terça-feira, 25 de maio de 2010

Eleições 2010!






CONEXÃO

A DECISÃO DOS DEMOCRATAS

                                    Edilson Pelikano/Jornal Opção
Deputado Ronaldo Caiado: ao dar vez, voz e voto aos democratas, presidente do DEM está estabelecendo novo patamar de discussão na sigla

Convenção pode unir o partido
Eternamente dividido internamente, DEM tem possibilidade de se unir na convenção deste ano

Afonso Lopes

Para alguns, o DEM é a noiva mais cobiçada das eleições deste ano. Para o PSDB, o partido poderá ser simplesmente a joia da coroa. Os democratas são os únicos, entre os grandes partidos, que ainda não chegaram a uma conclusão sobre as coligações deste ano. E não foi por falta de discussões e conversas. O presidente do partido, deputado federal Ronaldo Caiado, se encontrou com quase todo mundo. Só faltou um na sua enorme lista de interlocutores: o senador Marconi Perillo.

Esse é um encontro que, por sinal e por paradoxal que seja, poderá acontecer somente depois que o DEM se declarar favorável à coligação com os tucanos em Goiás. Não que existam problemas pessoais entre Caiado e Marconi. Essas questões, garantem lideranças democratas e tucanas, estão superadas. O entrave é somente no aspecto político.

Mas, se é assim, por que os dois não se reúnem, rasgam o verbo, e se acertam ou desatam de vez? Vai saber. Marconi já deu declarações públicas insinuando que está pronto para um diálogo que não acontece desde 2003. Caiado sinalizou somente no sentido da superação das questões pessoais ao declarar que suas diferenças com Marconi são políticas.

Ao se observar a relação entre os dois líderes, destaca-se de maneira inquestionável que eles obtêm ganhos políticos consideráveis quando firmam posições nas mesmas fileiras. Isso é assim desde os tempos do senador Totó Caiado. Os Perillo, ancestrais de Marconi, tiveram militância política marcada pela proximidade com os Caiado. Eram aliados incondicionais.

Mais recentemente, em 1998, o grande acordo oposicionista que os colocou no mesmo grupamento político resultou na queda da Bastilha peemedebista em Goiás, que já durava 16 anos e que ameaçava continuar firme no poder por mais outros tantos. Em 2002, novamente juntos, enquanto Marconi foi reeleito para o governo do Estado, Caiado viu seu partido crescer nos parlamentos, conquistando inclusive a então inédita cadeira no Senado Federal.

A separação que ocorreu 2006 não foi uma boa experiência. O DEM caiu de três deputados federais eleitos em 2002 (Caiado, Sandro Mabel — que deixou o partido antes da posse e se filiou ao PR — e Vilmar Rocha) para apenas um. Para Marconi, a desunião com o DEM resultou na fragilidade de todos os possíveis candidatos à sucessão realmente identificados com o mesmo propósito político, com a escolha fluindo na direção do então vice-governador Alcides Rodrigues. O resultado é esse que está aí.

Há uma inegável diferença no comportamento político pessoal de ambos atualmente. Se em 2006 Marconi e Caiado alimentavam sempre que tinham oportunidade posições antagônicas, hoje não fazem nenhuma questão de manter posicionamento conflitante. Não chegam a acenar com espalhafatosas bandeiras brancas, mas também não agitam caldeirão com fervura. Tornaram-se mais flexíveis, mais políticos, menos emocionais.

E é certo concluir que um depende do outro nas eleições deste ano. Nem tanto no que se refere ao resultado eleitoral em si. Em qualquer coligação que seja acertada, ou até com o DEM repetindo o suicida isolamento de 2002, Ronaldo Caiado certamente não apenas estará entre os candidatos eleitos como também entre os mais bem votados de Goiás. Marconi, igualmente, poderá ser eleito governador mesmo não contando com o DEM em sua plataforma eleitoral. O problema é depois.

Há três caminhos para o DEM este ano em Goiás. O primeiro deles fere frontalmente o posicionamento histórico da militância: o PMDB. Apesar das grandes rivalidades políticas terem perdido o radicalismo de antigamente, em que militante de um grupamento mudava de calçada numa rua apenas para não ter que passar próximo de um adversário, o antagonismo permanece. Hoje, peemedebistas e democratas em Goiás conversam de forma civilizada e como reza a cartilha política atual, mas dificilmente conseguem acertar boas alianças entre eles. É problema de DNA. Vem desde os tempos de Totó Caiado e Pedro Ludovico Teixeira, dois dos maiores líderes políticos da história de Goiás.

O segundo caminho, em tese, não apresentaria qualquer forma de complicação: a coligação com o PR e o PP em apoio à candidatura do ex-prefeito de Senador Canedo Vanderlan Vieira. Em tese, repito. Somente em tese. Na prática, essa união é terrivelmente problemática. O principal mentor da candidatura de Vanderlan, e avalista político de um eventual governo, é o deputado federal Sandro Mabel, com quem Vanderlan mantém relações comerciais, políticas e pessoais. Mabel não é exatamente o que se pode chamar de companheiro de Caiado.

Em 2002, ao deixar o PMDB após a derrota do partido em 1998, Mabel foi recebido com pompas e glórias por Caiado no DEM, na época, PFL. Naquela campanha, pela primeira vez, o partido conseguiu emplacar seus três candidatos competitivos — além dos dois, Vilmar Rocha conseguiu sua reeleição. Não houve tempo nem pra comemorar o bom desempenho. Antes mesmo da posse, Mabel deixou o DEM e se filiou ao PR, justificando que não se sentia bem dentro de um partido que possui um dono. Caiado nunca perdoou Mabel politicamente por causa desse episódio.

E o que, então, se pode esperar de um governo Vanderlan diante dessas circunstâncias? Difícil saber. É certo que o DEM herdaria uma parcela de poder palaciano ao participar de uma coligação com o PR, mas nada muito além da periferia política desse poder.

Restaria o terceiro caminho: o entendimento com Marconi Perillo. Novamente enquanto tese, seria a coligação mais complicada a ser acertada. Mas não é, não. O diálogo entre Caiado e Marconi sempre é duro. Ambos já meteram as mãos nas mesas na defesa de suas posições, mas a negociação entre eles não precisa de intermediários. Foi assim às vésperas da eleição de 2002, quando, reconciliados de uma crise anterior, acertaram que uma das mais cobiçadas vagas da chapa majoritária, de senador, seria indicação do DEM. Caiado também obteve a isenção total do Palácio em relação à convenção do partido, que escolheu entre Jalles Fontoura e Demóstenes Torres. Como se sabe, deu Demóstenes.

Ou seja, até pra quebrar o pau, Caiado e Marconi não precisam de interlocutores. De certa forma, eles têm intimidade política suficiente para não necessitarem de formalismos. É uma relação política cheia de história e conflitos. Estiveram juntos em 1996, na eleição do professor Nion Albernaz na Prefeitura de Goiânia, continuaram juntos em 1998, brigaram em 2001, fizeram as pazes em 2002 e novamente quebraram o barraco político em 2003. Essa intimidade e história Caiado não tem, e nem terá, nem com Vanderlan e muito menos com Mabel.

Por fim, os dois líderes estão mais maduros, menos inflexíveis, mais políticos. Dentro disso, Caiado liberou o seu partido para discutir abertamente esses três caminhos numa convenção. Certamente, ele defenderá seu ponto de vista, mas não o imporá goela abaixo de seus liderados. Ao dar vez, voz e voto aos democratas, Ronaldo estará, na prática, estabelecendo um novo patamar de discussões e decisões internas no DEM. E poderá, então, pacificar e unir o historicamente dividido DEM goiano. E, também na política, união é força.

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