segunda-feira, 19 de abril de 2010











Cileide Alves

A tradição se manterá?

A pesquisa Serpes/O POPULAR, publicada na quinta-feira, desvenda um quadro conjuntural além dos meros números sobre a preferência do eleitorado goiano. Revela sutilezas e complexidades sobre esse quadro para cada uma das três principais forças políticas que devem se enfrentar em outubro. E, diferentemente do que ocorreu no início das campanhas eleitorais de 1998, 2002 e 2006, a pesquisa mostra que, por enquanto, não há favorito.

A frente de Marconi Perillo (PSDB) sobre Iris Rezende (PMDB), que varia de 3,7 a 4 pontos porcentuais dependendo do cenário pesquisado, não permite afirmar categoricamente que o tucano tem o favoritismo. A liderança do PSDB na pesquisa estimulada ainda é pequena e não se repete na espontânea, onde se verifica empate técnico entre os dois, com ligeira frente de 2,1 pontos para Iris. Essa proximidade entre os dois expõe uma das diferenças desta para eleições anteriores: Iris liderou sozinho, em 1998, e Maguito, em 2006, somente enquanto o campo da segunda força política estava vago. Neste ano, o dois campos estão ocupados pelo ex-prefeito de Goiânia e pelo senador. As campanhas ajudaram Marconi (1998) e Alcides Rodrigues (2006) a ocuparem o espaço de oposição ao PMDB e depois vencer.

Verificam-se também diferenças no quadro atual em comparação com 1994 e 2002: Lúcia Vânia e Ronaldo Caiado foram candidatos a governador em 1994 dividindo a força política de oposição ao PMDB. Os peemedebistas – o outro campo – lançaram Maguito Vilela, que iniciou a campanha atrás de seus adversários. Mas como o PMDB é uma força respeitável em Goiás, detinha o poder desde 1983 e sua oposição dividiu os votos do outro lado, natural então que ele tenha crescido e vencido a disputa, mesmo tendo começado a campanha em terceiro lugar.Em 2002, novamente as mesmas duas forças políticas se enfrentaram com as candidaturas de Maguito e de Marconi. Este começou atrás nas pesquisas e venceu. Marconi era governador, estava com a popularidade em baixa. Teve de melhorar sua imagem para reassumir a liderança na pesquisa e, depois, vencer.

Revendo essa história percebe-se o simplismo da avaliação do governo que recorre a essas quatro eleições para provar que quem liderou as pesquisas não venceu o pleito, sugerindo que esse quadro se repetirá com a candidatura governista de Vanderlan Cardoso (PR). Só que Vanderlan ainda corre por fora dessa polarização registrada em todas essas eleições. Os governadores eleitos desde então vieram de um dos dois polos e esta é a diferença deste momento.

O dado mais revelador da pesquisa talvez seja exatamente a repetição da tradição: Iris e Marconi polarizam, sem favorito, pois tanto um quanto o outro tem chance de vitória. O placar de 1994 para cá – a linguagem do futebol está apropriada já que essa disputa parece uma partida entre os arquirrivais Vila Nova e Goiás – é favorável à força representada pelos tucanos: 3 x 1 sobre os peemedebistas.

O resultado da pesquisa Serpes e esse histórico indicam que Vanderlan precisará atacar essa polarização para se tornar competitivo, o que seria algo inédito na história recente das eleições goianas. Os 3,7% de Vanderlan foram comemorados por seus partidários sob a alegação de que o pré-candidato ainda é um desconhecido da maioria dos goianos. Observação que não está incorreta. Diante de nomes tão familiares como Iris e Marconi, o de Vanderlan passa ao largo.

Só que, como mostram os números da estimulada, o problema dele não são os poucos votos que já conseguiu, mas os muitos votos dos dois primeiros colocados. Juntos, Marconi e Iris têm 83,6% da preferência do eleitor no cenário com Vanderlan candidato do governo (43,7% para o tucano e 39,9% para o peemedebista), deixando o candidato do PR sem espaço para crescer fora da polarização. Mesmo que Vanderlan atraísse para si a soma dos eleitores que se declararam indecisos ou dispostos a anular o voto (7,7% e 4,8%, respectivamente), o que é impossível de acontecer, ele atingiria só 16% da preferência, ou seja, insuficiente para ameaçar a hegemonia dos dois polos. Resta ao candidato do PR tirar votos de Iris e de Marconi. E muitos votos. Para isso, ele terá de se apresentar como oposição aos dois, uma complicação para um político que entrou na campanha afirmando ser amigo de ambos.

Vanderlan ainda não foi percebido como parte de um dos polos. Ele representa o quê? O novo, diriam seus partidários. Mas que novo? Ele ainda precisa se afirmar como candidato do governo, já que a todo momento aparece alguém ameaçando pular para o barco marconista. Essa auto-afirmação no grupo que representará é necessária para Vanderlan não chegar desidratado às vésperas da convenção e, consequentemente, entrar enfraquecido na campanha contra os pesos-pesados do PSDB e do PMDB.

A pesquisa da semana passada também revela que a campanha não será moleza nem para Marconi muito menos para Iris, apesar do histórico favorável aos tucanos. Marconi não dispõe do mesmo conjunto de aliados que o ajudou a vencer as três disputas anteriores. Vai enfrentar adversários mais fortes: Iris e seu PMDB, mais fortalecidos do que nas eleições anteriores, e antigos companheiros hoje alinhados ao governo.

Iris tem contra si a própria dificuldade do PMDB de se modernizar, de compreender e de adaptar seu discurso às mudanças políticas, culturais e econômicas vividas pelo Estado – enfim, de se reciclar. Uma prova disso foi o debate autofágico patrocinado por algumas lideranças peemedebistas em defesa de uma chapa pura na eleição majoritária, na contramão das alianças necessárias para vencer uma disputa tão complexa como a que se avizinha. Num quadro assim, mais do que nunca a campanha eleitoral será determinante. Vencerá quem escolher a melhor mensagem e fizer a comunicação mais eficiente com o eleitor. Bom, mas isso já é outra história.

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