ARTIGOS
A lição das mães de Luziânia
A tragédia envolvendo o caso dos desaparecimentos parece não ter fim. Se a prisão do acusado de ter matado os seis jovens da cidade nos chocou profundamente, agora, com a notícia do suicídio, o susto é ainda maior.
Quanta violência e insanidade!
Diante da ação brutal que pôs fim à vida dos nossos garotos, nos deparamos com a fragilidade do Poder Judiciário. O pedófilo acusado foi liberado da prisão alguns dias antes de aliciar o primeiro jovem, mesmo havendo um laudo médico atestando sua disfunção comportamental.
Ouvi de alguns familiares a conclusão óbvia: “Se o laudo médico tivesse sido considerado, a tragédia não teria ocorrido”. E agora: “Ele ainda teria muito a revelar”. Doentes como Adimar deveriam ser tratados e acompanhados permanentemente.
De tudo, sobressai a atuação das mães dos garotos. Sônia, Valdirene, Sirlene, Aldenira, Mariza e Maria Lúcia, desde os primeiros momentos, acalentaram a esperança no reencontro com os meninos vivos. E na esperança, encontraram força para mobilizar a sociedade brasileira. No início, elas reclamaram que não estavam sendo ouvidas.
Mas voz de mãe, como todos nós aprendemos, existe para ser ouvida. A elas, nosso pesar e solidariedade, e o crédito maior pelo desvendamento dos crimes.
As mães dos jovens de Luziânia entraram para a história ao agirem como as mães da Argentina que protestaram na Praça de Maio contra a morte dos filhos na ditadura militar e as mães das vítimas de violência do Rio de Janeiro.
As mães de Luziânia foram responsáveis pela repercussão que ganhou o caso. Graças a elas, a imprensa deu cobertura, as autoridades se sensibilizaram, o ministro da Justiça liberou a Polícia Federal, a sociedade se mobilizou.
Mais uma vez foi preciso que as mães gritassem para se fazer ouvir a dor da violência. E se ainda há muitos crimes a serem desvendados, é preciso manter os alto-falantes ligados e os ouvidos atentos para escutar os apelos – e não só os maternos – contra todo tipo de violação da vida.
Cassiana Tormin é vereadora em Luziânia, jornalista, mestre em Gestão Urbana, pós-graduada em Pedagogia Catequética
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