quinta-feira, 4 de março de 2010

Marconi: Tancredo como exemplo!

Diário da Manhã

ARTIGO






Marconi Perillo

O exemplo de Tacredo Neves

O Senado viveu um momento de muito emoção ao realizar uma Sessão Especial, que tive a honra de presidir boa parte, para marcar a passagem dos 100 anos de nascimento do saudoso presidente, primeiro-ministro, governador, senador, deputado e - acima de tudo - político: Tancredo Almeida Neves. Ousaria dizer que, se fosse vivo, Dr. Tancredo estaria contente em ver realizado seu propósito de garantir um grande acordo nacional para a transformação do Brasil num país restaurado na honra, na riqueza e na dignidade.

O Brasil de hoje é uma democracia, uma nação livre, governada pelo império da lei e do Estado de Direito, como era o desejo de Tancredo Neves, expresso nesse trecho acima, extraído de discurso datado de agosto de 1984, quando foi indicado oficialmente candidato à Presidência da República. Somos agora uma Nação com Constituição oriunda do coração de seu povo, um País em processo permanente de construção da dignidade cívica e da consciência democrática, fundadas em sucessivos pleitos eleitorais através da alternância do poder e da liberdade de expressão.

Passados 22 anos em que se tocou a alvorada da liberdade por meio da promulgação da Carta Constitucional de 1988, fruto da vigília corajosa dos homens que exorcizaram com sua fé os fantasmas da tirania, podemos dizer em memória de nosso homenageado: o Brasil está ao abrigo da democracia e não mais admite o tacão do autoritarismo, seja ele de que natureza for.

Podemos dizer, também com profunda convicção, que a nossa geração política não levará consigo a imensa frustração que marcou a geração de Tancredo Neves, como ele mesmo expressou em entrevista no ano de 1977, já na luta pela volta das instituições democráticas ao Brasil. Disse o Dr. Tancredo: "A grande decepção da minha geração é que achávamos que a democracia estava definitivamente assegurada no País. Hoje vemos que quem tinha razão era o Otávio Mangabeira, para quem nossa democracia era uma plantinha muito tenra."

Se podemos ter a certeza de ver enraizada a democracia no Brasil, devemos isso a homens como Tancredo de Almeida Neves, um democrata autêntico e virtuoso, cujos 75 anos de vida pública confundiram-se com a trajetória da construção da República brasileira no século 20. O destino caprichosamente não quis que o Dr. Tancredo tomasse posse como presidente da República, mas o Brasil sonhou e concretizou com esse ourives da negociação política a vitória no colégio eleitoral, passo fundamental para livrar a Pátria definitivamente da ditadura militar.

Os 38 dias de dor e agonia em que mergulhou nosso homenageado até falecer em 21 de abril de 1985 foram acompanhados por todos os brasileiros, que se compadeciam pelo herói da Nova República. Todos nós lembraremos do Dr. Tancredo como modelo de quem soube como poucos tornar a política a ciência da conciliação e das possibilidades. Buscaremos sempre fonte de inspiração nesse mineiro de São João Del Rey. Como ele nos ensinou no discurso da vitória, referindo-se a Tiradentes: "Se todos quisermos, poderemos fazer deste País uma grande Nação."

Lembro-me bem dos memoráveis comícios das Diretas-Já e do Muda Brasil na Praça Cívica, em Goiânia, quando Tancredo Neves falou para uma multidão e manifestou o carinho que tinha por Goiás e nossa gente: "Não sei se me sinto mais mineiro em Goiânia ou mais goiano em Minas Gerais." Tancredo foi um grande brasileiro, talvez o maior de seu tempo. Um extraordinário exemplo de vida para todos nós.

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