terça-feira, 25 de maio de 2010

Goiânia:a rua é do povo!







ARTIGO

DA REDAÇÃO

A rua como lugar de convívio

O que tem mais peso em nossas vidas do que o sentimento de medo? Aliás, justiça seja feita, foi o medo que nos preservou como espécie e nos trouxe até aqui. Sem ele o homem teria facilmente sucumbido ao ambiente hostil que sempre o cercou até o presente estágio da evolução. O grande problema é quando o medo sai de controle, e além de se prestar a nos proteger de perigos reais, vai mais longe, nos protegendo de viver.

Dada sua natureza, o sentimento do medo pode ser compreendido como um vírus psicológico altamente contagioso. Seria exagero dizer que esse vírus pode facilmente nos deixar doentes? Eis um desafio ao medo: superar as cercas elétricas, correntes e cadeados que nos protegem em casa e sair para brincar nas ruas de uma grande cidade como Goiânia. Foi justamente isso que aconteceu na última Galhofada, um festival de teatro de rua realizado em Goiânia dias atrás. Esse evento fez muita gente sair de casa para ocupar a rua, que se transformou em um palco aberto para manifestações artísticas.

A Galhofada, que este ano completou sua quarta edição, é um exemplo de como podemos extrapolar o medo da rua e vivenciar melhor o espaço urbano. A rua, que por muito tempo foi o lugar de encontros e brincadeiras de crianças e jovens, infelizmente vem perdendo essa função de espaço lúdico, e se transformando em um vazio humano. Boa parte deste esvaziamento das ruas e praças se explica pela decantada violência urbana e pelos novos hábitos de consumo que priorizam lugares confinados como os shopping centers.

A rua como um lugar perigoso que deve ser evitado a todo custo é uma ideia forjada pelo medo urbano, que se alimenta de si mesmo ad infinitum. Quebrar este circulo vicioso requer atitudes proativas, e para isso é necessário dar um passo além da tendência de colocar a culpa dos problemas somente nas políticas públicas. Além de cobrar por mais segurança devemos fazer parte da solução, tomando de volta o que é nosso, fazendo uso da rua como local de convívio.

Que corridas de rua, ciclovias, manifestações artísticas e as mais variadas formas de festas populares (como as juninas que estão chegando) possam encher de vida as ruas de Goiânia. Que nosso medo seja não o de sair para as ruas com nossos amigos e familiares, mas sim, o de perder este direito cidadão de ir e vir pelas ruas de nossa cidade.


Ricardo Rodrigues é designer

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