quinta-feira, 29 de julho de 2010

Nazi-alcidismo!





Opinião

Seduzidos pela lógica nazista

Fleurymar de Souza

Poderia começar este artigo assim: “O candidato a senador pela base aliada, Alcides Rodrigues acertou os últimos detalhes para a transferência do cargo ao vice-governador. Consumada a desincompatibilização, Alcides percorrerá o interior do Estado em companhia de seu aliado e candidato ao governo, senador Marconi Perillo, dando marca de perenidade a uma aliança que conquistou a adesão das massas e consagrou um porfícuo sistema de gestão compartilhada”.

Era para ser assim. A ninguém ocorreria imaginar que chegaríamos em 2010 em clima tão antagônico entre personagens que, circunstancialmente, dividiram os louros de um período consagrado como Tempo Novo. O balanço das eleições de 2006 não deixara dúvidas: sob as bênçãos de uma cristalizada liderança, celebrava-se a conquista que pôs à prova a incondicional lealdade, expressada na transferência de prestígio.

Instalado o novo governo, todos se surpreenderam com iniciativas e declarações que indicavam, com clareza, o interesse de submeter a liderança do senador Marconi Perillo ao crivo de um revisionismo político que fosse gradualmente maculando a sua imagem. A campanha de questionamentos das ações enfeixadas no mote Tempo Novo alcançou seu paroxismo na propagação de que um déficit de R$ 100 milhões constituía o grande entrave que comprometeria o desempenho do governo. A "herança maldita" haveria de desconstruir a liderança do senador, submetido a um bombardeio diário da versão oficial propalada aos quatro cantos. Em teoria, estava arquitetado o plano perfeito que encontraria seu paralelo na história, mais propriamente na ascensão do nazismo na Alemanha.

Bem ao estilo do ministro da propaganda do Terceiro Reich, Joseph Goebbels (uma mentira mil vezes repetida torna-se verdade) o mentor do plano teria apostado na tese nazista, e passaria a gozar do status de oráculo moral e político do Executivo estadual, em reconhecimento à sua genialidade.

O desfecho da questão do déficit, após o crivo técnico da conceituada Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e do TCE, faz cair por terra o discurso oficial sobre o qual o governo ampararia argumentos para justificar o não cumprimento de suas promessas de campanha e a progressiva redução dos programas de inserção social, consagrados nas administrações anteriores. A suspeita, agora confirmada, de que tudo não passava de uma diabólica urdidura para atingir o senador, começou a virar pó quando a bancada do governo na Assembléia se fez de morta enquanto deputados do PSDB lideravam as articulações para a criação da CPI da dívida. Tivesse o governo municiado de elementos comprobatórios inquestionáveis, teria partido dele a iniciativa de instalar a CPI, convertendo uma controvérsia à verdade pura incontestável.

Politicamente, o governo será julgado nas urnas de outubro pelo surpreendente comportamento de se aliar aos adversários do senador e liderar uma campanha destinada a barrar a trajetória do político que praticamente o resgatou do anonimato. É um caso claro de conversão de pendências pessoais em questão de Estado, pois perdeu-se tempo e energia que, bem direcionados, serviriam ao interesse da sociedade e não às aspirações grupais.

Moralmente, a história julgará uma administração que converteu o aliado em alvo a ser destruído a qualquer custo, ainda que para tanto tenha se inspirado na lógica nazista de triste repercussão.


Fleurymar de Souza é jornalista

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