sexta-feira, 16 de abril de 2010

Pirenópolis: Conquista de título!







CIDADES

Cavaleiro faz apresentação durante as Cavalhadas, no encerramento da Festa do Divino

Festa do Divino vira patrimônio nacional
Pirenópolis terá a oficialização do título nas cavalhadas com vinda do ministro da cultura e presidente do Iphan para final dos festejos

Marília Assunção

Quando as violas e batuques pipocarem pelos pousos de Pirenópolis e os Mouros e Cristãos batalharem nos próximos dias da Festa do Divino Espírito Santo – que vai até as Cavalhadas, de 23 a 25 de maio – os festeiros terão um orgulho novo pela tradição iniciada em 1819. Ontem, a Festa do Divino de Pirenópolis se tornou a segunda celebração religiosa a ganhar título de patrimônio cultural imaterial brasileiro.

A concessão, chamada de registro, foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reunido ontem no Rio de Janeiro.

Antes, apenas o Círio de Nazaré, a procissão que arrasta mais de 2 milhões de fiéis no Pará, tinha conseguido o título e entrado para o almejado Livro das Celebrações, “um registro que vem desde 1936”, frisou ao POPULAR ontem o presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida. Segundo ele, outras três festas do Divino pleiteiam o registro – a de Alcântara (MA), e as dos litorais Norte de São Paulo e Sul do Rio de Janeiro.

No livro, especialistas registram o que há de mais conservado e rico em termos de saberes, formas de expressão, lugares e celebrações – definidas como os rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social. Este é o caso da Festa do Divino, sobre a qual um rico dossiê foi preparado, contando com um filme de 25 minutos, mil fotografias e 150 minutos de depoimentos gravados sobre os festejos.

Como resultado, todos os rituais da Festa do Divino foram aprovados pelo Conselho Consultivo, comemoravam no Rio ontem a superintendente local do Iphan, Salma Saddi, e o prefeito de Pirenópolis, Nivaldo Melo. “O processo para obter o registro foi aberto há dois anos”, destacou Salma. Ela cita que o conselho do Iphan é composto por 22 membros de áreas como arquitetura, história, cultura, turismo, arqueologia, antropologia e outras especialidades. A aprovação do registro causou emoção nos não-conselheiros que assistiram à sessão.

O relatório do dossiê da Festa do Divino foi apresentado pelo professor emérito da Universidade de São Paulo (USP) Ulpiano Bezerra de Menezes, doutor em arqueologia clássica pela Universidade de Sorbonne (França). “O relator se disse convictamente favorável ao registro, citando que a Festa do Divino de Pirenópolis é a totalização da vida social, é onde todos participam”, resumiu ela. A reunião do conselho ocorreu na Sala Portinari do Palácio Gustavo Capanema, no Rio.

Além de ser a segunda do País a ter o título, a festa é a primeira no Centro-Oeste a entrar no Livro das Celebrações porque a primeira manifestação regional imaterial titulada é de outra categoria – a viola de cocho, registrada como patrimônio cultural imaterial pelo modo como é feita.

Ricos em fé e tradição, os rituais da Festa atraem milhares de pessoas. Eles vão do domingo de Páscoa ao domingo após o Corpus Christi. O clímax é no Domingo de Pentecostes ou do Divino. A festa tem folias da roça e da rua, coroa, cerimônias e rituais do império, alvoradas, cortejos do imperador, novena, jantares, cafés, missas cantadas, erguida do mastro, fogos, distribuição de doces, sorteio e coroação do novo imperador.


Título traz benefícios e exigências

Marília Assunção

Durante as Cavalhadas desse ano – de 23 a 25 de maio –, a população e os turistas que participam dos festejos da Festa do Divino Espírito Santo, em Pirenópolis, deverão receber a oficialização do título de patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo ministro da Cultura, Juca Ferreira, e o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Luiz Fernando de Almeida.

Ontem Luiz destacou que o registro e o título significam para a Festa do Divino de Pirenópolis uma política voltada para a dimensão do patrimônio encontrado. “As ações políticas serão diversas, como para catalogar as músicas, criando até mesmo uma escola de música em Pirenópolis, promoção de oficinas de máscaras e outras medidas para a proteção do patrimônio imaterial dessa festa”, frisou.

O dossiê elaborado mostrou os diversos lados da festa: sagrado e profano; de realeza ou popular; diverso e singular – tudo como expressão da religiosidade popular cristã pela qual o Espírito Santo integra a Santíssima Trindade, ao lado de Deus e de seu filho, Jesus, e se manifesta como uma pomba branca ou como línguas de fogo.

Assim como a série de benefícios que visam preservar os pontos tradicionais dos vários festejos, o Iphan, ao conceder o título, fez observações chamadas de salvaguardas sobre a festa – definida como “um sistema de produção e circulação de bens e dádivas recíprocos, descrito pela própria comunidade como ‘patrimônio de valor inestimável’, por isto mantém a tradição.”

No entanto, o Iphan detectou o risco de problemas, como a possibilidade de utilização da festa só como atrativo turístico. Salma Saddi destacou que dez anos depois da concessão do título haverá uma revisão do registro para verificar as salvaguardas. (Marília Assunção)

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