segunda-feira, 19 de abril de 2010

Trajetória de um maníaco







DESAPARECIMENTOS EM LUZIÂNIA

Adimar Jesus, no dia em que foi transferido para Goiânia: vida cheia de mistério terminou de forma trágica

Adimar Jesus teve vida marcada por crimes desde sua terra natal
Pedreiro veio para Goiás fugindo de acusação e, no distrito federal, abusou de dois meninos

Patrícia Drummond

história do pedreiro Adimar Jesus da Silva começou a ser traçada há 40 anos, quando ele nasceu em uma família pobre de Riachão, povoado de Serra Dourada, município da Bahia com 18 mil habitantes. Ali, o assassino confesso dos seis jovens de Luziânia, encontrado morto em sua cela no início da tarde de ontem, cresceu, se casou, teve dois filhos e ficou viúvo.

Adimar dizia que a mulher morreu envenenada – e a polícia quer esclarecer em que circunstâncias, embora o pedreiro sustentasse que havia sido em um ritual de macumba. O casal de filhos dele, uma jovem de 18 anos e um adolescente de 14, vivem em Riachão, no oeste baiano, com os avós maternos – Edilson Souza Silva e Terezinha dos Santos Silva, ambos de 58 anos. Os dois afirmam que a filha morreu de derrame cerebral, aos 25 anos, depois que Adimar a abandonou.

Foi nessa época que ele mudou-se para Luziânia – de acordo com os avós maternos, ex-sogros, o segundo filho do pedreiro ainda era bebê. Conforme a polícia, Adimar fugia de sua terra natal por uma acusação de tentativa de homicídio ocorrida em março de 2000, e chegou, inclusive, a falsificar a própria certidão de nascimento para ter uma nova carteira de identidade (o nome Ademar foi modificado para Adimar).

Em 2005, Adimar Jesus da da Silva cometeu os primeiros crimes sexuais contra dois menores, em Águas Claras e no Núcleo Bandeirante, no Distrito Federal. Ele atraiu as vítimas oferecendo dinheiro em troca de serviços e, depois, abusou sexualmente dos garotos. Um deles o denunciou e o pedreiro acabou preso. Foi condenado a 14 anos.

Livre em 23 de dezembro do ano passado – mesmo com vários laudos atestando seus transtornos de personalidade –, Adimar, que ganhou o benefício da progressão de pena, voltou ao crime apenas uma semana depois, fazendo a primeira de suas seis vítimas entre os jovens de Luziânia. Diego Alves Rodrigues, de 13 anos, desapareceu no dia 30 de dezembro de 2009. O último a morrer foi Márcio Luiz de Souza Lopes, o único maior de idade, com 19 anos, em 22 de janeiro.


Presos perceberam movimentação

Deire Assis

No sábado, ao perceberem que o pedreito Adimar Jesus da Silva rasgava tiras do tecido que recobria o colchão que ele tinha na cela, alguns dos 11 presos que abrigam a cela vizinha à sua, na Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), o questionaram sobre um possível suicídio dele. “Nós chegamos a perguntar se ele não estava se pensando em se matar. Ele negou e disse que estava rasgando o lençol porque estava muito grande”, contou o detento Cláudio Tomás da Costa, de 26 anos.

O preso contou que o pedreiro não manifestou comportamento suspeito nos últimos dias. “Ele conversava numa boa com a gente. Hoje, pouco antes de a xepa chegar, ele nos contou de novo como matou cada um dos meninos”, afirmou o preso.

Cláudio Tomás relatou que, nas conversas com os outros detentos que estão na Denarc, Adimar manteve a versão contada à polícia sobre os crimes de Luziânia quando foi preso: de que as mortes dos garotos fora encomendada por Márcio Luiz de Souza Lopes, de 19 anos, uma das vítimas, por causa de dívidas com drogas.

No final, segundo relatou aos vizinhos de cela, teria assassinado Márcio porque ele teria se negado a pagar os R$ 5 mil que prometera para que Adimar desse cabo da vida dos jovens. “Ele ainda nos perguntou quanto tempo de cadeia a gente achava que ele pegaria pelos crimes”, afirmou Cláudio.

Depois de almoçar e de conversar com os demais detentos, por volta das 11 horas, Adimar disse que iria tomar banho. Ligou o chuveiro. Cerca de meia hora depois, como o chuveiro permanecia ligado e não havia nada que interrompesse o fluxo da água, os outros presos começaram a chamá-lo. Como não houve resposta, gritaram pelos agentes. Ao chegarem se depararam com o corpo do homem dependurado pela corda, de frente para a porta. (Deire Assis)


ENTREVISTA/LÚCIO MALAGONI

“O indivíduo puramente psicopata não se mataria”

Deire Assis

É comum um indivíduo como o perfil do Adimar cometer suicídio?

Não posso dizer que é um fato comum. Em situações em que se acredita “sem saída”, qualquer indivíduo pode atentar contra a própria vida, entretanto isso é menos frequente em indivíduos propensos a frieza de ânimo, como o psicopata estrito senso. Uma imagem pictórica é a do escorpião envolvido num círculo de fogo, que dirige o ferrão contra si mesmo, e se mata. Pode ter sido este o caso do Adimar.

A morte do Adimar reforça a tese que pessoas com este perfil precisam de acompanhamento psicológico de perto?

A morte de Adimar, e dos seis jovens que ele assassinou, não apenas reforça, trombeteia a necessidade de uma atuação preventiva neste segmento, e os profissionais de saúde mental são parcela importante desta atuação. Mas podemos também analisar uma segunda tese e considerar que esta morte possa ser indício de remorso. Mas aí o fato falaria contra a tese de transtorno antissocial de personalidade.

Houve um erro na avaliação do perfil psicológico do Adimar?

Acredito, com base nas avaliações prévias feitas em Brasília, e com os dados obtidos em Goiás, que a avaliação existente foi correta. Mas não deixo de frisar: o caso ainda seria avaliado, então adequadamente, e em profundidade, pela perícia, seja no Tribunal de Justiça ou no Instituto Médico Legal de Goiânia.

O Adimar ter, segundo a polícia, se matado deixou o senhor surpreso?

Dentro do que vinha sendo divulgado, estou relativamente surpreso. Até então as informações apontavam que se tratava de um indivíduo sem reação e sem remorso. O que se sabia é que realmente havia perda de controle por parte dele. O indivíduo puramente psicopata não teria este tipo de atitude. Agora fica difícil definir, pois seria necessária uma avaliação mais aprofundada (do pedreiro).


Opiniões enviadas pelos leitores pelo Facebook

O Popular

Leitores comentaram a morte de Adimar no Facebook do POPULAR:


“Acho que esse fato terá de ser muito bem explicado.”

Salma Saddi


“Ele é um psicopata, não um suicida. Na verdade, estes crimes não estão explicados. Espero que a sociedade não cometa mais um erro em pensar que isso acabou, pois só mostra a inocência da sociedade para com os verdadeiros culpados.”

Aline Rodrigues


“Será que foi mesmo suicídio? Ou será queima de arquivo? Ficaremos em dúvida agora.”

Gilvane Felipe


“Pelo menos não ameaça mais perigo para a sociedade.”

Victoria Arantes

“Lamento a falta de tirocínio dos policiais - a tentantiva ‘suicida’ era esperada. Mais um gosto de impunidade na goela do povo goiano.”

Jakson Perdigão

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