terça-feira, 20 de abril de 2010

Goiás: Rodocaos







Caminhão transporta produção pela GO-050

Produtores reclamam de estradas no Sudoeste

Marla Rodrigues de Jataí

Na região de Jataí, os produtores rurais têm reclamações constantes sobre o estado de conservação das rodovias que usam para escoar a produção. Das pavimentadas, a BR-364 é a estrada que possui mais buracos, ondulações e trepidação. A produtora de soja e milho Inelbi Tombini conta que três caminhões fretados tombaram no mesmo local devido a um trecho com ondulações.

Segundo ela, quando isso ocorre, parte do que estava no caminhão acaba perdido porque não é possível salvar todo o grão, que é transportado a granel e não em sacas. A trepidação da estrada também provoca prejuízos. Se a carreta for mais antiga, cerca de 15% do grão transportado fica pelo caminho. “Nós não recebemos pelo que sai da fazenda, mas sim pelo que chega até o armazém”, destaca. Ela afirma ainda que há trechos onde não há sinalização e à noite a estrada fica ainda mais perigosa.

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) reconhece o problema e prevê uma obra de recuperação de toda a rodovia com início em maio. Este procedimento consiste em quebrar o asfalto e refazê-lo. A assessoria informou que o primeiro trecho a ser recuperado é aquele que liga Jataí a Aparecida do Rio Doce, o equivalente a aproximadamente 85 quilômetros.

Se percorrer as rodovias pavimentadas já está difícil, fazer o caminho pelas não pavimentadas está ainda pior. Boa parte dos atoleiros de caminhões acontece nas GOs 178 e 180, ambas sem asfalto. O produtor de soja e milho, Sandro Trentin afirma que o problema maior é na época de escoamento das safras, normalmente nos meses de fevereiro e junho. “As pistas não têm cascalho e fica difícil tirar a safra. Além disso, o frete começa num preço, mas termina em outro”, diz. Segundo ele, os caminhoneiros cobram pelo menos o dobro para passar nestas rodovias em períodos chuvosos.

Problema semelhante enfrenta o também produtor rural Volmir Maggioni. Para chegar à sua propriedade é indispensável passar pela GO-180, o que às vezes parece impossível. “Para retirar os caminhões que atolam no caminho é preciso trazer tratores que os arrastem”, conta. Para ele, o uso desses tratores prejudica ainda mais a qualidade dessas estradas.

O diretor técnico da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), Ricardo Souza, informou que existem dois planos para essas duas rodovias estaduais. O primeiro é um esforço da agência em transformar a GO-180 na continuação da BR-158 para que ela passe a ser de responsabilidade federal.

Já para a GO-178 está sendo feito um processo licitatório para que ela seja pavimentada pela próxima gestão. “Nós só temos condições de deixar um projeto pronto para o próximo governo, pois a nossa capacidade financeira já foi esgotada”, declara. Ainda de acordo com Ricardo, 600 km de estradas estaduais da região não possuem pavimentação.

DOSSIÊ INFRAESTRUTURA

Asfalto custaria R$ 10 bilhões
Para asfaltar 10 mil km de rodovias de chão, estado precisaria gastar 66% do orçamento

Vinicius Jorge Sassine

Para asfaltar 10 mil quilômetros de rodovias que são estradas de chão, o governo estadual precisa de R$ 10 bilhões, o equivalente a 66% de todo o orçamento previsto para o Estado neste ano. A estimativa é da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), responsável pela pavimentação e manutenção das GOs. Diante do apagão da infraestrutura em Goiás, com metade das rodovias sem asfalto, a Agetop reconhece que não tem dinheiro para uma melhora significativa da situação.

Asfaltar um quilômetro de rodovia custa, em média, R$ 1 milhão. Como são 10 mil quilômetros de estradas sem pavimentação, levando-se em conta apenas as vias sob responsabilidade do Estado, o custo médio para pavimentar as rodovias é de R$ 10 bilhões. Outros R$ 10 bilhões são necessários para a restauração de trechos mal conservados, segundo estimativa do diretor técnico da Agetop, Ricardo Ferreira de Souza.

“Temos a mesma malha viária pavimentada de Estados como Rio Grande do Sul e Paraná, mas não temos a mesma capacidade financeira”, afirma Ricardo. Nos dois Estados da Região Sul, praticamente toda a malha sob responsabilidade estadual é asfaltada. Em Goiás, apenas a metade da malha é pavimentada.

O POPULAR publicou no domingo a primeira reportagem da série Dossiê Infraestrutura, que vai mostrar a cada fim de semana a realidade de apagão logístico em Goiás. Na primeira reportagem especial, o jornal revelou a situação de isolamento em Chapadão do Céu, cidade que mais produz algodão no Estado e que é vice-líder na produção de milho e terceira maior produtora de soja. Não há ligação por asfalto entre o município e as demais cidades goianas. O que ocorre em Chapadão do Céu resume uma realidade nos quatro cantos do Estado: 36% da malha rodoviária em Goiás não é pavimentada, uma proporção que praticamente não diminuiu nos últimos cinco anos.

Goiás, apesar da posição estratégica, do avanço da indústria e da modernização agrícola, depende quase que exclusivamente dessa precária malha rodoviária. A ferrovia que funciona em Chapadão do Sul (MS), cidade vizinha a Chapadão do Céu, atende basicamente grandes grupos, como a Caramuru Alimentos e a Cargill. É a mesma realidade da hidrovia que passa por São Simão. Por ar, diminuiu a quantidade de cargas transportadas nos últimos 15 anos. A capacidade de armazenagem de grãos em Goiás não acompanhou o incremento de produção. Em 1995, o Estado era responsável por 41,2% da capacidade dos armazéns do Centro-Oeste. Agora, a participação é de menos de 30%.

Além de Chapadão do Céu, outros cinco municípios goianos não têm pavimentação asfáltica entre as cidades e estradas asfaltadas: Colinas do Sul, Bonópolis, Nova Roma, Guarinos e Gameleira de Goiás. Em todo o Estado, segundo informação da Agetop, ainda estão de pé 700 pontes de madeira, numa extensão de 14 quilômetros.

Enquanto são necessários R$ 20 bilhões para a pavimentação das estradas e restauração das rodovias já asfaltadas, o governo estadual gastou R$ 1 bilhão na atual gestão (desde abril de 2006, quando Alcides Rodrigues assumiu o governo). A informação é do diretor técnico da Agetop. “Implantamos 750 quilômetros de rodovias e restauramos outros 1,2 mil km”, diz. Segundo ele, a mesma quilometragem está prevista para 2010. Os trechos estão licitados e as empresas contratadas. Agora, devem ser utilizados recursos do Tesouro estadual, de fundos específicos, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide).


GO-206 deve ser pavimentada este ano

Vinicius Jorge Sassine

As duas rodovias que dão acesso a Chapadão do Céu, na divisa com Mato Grosso do Sul, têm longos trechos de estradas de chão. São 72 quilômetros na GO-206 e 100 quilômetros na GO-050. A Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), após a publicação pelo POPULAR da reportagem sobre o isolamento da região, garante que pelo menos a GO-206 será pavimentada até o fim deste ano.

Uma placa na entrada da cidade anuncia a pavimentação de 22 quilômetros da rodovia, mas nada foi feito. Segundo o diretor técnico da Agetop, Ricardo Ferreira Souza, os 22 quilômetros correspondem ao primeiro lote de serviço. Outros dois lotes estão programados.

A intenção de obras na GO-206 teve início em 2006, mas um questionamento da licitação na Justiça paralisou o projeto. Uma nova licitação foi concluída no ano passado e a população da região vive a expectativa de, finalmente, um trecho da rodovia ser pavimentado.

Conforme o diretor da Agetop, a pavimentação da GO-206 é mais importante que a da GO-050, principalmente para permitir o escoamento de grãos para o restante do Estado. Erosões avançam pela segunda rodovia, que está completamente abandonada. (V.J.S.)

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