quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Iris:longe da vontade do povo!!

O Popular

Opinião

Memória também é um atrativo

Sou uma defensora apaixonada da preservação da história e da memória de um povo. Esta semana, escalada para fazer uma reportagem sobre o decreto de desapropriação de imóveis no Centro de Goiânia, fiquei chocada com a realidade que me foi escancarada.

No início dos anos 40, quando Goiânia ainda engatinhava, o extinto Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários (IAPC) construiu nas proximidades da região embrionária da capital um conjunto de casas que abrigou pioneiros comerciários. O lugar passou a ser conhecido como Bairro dos Comerciários. Ainda hoje, quem deixa a Avenida Araguaia para encontrar uma saída para a Avenida Marginal ou alcançar a Avenida Paranaíba não pode deixar de observar as ruas tranquilas, com casas simples e sombreadas por plantas floridas. É quase uma aldeia no meio urbano.

Muitos desses trabalhadores continuam a viver ali em meio a quintais cheios de frutas e a uma vizinhança afetuosa. Dezenas dessas pessoas, agora muito idosas, estão na cama, cuidadas por seus entes queridos que preferem mantê-las perto do ambiente e do cheiro familiares. O drama de cuidar dos doentes nem de longe é maior do que a possibilidade de abandonar compulsoriamente o lugar onde viveram e assistir, impotentes, à história de uma vida se transformar em escombros.

Esta realidade ao que parece não é do conhecimento dos mentores de um projeto grandioso e imponente que engloba a ampliação da área do Parque Mutirama e a construção de um amplo estacionamento onde ainda vivem essas famílias. Os moradores dos imóveis abrangidos pelo decreto do prefeito Iris Rezende garantem que jamais foram consultados ou informados sobre a intenção pública. A notícia provocou inicialmente susto e muitas lágrimas para chegar ao sentido de organização.

É assim, juntas, que essas famílias procuram descobrir fórmulas de estancar a vontade pública de matar a sua história. Embora não tenha nascido em Goiânia, adotei esta cidade como minha há mais de 34 anos. Sei que muito do que a capital se transformou ao longo desses anos se originou em negociatas definidas em gabinetes refrigerados, bem longe da vontade de seu povo. Por isso, manifesto publicamente meu apoio à todas as famílias da Rua dos Comerciários (CD) e Avenida do Contorno, no Centro de Goiânia, que não querem ser as próximas vítimas da vontade política, em nome de “um grande atrativo para a cidade”.

Malu Longo é jornalista

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