sexta-feira, 12 de março de 2010

O Popular

Da redação

Cara do vice tem de ser visível

Hélio Rocha *

Uma enquete do jornal Folha de São Paulo pergunta aos leitores se levam em conta o candidato a vice para definir o voto. No momento, os que responderam afirmativamente, isto é, que consideram e avaliam o vice para fazer a escolha, somam pouco mais de 51%, enquanto os que não levam em conta chegam a pouco mais de 48%.

Trata-se da manifestação de leitores de um jornal nacionalmente importante, público portanto informado e, sem querer discriminar outros, um grupo politicamente mais esclarecido. Dentro da massa de eleitores, em geral, o número dos que atentam para as qualidades do candidato a vice deve ser muito menor, talvez não mais mesmo do que algo como 20%.

Pelo atual sistema político-eleitoral brasileiro, que precisa receber uma ampla reforma, tarefa que vem sendo há muito tempo protelada, o candidato a vice é quase invisível. O certo seria que tivesse quase o mesmo grau de visibilidade do candidato que encabeça a chapa.

No período entre 1945 e o golpe militar de 1964 votava-se também no vice e poderia até ocorrer a vitória de um candidato de uma chapa e a de um candidato a vice de outra, exatamente como aconteceu em 1960: o vitorioso foi Jânio Quadros por uma chapa, e o vice vencedor de outra chapa, João Goulart.

Tomando-se em conta razões de governabilidade, vamos admitir que uma futura reforma político-eleitoral mantenha como vice vencedor o companheiro de chapa do cabeça da chapa, sem necessidade de voto específico para vice. Mas é preciso que se assegure a adequada e suficiente visibilidade do candidato a vice, pois assim exige o discernimento do eleitor, contra o risco da escolha de um substituto incompetente ou comprometido, pois ele pode vir a assumir.

Um vice com qualidades e competência poderia até vir a ser um valioso auxiliar do governo, à frente de uma secretaria especial ou de alguma comissão importante.

É bom lembrar que as esperanças colocadas em Tancredo Neves, em 1985, frustraram-se porque ele adoeceu e veio a morrer, e assim quem assumiu foi o oportunista José Sarney. Mencione-se também agora o escândalo de Brasília. A sucessão de José Roberto Arruda poderia ter se dado sem problema, mas isso não foi possível porque o vice-governador, Paulo Octavio, também está denunciado e sob suspeita.

O adequado grau de visibilidade para o candidato a vice deveria ser conferido também aos suplentes, como na formação de chapas para a disputa das cadeiras senatoriais. A quantidade de suplentes que não deveriam figurar em chapas, por razões éticas e de decência, e que acabam assumindo, é muito grande. Em boa parte por culpa dos partidos, que homologam chapas sem o rigor de requisitos para a aprovação de nomes de pretendentes à suplência. Muitos até compram o lugar na chapa, entregando aos partidos ou às coligações muito dinheiro.

* Hélio Rocha é colunista do POPULAR

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