quinta-feira, 11 de março de 2010

JORNAL ESTADO
                                                DE GOIÁS

Hospital deixa de atender pelo SUS
Sem conseguir cobrir custos, Hospital de Queimaduras sai do Sistema Único de Saúde

Marcos Vieira

O proprietário do Hospital de Queimaduras de Anápolis, o médico Sebastião Sérgio, anunciou nesta semana que pediu o descredenciamento da unidade do Sistema Único de Saúde (SUS). A medida implica que dentro de 60 dias a única unidade de referência na região no atendimento a queimados deixará de atender pelo sistema público.

Sebastião Sérgio alega que não consegue mais manter seu hospital com o que é pago pelo governo federal através da tabela do SUS. Disse ainda que o repasse feito pelo Governo de Goiás não é suficiente para cobrir custos com pacientes que chegam de diferentes municípios em busca de atendimento na unidade, localizada na Vila Góis.

“Chega de uma empresa privada, com fins lucrativos, atender um Estado que não faz nada por ela”, reclamou o médico. A data-limite para recebimento de pacientes através do SUS é 30 de abril. “Até lá o poder público deve arrumar outro lugar”, frisou o proprietário do Hospital de Queimaduras, que afirmou que recebe ajuda da Prefeitura de Anápolis, também insuficiente.

O dinheiro que chega do governo federal para o hospital segue o número de habitantes de Anápolis ainda assim com uma tabela aquém da realidade. A principal reclamação é em relação aos pacientes de outros municípios e até de outros Estados. “Paciente que vem de fora ninguém paga”, comentou Sebastião Sérgio.

O médico citou o exemplo de um paciente de Goianésia, cujo tratamento no Hospital de Queimaduras custou R$ 106 mil. A unidade teve que arcar com grande parte deste custo. “Recentemente tivemos que atender três pacientes vindos do Rio de Janeiro”, exemplificou Sebastião Sérgio.

O médico informou que 72% dos atendimentos feitos no hospital são de pacientes do SUS. Admitiu que terá que demitir parte dos 130 funcionários com a decisão de descredenciar a unidade, mas que assim estará garantindo a continuidade de 35 anos de história. “Não quero acabar como tantos outros particulares, como o Dom Bosco, por exemplo”, ressaltou Sebastião Sérgio, citando o já extinto hospital de propriedade do médico Anapolino de Faria, já falecido.

Encontro

Em abril de 2009 o promotor de Justiça Marcelo Henrique dos Santos, da curadoria de saúde de Anápolis, reuniu-se com os secretários estadual e municipal de Saúde, Irani Ribeiro de Moura e Wilmar Alves Martins, e o diretor-geral do Hospital de Queimaduras de Anápolis, Sebastião Célio Rodrigues da Cunha, para discutir a situação do hospital, especialmente os atendimentos aos usuários do SUS.

Na época foi firmado um termo de ajuste de conduta entre a direção do hospital e a Secretaria de Saúde de Anápolis complementando os valores da tabela SUS, referentes aos atendimentos laboratoriais e de UTI de alta complexidade, por se entender que os gastos com os pacientes eram superiores aos valores efetivamente pagos pela tabela do SUS. O promotor informou que o hospital, por ser referência no atendimento em queimados, recebe pacientes vindos de outros municípios e até de outros Estados, o que torna insuficiente o aporte financeiro fornecido de maneira exclusiva pelo município.

A reunião teve três encaminhamentos: apreciação das questões na reunião do Colegiado Regional de Anápolis, envolvendo todos os secretários municipais pertencentes ao colegiado; revisão destes ajustes pelo Programa de Parcelamento Incentivado (PPI) Estadual, bem como das pactuações com outros municípios e, por fim, a definição de auditoria estadual a ser feita no Hospital de Queimaduras de Anápolis, para readequação dos valores complementares destinados à unidade, principalmente nos atendimentos prestados a outros municípios e Estados não pactuados.

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