CONEXÃO
Afonso Lopes
PODE TUDO?
Qual será a força do Palácio
Governistas acreditam que influência do Palácio poderá ser, mais uma vez, decisiva nas eleições. Será?
Basta conversar com qualquer palaciano para beber de imediato o inebriante otimismo do poder: candidato a governador que tiver apoio do governo é primeira e não terceira via. Em outras palavras, o que se quer dizer com isso é que o Palácio tem condições de carregar para o alto do morro eleitoral qualquer candidato que receber a unção governista. É claro que isso realmente ocorre um sem número de vezes na política brasileira. Aliás, acontece no mundo todo. Os palácios/governos realmente são muito fortes, inclusive na capacidade de influenciar eleições. Mas existem condicionantes. Não é uma coisa automática.
Para o professor Alberto Carlos de Almeida, autor de uma verdadeira bíblia sobre esse assunto, “A cabeça do eleitor” (Record), o poder de influência eleitoral dos governos está absolutamente ligado à forma como a população vê e sente a administração. Governos muito bem avaliados têm poder suficiente para promover candidaturas aparentemente sem chances. Quando essa imagem não é positiva, a influência pode até ser negativa. Antigamente, costumava-se denegrir candidaturas governistas classificando-as como “chapa branca” (que era a cor das placas dos carros oficiais, daí a alusão). Era quase um xingamento.
Em 2006, com governos bem avaliados e altíssima popularidade inclusive pessoal, o ex-governador e então candidato ao Senado, Marconi Perillo, foi absolutamente decisivo na transferência de prestígio para o governador e candidato à reeleição Alcides Rodrigues. Pesou, então, o fator Palácio de maneira positiva. Ao contrário do que aconteceu em Goiânia na eleição de 2000. Nion Albernaz terminou seu terceiro mandato à frente da Prefeitura, mas não conseguiu ajudar a candidata tucana sequer a se classificar para o segundo turno.
São duas situações praticamente iguais com resultados completamente diferentes. O que isso mostra? Que não existem favas contadas em qualquer situação. Uma coisa é transferência de prestígio, outra bem diferente é assegurar a vitória. Até porque, se as coisas não fossem assim, nem seria necessário fazer campanha e eleição. Bastaria uma nomeação automática a ser confirmada nas urnas.
E tudo depende também da capacidade eleitoral dos adversários. Olhando-se à distância, há muitos peemedebistas que dizem hoje que o resultado de 2006 poderia ser outro se o prefeito Iris Rezende e não o então senador Maguito Vilela tivesse sido o candidato do PMDB ao governo do Estado. Faz sentido, sem dúvida, principalmente analisando-se o perfil da campanha do PMDB naquela eleição. Maguito foi um candidato oposicionista que não se dispôs a fazer oposição, o que pode ter levado o eleitor a considerar que, se era pra continuar tudo como estava, então Alcides Rodrigues era a melhor escolha.
Não seria dessa forma, até pela profunda diferença de estilos, uma campanha de Iris Rezende. O prefeito evidentemente ofereceria ao eleitor um viés seguro no que se refere à administração, além de uma visão alternativa ao modo de governar. Ou seja, seria claramente um candidato de oposição. Mas sabe-se lá se isso não resultaria em fracasso igualmente.
Para as eleições deste ano, a situação é outra. O governo investiu muito pouco no cuidado com sua própria imagem ao longo dos últimos anos. E isso, claro, cobra certo preço político e eleitoral. É fácil constatar esse fato ao se comparar o poder de influência e prestígio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à ministra Dilma Roussef e o quadro sucessório vivido em Goiás. Mesmo com Dilma ainda não inteiramente à vontade no papel de miss-candidata simpatia, cresce nas pesquisas sem parar. Claro está: o crescimento não é dela propriamente, mas de Lula para ela.
Em Goiás, ao contrário, todos os possíveis nomes palacianos lançados dentro do enorme balão de ensaio das candidaturas ficaram exatamente no lugar em que sempre estiveram. Não houve qualquer empolgação. E olha que desde outubro do ano passado, quando o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, preferiu se filiar ao PMDB e não ao PP governista, o Palácio fala sobre a tal terceira via sem nada acontecer.
Há inúmeras explicações que justificam esses desempenhos tão diferentes entre Dilma e os candidatos do Palácio das Esmeraldas. A mais evidente de todas é quanto ao cuidado com a imagem. Lula sempre foi um excelente divulgador de sua administração. Alcides não.
É possível perceber que essa orientação inicial está mudando dentro do governo. Passou-se a investir mais na construção de uma imagem positiva da administração. A grande dúvida é se a mudança não chegou tarde demais. Aparentemente, sim, demorou excessivamente para se entender que a população recebe informações, e não corre atrás delas. Há alguns conceitos negativos aparentemente cristalizados por anos de desleixo com a imagem do governo. Talvez seja ainda possível modificar bastante essa situação, mas será muito difícil reverter tudo completamente.
Isso equivale a dizer, então, que o Palácio das Esmeraldas não terá significância dentro do processo eleitoral deste ano? Claro que não, longe disso. Não se pode deixar de levar em conta a força bruta que um palácio sempre tem, por mais fraco que ele seja em matéria de popularidade e aprovação, ou por mais abalada que esteja sua imagem, o que nem é o caso. Mas é evidente que o Palácio das Esmeraldas não terá um décimo do poder de influência eleitoral que será (e tem sido) exercido pelo governo comandado por Lula.
Isso significa que o candidato da chamada terceira via, pelo menos neste momento, começará mesmo como uma força secundária na campanha deste ano. E para crescer, terá que se infiltrar com competência entre os 80% de eleitores que se declaram inicialmente dispostos a votar em Marconi Perillo ou Iris Rezende. Não será, de forma alguma, tarefa simples. Mas em política, como sempre se fala, nada é impossível. Nada? Em tese, nada. Na prática, pode não ser exatamente dessa forma.
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