segunda-feira, 31 de maio de 2010

Goiás: rodovias caóticas!







CIDADES

O motorista Claudemir Aparecido, de 38 anos, com o caminhão estragado em uma oficina: problema frequente

PAC só contempla 6,2% das demandas rodoviárias
Investimento em Goiás é menor do que a metade da média nacional, segundo estudo do Ipea

Deire Assis

Estudo divulgado semana passada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) comprova que os investimentos públicos destinados à melhoria da malha viária federal são infinitamente inferiores às deficiências acumuladas pelo setor ao longo das últimas décadas. O trabalho, que identificou os impactos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Federal na melhoria da infraestrutura viária brasileira, constatou que, se as coisas vão mal no Brasil, pior ainda para Goiás.

Dados obtidos com exclusividade pelo POPULAR mostram que os investimentos do PAC representam apenas 6,2% das demandas do Estado por obras rodoviárias. O porcentual representa menos da metade do índice médio de investimentos do programa nos demais Estados.

A pedido do POPULAR, os técnicos do Ipea mapearam as obras rodoviárias necessárias para Goiás e cruzaram a informação com os recursos do PAC. As intervenções necessárias, que envolvem da pavimentação de estradas à implantação de pontes, somam quase R$ 8,3 bilhões. Desse total, veio do PAC cerca de R$ 516 milhões, ou 6,21% da demanda.

O índice é menor do que o encontrado para a Região Centro-Oeste (9,9%) e está bem aquém da média nacional, onde o programa federal cobre cerca de 13% das demandas identificadas, segundo o Ipea. “As Regiões Centro-Oeste e Nordeste foram menos contempladas pelo PAC que as demais. O resultado nos leva a constatar que não há uma preocupação muito evidente do programa em diminuir as desigualdades regionais do ponto de vista da infraestrutura rodoviária”, disse ao POPULAR o coordenador do estudo, Carlos Alvares da Silva Campos Neto.

O pesquisador ressalta que o déficit entre a demanda e o que foi efetivamente investido criou gargalos difíceis de serem contornados, mesmo com o avanço dos investimentos públicos nos últimos anos.

Assim como no Brasil, em Goiás o PAC representou menos impacto nas intervenções relacionadas com obras de recuperação, adequação e duplicação da malha rodoviária federal – 6%, em média. Nas obras de construção e pavimentação, o porcentual de investimentos do PAC em Goiás chegou a 11% – ainda assim inferior à média nacional.

Questionado pelo POPULAR, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) argumentou que os investimentos do PAC na malha viária do Estado foram aplicados integralmente e que os valores destinados às obras são superiores aos informados pela pesquisa do Ipea. Contudo, não repassou dados concretos dos investimentos.


Produtor e motoristas ficam no prejuízo

Deire Assis

Deficiências na infraestrutura viária do Estado têm impacto direto no escoamento da produção agrícola, especialmente no que diz respeito ao valor do frete e ao desperdício dos produtos transportados por meio terrestre. Levantamento feito pela Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg) há um mês listou pelo menos 20 trechos de rodovias federais e estaduais mal conservadas, por onde a safra estimada em 13,3 milhões de toneladas de grãos em 2010 será transportada.

O setor calcula que o valor do frete pago hoje pelos produtores rurais seria, em média, entre 30% e 50% se a produção pudesse ser escoada por rodovias em boas condições de uso. Segundo Pedro Arantes, analista de Mercado da Faeg, o preço médio do frete pago hoje por tonelada de grãos transportados é cerca de 70 dólares. “Se nossas estradas estivessem recuperadas, esse valor cairia no mínimo 30%, aumentando em cerca de 10% a renda do produtor”, frisa o analista.

Com propriedades em Jataí e Itarumã, Mozart Carvalho de Assis, de 47 anos, diz que os produtores rurais vivem todos os dias, ano após ano, o que as pesquisas sobre as condições da malha rodoviária indicam. De acordo com ele, os grãos produzidos por ele são transportados por rodovias completamente destruídas e sem asfalto no Sudoeste goiano. “Os reparos feitos pelos órgãos não resistem nem de um ano para o outro”, ressalta. “Com isso, todos perdem. O produtor, o transportador, o consumidor, todo o Estado”, analisa Carvalho.


Caminhoneiros reclamam da situação das rodovias

Adriano Marquez Leite

Depender das rodovias federais que passam por Goiás continua sendo um suplício, mesmo depois das inúmeras intervenções que foram feitas nas pistas de todo o Estado. A avaliação é de motoristas de caminhão ouvidos pelo POPULAR que percorrem todo o País passando por aqui.

Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelou que os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Goiás representam pouco mais de 6% do que deveria ser aplicado na malha viária do Estado. Os números do baixo investimento refletem diretamente na qualidade das estradas, que mais esburacadas, exigem mais dos caminhões, provocam o desperdício de grãos e aumentam o custo médio do frete.

Para o caminhoneiro Edito Exteckoetter, de 65 anos, o problema é nacional. “Todas as BRs estão ruins”, afirma. Na estrada há cerca de 25 anos, Exteckoetter trazia um caminhão para ser consertado em Goiânia depois de um longo trecho de trepidação que acabou quebrando duas alças que seguram um dos tanques de combustível. Valor do prejuízo? Cerca de 100 reais, mas poderia ter passado dos 3 mil, caso o tanque tivesse caído.

Vindo do Paraná, Exteckoetter explica que as rodovias de seu Estado de origem estão em situação bem melhor, mas para ter essa tranquilidade é preciso pagar por um preço. Ao cruzar por menos de 600 quilômetros em BRs paranaenses o caminhoneiro desembolsa quase 400 reais. “Faz muita falta no orçamento no fim do mês”, conclui.

Já para outro experiente caminhoneiro Claudemir Aparecido do Nascimento, de 38, a situação em Goiás é tão ruim que, dependendo do trecho, é melhor fazer um desvio e percorrer uma distância maior para passar pelas rodovias goianas que, “em geral, estão em melhores condições”, diz. “O molejo das rodovias já provocaram diversos estragos no meu caminhão; quero ver quem pagará o prejuízo”, conclui Claudemir.


Malha estadual precisa do triplo dos investimentos

Deire Assis

Com uma malha rodoviária com idade média de mais de 20 anos e sem manutenção adequada por longo período, Goiás apresenta atualmente estradas esburacadas, com asfalto ruim e que atrapalham o crescimento do Estado. A recuperação dessas rodovias depende de recursos três vezes mais altos do que os investidos atualmente. As constatações são do presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras Públicas (Agetop), José Américo, em entrevista ao canal interativo do POPULAR na rede de relacionamentos Facebook, Face a Face, no final do mês passado.

Parte desses problemas é devido, também, à falta de investimentos nas rodovias federais que cruzam o Estado, afirmou o presidente da Agetop. Segundo Américo, as estradas federais foram concebidas para fazer o transporte de grandes volumes de cargas, em grandes distâncias. Como não houve investimentos, esse tráfego se dirigiu para as rodovias estaduais.

Américo lembrou que a má distribuição dos investimentos para o setor em Goiás também é outro limitador. O Estado recebe da Cide (o imposto dos combustíveis) hoje R$ 50 milhões por ano, menos de 10% do que o presidente da Agetop afirmou ser preciso para manter as GOs.

De acordo com Américo, Goiás apresenta uma malha pavimentada de 11 mil quilômetros e de 12 mil não pavimentada. Só para a manutenção dessas estradas são gastos anualmente R$ 78 milhões, quando o necessário seria algo em torno de R$ 100 milhões por ano. Detalhe: mesmo com esse nível hipotético de investimentos, a malha só estaria totalmente revitalizada daqui a dez anos.

Segundo Américo, foi finalizado um empréstimo junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) de R$ 284 milhões que, somados aos recursos existentes, totalizarão, somente para o setor rodoviário, a importância de R$ 400 milhões. “Isso possibilitará restaurar 1,2 mil quilômetros e avançarmos significativamente na implantação de rodovias”, disse.

Contudo, para restaurar as rodovias estaduais, o presidente da Agetop explicou que seria preciso mais de R$ 137 milhões para efetuar o serviço em 500 quilômetros todo ano e que só garantiria a finalização dos trabalhos em 20 anos. Isso sem falar em obras de pavimentação.

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