sexta-feira, 21 de maio de 2010

Cidade ágil!






ARTIGO






Francisco Vale Júnior


Corredores não bastam

Muito se tem falado de problemas do transporte coletivo em Goiânia e de melhorias no trânsito. Os corredores do transporte coletivo são apontados como solução em quase todas as análises de autoridades e especialistas do setor. Uma verdade. Mas parcial.

Na elaboração do Plano Diretor de Goiânia (PDG), a implantação dos corredores de transporte coletivo foi um dos focos do planejamento para as próximas décadas. Tanto que, no 6º artigo da lei, há uma determinação clara no inciso VI: “adotar os corredores da rede estrutural de transporte coletivo como elementos estruturadores do modelo de ocupação do território”.

Mas a criação dos corredores não pode ser pensada de forma isolada.

Existe um conjunto de medidas estabelecidas pelo PDG que, apesar de específicas, tratam a mobilidade como um todo. E ao determinar um novo ordenamento das funções urbanas, a legislação trabalha um quesito importante: legisla sobre aspectos econômicos tendo como referência a questão social.

Criando os Eixos de Desenvolvimento, o PDG deu as bases para que o poder público municipal, ao avaliar o chamado “uso do solo”, utilize parâmetros sociais, como o sistema de mobilidade urbana e até mesmo a política habitacional de baixa renda. Há regras para que as atividades se adequem à realidade social de cada área, incluindo a do transporte público.

O PDG foi pensado para estruturar uma rede de intervenções voltadas para garantir a todos o direito constitucional de ir e vir. São medidas simples de gestão e de ordenamento da circulação, como avanços de calçada, alargamentos de ruas, cortes de canteiros e criação de ciclovias, além de melhorias de sinalização, implantação da “onda verde” e proibição de viradas à esquerda. E outras ações mais complexas como os próprios corredores, duplicações de vias, construção de túneis, elevados e viadutos.

São 63 diretrizes para a mobilidade estabelecidas pelo PDG, que encaram Goiânia como uma cidade-polo de desenvolvimento não só do Estado de Goiás, mas de todo o Centro-Oeste. E, nesse sentido, a lei estabelece como minimizar os transtornos ocasionados pelo crescimento da população e o aumento da frota de veículos automotores, tendo como um dos seus focos principais a questão estrutural.

Isso porque a infraestrutura é o ponto que mais “engessa” o tráfego hoje na nossa capital, tanto no que se refere a pessoas como veículos. A falta de obras importantes nas décadas anteriores exige agora uma ação urgente e a adequação por completo da rede viária de Goiânia.

E é este o grande diferencial do PDG, ser fruto de um amplo processo democrático, com mais de 270 eventos com participação popular, e com entidades do setor público e privado debatendo de forma aberta e transparente. Um processo longo, justamente pela preocupação de pensar a cidade como um todo, colocando as bases para uma requalificação por completo da malha urbana. Hoje, para se garantir a fluidez, a segurança e o conforto necessário ao trânsito da capital já se contabilizam dezenas de intervenções necessárias. Só para citar algumas previstas no PDG, lembro dos 23 corredores – preferenciais e exclusivos –, a continuidade do Anel Viário, o término da Avenida Leste/Oeste e a finalização das marginais.

E a grande questão é que há tantos pontos de estrangulamento na cidade que não adianta, neste momento, defender ou lutar para a concretização de apenas uma ou outra ação. Vários desses pontos precisam ser trabalhados simultaneamente e de uma maneira abrangente de forma a se atender à demanda crescente de veículos motorizados ou não, e de pedestres.

Por tudo isso, é mais importante ainda que todo o contexto da mobilidade seja devidamente avaliado, sem paixões político-partidárias. Não é nada salutar agora se tentar “eleger” um culpado específico para uma situação que decorre de décadas de falhas e omissões não só municipais, mas de todas as esferas do poder público.

Por mais que já estejam definidas no PDG, as ações que proporcionarão mais agilidade no trânsito e, por consequência, regularidade ao transporte coletivo e maior facilidade na mobilidade urbana, são as mesmas que permitirão mais respeito à vida em sociedade. Vivemos uma época onde é impossível não realizar deslocamentos motorizados e coletivos, mas também não temos como esquecer que, em algum momento, somos todos frágeis pedestres.


Francisco Vale Júnior (PMDB) é mestre em Planejamento e Desenvolvimento Territorial, ex-secretário municipal de Planejamento e presidente da Câmara de Goiânia

Nenhum comentário:

Postar um comentário