Editorial
O xeque-mate de Serra e Marconi
Se não aceitar a vice de Serra, Aécio possivelmente terá de deixar o PSDB num futuro próximo. O lançamento de Júnior do Friboi para o Senado pode levar ao xeque-mate de Marconi sobre o DEM
O foco deste Editorial é a política nacional e goiana, especialmente Aécio Neves, o “Frileite”, e José Batista Júnior, o Júnior do Friboi. Comecemos pelo neto de Tancredo Neves, a jovem raposa que governa Minas Gerais. Na escola mineira, os políticos são simpáticos e têm um ar relaxado. São astutos e parecem decidir no tempo certo. De lá saíram Juscelino Kubitschek, Tancredo e Aécio Na escola paulista, os políticos são sisudos, até antipáticos e intelectualmente requintados. De lá saíram José Serra, governador de São Paulo, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mineiros e paulistas não se dão, mas, por conveniência, se toleram. Pré-candidato a presidente da República, Serra exige Aécio como seu vice.
PSDB/MG / DM
Aécio está numa encruzilhada. Porque tem uma eleição para senador — oito anos de tranquilidade na corte, com chance de ser presidente do Senado — praticamente garantida. Mas, se não aceitar a vice de Serra, pode perder todo e qualquer apoio futuro do PSDB.
Se não apoiar Serra, e este perder, Aécio pode ser eleito senador, ganhando oito anos de suposto céu de brigadeiro, mas perderá influência no partido e dificilmente conseguirá seu apoio, sobretudo da cúpula de São Paulo, para disputar a Presidência da República em 2014 ou 2018. Teoricamente, fica forte, por ser um político articulado, mas, sem os tucanos de São Paulo, donos do partido, certamente perderia espaço.
Se aceitar a vice de Serra, e este perder, o tucanato paulista não terá como deixar de reconhecer o empenho de Aécio na campanha e, principalmente, o fato de ter trocado um mandato de senador por uma, digamos, aventura. No caso, mesmo derrotado, Aécio se cacifaria como o político forte do PSDB para a sucessão seguinte, em 2014, quando Serra terá 72 anos e, depois de duas (possíveis) derrotas, não teria como disputar mais uma vez. O PSDB não é o PT e Serra não é Lula. Serra é um gestor eficiente e um político tão-somente razoável. E, como possivelmente terá de enfrentar (em 2014) Lula, um mito vivo, Aécio, se candidato, precisará ter o PSDB coeso o apoiando.
Se Serra for eleito, sem Aécio como vice, o futuro do político mineiro é incerto. Pode se eleger senador, mas Serra vai trabalhar para fechar todas as portas e impedir sua ascensão no partido. Aécio teria de sair do PSDB e, possivelmente, migrar para o PMDB. Mas, ao fazê-lo, poderia perder o mandato, sob acusação de infidelidade partidária.
Como percebe com clareza as possibilidades descritas acima, Aécio pode aceitar a vice de Serra. Diz que não quer ser “empurrado”, mas acabará sendo “empurrado”, mas com jeitinho. Mas, se apoiar Serra, o que o herdeiro de Tancredo ganha? Se for de graça para a campanha, “empurrado”, fatura pouco.
Se cobrar agora, quando o tucano está vulnerável, por conta da ascensão de Dilma Rousseff, que pode ultrapassá-lo nas próximas pesquisas — e, se passar, ninguém a segura —, Serra, eleito, terá de repartir o governo. Se não repartir agora, depois será tarde demais. O que Aécio quer é muito, mas ele tem o que “vender” — Minas é o segundo maior colégio eleitoral do país e o tucano mineiro tem prestígio em outras regiões. Nos bastidores, comenta-se que Aécio quer indicar os ministros da Fazenda e de Minas e Energia e o comando da Petrobrás. De porteira fechada.
Serra está nas mãos de Aécio, mas Aécio também está nas mãos de Serra. É a velha e infalível dialética percebida por Heráclito e ampliada por Hegel e, depois, Marx.
Fotos: Edilson Pelikano/Jornal Opção
Lúcia Vânia, Demóstenes Torres e Marconi Perillo: a chapa de 2002 pode ser mantida
Deixemos Aécio, o “Frileite” (Minas, na verdade, está industrializada, apesar de manter uma pecuária de corte e leiteira forte), e Serra, “presidente” de um “país” chamado São Paulo, e discutamos a política de Goiás. A política é como um jogo de xadrez. Há momentos em que a partida não anda, as peças parecem emperradas e os jogadores sem rumo. Em seguida, a calmaria desaparece e uma mexida surpreendenteda desencadeia grandes mudanças, levando à vitória ou à derrota.
No PMDB, Iris Rezende, com o apoio do PT, é o nome definido. Trata-se de um político-gestor eficiente. A aliança tem bom tempo de televisão e estrutura político-partidária adequada. Além de apoio local e nacional. Os prefeitos que comandam as maiores cidades — Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis, Trindade e Jataí — apoiam a aliança Iris-PT. O PSDB tem um candidato tão forte quanto Iris, o senador Marconi Perillo, mas, se ficar apenas com PTB e PPS, terá menos tempo no programa de televisão. Daí a necessidade de conquistar o apoio do DEM do deputado federal Ronaldo Caiado e do senador Demóstenes Torres. Não só. O DEM goiano não é um partido forte (tem poucos prefeitos, vereadores e deputados), mas seus líderes — Caiado, Demóstenes, Vilmar Rocha, Helio de Sousa, para citar apenas quatro — são tidos como éticos e de grande prestígio na sociedade. São, noutras palavras, figuras qualitativas e, por isso, acrescentam eleitoralmente.
O DEM não definiu seu destino e seus líderes estão jogando com habilidade, por isso não fizeram nenhuma composição antes do tempo. O senador Demóstenes Torres é popular e respeitado, mas, para ser reeleito, precisa de uma estrutura ampla. Com Marconi ou com Iris, teria mais facilidade de se reeleger. Com a terceira via, sobretudo se ela não emplacar, teria mais dificuldade. A aproximação com Marconi é mais forte porque, apesar da resistência de Caiado, os laços são mais antigas e dão mais liga, como se diz.
Mas, enquanto o DEM mexia com seus peões, Marconi, em busca do xeque-mate, mexeu com o rei. Numa jogada que, se não foi decisiva, mexeu com os humores de vários jogadores. O tucano lançou Júnior do Friboi (PTB) para o Senado. Não era o que Friboi queria. Como Henrique Meirelles, Friboi, o homem de 60 bilhões de reais de faturamento em 2009 (é um dos dirigentes da multinacional JBS), quer governar Goiás. Mas, instado por Marconi, Jovair Arantes e o prefeito de Luziânia, Célio Silveira, Friboi lançou-se ao Senado e já estaria à cata de cabos eleitorais no Estado, inflacionando o mercado político.
Friboi foi lançado porque Marconi está em dúvida sobre o apoio do DEM de Demóstenes. Mas Júnior incomoda profundamente Demóstenes, porque, se for candidato e se o PMDB lançar Meirelles, o poder do dinheiro pode decidir a eleição e deixar o democrata de fora, o que seria uma grande perda para o Senado e, portanto, para o Brasil. Se o DEM ficar ao lado de Marconi, a senadora Lúcia Vânia seria rifada pelo tucanato? Pode ser. Mas trocar Lúcia Vânia, uma senadora tão qualitativa quanto Demóstenes, por um endinheirado será positivo para a campanha de Marconi? É possível que não. Uma possível derrama de dinheiro pode ter o efeito do tiro pela culatra.
Voltando a Friboi. O lançamento de sua candidatura, na verdade pré-candidatura, mexeu com o DEM. À primeira vista, pareceu uma mexida errada do senador Marconi. Mas talvez tenha sido uma ação apropriada. Marconi deixou de reagir e passou a agir. Afinal, o DEM quer aliança com quem? Se não quer com Marconi, por que rejeita e ataca Friboi?
Desculpe o leitor a expressão meio chula, mas Friboi, ao se lançar ao Senado, pode ter feito a vaca parir. Quem ganha com o parto não se sabe. Mas pelo menos os políticos, os que articulam e agem, decidiram movimentar o jogo. Quem não tem condições de ampliar a aliança, com a “aquisição” do DEM, tem mesmo de consolidar a aliança existente, que incluiu PSDB, PTB, PPS e PT do B. Esperar o DEM indefinidamente pode não ser uma articulação adequada, sobretudo porque seu principal líder, Caiado, diz, a todo momento, que vai compor com a terceira via. Agora, o DEM não pode blefar. Deve mexer o rei, senão perde o jogo. Se mexer o rei, para as proximidades dos tucanos, empurra Friboi para a vice de Marconi.
A campanha de Goiás pode ser amena ou acirrada, com lances de xadrez similares aos de Kasparov, mas pelo menos o eleitor poderá escolher entre três ou mais políticos-administradores qualificados — Iris Rezende, Marconi Perillo e Vanderlan Vieira Cardoso. Ou Ernesto Roller ou Jorcelino Braga.
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