sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Diário da Manhã

Política e Justiça

Larissa Bittar

Com medo, Ivone pede proteção policial
Em depoimento no MP, coordenadora da Renafé reivindica segurança a ela, aos filhos e à diretoria do abrigo

A presidente da Associação Renascer da Fé (Renafé), Ivone Francisco dos Santos, que acusa Anniela Braga, filha do secretário da Fazenda, Jorcelino Braga, de extorsão, pediu proteção legal ao declarar ao Ministério Público Estadual (MP) ter sido pressionada a abastecer a publicitária com dinheiro, mensalmente, sob risco de perder apoio financeiro do Estado.

Receosa de ser ameaçada devido à denúncia, Ivone pediu que a proteção seja estendida a seus filhos e diretoria da Renafé. Braga, em entrevista, afirmou ter tomado conhecimento do suposto esquema de cobrança de propina apenas no dia 22 de janeiro, alegou não ter contato direto com Anniela – sua filha mais velha – e defendeu investigação rígida do MP no caso, sinalizando não ter intenção de atrapalhar o trabalho de apuração.

A presidente da entidade filantrópica que cuida de crianças com câncer, porém, preferiu pedir proteção em razão da “seriedade” dos fatos por ela expostos. Ivone afirmou aos promotores responsáveis pelo caso que procurou, sem sucesso, o secretário por várias ocasiões, desde outubro do ano passado, na tentativa de pôr fim às pressões, segundo ela, impostas por Anniela para obtenção de dinheiro.

Em entrevista ao DM, Braga disse que jamais ameaçaria a presidente da entidade. Ao jornalista que o entrevistava, ele disse: “Ao contrário desta senhora, você me conhece. Sabe que não seria capaz de fazer uma coisa dessas.”

Encontro

Ontem, em entrevista à imprensa, o advogado de Ivone, Omar Fabiano Batista, afirmou que sua cliente e Braga se encontraram em 2007 e que o secretário tratou pessoalmente do repasse de recursos para a Renafé. De acordo com Ivone, o primeiro contato com Anniela foi feito antes de Braga assumir a Secretaria da Fazenda, em 2007. Ela narra que conheceu a filha do secretário na Igreja Assembleia de Deus. Anniela, conta Ivone, prestava ajuda à Renafé com recursos pessoais e, quando Braga tomou posse como secretário, sugeriu que o pai poderia ajudar a entidade e agendou reunião entre eles.

A reunião ocorreu no primeiro semestre de 2007, diz Ivone. Após três meses do encontro, relata, Braga teria ligado em seu celular e informado que o então presidente da Celg, Enio Branco, entraria em contato. A presidente da Renafé afirma que Enio contou que havia sido informado por Braga das dificuldades financeiras da entidade, com dívidas que somavam R$ 54 mil. A Celg, então, fez contrato de doação neste valor para a Associação. Em 2008, outro contrato foi firmado com repasses no valor de R$ 23,4 mil mensais, para manutenção da sede.

Em depoimento no MP, Ivone afirma que, assim que Anniela tomou conhecimento de que a instituição estaria sendo beneficiada pelo Estado, a procurou e “exigiu salário de R$ 1,5 mil sob alegação de que o pai dela é quem tinha conseguido o convênio”. Ainda em declaração, a presidente da entidade diz que Anniela perguntava de forma retórica: “Sabe quem é o dono dos porcos?”, sugerindo que seu pai mandava no Estado.

Ivone diz que passou a pagar mensalmente R$ 500 “do próprio bolso” a Anniela, por “medo de perder o convênio”, apesar de achar injusto repassar dinheiro a “uma filhinha de papai”. Em outubro de 2008, conta, foi comunicada pela Gerência de Contratos e Convênios da Secretaria Estadual da Saúde que um pedido de contrato sairia, mas precisava atualizar documentação da Renafé. A presidente diz que atualizou os documentos e, 30 dias depois, foi procurada novamente pela filha de Braga, que disse saber do convênio e teria exigido 10% sobre o valor do contrato (no caso firmado em R$ 248,2 mil).

Segundo Ivone, Anniela insistiu de “forma horrenda” alegando que não abriria mão do dinheiro porque estava devendo o cartão de crédito e com problemas de saúde. Ela afirma que passou R$ 3 mil a Anniela, provenientes da venda de um imóvel, mas começou a receber ameaças de que a Renafé iria fechar. “Era chamada de ‘pilantra’ por não cumprir o que prometia.” Ivone relata que pessoas da SES passaram a tratá-la de forma diferente e que um excesso de fiscalização passou a existir.

Ivone assegura que, dos R$ 248,2 mil, não repassou nada a Anniela. Disse que a primeira parcela foi liberada em abril, a segunda em junho e a terceira em agosto de 2009. Logo em seguida Ivone conta que tentou falar com Enio Branco e com o vereador Santana Gomes (PMDB), amigo de Braga, mas “ninguém acreditava” na versão de que estaria sofrendo pressão. Braga não a atendeu e, então, ela se dirigiu ao MP para fazer a denúncia.

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