terça-feira, 25 de maio de 2010

Entrevista - Armando Vergílio






ARMANDO VERGÍLIO

                                  Edimilson Ornelas/Jornal Opção

“Minha candidatura incomoda muita gente”
Presidente do PMN goiano e pré-candidato a deputado federal rebate insinuações de que será o homem do dinheiro nesta eleição e reafirma que seu partido vai caminhar com Marconi Perillo

Armando Vergílio se destacou como um hábil articulista nos governos de Marconi Perillo, quando migrou da iniciativa privada e da atuação classista para ocupar cargos importantes. Tanto que foi convidado a permanecer no governo com Alcides Rodrigues. Vergílio, que recentemente assumiu a presidência do Partido da Mobilização Nacional (PMN) em Goiás, é pré-candidato a deputado federal, sendo considerado desde já, até por adversários, como um dos potenciais puxadores de votos em Goiás.

Na entrevista que segue, concedida no dia 17, Armando Vergílio dos Santos Júnior fala de política local, historia sua passagem pelo governo, lamenta a divisão entre Marconi Perillo e Alcides Rodrigues — que ele atribui à vaidade de gente que orbita em torno do governador —, mas diz acreditar na recomposição da base aliada. O entrevistado fala também de propostas que pretende levar ao Congresso, enfatizando sua prioridade com a educação e, principalmente, com o ensino profissionalizante, que ele considera uma via certeira para tirar os jovens do caminho das drogas.

Outro assunto abordado por Armando é o mercado de seguro, tema em que ele é um dos maiores especialistas no Brasil. Tendo ocupado os principais postos das entidades representativas desse setor, ele era, até meados de março, titular da poderosa Superintendência de Seguros Privados (Susepe), autarquia federal que tem a mesma formação jurídica e legal do Banco Central. Nessa condição, sendo uma espécie de Henrique Meirelles do seguro, tendo promovido verdadeira revolução no sistema, Armando Vergílio foi um destacado auxiliar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Danin Júnior — O sr. trabalhou com Marconi Perillo e com Alcides Rodrigues. Na sua opinião, por que houve esse racha?

Armando Vergílio - É uma boa pergunta, isso me intriga também. Acredito que o fator principal foi a vaidade extremada de algumas pessoas que gravitam principalmente em torno do governador Alcides. E isso não teria razão, porque todos sabem da importância que o senador Marconi teve para a eleição do governador Alcides. Esse foi o fator principal, mas não vou nominar ninguém.

Cezar Santos — Essas pessoas não estariam expressando um desejo natural de o PP ocupar mais espaço político?

Armando Vergílio - Mas o PP sempre ocupou um espaço político muito grande no governo. Alcides não foi eleito sozinho pelo PP. Ele foi eleito por uma coligação de 13 partidos, dentre eles PSDB, PTB, PPS, PR. Tivemos o PSB no segundo turno. Então, é natural que as pessoas que colaboram para a eleição no poder Executivo, que elas depois participem da administração. O governador sempre teve total liberdade de trocar qualquer peça, de mudar qualquer pessoa dentro da equipe. Infelizmente, houve essa divisão pela qual temos muito a lamentar.

Cezar Santos — O sr. vê possibilidade de uma recomposição?

Armando Vergílio - Ainda tenho muita esperança. Comungo muito do pensamento do deputado Roberto Balestra (PP), pessoa a quem admiro e por quem tenho respeito. Acredito que ainda é possível reconstruir isso e voltar a caminhar juntos.

Danin Júnior — E no plano nacional? O sr., que foi colaborador do governo Lula, em que palanque vai se colocar?

Armando Vergílio - Eu assumi recentemente a presidência do Partido da Mobilização Nacional (PMN) em Goiás. Nós vamos ter uma convenção no dia 13 de junho, quando o PMN vai decidir essa questão. Não foi ainda decidido se vamos caminhar com José Serra ou com Dilma Rousseff. Existe uma tendência, já captura por mim dentro do partido de caminhar com José Serra. Mas prefiro aguardar a decisão da executiva nacional, da qual vou fazer parte. Pode ser que o PMN, inclusive, resolva liberar os Estados. Se isso acontecer, vou reunir o partido de forma democrática para que nós possamos decidir qual é o melhor caminho para ser seguido aqui.

Danin Júnior — O PMN de Goiás vai coligar com o PSDB?

Armando Vergílio - Isso já foi debatido dentro do nosso partido, que é muito orgânico. As decisões são levadas para as bases e todos os diretórios têm participado e colaborado. Nós já decidimos caminhar com o senador Marconi Perillo, do PSDB. No dia em que ele se lançou pré-candidato ao governo já contou com nosso apoio. E estaremos confirmando quando for oficializada sua candidatura na convenção, que deverá ser realizada no dia 27 de junho.

Danin Júnior — Mas se a executiva nacional decidir apoiar a candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff, como fica o PMN em Goiás? Não há um impedimento legal na questão da verticalização?

Armando Vergílio - Se for decisão nacional do partido nós vamos respeitar. Minha vontade é de caminhar com Marconi Perillo, inclusive por coerência. Estou lutando para isso. Mas lembre-se que boa parte da verticalização caiu. Digo com muita tranquilidade que o partido está entre duas decisões: ou apoiar Serra ou a liberação.

Danin Júnior — O sr. é pré-candidato a deputado federal?

Armando Vergílio - Sim.

Danin Júnior — Qual é sua bandeira?

Armando Vergílio - Estou entrando agora, enfrentando esse desafio, por algumas razões. Em primeiro lugar, tenho a convicção de que vou agregar muito valor ao Congresso Nacional, pelo meu conhecimento e experiência. Mas sou um idealista. Vejo que o trabalho de um deputado pode trazer muito benefício para seu Estado de uma forma em geral. Sou muito municipalista. Entendo que deva haver, inclusive, uma reformulação do pacto federativo. Hoje os municípios ficaram com quase a totalidade das responsabilidades, e só uma pequena parte dos recursos. Temos que inverter isso.

Cezar Santos — Mas o sr. pretende levar alguma proposta mais específica para o Congresso?

Armando Vergílio - Quero priorizar algumas questões. Acho, por exemplo, que a educação profissionalizante tinha que voltar a ser feita em larga escala no Brasil, e isso parou. É claro que temos preocupações com algumas questões, como transporte público, segurança, saúde. Mas a educação, em especial, merece atenção. Acredito verdadeiramente que boa parte dos problemas estruturais da sociedade brasileira e de Goiás é a questão da educação. É possível prover quase todas as soluções através da educação. Uma coisa que tem me preocupado muito é a questão do crack em Goiás, onde há crianças de 12, 13 anos, jovens se perdendo e desestruturando famílias. Se houver cursos profissionalizantes, educação profissionalizante, é possível resgatar esses jovens. Acredito que não só a minha experiência na administração pública, como secretário de Estado por três vezes, como presidente de um órgão regulador importante, que me fez adquirir muitos conhecimento, e também minha atuação na iniciativa privada como empresário me credenciam para poder, dentro do Congresso Nacional, estabelecer uma série de projetos que venham ao encontro da nossa população, do nosso Estado.

Cezar Santos — O sr. já fechou parcerias pré-eleitorais, as chamadas dobradinhas? Vai pedir votos em todos os 246 municípios?

Armando Vergílio - Estou estabelecendo algumas parcerias muito importantes. Minha campanha, principalmente por eu estar entrando agora, será muito bem planejada. E nesse planejamento as parcerias que estou estabelecendo são com pessoas que têm também esse mesmo, digamos, viés de fazer política com ética, responsabilidade, seriedade. Eu vou priorizar os municípios onde eu tenha esses parceiros. Fora o meu partido, que já tem 30 pré-candidatos a deputado federal em várias regiões, temos parcerias estabelecidas com lideranças expressivas, como o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Helder Valin (PSDB), com o deputado Jardel Sebba (PSDB), ex-presidente da Assembleia, com o ex-prefeito de Planaltina Dirceu Araújo, com André Luiz, em Morrinhos. Em Goiânia temos várias parcerias, por exemplo, com a ex-vereadora Jacira, com o vereador Richard Nixon, o Edson Automóveis, o Elias Júnior e muitas outras. No meu partido temos vários candidatos, o Idelson, que já foi vereador e candidato a vice-prefeito de Rio Verde, a Edna, de Luziânia, o ex-prefeito de Rubiataba Agmar Ribeiro. Não gosto de citar nomes, porque a gente acaba esquecendo. Enfim, nós temos vários pré-candidatos do PMN e vários partidos aliados. Vou priorizar esses municípios, com foco na região metropolitana de Goiânia.

É bom dizer que, como a minha campanha está sendo muito bem planejada, eu tenho essa característica, já venho nos últimos quatro anos amadurecendo, como minha própria família pediu, e conversando ao longo desse período. Então, são várias parcerias.

Cezar Santos — O sr. se desligou Susep (Superintendência de Seguros Privados, autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, órgão do governo brasileiro responsável pelo controle e fiscalização dos mercados de seguros)?

Armando Vergílio - Eu me desincompatibilizei em março. Pedi exoneração para o presidente Lula. É questão legal. Presidentes de autarquias estão sujeitos aos prazos de desincompatibilização previstos na legislação eleitoral.


            Edimilson Ornelas/Jornal Opção

Armando Vergílio fala aos editores Danin júnior e Cezar Santos: “Na campanha de 2006 fechamos com mais de 190 prefeitos da base. Eu consegui construir uma articulação de 13 partidos que conferiu a Alcides o dobro do tempo de televisão em relação ao principal adversário, Maguito Vilela”
 
Cezar Santos — Sua candidatura é tida como muito forte, inclusive em termos financeiros. Procede?
 
Armando Vergílio - Eu gostaria que isso fosse verdade. Não sou o candidato do dinheiro, sou o candidato do planejamento. Minha campanha tem muitos recursos de planejamento. Ao decidir disputar, foi uma decisão amadurecida, porque não posso mais me aventurar. Então, fiz uma coisa muito planejada. Isso eu sei que está incomodando algumas pessoas, porque em Goiás se faz muita campanha de improviso. Eu não, eu venho me preparando, planejando. Não tenho essa fartura de recursos. Obviamente quis Deus que eu fosse uma pessoa de sucesso, sou um empresário bem sucedido, isso todo mundo sabe e não é segredo para ninguém, mas não tenho essa fartura de recursos que estão dizendo. Gostaria de ter, mas até peço que não falem mais isso, porque uma ou outra pessoa que queira colaborar com a campanha pode pensar que nós não precisamos. Sendo que qualquer ajuda é muito bem-vinda.
 
Danin Júnior — O sr. teve o apoio de uma expressiva liderança evangélica, o bispo Manoel Ferreira, da Assembleia de Deus. Isso gerou ciúmes em lideranças ligadas ao meio. O sr. tem vínculo pessoal com esse público?
 
Armando Vergílio - Não sou evangélico. Minha orientação é cristã. Tenho muitos amigos evangélicos, tenho vários pastores de várias igrejas evangélicas que são meus amigos. Inclusive o bispo Manoel Ferreira, tenho muito orgulho e me sinto honrado de ter o apoio dele. Mas não é um apoio de hoje. Em primeiro lugar, o bispo decidiu me apoiar em 2006, quando eu havia decidido ser candidato a deputado federal. O bispo fechou apoio a mim em 2006, e ele consultou as bases da Igreja Assembleia de Deus. O bispo Manoel Ferreira, aliás, foi uma das pessoas que mais me incentivou para que eu aceitasse o desafio de concorrer no pleito deste ano de 2010. Há três semanas, o bispo fez uma assembleia extraordinária da Assembléia de Deus, do ministério do Rio de Janeiro, e o meu nome foi aprovado em assembléia. Sou uma pessoa que tenho na minha orientação de fé cristã vários conceitos que estão alinhados com o que preconiza a Igreja Assembleia de Deus, um deles, por exemplo, é que sou radicalmente contra esse Plano Nacional de Direitos Humanos, nos pontos que ferem os ensinamentos bíblicos. Vejo que pessoas ficaram contrariadas (com esse apoio), mas não deveriam estar. A Assembleia de Deus é muito grande, e ninguém consegue ser unanimidade dentro de um segmento grande como esse. Então, lamento que pessoas estejam fazendo esse tipo de colocação. Estão sendo incoerentes e falando da boca para fora.
 
 
“A previdência foi estruturada”
 
Danin Júnior — O sr. poderia retomar sua trajetória em Goiás.
 
Armando Vergílio - Em 1998 tive uma participação muito ativa na eleição. Eu era o presidente do Sindicato dos Corretores de Seguro de Goiás e fomos a primeira entidade a declarar apoio ao candidato Marconi Perillo, então deputado federal. Já tínhamos uma história de identidade com Marconi há muitos anos, desde quando ele era deputado estadual. E minha história pessoal com ele é mais antiga ainda, somo amigos há mais de 20 anos. Em 1998, a classe se reuniu sob o meu comando e entendeu que o melhor caminho para conseguir as melhorias que buscávamos era seguir Marconi Perillo. Quando Marconi ganha a eleição, logo depois do segundo turno, ele me pediu para que o ajudasse na equipe de transição. Nós identificamos que um dos maiores problemas que o Estado tinha era a questão da previdência do servidor público. Aí ele me surpreendeu me convidando para ser secretário de Estado da Previdência. Assumi a Secretaria de Estado da Previdência no dia 1º de janeiro de 1999, junto a ele. Era uma secretaria extraordinária à qual foi dada essa função. Pudemos desenvolver um trabalho de estruturação de previdência do servidor púbico, que não existia em Goiás. Criamos o regime próprio de previdência, um fundo de previdência no âmbito do Ipasgo, que apesar de ter o nome de instituto de previdência, só cuidava de assistência à saúde. Fortalecemos o Ipasgo criando o instituto de previdência dentro dele. E ocupei vários outros cargos no governo do Marconi.
 
Danin Júnior — Falando em previdência, ela é sustentável em âmbito geral?
 
Armando Vergílio - No Brasil, a verdadeira reforma da previdência só se dará quando se fizer a reforma trabalhista. Hoje, o grande problema da previdência é a informalidade. Constitucionalmente, todas as pessoas têm direito à aposentadoria quando se aposentarem, mas nem todos contribuem. Eu diria que a previdência do setor privado está bem encaminhada para uma solução. Os grandes problemas, em todos os níveis de governo (municipal, estadual e federal), é previdência do servidor público. Em Goiás, quando criamos o regime próprio de previdência, a partir de 2001, quem entrou no serviço público entrou no regime novo e já tem sua previdência garantida. Antes disso, vai ser um estoque que o Tesouro Estadual vai ter que bancar até o final desse processo democrático.
 
Cezar Santos — Mas o sr. já atuava no mercado de seguros. Como foi essa transição para cargos políticos?
 
Armando Vergílio - Em 2002, eu recebi uma convocação de presidentes de sindicatos de corretores de vários Estados para me candidatar a presidente da Federação Nacional dos Corretores de Seguro (Fenacor). Conversei com o governador, pedi que ele me liberasse, porque era um desafio muito importante, e ele entendeu. Eu saí do governo no início de 2002, ganhei a eleição para a Fenacor (de 25 sindicatos, tive 13 a 12). Assumimos a federação em abril de 2002 e a reestruturamos, fazendo com que ela voltasse a ter sua importância, já que estava naquele momento muito desarticulada do ponto de vista político e financeiro. No final de 2004 o governador Marconi Perillo me surpreendeu com um convite para que eu voltasse ao governo, assumindo a Secretaria do Trabalho. Ele especificou algumas preocupações para a secretaria e eu refleti bastante. Eu não poderia sair da federação para vir. Fizemos um estudo jurídico no âmbito da Procuradoria Geral do Estado, consultei a Procuradoria Federal junto à Superintendência de Seguros Privados, que é um órgão regulador, para ver se não haveria incompatibilidade. As duas manifestações foram de que não havia incompatibilidade de eu ser presidente da federação e ter cargo de agente político de Estado. Então, eu aceitei o convite. No início de 2005, assumi a Secretaria do Trabalho em Goiás e continuei como presidente da Fenacor, sempre em sintonia com as determinações do governador.
 
Cezar Santos — E qual foi o balanço, o mais relevante?
 
Armando Vergílio - Durante os anos de 2005 e 2006 pudemos levar qualificação profissional para centenas de milhares de trabalhadores goianos. Aprendi muito como secretário de Trabalho, constatando, por exemplo, que em Goiás não falta vaga de trabalho, falta mão de obra qualificada adequadamente. Se se faz uma qualificação profissional sem planejamento ela também é infrutífera. Fomos a todas as microrregiões do Estado fazendo levantamento de quantas e quais eram as vagas disponibilizadas. Aí planejávamos a qualificação profissional para cada setor com as especificidades. O resultado foi excelente. Colocamos ou recolocamos 86 mil trabalhadores só no ano de 2005. Esses 86 mil trabalhadores saíram direto da qualificação profissional inteligente para o emprego, pois sabíamos que aquelas vagas estavam disponibilizadas.
 
Cezar Santos — Logo no início de 2006 Marconi renuncia...
 
Armando Vergílio - Em março de 2006, o governador Marconi renunciou ao mandato para ser candidato ao Senado e eu tinha naquele momento pretensão de ser candidato a deputado federal. Pedi a minha exoneração e saí com ele do governo. Mas minha família não concordou com minha pretensão, de forma sábia e inteligente. Entendi que sem o apoio da família seria muito difícil. Então, reflui da minha candidatura, comuniquei isso a Alcides Rodrigues, que havia assumido o governo, e ao ex-governador Marconi Perillo. Para minha surpresa, o governador Alcides me convidou a assumir a Secretaria de Governo de Assuntos Institucionais, que estava vaga. É uma pasta importante, porque faz interlocução política do governador e institucional do governo com prefeitos, deputados, vereadores, presidentes de partidos, líderes, etc. Assumi essa missão, que era um grande desafio para mim, entrar numa área em que precisa ter muito conhecimento e dedicação.
 
Danin Júnior — Foi pelo trabalho nesta época que o sr. acabou ganhando reconhecimento como bom articulador?
 
Armando Vergílio - Porque naquele momento o governador Alcides Rodrigues já assume o governo com o projeto de reeleição. Obviamente, boa parte da interface com o mundo político é feita pelo secretário de governo, que era naquele momento o único articulador político do governo. Então, fizemos todas as tratativas com presidentes de partidos, prefeitos. Conseguimos chegar ao final da campanha de 2006 com mais de 190 prefeitos da base. Eu consegui construir uma articulação de 13 partidos que conferiu a Alcides o dobro do tempo de televisão em relação ao adversário principal, que era o atual prefeito Maguito Vilela (PMDB). Isso foi muito importante, pois naquela eleição foram proibidos showmícios, camisetas, outdoors, foi uma campanha diferente. A televisão passou a ter um peso ainda maior. Aí conseguimos a orientação do senador Marconi Perillo, da força que ele tem, e elegemos o governador no segundo turno com boa e expressiva votação, e Marconi foi eleito com uma avalanche de votos, consagrando-se como o político mais bem votado da história do Estado. Entendi, passadas as eleições, que minha missão no governo já tinha terminado. Eu sou um homem de missões.
 
Cezar Santos — Mas o sr. não saiu do governo.
 
Armando Vergílio - Em dezembro de 2006, coloquei o cargo à disposição. Fiz uma carta pedindo minha exoneração, até porque eu queria retomar com mais vigor o meu mandato na Fenacor, já que eu tinha sido reeleito no meio desse processo, em junho de 2006, para um mandato de mais quatro anos. Pedi ao governador para sair, mas ele não me liberou. Ele pediu que eu ficasse, porque estava se avizinhando o início do mandato. Eu lembrei que talvez fosse uma grande oportunidade para que ele pudesse montar a equipe que tivesse a fisionomia dele, e que eu estaria colaborando nisso, puxando a fila, por assim dizer. Ele disse que não, que eu deveria continuar. Atendi a esse chamamento, ali pelo mês de abril de 2007, e já comecei a perceber que algumas pessoas que gravitavam em torno do governador tinham uma avaliação de discordância do senador Marconi Perillo. Aquilo me deixou entristecido e não me senti mais à vontade no governo, porque todos sabem da minha ligação com o senador, que é histórica. Então, novamente pedi ao governador que me liberasse. Ele mais uma vez não atendeu e eu continuei no governo. Mas em junho de 2007 o ministro Guido Mantega me chamou a Brasília e me convidou para que eu assumisse a presidência da autarquia reguladora do setor de seguros, órgão máximo de supervisão e fiscalização, que é a Superintendência de Seguros Privados (Susepe), uma autarquia que tem a mesma formação jurídica e legal, o mesmo escopo de missão que o Banco Central tem. O que o BC é para os bancos a Susep é para as seguradoras e empresas de previdência, capitalização e rede de seguros. Uma missão muito forte, pois teríamos que fazer a abertura do mercado de seguros no Brasil. O Brasil até então tinha uma participação num seleto grupo de três países com a Costa Rica e Cuba, os únicos que tinham mercado de rede de seguros fechado. Em todos os fóruns internacionais em que o Brasil participava existia quase que uma exigência para que se fizesse abertura da rede de seguros. Pouca gente sabe, mas o Brasil, por exemplo, só foi avaliado pelas principais agências de classificação de risco para receber o grau de investimento em 2008. E isso é fundamental, porque altera muito o planejamento de grandes grupos de investimentos, cujos estatutos, na maioria, limitam investimento em países que não tenham essa classificação, limitam a um valor muito pequeno. Países que tem grau de investimento de forma mais substancial recebem mais investimentos. Mas o Brasil só foi avaliado e conseguiu, porque fez abertura do mercado de seguros. Enfim, em junho de 2007, o ministro me fez esse convite e me disse que era uma questão estratégica do governo o setor dos seguros.
 
Danin Júnior — Tecnicamente, seria ir para o outro lado do balcão?
 
Armando Vergílio - Veja só, eu entendo que o setor de seguros tem um lado só. Mas é o mesmo que você pegar alguém do setor para comandar o órgão regulador. Isso já havia ocorrido e estava dando certo no Banco Central, com Henrique Meirelles, que era presidente de um grande banco e o governo o colocou com o presidente do Banco Central. Acho que o governo foi até motivado por essa experiência exitosa, porque alguém que vem do próprio setor conhece os problemas com maior profundidade, sabe quais são os maiores gargalos, conhece as pessoas, as empresas, então se ganha um tempo muito grande. Qualquer pessoa que sentar na cadeira de presidente de órgão regulador, seja do BC, da Susep, que não tenha conhecimento, vai demorar aí oito, nove meses para se contextualizar. Como a minha origem é o setor de seguros eu me senti bastante distinguido pelo convite. Refleti, conversei com a família, porque implicava minha ida para o Rio de Janeiro, onde fica a sede da Susep, conversei com as principais lideranças e personalidades do setor de seguros, porque nunca na história da Susep um presidente oriundo do mercado, muito menos dos corretores de seguros, tinha assumido a Susepe. Então era uma experiência nova e que poderia causar, de certa forma, desconforto no mercado. Eu aceitei o convite e isso se materializou em agosto de 2007, quando assumi a presidência da entidade. Fizemos um planejamento, elencamos as principais prioridades de curto e médio prazo e acredito que fizemos uma grande revolução na Susep. Fizemos uma modernização da autarquia e um aparelhamento da tecnologia da informação fantástico. Conseguimos fazer concurso público que dobrou o número de servidores na autarquia. A Susep estava muito esquecida, talvez não estivessem dando a ela a importância que ela tem. No mundo inteiro o setor de seguros é mais importante que o setor bancário, uma das exceções é o Brasil. Aqui banco é dono de seguradora, no mundo inteiro seguradora é que é dona de banco. Então, o setor de seguros tem uma importância que não é percebida. As seguradoras, como têm que constituir reservas técnicas, que é uma poupança de longo prazo, todos os países sem exceção que adquiriam grau de desenvolvimento satisfatório se apoiaram ou se financiaram no setor de seguros e de previdência privada, que é o grande investidor institucional. Hoje, mais da metade das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é financiada com recursos vindos do setor de seguros e de previdência, que são os maiores investidores. Hoje, já temos as reservas técnicas, as chamadas provisões técnicas das seguradoras das empresas de previdência, já ultrapassaram em R$ 270 bilhões e, pelo modelo regulatório adotado por nós quando assumi a Susep, todo esse recurso tem de ser aplicados no Brasil e no setor produtivo.
 
Então, quando veio a crise mundial no final de 2008, iniciando pela então maior seguradora do mundo, que era a AIG (American International Group), que derreteu e que levou a reboque várias empresas na Europa e na Ásia, no Brasil não tínhamos uma única seguradora que tivesse 1 centavo investido lá fora. Todas estavam com suas reservas e provisões constituídas aqui mesmo, e pelo nosso modelo regulatório, 90% investido em títulos do Tesouro.
 
Cezar Santos — Então, a quebra da AIG não afetou em nada o Brasil?
 
Armando Vergílio - Afetou, mas positivamente. O Brasil foi o país que mais recebeu investimento no setor de seguros em 2009, o que está se repetindo em 2010. Todos os grupos financeiros interessados em fazer investimento no setor de seguros têm o Brasil como prioridade número 1. O setor de seguros no Brasil está crescendo a passos largos. Vou dar um exemplo: em 2008, o mercado de seguros no Brasil cresceu 17% em relação a 2007. Isso foi fantástico, porque em 2008 a economia cresceu 5,4%, ou seja, teve crescimento de mais de três vezes o crescimento do PIB. Em 2009, por causa da crise, o PIB decresceu 0,2%, mas o setor de seguros cresceu mais de 13%. Crescer mais de 13% em ano de crise seria excepcional, mas se compararmos ao ano de 2008, quando já havia tido crescimento vertical, é realmente algo fantástico.
 
Danin Júnior — Mas existe uma diferença muito grande, porque no Brasil não há uma cultura de seguros, como existe na Inglaterra, nos Estados Unidos. Há números comparativos? Sabe-se que nos EUA uma pessoa quando vai adquirir um bem de maior valor agregado não separa, por exemplo, "minha casa vale x e o seguro é y". Ela já imagina junto, não se compra nada sem o seguro. Aqui no Brasil ainda fazemos essa conta. Hoje, depois da crise, pelo que tenho observado e visto em documentários está tendo uma crise de imagem do setor de seguros, planos de saúde...
 
Armando Vergílio - É por isso que o governo americano interveio fortemente. Só na AIG ele colocou vários bilhões de dólares para poder resgatar os compromissos. Na Europa, citar algumas empresas que lembro agora, no ING da Holanda o governo colocou 20 bilhões de dólares; em duas seguradoras do Japão o governo colocou mais de 30 bilhões de dólares; na AIG americana o governo colocou mais de 100 bilhões de dólares.
 
Danin Júnior — Essa cultura do brasileiro tem mudado? Vocês têm alguma porcentagem do que hoje é segurado no Brasil ou o que seria ideal?
 
Armando Vergílio - A população brasileira tem mudado essa consciência. Vou falar uma frase célebre: "se eu pudesse colocaria no mural de cada casa a importância que o seguro tem para que o cidadão se conscientizasse disso". Isso já foi política de Estado. No Brasil, só 18% das residências têm seguro. Existe ainda essa questão cultural e o estigma de que seguro é caro e complexo. Poucas pessoas sabem que para fazer seguro de uma casa de tamanho médio se gasta menos de 100 reais por ano. Hoje, com 10 reais por mês se faz seguro de vida. Até 1994, o seguro era 1% do PIB no Brasil. De 1994 a 2007, o seguro chegou a 2,9% do PIB. Fechou 2009 com 4% do PIB. E tem espaço para crescer. Nos países cujas economias se parecem com a economia do Brasil o seguro é 8% do PIB. Então, nós vamos chegar lá. Mas vamos chegar lá agora muito mais rápido.
 
Danin Júnior — O sr. tem seguro de tudo?
 
Armando Vergílio - Sim. De qualquer coisa que você puder imaginar, celular, computador, tudo.
 
Cezar Santos — E o que o sr. apontaria como maiores avanços na Susepe na sua administração?
 
Armando Vergílio - Até 1994 tínhamos uma inflação de 80% ao mês. Seguro é planejamento de longo prazo. Como se faz planejamento de longo prazo com inflação de 80% ao mês? Já imaginou? Quando cheguei à Susep, em agosto de 2007, minha missão era fazer a abertura de mercado de seguros, de fazer conjunto de ações de estruturação de reforma que a autarquia precisava, inclusive adotando novo modelo de regulação. Saíamos de uma regulação baseada em regras para uma baseada em riscos, onde se aperfeiçoa muito o modelo de governança das empresas, dando a elas muito mais adequação ao volume das responsabilidades assumidas. Hoje, afirmo com total segurança: não há uma única seguradora no Brasil que corre risco por deficiência de capital. Nós fizemos uma nova regra de capital, obrigamos as empresas a colocar muito mais recursos e isso as tornou muito mais robustas. Numa regulação que privilegia solvência, liquidez, que tem metodologia de controle dessas empresas com supervisão contínua. Antigamente, a Susep fazia plano sazonal de fiscalização das empresas. Na supervisão contínua há um conjunto de supervisores permanentemente dedicados a uma empresa ou grupo econômico. Esse grupo de supervisores, geralmente formado por quatro pessoas, vai a essas seguradoras, ficam permanentemente supervisionando todos os números e toda a situação financeira, solvência, etc. A cada ano um desses quatro é trocado e entra alguém novo. Essa supervisão contínua é uma forma de comunicação direta com a alta administração da empresa, que às vezes nem está sabendo o que está sendo feito de errado lá embaixo. Hoje, há o termo de ajustamento de conduta, se uma seguradora está num erro continuado o fiscal senta com ela, diz que não vai multá-la, mas firma-se um termo de compromisso de não fazer aquilo mais e se ela voltar a fazer a multa é muito grande, ou a cessação das ações dela ou a inabilitação do diretor, o que não existia antes. A supervisão baseada em regras é binária, porque quando só há multa ela é transferida para o consumidor, já que uma seguradora multada vai repassar para o preço. Esse modelo regulatório que fizemos, adotando uma nova política de supervisão, é muito interessante. Isso blindou ainda mais o setor de seguros no País.
 
Danin Júnior — Normalmente quando há um grande acidente, como o da TAM, o resseguro é o que garante o seguro da seguradora. É o seguro do seguro. As seguradoras no Brasil têm estrutura de resseguros?
 
Armando Vergílio - Sim. Nós temos hoje 80 resseguradoras operando numa das três modalidades. O resseguro é fundamental para se ter mais tranquilidade dentro do setor. Antes, até 2007, tínhamos um único ressegurador, que era o Instituto de Resseguros do Brasil, uma sociedade de economia mista, metade do seu capital é do governo e metade das seguradoras. Mas o governo tinha o controle do capital votante, então era 100% do governo, era uma estatal, monopolista. Então, o que é o resseguro? Uma determinada seguradora tem uma capacidade máxima de assumir um determinado risco. Essa capacidade pode ser em relação a um único risco que a seguradora sozinha não pode assumir. A Susep determina que uma seguradora não pode assumir um risco individual que ultrapasse 3% do seu capital, do seu patrimônio líquido. Um único risco, seja um parque industrial, uma aeronave, etc. Mas há uma segunda regra que nós chamamos de limite técnico. O limite técnico de assunção de risco de uma seguradora é no máximo 10% de seu capital em relação a um único risco. Mas há limite operacional, que é o conjunto de risco que a seguradora assume com determinada capacidade. O capital de uma seguradora hoje é em torno de R$ 5 bilhões, então 3% disso é alto. Então, o resseguro dá mais seguridade, pulveriza o risco e de certa forma aumenta a capacidade das empresas de operarem. O que ocorre hoje no Brasil, em relação às grandes obras macroestruturantes do PAC, como essas grandes usinas que estão sendo construídas, não há capacidade de o mercado inteiro absorver.
 
Danin Júnior — Quanto seria o seguro de uma usina dessas?
 
Armando Vergílio - O risco que está exposto que deve ser segurável é R$ 13 bilhões e que pode haver uma catástrofe climática que leve tudo embora, todo o empreendimento. Isso é segurável, há também o risco que não é segurável.
 
Danin Júnior — Essa cultura do brasileiro em relação aos seguros tem alguns motivos, como os casos em que seguradoras não cumprem tudo aquilo que é acordado em contrato. Eu conheço pessoas que tiveram problemas com seguros.
 
Armando Vergílio - Não há mais isso de três anos para cá. Foi feita uma pesquisa há três semanas pela Revista Exame mostrando que o segundo setor que mais satisfaz o consumidor é o de seguro.
 
Danin Júnior — Quais foram as mudanças?
 
Armando Vergílio - Essa mudança no modelo regulatório impõe uma série de medidas às reguladoras como forma de melhorar os instrumentos de controle e a governança corporativa. Uma delas se chama ouvidoria. A ouvidoria hoje é obrigatória. Todas as seguradoras têm. Caiu em 86% o número de reclamações administrativas na própria Susep. Caiu em 52% o número de ações contra seguros. A ouvidoria tem respondido muito bem. Quando chega uma reclamação à Susep, que pode ser feita na página da internet, na hora se abre um procedimento, que cai para o ouvidor da seguradora, e ele tem 15 dias para resolver o problema ou dizer por que não está resolvendo. O índice de solução de problemas é fantástico. A Susep está num processo final, deixamos quase tudo pronto, que é a blindagem desse recurso que pertence ao segurado. O modelo por nós adotado de regulação entende que a reserva técnica constituída pertence ao segurado, e não à seguradora. Por isso ela é vinculada à Susep. A seguradora não pode movimentar livremente, ela tem que aplicar onde a Susep determina, sempre privilegiando aplicações seguras, que tenham por base a solvência e a liquidez em primeiro lugar. Voltando à questão cultural, isso já tem melhorado bastante. O setor de seguros vai crescer este ano no Brasil mais de 20%. Nos três primeiro meses, cresceu 23%. Só em Goiás cresceu 48% em relação ao mesmo período do ano passado.
 
Cezar Santos — E por que esse crescimento tão grande em Goiás?
 
Armando Vergílio - Vários fatores. Em Goiás, estamos levando para todo o Estado um programa chamado Viver Seguro. Vamos fazer em 27 de maio, em Anápolis; em 8 de junho em Uruaçu; 11 de junho em Itumbiara; 14 de junho em Catalão; e em Goiânia também em junho. Não vamos vender ao produtor nem seguradora nem máquina. É uma questão institucional que vai levar informação principalmente para os empresários. Nós fazemos sempre em conjunto com a associação comercial. Vamos falar de seguro descomplicadamente, numa linguagem coloquial, e falar da importância que o seguro tem para as empresas e para as pessoas. Fizemos o Viver Seguro em Rio Verde.
 
Cezar Santos — Falando em Rio Verde, houve um incêndio de grandes proporções na Perdigão. Como está a situação do ponto de vista do seguro?
 
Armando Vergílio - A Perdigão de Rio Verde pegou fogo em março de 2009, fez um ano o acidente. Já foram indenizados R$ 186 milhões, e ainda tem coisa para pagar. Eram 8 mil empregos diretos. Se não fosse o seguro, seriam 8 mil famílias desempregadas, imagine o impacto disso. Mais 26 mil empregos indiretos. Para um município que tem 172 mil habitantes, 8 mil empregos diretos são 8 mil famílias. Imagina a perda que seria isso para o comércio local, a perda de arrecadação para o município e para o Estado. 80% do que é produzido lá é exportado. Então, há o seguro reparador. Por conta do seguro, a seguradora fez um adiantamento de mais de R$ 20 milhões imediatamente para eles não pararem a produção. Eles conseguiram terceirizar, não houve um emprego perdido, não houve um centavo de perda de arrecadação. Ao contrário, com a indenização boa parte do que foi reconstruído movimentou o comércio local. Estima-se que R$ 120 milhões foram devolvidos para a sociedade através dessa indenização, em Rio Verde. O seguro mantém a família estruturada, a perspectiva de futuro, de horizonte, etc. Hoje, quando um pai de família compra um imóvel, faz um bom seguro, que vai custar 2% ou 3% do valor daquele imóvel, e sobra recurso para aplicar na sua qualidade de vida ou na sua empresa.

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