segunda-feira, 8 de março de 2010

O jogo começou!

JORNAL OPÇÃO

Editorial

O xe­que-ma­te de Serra e Mar­co­ni
Se não acei­tar a vi­ce de Ser­ra, Aé­cio pos­si­vel­men­te te­rá de dei­xar o PSDB num fu­tu­ro pró­xi­mo. O lan­ça­men­to de Jú­ni­or do Fri­boi pa­ra o Se­na­do po­de le­var ao xe­que-ma­te de Mar­co­ni so­bre o DEM

O fo­co des­te Edi­to­ri­al é a po­lí­ti­ca na­ci­o­nal e go­i­a­na, es­pe­ci­al­men­te Aé­cio Ne­ves, o “Fri­lei­te”, e Jo­sé Ba­tis­ta Jú­ni­or, o Jú­ni­or do Fri­boi. Co­me­ce­mos pe­lo ne­to de Tan­cre­do Ne­ves, a jo­vem ra­po­sa que go­ver­na Mi­nas Ge­ra­is. Na es­co­la mi­nei­ra, os po­lí­ti­cos são sim­pá­ti­cos e têm um ar re­la­xa­do. São as­tu­tos e pa­re­cem de­ci­dir no tem­po cer­to. De lá saí­ram Jus­ce­li­no Ku­bitschek, Tan­cre­do e Aé­cio Na es­co­la pau­lis­ta, os po­lí­ti­cos são si­su­dos, até an­ti­pá­ti­cos e in­te­lec­tu­al­men­te re­quin­ta­dos. De lá saí­ram Jo­sé Ser­ra, go­ver­na­dor de São Pau­lo, e o ex-pre­si­den­te Fer­nan­do Hen­ri­que Car­do­so. Mi­nei­ros e pau­lis­tas não se dão, mas, por con­ve­niên­cia, se to­le­ram. Pré-can­di­da­to a pre­si­den­te da Re­pú­bli­ca, Ser­ra exi­ge Aé­cio co­mo seu vi­ce.
                                                                                               PSDB/MG / DM
Aé­cio es­tá nu­ma en­cru­zi­lha­da. Por­que tem uma elei­ção pa­ra se­na­dor — oi­to anos de tran­qui­li­da­de na cor­te, com chan­ce de ser pre­si­den­te do Se­na­do — pra­ti­ca­men­te ga­ran­ti­da. Mas, se não acei­tar a vi­ce de Ser­ra, po­de per­der to­do e qual­quer apoio fu­tu­ro do PSDB.

Se não apo­i­ar Ser­ra, e es­te per­der, Aé­cio po­de ser elei­to se­na­dor, ga­nhan­do oi­to anos de su­pos­to céu de bri­ga­dei­ro, mas per­de­rá in­flu­ên­cia no par­ti­do e di­fi­cil­men­te con­se­gui­rá seu apoio, so­bre­tu­do da cú­pu­la de São Pau­lo, pa­ra dis­pu­tar a Pre­si­dên­cia da Re­pú­bli­ca em 2014 ou 2018. Te­o­ri­ca­men­te, fi­ca for­te, por ser um po­lí­ti­co ar­ti­cu­la­do, mas, sem os tu­ca­nos de São Pau­lo, do­nos do par­ti­do, cer­ta­men­te per­de­ria es­pa­ço.

Se acei­tar a vi­ce de Ser­ra, e es­te per­der, o tu­ca­na­to pau­lis­ta não te­rá co­mo dei­xar de re­co­nhe­cer o em­pe­nho de Aé­cio na cam­pa­nha e, prin­ci­pal­men­te, o fa­to de ter tro­ca­do um man­da­to de se­na­dor por uma, di­ga­mos, aven­tu­ra. No ca­so, mes­mo der­ro­ta­do, Aé­cio se ca­ci­fa­ria co­mo o po­lí­ti­co for­te do PSDB pa­ra a su­ces­são se­guin­te, em 2014, quan­do Ser­ra te­rá 72 anos e, de­pois de du­as (pos­sí­veis) der­ro­tas, não te­ria co­mo dis­pu­tar mais uma vez. O PSDB não é o PT e Ser­ra não é Lu­la. Ser­ra é um ges­tor efi­ci­en­te e um po­lí­ti­co tão-so­men­te ra­zo­á­vel. E, co­mo pos­si­vel­men­te te­rá de en­fren­tar (em 2014) Lu­la, um mi­to vi­vo, Aé­cio, se can­di­da­to, pre­ci­sa­rá ter o PSDB co­e­so o apoi­an­do.

Se Ser­ra for elei­to, sem Aé­cio co­mo vi­ce, o fu­tu­ro do po­lí­ti­co mi­nei­ro é in­cer­to. Po­de se ele­ger se­na­dor, mas Ser­ra vai tra­ba­lhar pa­ra fe­char to­das as por­tas e im­pe­dir sua as­cen­são no par­ti­do. Aé­cio te­ria de sa­ir do PSDB e, pos­si­vel­men­te, mi­grar pa­ra o PMDB. Mas, ao fa­zê-lo, po­deria per­der o man­da­to, sob acu­sa­ção de in­fi­de­li­da­de par­ti­dá­ria.

Co­mo per­ce­be com cla­re­za as pos­si­bi­li­da­des des­cri­tas aci­ma, Aé­cio po­de acei­tar a vi­ce de Ser­ra. Diz que não quer ser “em­pur­ra­do”, mas aca­ba­rá sen­do “em­pur­ra­do”, mas com jei­ti­nho. Mas, se apo­i­ar Ser­ra, o que o her­dei­ro de Tan­cre­do ga­nha? Se for de gra­ça pa­ra a cam­pa­nha, “em­pur­ra­do”, fa­tu­ra pou­co.

Se co­brar ago­ra, quan­do o tu­ca­no es­tá vul­ne­rá­vel, por con­ta da as­cen­são de Dil­ma Rous­seff, que po­de ul­tra­pas­sá-lo nas pró­xi­mas pes­qui­sas — e, se pas­sar, nin­guém a se­gu­ra —, Ser­ra, elei­to, te­rá de re­par­tir o go­ver­no. Se não re­par­tir ago­ra, de­pois se­rá tar­de de­mais. O que Aé­cio quer é mui­to, mas ele tem o que “ven­der” — Mi­nas é o se­gun­do mai­or co­lé­gio elei­to­ral do pa­ís e o tu­ca­no mi­nei­ro tem pres­tí­gio em ou­tras re­gi­ões. Nos bas­ti­do­res, co­men­ta-se que Aé­cio quer in­di­car os mi­nis­tros da Fa­zen­da e de Mi­nas e Ener­gia e o co­man­do da Pe­tro­brás. De por­tei­ra fe­cha­da.

Ser­ra es­tá nas mãos de Aé­cio, mas Aé­cio tam­bém es­tá nas mãos de Ser­ra. É a ve­lha e in­fa­lí­vel di­a­lé­ti­ca per­ce­bi­da por He­rá­cli­to e am­pli­a­da por He­gel e, de­pois, Marx.

                                                                           Fotos: Edilson Pelikano/Jornal Opção
Lú­cia Vâ­nia, De­mós­te­nes Tor­res e Mar­co­ni Pe­ril­lo: a cha­pa de 2002 po­de ser man­ti­da

Dei­xe­mos Aé­cio, o “Fri­lei­te” (Mi­nas, na ver­da­de, es­tá in­dus­tri­a­li­za­da, ape­sar de man­ter uma pe­cu­á­ria de cor­te e lei­tei­ra for­te), e Ser­ra, “pre­si­den­te” de um “pa­ís” cha­ma­do São Pau­lo, e dis­cu­ta­mos a po­lí­ti­ca de Go­i­ás. A po­lí­ti­ca é co­mo um jo­go de xa­drez. Há mo­men­tos em que a par­ti­da não an­da, as pe­ças pa­re­cem em­per­ra­das e os jo­ga­do­res sem ru­mo. Em se­gui­da, a cal­ma­ria de­sa­pa­re­ce e uma me­xi­da sur­pre­en­denteda de­sen­ca­deia gran­des mu­dan­ças, le­van­do à vi­tó­ria ou à der­ro­ta.

No PMDB, Iris Rezende, com o apoio do PT, é o no­me de­fi­ni­do. Tra­ta-se de um po­lí­ti­co-ges­tor efi­ci­en­te. A ali­an­ça tem bom tem­po de te­le­vi­são e es­tru­tu­ra po­lí­ti­co-par­ti­dá­ria ade­qua­da. Além de apoio lo­cal e na­ci­o­nal. Os pre­fei­tos que co­man­dam as mai­o­res ci­da­des — Go­i­â­nia, Apa­re­ci­da de Go­i­â­nia, Aná­po­lis, Trin­da­de e Ja­taí — apoi­am a ali­an­ça Iris-PT. O PSDB tem um can­di­da­to tão for­te quan­to Iris, o se­na­dor Mar­co­ni Pe­ril­lo, mas, se fi­car ape­nas com PTB e PPS, te­rá me­nos tem­po no pro­gra­ma de te­le­vi­são. Daí a ne­ces­si­da­de de con­quis­tar o apoio do DEM do de­pu­ta­do fe­de­ral Ro­nal­do Cai­a­do e do se­na­dor De­mós­te­nes Tor­res. Não só. O DEM go­i­a­no não é um par­ti­do for­te (tem pou­cos pre­fei­tos, ve­re­a­do­res e de­pu­ta­dos), mas seus lí­de­res — Cai­a­do, De­mós­te­nes, Vil­mar Ro­cha, He­lio de Sou­sa, pa­ra ci­tar ape­nas qua­tro — são ti­dos co­mo éti­cos e de grande pres­tí­gio na so­ci­e­da­de. São, nou­tras pa­la­vras, fi­gu­ras qua­li­ta­ti­vas e, por is­so, acres­cen­tam elei­to­ral­men­te.

O DEM não de­fi­niu seu des­ti­no e seus lí­de­res es­tão jo­gan­do com ha­bi­li­da­de, por is­so não fi­ze­ram ne­nhu­ma com­po­si­ção an­tes do tem­po. O se­na­dor De­mós­te­nes Tor­res é po­pu­lar e res­pei­ta­do, mas, pa­ra ser re­e­lei­to, pre­ci­sa de uma es­tru­tu­ra am­pla. Com Mar­co­ni ou com Iris, te­ria mais fa­ci­li­da­de de se re­e­le­ger. Com a ter­cei­ra via, so­bre­tu­do se ela não em­pla­car, te­ria mais di­fi­cul­da­de. A apro­xi­ma­ção com Mar­co­ni é mais for­te por­que, ape­sar da re­sis­tên­cia de Cai­a­do, os la­ços são mais an­ti­gas e dão mais li­ga, co­mo se diz.

Mas, en­quan­to o DEM me­xia com seus pe­ões, Mar­co­ni, em bus­ca do xe­que-ma­te, me­xeu com o rei. Nu­ma jo­ga­da que, se não foi de­ci­si­va, me­xeu com os hu­mo­res de vá­rios jo­ga­do­res. O tu­ca­no lan­çou Jú­ni­or do Fri­boi (PTB) pa­ra o Se­na­do. Não era o que Friboi que­ria. Co­mo Hen­ri­que Mei­rel­les, Friboi, o ho­mem de 60 bi­lhões de re­ais de fa­tu­ra­men­to em 2009 (é um dos di­ri­gen­tes da mul­ti­na­ci­o­nal JBS), quer go­ver­nar Go­i­ás. Mas, ins­ta­do por Mar­co­ni, Jo­va­ir Aran­tes e o pre­fei­to de Lu­zi­â­nia, Cé­lio Sil­vei­ra, Friboi lan­çou-se ao Se­na­do e já es­ta­ria à ca­ta de ca­bos elei­to­ra­is no Es­ta­do, in­fla­cio­nan­do o mer­ca­do po­lí­ti­co.

Friboi foi lan­ça­do por­que Mar­co­ni es­tá em dú­vi­da so­bre o apoio do DEM de De­mós­te­nes. Mas Jú­ni­or in­co­mo­da pro­fun­da­men­te De­mós­te­nes, por­que, se for can­di­da­to e se o PMDB lan­çar Mei­rel­les, o po­der do di­nhei­ro po­de de­ci­dir a elei­ção e dei­xar o de­mo­cra­ta de fo­ra, o que se­ria uma gran­de per­da pa­ra o Se­na­do e, por­tan­to, pa­ra o Bra­sil. Se o DEM fi­car ao la­do de Mar­co­ni, a se­na­do­ra Lú­cia Vâ­nia se­ria ri­fa­da pe­lo tu­ca­na­to? Po­de ser. Mas tro­car Lú­cia Vâ­nia, uma se­na­do­ra tão qua­li­ta­ti­va quan­to De­mós­te­nes, por um en­di­nhei­ra­do se­rá po­si­ti­vo pa­ra a cam­pa­nha de Mar­co­ni? É pos­sí­vel que não. Uma pos­sí­vel der­ra­ma de di­nhei­ro po­de ter o efei­to do ti­ro pe­la cu­la­tra.

Vol­tan­do a Fri­boi. O lan­ça­men­to de sua can­di­da­tu­ra, na ver­da­de pré-can­di­da­tu­ra, me­xeu com o DEM. À pri­mei­ra vis­ta, pa­re­ceu uma me­xi­da er­ra­da do se­na­dor Mar­co­ni. Mas tal­vez te­nha si­do uma ação apro­pria­da. Mar­co­ni dei­xou de re­a­gir e pas­sou a agir. Afi­nal, o DEM quer ali­an­ça com quem? Se não quer com Mar­co­ni, por que re­jei­ta e ataca Fri­boi?

Des­cul­pe o lei­tor a ex­pres­são meio chu­la, mas Fri­boi, ao se lan­çar ao Se­na­do, po­de ter fei­to a va­ca pa­rir. Quem ga­nha com o par­to não se sa­be. Mas pe­lo me­nos os po­lí­ti­cos, os que ar­ti­cu­lam e agem, de­ci­di­ram mo­vi­men­tar o jo­go. Quem não tem con­di­ções de am­pli­ar a ali­an­ça, com a “aqui­si­ção” do DEM, tem mes­mo de con­so­li­dar a ali­an­ça exis­ten­te, que in­clu­iu PSDB, PTB, PPS e PT do B. Es­pe­rar o DEM in­de­fi­ni­da­men­te po­de não ser uma ar­ti­cu­la­ção ade­qua­da, so­bre­tu­do por­que seu prin­ci­pal lí­der, Cai­a­do, diz, a to­do mo­men­to, que vai com­por com a ter­cei­ra via. Ago­ra, o DEM não po­de ble­far. De­ve me­xer o rei, se­não per­de o jo­go. Se me­xer o rei, pa­ra as pro­xi­mi­da­des dos tu­ca­nos, em­pur­ra Friboi pa­ra a vi­ce de Mar­co­ni.

A cam­pa­nha de Go­i­ás po­de ser ame­na ou acir­ra­da, com lan­ces de xa­drez si­mi­la­res aos de Kas­pa­rov, mas pe­lo me­nos o elei­tor po­de­rá es­co­lher en­tre três ou mais po­lí­ti­cos-ad­mi­nis­tra­do­res qua­li­fi­ca­dos — Iris Re­zen­de, Mar­co­ni Pe­ril­lo e Van­der­lan Vi­ei­ra Car­do­so. Ou Er­nes­to Rol­ler ou Jor­ce­li­no Bra­ga.

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