terça-feira, 25 de maio de 2010

Goiânia: capital desigual!







24/05/10

ARTIGO

Esplêndida e desigual

Henrique Duarte

Embora estudo da ONU a considere a capital com maior índice de desigualdade no País, Goiânia passa ao largo desse indicador socioeconômico e mantém imutável sua marcha de crescimento iniciada com a transferência da sede do governo estadual na década de 30 do século passado.

Sempre foi e assim será. Está fortemente escrito na brilhante trajetória da urbe cujo destino e vocação transcendem os pontuais percalços. Um traço evidente da metrópole já consolidada está no efeito cosmopolita das ruas, nas quais transita elevado porcentual de veículos com placas de outros Estados, sobretudo do Sul e do Sudeste.

As migrações se acentuam como nunca, em busca do Eldorado sempre perseguido e inato no espírito do brasileiro. E, efetivamente, o encontram aqui, na cidade da acolhida universal. Outra espetacular vertente é o crescimento urbano, agora intensificado nos processos de verticalização e alargamento territorial, o que já reclama meios de transporte mais eficientes e o início de um metrô.

A construção civil resplandece e atinge níveis jamais vistos ou imaginados. A cidade recebeu, num período recorde de dois anos, praticamente todas as grandes e médias empresas do ramo, atraídas pelo boom imobiliário. Goiânia reflete as conquistas do Estado. Goiás é visto como a bola da vez. Em seu solo emergem as mais importantes plataformas produtivas, desde a automobilística à agroindustrial.

O censo do IBGE deverá comprovar a enormidade de indicadores valiosos, tanto em relação ao Estado como sua capital. As mais expressivas serão por conta do fenômeno da metropolização de Goiânia. A região conurbada já ultrapassa 2 milhões de habitantes.

Com Brasília e Anápolis no meio forma um eixo populacional que já é o terceiro do País, atrás de São Paulo e Rio de Janeiro. A visão dessa palpável realidade está, por outro lado, a indicar arranjos urgentes, para que não fique, como agora, refém de descompassos como os do trânsito, transporte coletivo e tantas outras questões que levaram os técnicos a nos apontar como cidade desigual.

Há carência visível de investimento público na formação de eixos estruturadores de transportes. Como Goiânia é cosmopolita, incomoda a questão veicular, pelo excesso de carros também de outros Estados, além dos veículos pesados atormentando as vias. Goiânia é um dos maiores centros receptores e distribuidores de cargas. Tudo é feito por rodovia, e aqui centralizado.

As desigualdades existem. Em especial se comparar a renda de quem vive em condomínios horizontais e os que habitam bairros periféricos desservidos. E estão também presentes em inúmeros e essenciais pontos desprezados pela urbanização discriminadora. As ruas não têm sinais para pedestres, o que os obriga a abrir os olhos, enxergar o semáforo e disputar o espaço. Não se dá uma só volta no quarteirão caminhando tranquilamente pelas calçadas, quase todas descuidadas ou interceptadas. Nem nos bairros nobres pode uma senhora descer do apartamento para dar um passeio. Se o fizer, não poderá usar sapato de salto. Deverá ser de tênis. E, se tiver idade avançada, jamais pensar nisto.

Há abrigos de pontos de ônibus que ocupam todo o passeio. O transeunte é remetido à rua, passando rente aos velozes carros. Água de cisterna em bairros novos é uma volta ao passado das verminoses. Coleta de esgoto falta para 30% da população. Fundos de vales sofrem com erosões e estrangulam o tráfego. Os fatores determinantes das desigualdades sociais e econômicas são numerosos.

O maior investimento, no entanto, está feito. É a própria cidade que avança ao desprezo das pontuações que ainda permeiam a vida urbana. Mas que podem e devem ser sanadas, ou pelo menos encaminhadas nessa direção. Atualmente, avoluma-se a necessidade de compatibilizar o crescimento com a oferta de serviços públicos mais abundantes e eficientes. Os fossos de má-qualidade de vida são visíveis.

Prefeitura e Estado precisam criar programas compartilhados, buscar mais investimentos federais e externos, para que os descompassos sejam minimizados ou eliminados, porque viver vai se tornando insuportável em meio à ostentação do concreto dos edifícios cada vez mais altos e ameaçadores da convivência, devido à concentração veicular, predial e humana.


Hemrique Duarte é jornalista

Nenhum comentário:

Postar um comentário