segunda-feira, 19 de abril de 2010

Marconi: Paz!






Opinião




Marconi Perillo

A paz é o nosso caminho

Se estivesse vivo, o líder espírita Chico Xavier estaria completando 100 anos de existência. Por minha iniciativa, o Senado da República realizou sessão especial para marcar o centenário do médium que ficou conhecido em todo o mundo e dedicou toda a sua vida para a construção do bem.

Francisco Cândido Xavier, o nosso Chico Xavier, psicografou 451 livros, sendo 39 publicados após a sua morte. Ele não se via como autor de nenhum deles porque, nas suas próprias palavras, reproduzia apenas o que os espíritos - principalmente o espírito de Emmanuel - lhe ditavam. Por isso, negava-se a receber o dinheiro arrecadado com os volume, embora tenha vendido mais de 50 milhões de exemplares em português, com traduções em inglês, espanhol, japonês, esperanto, italiano, russo, romeno, mandarim, sueco e braile.

Chico Xavier preferiu ceder os direitos autorais para organizações espíritas e instituições de caridade, desde o primeiro livro. Parnaso de além-túmulo, com 256 poemas, foi atribuído a poetas mortos, entre eles os portugueses João de Deus, Antero de Quental e Guerra Junqueiro. Nosso Lar, publicado inicialmente no ano de 1944, pela mão do espírito André Luiz, tem atualmente mais de dois milhões de cópias vendidas. E Escada de Luz, de autoria de diversos espíritos, última obra psicografada por Chico Xavier, segue pelo mesmo rumo, tamanha a força das mensagens de paz e harmonia trazidas aos leitores, sejam estes espíritas ou não.

Tenho certeza de que Chico Xavier, cuja vida agora também está sendo mostrada nas telas de cinema, provavelmente não desejaria, pela simplicidade e extrema dedicação ao próximo, ser lembrado apenas pela extraordinária capacidade mediúnica, que lhe possibilitou psicografar um acervo tão memorável. Como ele mesmo dizia, suas mensagens tinham o objetivo de reconfortar as pessoas, tão aflitas diante das adversidades da vida, como a perda de um ente querido, muitas das vezes, de forma trágica.

Talvez por isso, parece-nos que o melhor de Chico Xavier era a sua energia de operar pelo exemplo de conduta, revelada no seu dia a dia, à frente do Grupo Espírita da Prece, hoje ainda em funcionamento na cidade de Uberaba. Ele foi, por certo, um desses espíritos de extrema luz que encarnaram para nos servir de exemplo, como Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce e Mahatma Gandhi. Esteve entre nós, mas não pertencia a este mundo material, governado pelo poder da força, orientado pelo ter em detrimento do ser, que nos esforçamos para humanizar tanto campo social como no plano individual.

Algumas passagens de Chico Xavier, extremamente singelas e profundas, expressam sua grandeza diante da vida. Dizia Chico: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”. “Como?”, certamente perguntam alguns. As palavras do próprio Chico Xavier têm a resposta: “Lembremo-nos de que o homem interior se renova sempre. A luta enriquece-o de experiência, a dor aprimora-lhe as emoções e o sacrifício tempera-lhe o caráter. O espírito encarnado sofre constantes transformações por fora, a fim de acrisolar-se e engrandecer-se por dentro.”

Seguidor do kardecismo, Chico Xavier transformou o Brasil na pátria do espiritismo e ganhou tamanha expressão que foi eleito, juntamente com os outros mineiros Santos Dumont e Juscelino Kubitschek, o mineiro do século XX. Mas não era um homem afeito a homenagens, sobretudo porque tinha consciência plena de sua missão de doutrinador.

Diante da figura bondosa de Chico Xavier, lembro-me do ensinamento sublime de Jesus Cristo, que não pediu muita coisa, não exigiu que as pessoas escalassem o Everest ou fizessem grandes sacrifícios. Ele só esperava que nos amássemos uns aos outros. Essa também foi a mensagem de paz deixada por Chico Xavier, cuja trajetória evoca, igualmente, as palavras de Mahatma Gandhi – aliás, Mahatma significa “alma grande”, que é exatamente o que Chico Xavier tinha de sobra: “Não há caminho para a paz; a paz é o caminho”, ensinou-nos Gandhi.

De fato, o caminho é a paz, que é postura, que é atitude. A paz que Chico Xavier cultivou em cada um dos dias dos seus 92 anos de doação, de amor infinito e de uma vida que serviu para ilustrar a doutrina codificada por Allan Kardec. E é pelo caminho da paz e da concórdia que resgataremos os mandamentos de fé cristã para propor o amor ao próximo e a solidariedade como instrumentos superiores de reflexão sobre a realidade do mundo de hoje e sobre a necessidade de nos dar as mãos e amar uns aos outros.

Sem o amor a cada semelhante, jamais poderemos acabar com as enormes diferenças sociais existentes em nosso País. Sem o amor a cada semelhante, é impossível erradicar a miséria e flagelos como a droga e a violência. Os mandamentos da fé cristã indicam também o papel fundamental da família nos dias de hoje, não só como núcleo de apoio à educação de nossas crianças, mas igualmente como abrigo onde se consolidam valores como a dignidade, a fraternidade e a solidariedade.

Somente quem consegue se despir do pensamento individualista e da autossuficiência, tão presentes na sociedade consumista, tecnológica, pós-moderna, consegue retomar o ensinamento propagado por Jesus, que nos viu como irmãos. Chico Xavier viveu exclusivamente para fazer o bem e lembrá-lo no seu centenário é celebrar um grande e extraordinário exemplo de pacifismo, de renúncia aos bens materiais e, acima de tudo, de amor incondicional ao próximo.


Marconi Perillo é senador pelo PSDB - http://www.marconiperillo.net/ - Twitter: @marconiperillo

Nenhum comentário:

Postar um comentário