terça-feira, 27 de abril de 2010

Transporte: caos em Goiânia!

 





CIDADES

TRANSPORTE
                                    Foto: Ricardo Rafael
No Terminal Veiga Jardim, usuário espera em vão pelo ônibus: mais de 400 mil pessoas foram atingidas pela greve


Greve deixa 400 mil sem ônibus
Paralisação de trabalhadores do transporte coletivo provoca caos e revolta entre usuários

Almiro Marcos

O dia ontem foi de caos no sistema de transporte coletivo da Região Metropolitana de Goiânia. Mais de 400 mil passageiros (metade dos usuários de ônibus) foram prejudicados por uma paralisação de motoristas a partir do início da manhã de ontem. Os usuários foram pegos de surpresa porque o movimento não foi anunciado anteriormente. À tarde, o Ministério Público do Trabalho entrou com ação na Justiça do Trabalho por causa da ilegalidade da greve.

No Eixo Anhanguera, os serviços foram retomados por volta de meio dia, mas continuaram irregulares em várias outras linhas. Só por volta das 15 horas, uma negociação entre o Sindcoletivo e os motoristas levou à retomada parcial dos serviços. Mas a confusão persistia à noite em alguns terminais, como no Garavelo, onde os ônibus permaneciam parados obrigando as pessoas a voltar para casa a pé (leia mais no box). Nem a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) nem o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo de Goiânia (Setransp) reconhecem o Sindcoletivo como entidade representativa dos motoristas e se recusam a negociar com ele. Houve tumulto e quebra-quebra de ônibus em alguns terminais.

Sem aviso prévio, as pessoas saíram de suas casas para pegar o ônibus, muitas delas ainda de madrugada. Pretendiam ir para mais um dia de trabalho. Assim foi com o casal Alexsandro Messias Ida, de 18 anos, e Regisane Pontes Jardim, de 24. Chegaram no ponto no Conjunto Cruzeiro do Sul, em Aparecida, por volta das 6h30 e nada de ônibus passar. Então foram a pé para o Terminal Cruzeiro.

Somente lá descobriram que os motoristas estavam de greve. Ele ligou para o patrão buscá-lo e ela voltou para casa. E assim foi o dia de muita gente na Região Metropolitana de Goiânia.

Ninguém sabe explicar ao certo como o movimento nasceu. Mas o Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores do Transporte Coletivo de Goiânia e Região Metropolitana (Sindcoletivo), dissidente do sindicato oficial, assumiu que estava à frente da paralisação. Não foi bem isso que os motoristas falavam nos terminais e garagens. “A gente fez isso porque não se sente representado”, disse um motorista de braços cruzados na porta de uma das garagens da HP Transportes.

As garagens sul, da HP, central e sul, da Rápido Araguaia, e da Metrobus foram fechadas logo no início da manhã pelos motoristas. Os ônibus foram impedidos de circular. Pneus foram esvaziados. Os primeiros impactos foram sentidos nos terminais do Eixo Anhanguera e na Região Sul da rede metropolitana. As pessoas que conseguiam chegar nos terminais não tinham como sair ou nem chegavam a ser pegos nos pontos.

Por volta das 8 horas houve confusão no Terminal Veiga Jardim, em Aparecida de Goiânia. Os poucos ônibus que conseguiram chegar foram apedrejados por pessoas revoltadas. A Polícia Militar (PM), acionada logo que o movimento foi iniciado, teve problemas para conter o tumulto. A revolta se transferiu para as instalações do terminal. Vidros foram quebrados e estrutura amassada.

Ônibus que insistiram em circular foram atacados a pedradas na rua. Um veículo da linha Expresso Independência Mansões foi apedrejado próximo ao Veiga Jardim. O açougueiro Antoniel de Oliveira Brandão, de 32 anos, seguia para o trabalho e por pouco não ficou pelo caminho. “O pessoal gritou e eu me abaixei. Só senti a pancada na cabeça. Se não tivesse me abaixado a pedra de cerca de 1 quilo teria atingido de cheio o meu rosto”, conta ele, mostrando os cinco pontos no alto da cabeça.

Conforme o dia ia avançando e as pessoas ficavam amontoadas nos pontos, nos terminais, a informação do movimento ia ganhando força e a adesão aumentava. Os terminais iam sendo paralisados um a um. Por volta das 9h30, um grupo de motoristas esvaziou os pneus de ônibus no Terminal Bandeiras e eles foram impedidos de circular. Os passageiros que estavam na plataforma ficaram sem ter como seguir para casa.

                                                Foto: Ricardo Rafael 
No mesmo terminal, motoristas murcharam pneus

Empresas recolhem os ônibus às garagens

Marília Assunção

Pouco antes das 20 horas, quando o fluxo de passageiros nos terminais ainda era grande – represado no dia todo – houve uma determinação das empresas de ônibus para recolher os veículos às garagens. No Terminal Bandeiras, onde aproximadamente 250 veículos estavam, houve reação dos usuários.

Um grupo tentou impedir que o veículo fosse recolhido e os policiais militares (PMs) soltaram duas bombas de efeito moral para conter a multidão. Um rapaz sofreu queimaduras no rosto. Dois usuários foram presos.

Foi o ponto alto da insatisfação dos usuários com a suspensão dos serviços de transportes que atingia praticamente todos os terminais nesse horário. A reportagem conferiu cerca de 150 ônibus parados no Terminal Garavelo por volta das 19h15. Uma multidão desconsolada de passageiros caminhava pela rodovia ao lado do Garavelo, onde era deixada pelos poucos veículos que estavam circulando.

Ao chegarem no terminal, que teve a entrada bloqueada por dois ônibus, os motoristas eram parados e impedidos de entrar, passando fora do terminal, ou aderindo à paralisação, como ocorreu com vários.

No Terminal do Cruzeiro do Sul, táxis e mototáxis enfileirados do lado de fora sinalizavam o paradão em um dos terminais mais movimentados da Região Metropolitana. “Tinha ônibus para chegar até o Veiga (Terminal Veiga Jardim), mas não adianta ir porque lá está tudo parado”, dizia uma passageira do lado de fora.

No Terminal Isidória, o mecânico de uma das empresas de ônibus saia desanimado às 20h30. “Nem nós soubemos que os ônibus seriam recolhidos. Também ficamos na mão”, dizia.

A determinação de recolher os carros veio das empresas logo depois de o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários (Sindtransportes) Alberto Magno, ter se reunido com os grevistas parados no Terminal Bandeiras, sem êxito em encerrar a paralisação. Ele chegou a pedir que fosse escolhido uma comissão para negociar, retornando hoje de manhã para uma assembleia, o que foi recusado. “Da forma como está, os ônibus serão recolhidos e os passageiros ficarão sem saber se amanhã (hoje) haverá transporte”, disse.


Piquetes impediam saídas

Almiro Marcos

Ainda de madrugada, piquetes montados nas entradas das principais garagens das empresas que operam o sistema impediram a saída dos ônibus. Na Metrobus, nenhum dos 97 veículos do Eixo Anhanguera saiu para circular. Segundo relatos de motoristas, que passaram toda a manhã na porta da empresa, por volta das 4 horas, um ônibus da empresa Rápido Araguaia foi estacionado na porta da Metrobus, impedindo a saída do Eixão. Pelo menos oito viaturas da Polícia Militar permaneceram toda a manhã na porta de Metrobus.

A estimativa é de que diariamente 250 mil pessoas passam pelo Eixo Anhanguera. Só no horário de pico da manhã, são cerca de 80 mil pessoas, que precisaram encontrar outro forma de chegar ao trabalho ou permaneceram paradas nos terminais e plataformas, esperando a normalização dos serviços.

Em vários pontos da cidade, eram encontrados ônibus estacionados próximos aos pontos, muitos com os pneus murchos.

Os ônibus que chegavam ao terminal saíam vazios para as garagens para evitar mais depredação. No final da manhã, algumas linhas, que circulam pelos terminais Garavelo e Praça A, entre outros, voltaram a operar, mas com número reduzido de veículos.


Tumulto começou na madrugada

Carla de Oliveira

No Terminal Veiga Jardim, o tumulto se instalou por volta das 6 horas. Os usuários do transporte embarcaram nos bairros, rumo ao terminal, e lá não tiveram como seguir viagem. Cerca de dez ônibus tiveram os vidros quebrados por pedras. O prédio da administração também foi depredado. A técnica de enfermagem Maria do Carmo Sena, de 37 anos, estava indignada com a impossibilidade de seguir viagem do Terminal Veiga Jardim para Campinas. Maria do Carmo saiu de casa, na Cidade Livre, às 5h20, para ficar o neto, que está hospitalizado, mas não conseguiu sair do terminal. Por volta das 9h30, ela ainda buscava uma solução, que provavelmente seria a volta para casa a pé.

O representante de vendas Jean Carlos da Silva, de 25 anos, não conseguiu chegar ao trabalho ontem. Ele foi do Terminal do Cruzeiro para o Veiga Jardim, tendo como destino final o Polo Industrial de Aparecida de Goiânia. Parou no meio do caminho. “Não tenho como seguir e nem como voltar”, diz.

Morador de Trindade, o supervisor Antônio Joaquim de Souza, de 49 anos, ficou surpreso ao chegar ao Terminal Padre Pelágio e encontrar tudo parado. “Cheguei às 5 horas. Não tenho como voltar e estou perdendo o dia de serviço”, lamentava.

A dona de casa Maria do Socorro Felipe da Silva, de 30 anos, veio de Nerópolis para fazer exames. Chegou a Goiânia no final de semana, mas foi surpreendida pela falta de ônibus. Acompanhada das filhas de 11 e de 5 anos, ela não sabia o que fazer. “Acho justa a reivindicação, mas eles poderiam ter avisado”, reclamou. (Carla Oliveira)


Marcos Massad deve depor hoje na Câmara

O Popular

Detalhes sobre a participação da Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC) na resolução do movimento grevista que convulsionou o sistema de transportes ontem, são esperados para hoje na Câmara Municipal de Goiânia.

O vereador Santana Gomes (PMDB), relator da Comissão Especial de Inquérito (CEI) que investiga irregularidades na licitação e as alterações de linhas que estimularam vários protestos entre os passageiros, informou ontem que o presidente da CMTC, Marcos Massad, foi convidado a prestar esclarecimentos hoje na Comissão. O depoimento está agendado para as 16 horas.

“Queremos apurar porque a CMTC não atua como gestora e fiscalizadora do sistema, delegando essa tarefa dela para os empresários do transporte”, questionou ele.

O vereador informou que a CEI está sendo estruturada, mas vai solicitar vários documentos sobre os pontos que vai apurar. Também está sendo acertado o cronograma de coleta de depoimentos, como os dos advogados que denunciaram irregularidades na licitação.

Ele antecipou que a comissão está sondando informações sobre uma licitação para linhas no município de Anápolis que teria alguma ligação com possíveis falhas ocorridas no processo licitatório de Goiânia. “Tivemos informações de que um monopólio surgiu em Goiás. E quem perde com isso é só o usuário, como ocorreu com essa greve de hoje (ontem)”, destacou.

Os motoristas de ônibus que entraram em greve se queixam não apenas de perdas salariais. Eles reivindicam reajuste de 15% entre outras várias coisas, as quais, destacam, precarizaram as condições de trabalho em um serviço que envolve o atendimento à população.

“Hoje ganhamos R$ 30 por dia para transportar mais de 70 passageiros em uma única viagem. Falamos em rádio toda hora, sendo que em celular é proibido conversar ao volante. Temos de pagar consultas em um plano de saúde empresarial. Não temos folgas em escalas de mais de 12 dias trabalhados direto e carregamos cadeirantes sob chuva, mesmo estando ao volante. É a situação do motorista que ganha salário de R$ 1 mil por mês”, listava um grupo de motoristas.

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