Imprensa
Euler de França Belém
Sertão goiano
Minas Gerais, Goiás e Bahia são os Estados mais citados no romance “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. Goiás é citado em 24 páginas do livro. Na página 18, o personagem Riobaldo relata: “Gente vê nações desses [índios], para lá fundo dos gerais de Goiás, adonde tem vagarosos grandes rios, de água sempre tão clara aprazível”.
José Serra queria ser operário, foi ator e gosta de dançar samba
O doutor em economia José Serra, cujo avô, o calabrês Steffano, era analfabeto, é frequentemente apontado como “enigmático”, “fechado” e “antipático”. O livro “O Sonhador Que Faz — A Vida, a Trajetória Política e as Ideias de José Serra” (Record, 306 páginas, 2002), uma longa entrevista concedida ao competente jornalista Teodomiro Braga, revela um homem mais nuançado. Feito como “propaganda” de Serra, candidato a presidente contra Lula da Silva em 2002, a obra, apesar do tom ligeiramente panegírico, deixa escapar nuances e, sobretudo, revela um político mais multifacetado do que se costuma pensar. Neste texto darei destaque para aspectos culturais e comportamentais, porque os políticos já foram demasiadamente explorados, embora o discreto tucano permaneça uma incógnita.
Casado com a bailarina chilena Mônica Allende, Serra é apaixonado por balé e dança samba “e outros ritmos”. Não é um poste. Revela que é apaixonado pela literatura de Machado de Assis, de quem leu toda a obra. “E também um escritor de que o Machado de Assis não gostava, o Eça de Queiroz. De poesia, o Fernando Pessoa e o Carlos Drummond de Andrade. De literatura em espanhol, o [Jorge Luis] Borges, que é o número um, e o [Mario] Vargas Llosa; europeia, Dostoiévski, George Orwell e Graham Greene.” Serra cita grandes escritores, de qualidade inquestionável (Greene, que admiro, é, porém, do segundo time), mas não deixa de impressionar o fato de que não cita decisivos autores modernos decisivos, como Proust, Joyce, Thomas Mann, Faulkner, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto e Saul Bellow. Llosa é o único vivo mencionado. O presidenciável tucano deve ter lido o ensaio de Machado de Assis sobre “O Primo Basílio” (ou algum comentário a respeito), uma crítica feroz ao romance de Eça de Queiroz, e deduziu que o autor de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” não apreciava o autor português. Mas era exatamente o contrário: Machado de Assis respeitava a literatura de Eça de Queiroz — a alta qualidade do autor de “O Crime do Padre Amaro” o incomodava de alguma forma e chegou a criticá-lo erradamente, numa comparação estapafúrdia com Émile Zola. E o autor de “Os Maias” admirava o criador de “Dom Casmurro” e não se mostrou muito incomodado com a crítica a “O Primo Brasílio”. Pelo contrário. Bola fora de Serra.
Leitor infatigável, Serra leu, “aos 8 ou 9 anos, vários livros de Monteiro Lobato. Depois, do Mark Twain, ‘As Aventuras de Tom Sawyer’ e ‘Huckleberry Finn’. (...) Aos dez anos descobri o Clube do Livro. (...) Eu lia todos, de Machado de Assis a Knut Hamsun (um livro chamado ‘A Fome’, cujo impacto sinto até hoje). Viciei-me também nas ‘Seleções do Reader’s Digest’”. Serra leu também Conan Doyle.
Estudante de engenharia, quando se tornou militante da Ação Popular (AP) e presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Serra tornou-se ator de teatro. Admite que foi um ator apenas “razoável”. “Mas a experiência no teatro ajudou-me a enfrentar a inibição de encarar plateias e a desenvolver a voz para falar em público.” Atuou como ator na peça “Vento Forte Pra Papagaio Subir”, de José Celso Martinez. Fez o papel principal.
Menos ortodoxo do que se imagina, Serra fez análise. “Fiz dois anos de psicoterapia tradicional e uns três de análise convencional, com divã e tudo. Isso não me modificou, mas facilitou conviver com as minhas próprias condições, virtudes e defeitos. (...) A análise também me ajudou a reconhecer melhor traços de minha personalidade, como a minha resistência a fazer o que não gosto.”
A resposta de Serra à pergunta se acredita em reencarnação: “´No creo en brujos, pero que los hay, los hay´. Racionalmente, não acredito. Mas às vezes tenho aquela sensação, ao ver um filme ou ler um livro, de já ter estado numa época passada. A explicação que alguém me deu é que isto seria uma microepilepsia, em que a pessoa sofre um ataque de epilepsia insignificante, se desliga por um momento e, ao retornar, surge a sensação de que já viveu aquele momento. É uma hipótese instigante, mas pouco convincente”.
Por incrível que possa parecer, o sonho de criança de Serra era parecido com o de Lula, ao menos parcialmente: “(...)... imaginava ser comerciante ou operário qualificado. Queria fazer um curso no Senai”. Lula fez no Senac.
Tido como “centralizador” nos mínimos detalhes, Serra diz que, na verdade, é “acompanhador”. Como Jânio Quadros, gosta de gerir por meio de bilhetinhos. “É uma forma mais econômica, exige menos tempo e as questões ficam mais claras quando são postas no papel. Fica mais fácil cobrar providências e resultados.” Serra contesta a informação de que é apenas racionalista: “A intuição tem um papel fundamental”. O tucano admite que é impaciente, “especialmente diante de tempo desperdiçado”.
Evolucionismo de Euclides da Cunha superou positivismo, diz brasilianista
O brasilianista Frederic Amory escreve, no prefácio da biografia “Euclides da Cunha: Uma Odisséia nos Trópicos” (Ateliê Editorial, 430 páginas): “... não existe uma biografia de Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha completa e confiável em quaisquer línguas”. Até onde li, cerca de 100 páginas, o trabalho de Amory é meritório, talvez excessivamente acadêmico.
No prefácio, Amory diz que Euclides esteve sempre mais próximo, tributário mesmo, do evolucionismo spenceriano do que do positivismo de Auguste Comte. “Como ainda na juventude aprendeu com Benjamin Constant e outros mestres de mesmo ponto de vista o programa do positivismo, admite-se comumente no Brasil que Euclides foi toda a vida um positivista, com base no dito popular de que uma vez positivista sempre será positivista. (...) Na verdade, não há provas, ao longo de toda a vida de Euclides, de que ele o tenha adotado; pelo contrário, há provas um tanto diretas de que tenha sido adverso a essa doutrina. (...)... chegara a admirar Auguste Comte por sua ‘matemática’, mas, em outros aspectos, o fundador do movimento o aborrecia, e, a partir de 1892, começara a distanciar-se da ‘minoridade’ religiosa da seita brasileira. (...)... renunciara enfaticamente a qualquer lealdade ao positivismo brasileiro em favor do evolucionismo spenceriano.”
O pai de Euclides, Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha, era poeta. Amory vê sua elegia pela morte de Castro Alves como “comovedora”: “Águia — um dia arrojada lá da altura,/Viu o mundo através da névoa escura,/Da negra cerração./Voltejou, por instantes, sobre a terra,/Soprou-lhe o vendaval, que a morte encerra,/Perdeu-se no vulcão!”
Minissérie “condensa” personagens de Guimarães Rosa?
Deonísio da Silva escreve muito bem sobre literatura. O professor-doutor é uma das referências positivas do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br). Na edição de terça-feira, 24, Deonísio diz que o julgamento de Zé Bebelo, pelos jagunços de Joca Ramiro, é um dos grandes momentos do romance-epopeia “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. Tem plena razão. Mas há um lapso na informação do estudioso: “Ana Duzuza, a terna prostituta que tanto ensinou do amor a Riobaldo, é vivida por Maria Helena Velasco”. Na minissérie pode ser assim, mas, no livro, Riobaldo não se relacionou sexualmente com Ana Duzuza.
O relato de Riobaldo, no romance: “Mire veja: aquela moça, meretriz, por lindo nome Nhorinhá, filha de Ana Duzuza. (...) Gosto de minha mulher, sempre gostei, e hoje mais. Quando conheci de olhos e mão essa Nhorinhá, gostei dela só o trivial do momento”. Uma carta enviada por Nhorinhá a Riobaldo demorou oito anos para chegar: “Quando recebi a carta, vi que estava gostando dela, de grande amor em lavaredas; mas gostando de todo tempo, até daquele tempo pequeno em que com ela estive, na Aroeirinha, e conheci, concernente amor. Nhorinhá, gosto bom ficado em meus olhos e minha boca. (...) A verdade é que, em minha memória, mesmo, ela tinha aumentado de ser mais linda” (páginas 89).
Na página 29, Riobaldo diz que Ana Duzuza era “uma velha arregalada”. Para os dias de amor, Riobaldo não apreciava mulheres feiosas e velhas. Deonísio, grande conhecedor da literatura brasileira, possivelmente está comentando a minissérie, e não o romance. O roteirista da minissérie certamente tomou liberdades poéticas e condensou numa personagem, Ana Duzuza, duas personagens, Nhorinhá e Ana Duzuza. Digo “certamente” porque não vi a minissérie inteira.
Reproduzo o texto de Deonísio da Silva, para que o leitor possa avaliar suas qualidades excepcionais, no site www.jornalopcao.com.br, na coluna Imprensa.
O livro e suas imagens eternas
DEONÍSIO DA SILVA
Walter Avancini, falecido em 2001, aos 66 anos, amava a literatura brasileira e a televisão. Como poucos, soube juntar as duas modalidades de expressar o Brasil. E obteve sucessos retumbantes, ao mesclar a qualidade técnica da televisão brasileira com as ousadias criativas de nossas letras. Foram muitos os êxitos. Destaquemos a minissérie Grande Sertão: Veredas, de 1985, baseada num dos melhores romances brasileiros do século 20, publicado originalmente em 1956, que agora chega às livrarias em devedê. Seu autor é João Guimarães Rosa, mineiro de Cordisburgo, falecido no Rio, em 1967, aos 59 anos, que, cônsul do Brasil em Hamburgo, contando com a mulher, Araci, a quem dedica o livro, salvou muitos judeus perseguidos pelos nazistas.
Até Avancini, a obra tinha sido considerada inadaptável, dadas as sutis complexidades do tema, das tramas e das personagens. Os críticos diziam o mesmo de O tempo e o vento, mas Paulo José demonstrou que era possível, sim, e, como Avancini, levou à televisão outro grande escritor brasileiro que é Erico Verissimo.
Antes digamos que, se comentamos um, não esquecemos os outros trabalhos dele. Só na antiga TV Excelsior, onde começou, dirigiu 11 adaptações, entre as quais A deusa vencida, em 1965, quando lançou Regina Duarte, que se tornaria a namoradinha do Brasil no gênero que logo se consolidaria como hegemônico no Brasil, a "novelas das oito". Já apareciam também Ruth de Souza, Karim Rodrigues e o casal Glória Menezes e Tarcísio Meira, cinco atores que marcariam para sempre a televisão no Brasil com desempenhos memoráveis. A deusa vencida teve nova versão, em 1980, pela TV Bandeirantes, com o cantor Agnaldo Rayol fazendo o papel que Tarcísio Meira fizera na versão anterior.
Os Sertões - Aos mais jovens, lembremos que o Itamaraty já teve diplomatas de alta qualidade intelectual, quando os cargos eram ocupados por critérios de mérito e não para acomodar companheiros de partido político que estivesse eventualmente no poder.
Aliás, existe coisa mais eventual do que o poder? Existe, sim. Talvez a moda. Tudo o que está em moda, está saindo de moda, já que seu caráter é passageiro. Esta é a lei da moda. Depois tudo volta outra vez. Tanto a moda como o partido, ambos disfarçados em novas roupagens. É só guardar no armário a roupa ou o partido e aguardar a vez. Os que estão no poder nem sempre lembram esta verdade: o poder é efêmero.
Num certo dia, no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, na década de 1970, vi o ex-presidente Emilio Garrastazu Medici sendo evitado por grupos de passageiros que, para embarcar, queriam desviar-se da figura. E ele estava ali, sereno, sorrindo, ainda inebriado das grandes apoteoses públicas que presidiu, usando como estratégia de aceitação popular do poder que ele arrebatara pela força o tricampeonato que a seleção brasileira obtivera no México, e procurando ser visto nos grandes estádios com o radinho de pilha ao ouvido.
Uma das melhores interpretações de Grande Sertão: Veredas continua sendo As Formas do Falso (Editora Perspectiva), tese de Walnice Nogueira Galvão, aluna de Letras da USP, universidade pela qual doutorou-se e da qual é hoje professora titular. Ela é referência também na interpretação da obra igualmente vulcânica de Euclides da Cunha, carioca de Cantagalo, que, como o mineiro, também abordou o sertão como palco de lutas do povo brasileiro. Professor concursado de Lógica no Colégio Pedro II, o autor de Os Sertões seria assassinado no Rio, aos 43 anos, em 1909, pelo comborço. Não precisam ir aos dicionários. É feminino de comborça, palavra que nos veio provavelmente do celta combortia (pronuncia-se combórcia), designando, em relação à esposa, a amante ou concubina do marido.
Biscoito fino - Há alguns desempenhos memoráveis no devedê ora posto à venda. Tarcísio Meira talvez tenha feito ali o melhor papel de sua vida, na pele de Hermógenes, o jagunço traidor, que mata o jagunço ético Joca Ramiro (Rubens de Falco), pai de Diadorim (Bruna Lombardi), jovem que atrai o amor e a paixão de Riobaldo (Tony Ramos), personagem e narrador do romance. Outros destaques foram Ney Latorraca como Padre Pontes, Yoná Magalhães como Maria Mutema, a mulher que mata o marido, derramando chumbo derretido em seus ouvidos, e depois o padre a quem conta, em confissão, o terrível pecado, matando os dois pelos ouvidos.
Mário Lago faz o Compadre Quelemém, conselheiro espírita que ajuda Riobaldo a entender a si, aos outros e ao mundo. José Dumont faz o fascinante Zé Bebelo, jagunço que quer ser deputado (hoje, vários políticos são ou querem ser jagunços). O julgamento de Zé Bebelo numa assembleia de bandos unidos, moderados pela autoridade emblemática de Joca Ramiro ,é um dos grandes momentos do livro e da minissérie. Ana Duzuza, a terna prostituta que tanto ensinou do amor a Riobaldo, é vivida por Maria Helena Velasco, que em Caminho das Índias fez uma parteira.
O teatro, o cinema e a televisão jamais se arrependeram de recorrer à literatura brasileira, fazendo sempre grandes trabalhos. O devedê ora nas bancas é um dos pontos mais altos do casamento entre a a televisão e as letras no Brasil.
Novo projeto gráfico do Jornal Opção fortalece opinião
O Jornal Opção circula, a partir desta edição, com seu novo projeto gráfico, elaborado pelo designer Henrique Alves de Paula, de 25 anos. Formado pela PUC de Goiás, Henrique é editor de Arte do jornal.
O objetivo da mudança foi tornar o jornal mais leve, mas preservando seu conteúdo editorial denso, seu caráter de jornal de opinião. “Com cinco colunas, no lugar das quatro anteriores, fica mais fácil ler o jornal. Ao mesmo tempo, o jornal ficou um pouco mais largo — de 27 centímetros saltou para 29. O leitor deverá observar que a qualidade do papel, adequado ao novo formato do jornal, é bem superior.”
Henrique introduziu novas tipologias, sempre com o objetivo de fortalecer a clareza do texto. “Nas colunas, introduzimos fotografias dos articulistas, fortalecendo a identidade da opinião, que é o forte do jornal.”
Erro na capa
Título da primeira página do “Pop” de sexta-feira, 26: “Justiça — Médico segue proibido de fazer cirurgias”. Título do “Diário da Manhã” do mesmo dia: “Cirurgia do diabetes tem aval da Justiça”.O “Pop” sustenta que “o Tribunal Regional Federal julgou improcedente recurso do médico goiano Áureo Ludovico”. O “Diário da Manhã” errou.
Lula cria PAC cubano pra financiar regime viciado em repressão
Há viciados em cocaína, crack e tranquilizantes. Os chefes do regime comunista da dinastia Castro são viciados em repressão e dependem dela para manter o poder. Não há outro instrumento adequado. Quando a União Soviética acabou, sem o patrocínio financeiro dos comunistas da terra de Lênin e Stálin, Cuba quebrou e não mais saiu da UTI, junto com Fidel Castro. Daí especialistas do governo, certamente orientados pelo serviço (nada) secreto — treinado pela terrível Stasi, a polícia política da Alemanha Oriental —, aconselharam a se criar uma “frente diplomática” com narcotraficantes de um cartel da Colômbia. Cuba era usada como entreposto para a cocaína chegar aos Estados Unidos. Tudo ia muito bem, com o governo cubano obtendo dólares fartos e fáceis, até a CIA descobrir a história e os Estados Unidos alertarem oficialmente o rei Fidel e o príncipe sem-sorte Raúl Castro. Como não podiam assumir que o governo trabalhava para narcotraficantes internacionais, como parceiros bem remunerados, os governantes fizeram o que as ditaduras fazem: mandaram para o paredón todos aqueles supostamente envolvidos com o negócio de cocaína. Aliados de Fidel desde a Involução de 1959 foram julgados, por uma Justiça viciada e política, e, alguns, condenados à morte. O general Arnaldo Ochoa, veterano de várias jornadas, inclusive na África — chegou a esboçar um plano ousado para invadir o Brasil, a partir da Amazônia —, foi condenado à morte. Os Castros saíram ilesos e alegaram nada saber do que estava ocorrendo debaixo de seus olhos. Cuba é um Estado policial e, como tal, os Castros sabem de (quase) tudo que ocorre na ilha, ainda mais quando se trata de uma questão grave como o tráfico de cocaína. Não há registro de que o PT e Lula da Silva, que ainda não era presidente, tenham protestado contra o fuzilamento dos cubanos.
Ao comentar o “assassinato” do preso político Orlando Zapata Tamayo, depois de 85 dias de greve de fome, o chanceler do governo Fernando Henrique Cardoso, Luis Felipe Lampreia, disse a coisa certa à “Folha de S. Paulo”: “Eles são uma ditadura. Não adianta tentar influir, conversar. Isso é inútil”. Mas Lampreia frisou que a diplomacia brasileira deveria ter se manifestado, condenando a ação do governo cubano, que mantém presos cerca de 200 oposicionistas, segundo a Anistia Internacional. 65 são considerados “presos de consciência” pela Anistia. O ex-ministro tem razão quando diz que o governo de Lula “blinda” os amigos-ditadores. Lampreia sugeriu que os amigos iranianos de Lula estão fabricando a bomba atômica, mesmo assim Mahmoud Ahmadinejad foi recebido candidamente pelo presidente petista e seu entourage.
Orlando Zapata tinha 42 anos e, como dissidente político, não pedia muito. Só queria que o país fosse democrático. Mas exigir democracia em Cuba é o pior dos crimes. Na quinta-feira, 25, o jornal espanhol “El País” contou que a família e amigos queriam carregar o caixão com o corpo do jovem democrata, mas o governo não permitiu. O caixão teve de ser levado num carro do governo. Numa operação de guerra, mais de mil policiais cercaram Banes, fecharam as entradas do município e impediram o protesto e a solidariedade dos manifestantes. Numa crueldade ímpar, a ditadura exigiu que o enterro fosse realizado imediatamente, assim que o caixão chegou a Banes, mas a família reagiu e o governo recuou.
Corajosa, a mãe de Orlando Zapata, Reyna Luisa Tamayo, desafiou a força da ditadura: “Esta mãe não admite nenhuma mensagem de condolências de Raúl Castro, eles mataram meu filho”.
Quando disse acima que Orlando Zapata foi “assassinado” pelo regime comunista quis dizer isto mesmo. Rigorosamente, morreu por causa da greve de fome, mas deixou de se alimentar em sinal de protesto contra a condenação brutal. Foi condenado a três e, depois, a 25 anos de prisão, sem que tenha cometido nenhum crime contra o país ou contra outro ser humano. Orlando Zapata e outros “foram condenados sem o devido processo em sentenças sumárias”, diz o sociólogo cubano Haroldo Dilla, professor-visitante da Universidade de Porto Rico. Os julgamentos cubanos são semelhantes aos julgamentos do stalinismo na década de 1930. Os chefões da família Castro funcionam como promotores de justiça, juízes e carrascos. Não são muito diferentes de Stálin. Segundo estatísticas conservadoras, mataram cerca de 15 mil cubanos e exilaram milhões (não é à toa que Bill Clinton teria dito, em tom irônico, que Miami era o maior bairro de Cuba. A “piada” é mais ou menos assim. Fidel pediu Guantánamo de volta e Clinton teria dito: “Devolva Miami primeiro”). Criaram campos de concentração para dissidentes e para homossexuais (“Antes Que Anoiteça”, as memórias do escritor Reynaldo Arenas, são impressionantes). Dissidentes e seus filhos praticamente não têm acesso a boas escolas e a hospitais de alguma qualidade e recebem pouca comida e os menores salários. Para ser reitor de uma universidade, como a de Havana, é preciso ser filiado ao Partido Comunista Cubano. Há informações, não comprovadas, de que o avião de Camilo Cienfuegos, um dos herois da Involução de 1959, teria sido derrubado a mando de Fidel. Ele seria “liberal” demais e não estaria aprovando execuções sumárias autorizadas por Fidel e Che Guevara. O próprio Guevara teria sido mandado para o Congo e, em seguida, para a Bolívia, para morrer, porque estaria se tornando incômodo ao poder solitário de Fidel.
Ao lado de Lula, que não parecia constrangido, Raúl Castro atacou os Estados Unidos, que seriam “culpados” pela morte do “mercenário” Orlando Zapata. Raúl só não explicou como algum “mercenário” podia viver numa pobreza lamentável e, depois, optou por morrer de fome. A lógica do encanecido comunista é ilógica. A porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Virginia Staab, deu uma informação que, embora publicada, não mereceu destaque na mídia brasileira: “Os Estados Unidos são os principais fornecedores de alimento a Cuba”. Cadê o embargo? Staab poderia ter ampliado: o país de Barack Obama também é um dos fornecedores de medicamentos para o povo cubano. Cadê o embargo?
Há outro aspecto cômico nas palavras de Raúl Castro, que está cada vez mais parecido com os ditadores da prosa de Gabriel García Márquez (o mais talentoso escritor-canalha político vivo) e Alejo Carpentier. É caricatura de si. Leia o inacreditável: “Aqui [Cuba] não temos uma máxima liberdade de expressão”. Ora, a verdade é outra: não há em Cuba a mínima liberdade de expressão. Raúl foi além: “Desde que um tal de Gutenberg inventou a imprensa, só se publica o que quer o dono da imprensa”. O ditador não sabe mesmo como funciona a democracia, onde, apesar do poderio do dono, há variáveis-tensas do jogo democrático. Yoani Sánchez, do blog Generación Y, foi espancada recentemente e, agora, não pôde assinar o livro de condolências a Orlando Zapata.
Apesar de tudo o que se disse acima, o governo Lula arrancou U$ 453 milhões do contribuinte brasileiro, por intermédio do BNDES, para um regime que tortura e mata seus democratas. O dinheiro está sendo utilizado na ampliação do porto de Mariel. A reforma custará 800 milhões de dólares. Como Cuba não tem capital, o restante deve vir da Venezuela e outros aliados... condoídos da ditadura.
“Os amigos podem matar” — é o recado de Lula para a dinastia Castro? É a ética James Bond de parte da esquerda brasileira.
Êxodo jornalístico
Jornalistas do “Pop” e da Televisão Anhanguera começam a pedir empregos em jornais e emissoras de televisão. Alegam que perderam a “tranquilidade” para trabalhar nas empresas da Organização Jaime Câmara.
Justiça condena Luís Nassif e o portal Internet Grátis
O portal Internet Grátis (iG) e o jornalista Luís Nassif terão de pagar 100 mil reais ao diretor de redação da revista “Veja”, Eurípedes Alcântara. Os condenados decidiram recorrer.
Nassif escreveu no seu blog que Alcântara seria o intermediário de supostos negócios da revista com Daniel Dantas, dono do Banco Opportunity.
O portal e o jornalista também foram condenados, em 2009, a indenizar o redator-chefe da revista, Mario Sabino.
Nassif publicou uma série de artigos polêmicos sobre como a revista “é” editada.
Sede da OM&B
A agência O&MB, de José Mário Cunha, funciona em nova sede, à Avenida do Contorno, no Setor Pedro Ludovico. Cunha está negociando a sede anterior, que é muito grande. “O nosso ano começou bem. Enxugamos a empresa.”
O publicitário diz que, com uma estrutura menor, a empresa vai crescer. “Nós conquistamos novos clientes”, garante Cunha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário