fazer, o que Serra e o PSDB podem fazer de concreto para melhorar a vida das pessoas. É a mesma coisa aqui em Goiás, as pessoas vão votar na expectativa. É lógico que isso não impede que volta e meia se faça alguma comparação com aquilo que você já fez, até mostrando que você tem ação, credibilidade para fazer o que está propondo. Mas não acredito que uma campanha que só olhe para trás eleja candidato. O próprio Lula, quando foi eleito em 2006, vendeu esperança de melhorar a vida das pessoas. O Plano Real, que foi sem dúvida o grande cabo eleitoral do PSDB em 1994 e em 19998, também foi expectativa de melhoria de vida concreta para a população. Por que Lula perdeu duas vezes para Fernando Henrique? Por que as pessoas viam no Fernando Henrique, que era o fiador do Plano Real, uma pessoa que iria mudar a vida da população. O grande fator determinante do voto da população é a expectativa de melhorar de vida.
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