PT: gente que mente!

Gente que mente e censura

Programa eleitoral do PT na televisão enaltece Dilma Rousseff, mas prega uma série de mentiras, segundo a investigação de um site ligado a José Serra

Danin Júnior

A campanha presidencial deste ano será uma das mais aguerridas dos últimos 12 ou 16 anos. Já disse isso outras vezes, especialmente nas análises que, volta e meia, faço sobre a pancadaria que vem rolando solta na internet. Já não me surpreende a intensidade das cotoveladas e caneladas virtuais. O curioso é que essas dedadas no olho não são o aspecto mais impressionante da parada. O que tem me chamado a atenção é a tática de dissimulação dessa agressividade, praticada pelas estruturas de comunicação dos principais candidatos. Em alguns momentos é quase um morde-e-assopra entre eles, como se, embaixo daqueles sorrisinhos paz-e-amor, não houvesse uma necessidade terrível de atacar e ofender.

Vamos aos exemplos. Na semana passada, ficou ainda mais clara a estratégia do presidenciável tucano, José Serra, de não confrontar a imagem do presidente Lula da Silva. Uma tática mais do que justificável. Afinal, o petista é o "cara", segundo a maciça maioria da população que aparece nas pesquisas. Sua aprovação é recorde, algo garantido graças ao gogó e pelos bons ventos na economia. Serra poderia ir a campo e tentar desmistificar essa impressão popular. Se assim fizesse, poderia selar suas pretensões eleitorais. Em vez de se atracar diretamente com o presidente, ele fez o contrário. Afagou-o com luva de pelica (uma pelica que talvez contenha algumas farpas de ironia). Em uma entrevista a uma rádio de Recife, o tucano afirmou que Lula está acima do bem e do mal.

Indagado se a declaração seria uma ironia, já que são adversários políticos, Serra respondeu firmemente que havia falado a sério. E, em uma análise fria (quase marqueteira) ele estava mesmo dizendo a verdade. Ou seja, apesar de rivais, o tucano pode se dar ao luxo de conduzir sua campanha sem precisar tratar dessas questões, digamos, mais cavilosas. Em tese, poderia passar o período eleitoral inteiro sem fazer uma crítica sequer ao petista. Isso seria possível não apenas pela tradicional argúcia política (de colocar terceiros para "bater"), mas também por conta das novas complexidades incorporadas à comunicação profissional. Alguns especialistas chegam a identificar, nos tempos atuais, algo que chamam de "nova comunicação".

O termo é esse, em vez da expressão da moda "mídias sociais", porque se trata de um conceito bem mais amplo. As tais mídias sociais da internet envolvem apenas aquele conjunto de ferramentas de comunicação dedicadas à interação entre os internautas, como Orkut, Twitter, Facebook etc. Só que a "nova comunicação" engloba muito mais que isso. Além dessas redes de relacionamentos, o conceito também contempla a manipulação de ações em meios ainda pouco (ou mal) explorados, como a da telefonia celular. Essas novas tecnologias potencializaram a chamada comunicação microsociológica, que é aquela executada em âmbitos menores, mas muito eficazes, como na família, entre amigos, no clube, na associação etc. É uma abordagem muito além da tradicional comunicação unilateral, que significava a difusão de determinados conteúdos como verdades supremas de seus emissores.

Então, comunicar tornou-se algo muito mais complexo do que anos atrás. Isso quer dizer que os comunicadores mais capazes de manipular essas novas situações obterão muito mais proveito. A campanha de Serra tem sido magistral em alguns momentos, enquanto o trabalho do pessoal da ex-ministra Dilma Rousseff continua sem o tom adequado. Ela está se arriscando a passar definitivamente para a história como uma candidata despreparada para o debate, agressiva e antipática. Ela deveria aprender com Serra a deixar que os fatos sirvam como palmatória. Para, alguns isso é marketing puro. Para mim, jornalismo em sua essência. Veja só o exemplo:

O presidenciável tucano se negou a tecer comentários sobre o programa eleitoral do PT, levado ao ar na quinta-feira, 13 - se deixarem, daqui uns dias, Serra estará não apenas deixando de fazer críticas, mas até elogiando Lula. Pois é, mas como já disse, ele não precisa assumir esse papel de raivoso. Outros podem fazer por ele... e como fazem. Um dia depois do programete petista, dirigentes, parlamentares e blogueiros ligados ao PSDB já estavam com uma versão redondinha para repercutir os temas abordados por Lula e companhia na peça para a TV. Segundo a leitura tucana que, nesse aspecto, é inquestionável: o PT usou o programa para se apoderar de ações do governo Fernando Henrique Cardoso e para mentir sobre a conjuntura econômica do país.

Avaliações imperdíveis sobre o programa foram produzidas pela equipe tucana do site "gentequemente.com". Quem não conhece esse blog? Trata-se de um pente-fino implacável sobre incongruências e mentiras pregadas por petistas das mais variadas bitolas. Infelizmente, o blogo foi tirado do ar pelo jurídico do PT. Mas vamos reproduzir aqui o que eles disseram sobre o programa do PT. Em primeiro lugar, destacaram a afirmação (de Lula) de que o país criou 12 milhões de empregos desde 2003. Como diz o site, com base em dados do próprio Ministério, é mentira. Na verdade, seriam 8,7 milhões de novas vagas nesses sete anos.

Em outra parte o programa do PT diz, na bucha, que "com FHC e Serra, a ascensão social dos brasileiros foi insignificante". Mas como destacou o "Gente que Mente", mais de 10 milhões de brasileiros saíram da pobreza no governo FHC. Além disso, o Plano Real domou a inflação, retomou o crescimento e aumentou a renda da população. "O salário mínimo teve aumento real de 47% e o rendimento médio do trabalhador brasileiro saltou 50%", dizia o site até ser censurado pelo PT em uma das mais rápidas decisões da justiça eleitoral neste ano. O pessoal do blog tucano ainda apontaou mais duas gafes, cujas análises, agora, só podem ser acessadas no site oficial do PSDB. Uma delas sobre a questão do apagão e a outra sobre a criação do programa Luz para Todos. Viu como o disse-que-me-disse eleitoral pode render um bom papo furado?