segunda-feira, 17 de maio de 2010

Será?


CONEXÃO
Foto: Edilson Pelikano
Dornelles na chapa com o tucano Serra: boato ou possibilidade?

O fator Dornelles em Goiás
Em Brasília, é forte a informação de bastidores de que o presidente nacional do PP, Francisco Dornelles, poderá ser o vice de José Serra

AFONSO LOPES

Pode ser que tudo não passe de boato, mas voltou a ser forte o comentário nos bastidores do circuito federal de que o senador Francisco Dornelles (RJ), presidente nacional do PP, poderá se lançar como candidato a vice-presidente na chapa liderada pelo ex-governador de São Paulo José Serra, do PSDB. Essa operação política estaria em curso, e sendo tratada diretamente por Dornelles, Serra e o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves, também tucano e sobrinho do dirigente pepista. Se isso realmente acontecer, será uma reviravolta total com reflexos imediatos na sucessão em Goiás.

É óbvio que qualquer boato precisa de alguma base para crescer e ganhar dimensão de conspiração. Esse, de Dornelles ser vice de Serra, tem uma porção de bases, e por isso tem sido alimentado. Em primeiro lugar, daria um ótimo fôlego extra à candidatura de José Serra e reforçaria a coligação PSDB-DEM em nível nacional e com substanciais efeitos colaterais em todos os Estados. Dornelles, um advogado que fez fama como gestor de finanças públicas e ex-ministro da Fazenda, também ofereceria escopo pertinente à chapa presidencial exatamente no ponto que é considerado mais forte do petismo lulista da candidatura de Dilma Roussef: a boa fase da economia brasileira. Por fim, e em casa, a indicação do pepista como candidato a vice de Serra livraria a cara de Aécio Neves, seu sobrinho, sempre pressionado para abandonar seu projeto para o Senado e abraçar a causa da vice-presidência de Serra. Tudo somado, tantos pontos favoráveis acabam servindo como oxigênio pra incentivar o tal boato.

É certo que existe um ponto de notícia absolutamente confirmada nessa história toda. Realmente, dirigentes do PP e do PSDB chegaram a debater essa proposta de indicação de vice-presidente. O comando do DEM igualmente foi consultado já que a vaga está destinada ao partido, e concordou em abrir mão da indicação, avalizando a operação. Outro aspecto da real politik brasiliense é que o Palácio do Planalto entrou pesado no meio dessas conversações para evitar que um acordo como esse fosse concretizado.

Recentemente, o presidente do PP admitiu que não estaria propenso a aceitar a indicação a vice e procurou assim encerrar qualquer especulação sobre a possibilidade de acordo com o PSDB. Se o assunto voltou a circular, agora como boato, especialmente em alguns meios da direção do PP nacional, isso significa que talvez o desmentido anterior tenha sido somente uma forma politicamente natural de esfriar a fervura para aprofundar as conversas.

Se vai acontecer ou não, será necessário aguardar pelo menos até quinta-feira desta semana, dia 20. É essa a data que estaria escolhida para o anúncio da grande reviravolta nacional em torno de uma chapa Serra-Dornelles. Em Brasília, uma parcela do PP estaria esfregando as mãos de contentamento, imaginando a ampliação da aliança e, principalmente, contando com a possibilidade de o partido substituir o DEM como maior parceiro do PSDB na chapa presidencial. A notícia, em Goiás, jogaria o tabuleiro político atual no chão e forçaria um recomeço das estratégias.

Em tese, nada impediria que o PP firmasse aliança nacional com o PSDB e trilhasse caminho diferente nos Estados, como em Goiás. A verticalização das coligações, que era obrigatória até a eleição de 2006 no País todo, reduziu seus efeitos para os Estados, desvinculando as chapas nacionais das estaduais. O problema no caso é quando sai da tese para a prática.

É evidente que o PP com a possibilidade de eleger o vice-presidente do Brasil não descuidaria dos palanques regionais. Assim, certamente haveria a orientação para que o palanque local seja favorável à chapa nacional PSDB-PP. Em alguns Estados isso não seria problemático. Em Goiás, particularmente, seria traumático.

Até aqui, mesmo sem ter o apoio das bases municipais, parte da cúpula do PP tem apoiado a candidatura de Vanderlan Vieira, do PR, o que pode resultar num palanque nitidamente pró-PT de Dilma. A aliança com o PSDB nacional mexeria nesse vespeiro, reforçando a reivindicação das bases pepistas em Goiás, amplamente favoráveis à composição de aliança com o senador Marconi Perillo, do PSDB. O diretório nacional do PP liberou as filiais dos Estados para apoios em nível nacional, mas essa orientação certamente mudaria completamente no caso de Dornelles ser candidato a vice-presidente de José Serra.

Apesar de deter o comando do único governo estadual sob a bandeira do PP, a influência dos pepistas goianos na direção nacional do partido é bastante restrita. A bancada federal é composta por somente dois deputados federais, Roberto Balestra e Sandes Júnior. Ambos circulam com facilidade na direção nacional, mas são os únicos. Todos os demais pepistas goianos são praticamente desconhecidos dos dirigentes do partido em Brasília, incluindo até o governador Alcides Rodrigues, presidente de honra do PP.

De qualquer forma, e também por tudo isso, não há muito o que fazer a não ser aguardar a tal quinta-feira, 20. Se realmente surgir o anúncio de coligação entre o PSDB e o PP, aí sim haverá um fato novo na sucessão de Goiás e, especialmente, na posição até aqui assumida pelos pepistas goianos. Se não, o PP, embalado pelo Palácio das Esmeraldas, permanecerá na sua saga atual, de anabolizar a até agora raquítica candidatura do republicano Vanderlan Vieira. É esperar pra ver.

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